tag:blogger.com,1999:blog-1294972582556188262024-03-05T08:56:02.039-03:00Introdução BíblicaEsta página tem por finalidade colocar à disposição dos meus alunos da Escola Teológica Rev. Celso Lopes textos referentes à matéria título do blogPastor Pedrohttp://www.blogger.com/profile/14959296050649164906noreply@blogger.comBlogger19125tag:blogger.com,1999:blog-129497258255618826.post-4690290591502988292008-09-18T07:34:00.012-03:002008-09-22T18:55:09.440-03:00O CALENDÁRIO - Texto Complementar<a href="http://www.fotosearch.com.br/bthumb/BDX/BDX181/bxp34220.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px;" src="http://www.fotosearch.com.br/bthumb/BDX/BDX181/bxp34220.jpg" border="0" alt="" /></a><br /><strong>I. Introdução</strong><br /><br />Recentemente, chegamos ao ano 2000. Será que aquele ano foi o primeiro do século XXI? Ou será que ele é o último do século XX? Por que dezembro não é o décimo mês do ano como parece indicar o seu próprio nome? E por que novembro não é o nono? <br />Estas e outras perguntas serão respondidas ao longo desse trabalho. Conheceremos como eram os diversos calendários que regeram distintas fases da história da humanidade. Saberemos, enfim, qual é a origem do calendário. E, principalmente, o que é um calendário.<br />Desde que o homem tomou consciência do seu passado e de sua história, fez-se necessário um sistema de referência mediante o qual se pudesse estabelecer uma ordem para contagem do tempo.<br />Para se instituir um sistema com tal finalidade é preciso que se disponha de algum fenômeno físico com um comportamento cíclico, que nos permita agrupar os acontecimentos em episódios, marcando-os dentro do ciclo correspondente e lhes atribuindo um número de ordem.<br />Neste sentido, o homem logo descobriu três fenômenos desse tipo os quais, desde o alvorecer da humanidade, não puderam passar despercebidos:<br />1. a sucessão dos dias e das noites;<br />2. as distintas fases da lua;<br />3. a seqüência das estações do ano.<br /><br />Do primeiro surgiu a unidade de tempo básica e a mais comum para todos os povos que habitaram a terra: o dia.<br />As distintas fases da lua tiveram uma importância vital para a sociedade primitiva cuja atividade principal era a caça. Saber o tempo que levaria para chegar a lua cheia, por exemplo, era decisivo para preparar cuidadosamente uma boa excursão de caça que permitisse obter mais peças com o menor risco possível. Da mesma forma, a observação da cambiante imagem do nosso satélite oferecia o sistema mais natural para contabilizar a duração da gestação, ou do ciclo menstrual da mulher. Assim, do cômputo desses eventos originaram se o mês e o ano lunar.<br />O Sol também apresenta um comportamento que se repete de ciclo em ciclo, ainda que a sua duração seja bem mais longa. Basta observar o seu nascer e o seu ocaso durante vários dias consecutivos para se verificar que, a cada vez que nasce ou se põe, ele o faz em lugares diferentes, deslocando-se sempre na mesma direção — norte ou sul — até que chega um dia que tal direção se inverte. Nessa ocasião, ele passa a nascer e a se por nos pontos anteriormente ocupados, percorrendo o caminho inverso — sul ou norte.<br />Notadamente, desde o solstício de Inverno — 21 de dezembro (Observe-se que as datas se referem ao hemisfério Norte, uma vez que as fontes deste trabalho são de origem norte-americana) — até o de Verão — 21 de junho — os pores-do-sol têm lugar, nas latitudes do hemisfério Norte, cada vez mais para noroeste. Desde essa data até chegar novamente o 21 de dezembro, os ocasos ocorrerão cada dia mais para sudoeste. Também, a altura máxima do Sol no céu é variável, sendo mais baixa no Inverno do que no Verão. Fato semelhante ocorre com a parte iluminada do dia, que é mais longa do que as noites no Verão, e mais curta, no Inverno.<br />Todas estas mudanças são acompanhadas por outras que têm lugar no terreno, no clima, nas florestas, nos animais e em diversos outros aspectos da vida do nosso planeta. Contudo, tais mudanças não acontecem de maneira arbitrária, mas, sim, estão encadeadas de forma tão evidente que as suas correlações tiveram o poder de chamar a atenção do homem primitivo.<br />Identificar estas associações e predizer quando teriam lugar as mudanças foi algo fundamental para aquela sociedade inicialmente coletora e, mais ainda, para a sociedade agrícola que depois se formou. Saber quando lavrar, quando semear, quando colher e quando estocar para sobreviver durante as intempéries foi crucial para os primeiros ajuntamentos humanos. De tais observações surgiu a divisão do tempo em estações, e da repetição da seqüência das estações, o ano solar.<br />Já temos, portanto, as unidades sobre as quais podemos construir um calendário: o dia, o mês e o ano. Estas unidades são marcadas pelas mudanças da Lua e do Sol.<br /><br /><strong>II. O Dia Solar</strong><br />Vimos acima, em linhas gerais, os fenômenos em que se baseiam os calendários: o dia, o mês lunar e a sucessão das estações. O dia como unidade de tempo está vinculado ao movimento de rotação da Terra ao redor de seu eixo, cuja duração — igual a do giro da abóbada celeste, que é o que percebemos — pode ser calculada com uma precisão suficiente a partir das observações.<br />É fácil contar as voltas que um objeto dá sobre si mesmo, se colocarmos duas marcas, uma no próprio objeto e a outra exterior a ele. A partir daí, observa-se as vezes que uma dessas marcas passa na frente da outra. É isso o que se faz para contar os dias. Naturalmente, o termo “marca” aqui usado está no seu sentido amplo, significando qualquer coisa que nos permita discernir quando acaba um giro e começa o outro.<br />Para contar as voltas que a terra dá, tomamos como primeira marca um meridiano, que nada mais é do que uma semicircunferência sobre a superfície terrestre indo perpendicularmente ao equador do polo Norte ao polo Sul. A segunda marca é o Sol. Definidas ambas as referências, chamamos dia ao intervalo de tempo que transcorre entre duas passagens sucessivas do Sol pelo meridiano eleito. Na realidade, e por razões que veremos mais adiante, esta definição corresponde ao que se conhece como dia solar verdadeiro.<br />O dia solar verdadeiro, contudo, apresenta um grave inconveniente para ser usado como unidade temporal: a sua duração não é constante! Para que uma unidade de qualquer magnitude sirva como padrão é imprescindível que o seu valor seja precisamente definido, isto é, que não varie. Assim, o dia solar verdadeiro não cumpre esta condição.<br />Como a terra não descreve uma circunferência em torno do Sol, mas, sim, uma elipse, bem como o Sol não ocupa o centro, posto que se acha ancorado num ponto denominado foco, não a percorrendo com velocidade constante, o tempo entre duas passagens sucessivas do Sol pelo meridiano de referência varia de um dia para o outro. Esta dificuldade foi, entretanto, contornada, definindo-se um dia solar médio.<br />Para não descermos a detalhes desnecessários, acrescentamos apenas, ainda que correndo o risco de simplificarmos demais, que o dia solar médio se define como o valor médio do dia solar verdadeiro no período de um ano. Para calcular a sua duração, mede-se o tempo total que a terra leva para dar uma volta completa em torno do Sol. Divide-se esta cifra pelo número de dias solares verdadeiros contidos no dito período. O quociente obtido é o tempo do dia solar médio.<br />Desta forma, ainda que o dia solar médio seja às vezes mais curto e às vezes mais longo que o verdadeiro, o número dos dias ao cabo do ano será sempre o mesmo. Esta apreciação é fundamental para que o dia solar médio — inventado por nós — tenha sentido do ponto de vista do fenômeno astronômico que lhe serve de base. E como nós o definimos de forma que a sua duração seja constante, podemos, agora, usá-lo como unidade de tempo.<br />Todavia, o dia serve somente para datar acontecimentos que ocorreram num passado próximo, ou que acontecerão num futuro visível. Evidentemente, essa medida perde sua utilidade à medida que desejamos nos referir a datas que tenham acontecido num tempo muito distante.<br /><br /><br /><strong>III. O Ano Trópico</strong><br />Como observamos, o dia é uma unidade totalmente inadequada para se registrar datas históricas. O seu emprego nos penalizaria com o manejo de cifras enormes e nos obrigaria a ter que atualizá-las a cada dia. Para realizar esta tarefa de maneira mais eficaz, é necessário que lancemos mão de uma outra unidade baseada no movimento de translação da terra ao redor do Sol: o ano trópico.<br />O ano trópico se define como o intervalo de tempo transcorrido entre duas passagens consecutivas do Sol pelo ponto do equinócio de Primavera. A palavra “equinócio” é um termo latino que significa “igual a noite”, porque, quando o sol se acha neste ponto, a parte iluminada do dia e a noite têm a mesma duração. A partir do equinócio de Primavera e à medida que avançamos para o Verão, a parte iluminada do dia vai crescendo até chegar ao solstício de Verão, a partir do qual começa a minguar até se fazer igual à noite no equinócio de Outono.<br />À continuação, o dia vai diminuindo até que a noite atinja a sua máxima duração no solstício de Inverno (21 de junho no hemisfério Sul). A partir daí, a parte diurna volta a crescer, ainda que se mantendo mais curta que a noite, até chegar de novo ao ponto do equinócio de Primavera, onde outra vez se igualam.<br />O intervalo de tempo que leva para ocorrer o ciclo completo acima descrito é o que se chama de ano trópico e eqüivale a 365,2444 dias solares médios. Tal cifra representa 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos. Assim o ano trópico serve de base para os calendários solares, categoria a que pertence, hoje, o calendário da maioria dos países.<br />Desta maneira, um calendário não é outra coisa do que um sistema de se contar longos períodos de tempo. A sua elaboração exige, de pronto, a satisfação de duas condições básicas:<br />1. A duração média do ano civil durante vários anos, a que chamamos de ano promédio, deve se aproximar o mais possível da duração do ano astronômico que lhe serve de base. No caso, a do ano trópico.<br />2. O ano civil deve conter um número inteiro de dias, pois, caso contrário, poderia ocorrer a situação de um ano começar à tarde, o seguinte pela manhã e o terceiro à noite, o que não seria muito sério.<br /><br />Como o ano trópico não contém, segundo vimos, um número inteiro de dias solares médios, obedecer simultaneamente a ambas as condições torna-se, na prática, impossível de se cumprir.<br />Com efeito, como o ano não é um múltiplo do dia, como é o quilômetro do metro, ou o litro do centímetro cúbico, buscar que o ano civil conste de um número exato de dias, exige que se arredonde a sua duração. Isso introduz um desajuste entre a sua duração real e a sua duração estimada que, ao longo do tempo, terá como conseqüência o descumprimento da primeira condição.<br />Para remediar essa situação, é preciso ir introduzindo correções que tendam, senão a evitar, pelo menos, a minimizar a defasagem que se origina. A partir desse tipo de correção encontramos todo o itinerário que nos leva até o nosso calendário atual, uma caminhada que não foi ao longo dos séculos uma trilha de rosas.<br /><br /><strong>IV. O Primitivo Calendário Romano</strong><br />Retrocedendo no tempo, vamos descobrir a origem do nosso calendário atual na antiga Roma, durante o reinado de Numa Pompílio — 715 a 672 a. C. — o segundo dos reis legendários. Homem pacífico por excelência, foi eleito pelo Senado como sucessor de Rômulo, graças à fama de que gozava de possuir a virtude da sabedoria. A esse monarca é atribuída a lenda da organização religiosa de Roma, bem como da criação de colégios religiosos no império. Além disso e o mais importante para esse estudo, foi ele quem primeiro adaptou o antigo calendário romano, o de Rômulo, que era lunar, ao ciclo solar das estações.<br />Este calendário agrupava o ano em dez meses de 30 e 31 dias, com um total de 304 dias. Os meses — de meteri = medir — denominavam-se e ordenavam-se de acordo com a seguinte tabela:<br /><br /><strong>Primitivo Calendário Lunar Romano:</strong> <br /><br />1. MARTII março 31 dias..... 6. SEXTILIS sexto 30 dias<br />2. APRILIS abril 30 dias.... 7. SEPTEMBER setembro 30 dias<br />3. MAIUS maio 31 dias....... 8. OCTOBER outubro 31 dias<br />4. JUNIUS junho 30 dias..... 9. NOVEMBER novembro 30 dias<br />5. QUINTILIS quinto 31 dias..10. DECEMBER dezembro 30 dias<br /><br /><br />No calendário de Rômulo não havia nenhum mecanismo de correção e não existia ciclo; o ano promédio era de 304 dias, havendo, portanto, um erro de - 61,2422 dias. <br />O calendário de Rômulo necessitava, pois, de uma reforma, e Numa levou-a a cabo. As razões dessa reforma são explicadas a seguir. O tempo que leva para a Lua passar por duas fases sucessivas homônimas, por exemplo, de lua nova a lua nova, denomina-se mês sinódico e corresponde a cerca de 29,5 dias solares médios.<br />Assim, o ano de Rômulo, de 304 dias, era longo para 10 meses lunares de 295 dias e, ao mesmo tempo, muito curto em relação à estações (ano trópico = 365 dias). Doze meses lunares duram aproximadamente 354 dias, correspondente a 12 x 29,5, enquanto 13 meses corresponderiam a 383. Em vista disso, Numa alongou para 354 dias, aproximando-se bastante do ano trópico, do qual diferia apenas 11 dias.<br />A reforma de Numa baseou-se em dois pontos:<br />1. Acrescentou ao ano dois novos meses, JANUARIUS – janeiro e FEBRUARIUS – fevereiro, colocando-os à continuação dos já estabelecidos.<br />2. Modificou a distribuição dos dias nos meses.<br /><br />Em princípio, todos os meses do calendário de Numa tinham um número ímpar de dias: quatro com 31 dias — março, maio, quinto e outubro — e os demais com 29 dias, exceto fevereiro que ficou com 27 dias. Isso se devia a uma peculiaridade desse calendário a qual dividia os dias em dois grupos: os dias fastis e os dias nefastis. Os dias fastis ocupavam os lugares ímpares e neles era permitido religiosamente se ocupar dos negócios e da distribuição da justiça. Os dias nefastis eram os dias pares, os quais eram sacrílegos, por serem dedicados aos deuses. Os romanos lhes atribuíam má sorte e não queriam saber deles.<br />E mais, o cômputo total dos dias destes doze meses era de 354 dias, cifra par e que não agradava a Numa. Desta maneira, decidiu o monarca alterar o número de dias de fevereiro acrescentando lhe mais um dia, chegando-se ao ano de 355 dias, distribuídos como na tabela seguinte:<br /><br /><strong>Calendário de Numa</strong><br /> <br />No Calendário de Numa havia um sistema de correção, pela introdução do mês Macedonius, alternativamente com 22 e 23 dias, ano sim e ano não; o ciclo era de 4 anos — 355, 377, 355 e 378 dias; ano promédio de 366,25 dias, com um erro aproximado de + 1 dia.<br />Como a duração do ano era de aproximadamente 10 dias mais curto que o ano solar, provocando uma grande diferença no curso de dois anos, o monarca decidiu intercalar, entre os dias 23 e 24 de fevereiro, um mês extra a cada dois anos, denominando-o de mês Macedonius que contava com 22 ou 23 dias alternativamente.<br />Com essa disposição, formava-se um ciclo de quatro anos, com uma duração promédia de 366,25 dias, corrigindo-se a situação anterior, embora excedendo de um dia o ano trópico.<br /><br /><strong>V. A Reforma dos Decênviros</strong><br /><br />Em 450 a. C. , com a finalidade de corrigir a defasagem do Calendário de Numa, os Decênviros — grupo de dez magistrados que constituíam os tribunais permanentes encarregados de intervir na constituição das leis — adotaram um dos ciclos usados pelos gregos no cômputo do tempo: a octoeterida — octo = oito e etos = ano — do astrônomo Cleóstrato de Tecnedos.<br />Os romanos ao fazerem esta adaptação, estabeleceram que em cada terceiro período de oito anos, em vez de quatro Macedonius, intercalavam-se três de 22 dias. Estabelecia-se, assim, um ciclo de 24 anos dividido em três períodos de oito. O número total de dias de cada um dos dois períodos iniciais era de 2930 dias — 355+377+355+378+355+377+355+378 — o que totalizava 5860 dias. O terceiro período constava de cinco anos de 355 dias cada e três anos de 377 dias cada, os quais somavam 2906 dias. Assim, vinte e quatro anos totalizavam 5860 + 2906 = 8766 dias, dando como resultado um ano promédio de 365,25 o que se constituía num erro muito pequeno, isto é, apenas 11 minutos e 14 segundos em relação ao ano trópico.<br />Todavia, magistrados encarregados de dar ao mês Macedonius o número de dias necessários para assegurar a concordância do ano civil com o ano verdadeiro, começaram a fazê-lo de maneira arbitrária, atribuindo lhe os dias conforme suas conveniências, seus interesses, ou os interesses de seus amigos, para favorecer eleições ou, até, o pagamento de dívidas.<br />Estes abusos chegaram a tal ponto que, no tempo de Júlio César, havia uma defasagem de quase três meses entre o equinócio civil e o astronômico. Nesta situação, os meses do inverno correspondiam ao outono, e estes ao verão, estabelecendo-se uma confusão total.<br /><br /><br /><strong>VI. A Reforma Juliana</strong><br />O calendário estabelecido pelos Decênviros esteve vigente até 46 a. C. Naquele ano, Júlio César realizou uma série de reformas no Estado, entre as quais a do calendário. <br />Para esta tarefa, buscou assessoria do matemático e astrônomo Sosígenes, o qual começou por reparar o erro acumulado, aumentando em 67 dias a duração do ano 46 a. C. pela intercalação de dois meses ao final de novembro, um de 29 e outro de 31 dias, mais 7 dias contados à parte. Como àquele ano correspondia um mês Macedônio de 23 dias, no total o ano ficou com 445 dias, pelo que foi denominado de o ano da confusão. <br />Tentando buscar com essas medidas a concordância do ano civil com as estações, Sosígenes ditou as seguintes regras naquilo a que veio se chamar de “Reforma Juliana”. Tais medidas foram as seguintes:<br />• Fixou-se o dia 1 de janeiro como o primeiro dia do ano e o 25 de março como o equinócio de Primavera.<br />• A duração do ano civil foi estabelecida em 365 dias solares médios no transcurso de três anos consecutivos.<br />• Cada quarto ano teria a duração de 366 dias.<br />• Suprimiu-se o mês Macedônio, agregando se os 10 dias correspondentes da seguinte maneira: dois aos meses de janeiro, sexto e dezembro que passaram a ter 31 dias; um dia aos meses de abril, junho, setembro e novembro os quais passaram a ter 30 dias.<br />• A cada quatro anos passava-se a intercalar um dia entre o 23 e 24 de fevereiro. Desta forma, os anos de 365 dias denominavam-se anos comuns, e os anos de 366 receberam o nome de bissextos.<br /><br />A origem da denominação bissexto está na forma de contar os dias romanos. Eles dividiam os meses em três partes, chamando aos dias que iniciavam cada uma dessas partes de calendas, nonas e idos, respectivamente. Datavam os dias em ordem inversa a partir desses dias iniciais que usavam como referência. <br />Como as calendas correspondiam ao dia 1 de cada mês, as calendas de março, por exemplo, eram a primeira referência após o dia 24 de fevereiro. Assim desde o dia 24/02 até o 01/03, ambos inclusive, há seis dias, pelo que o 24 de fevereiro era, para os romanos, “o sexto dia antes das calendas de março”, ou em latim: sextus kalendas martii; o 23 de fevereiro era, assim, o septimus kalendas martii. E, o dia intercalado entre o 23 e o 24 de fevereiro era o sexto bis, ou como chamavam os romanos: bissextus, donde procede o dia bissexto que mais tarde, por analogia, veio a designar o ano em que a referida intercalação ocorria.<br />Desta maneira, a Reforma Juliana estabeleceu o seguinte calendário:<br /><br /><strong>Calendário da Reforma Juliana</strong><br /><br />Neste calendário introduz-se um dia extra a cada 4 anos; o ciclo de quatro anos é de 365 + 365 + 365 + 366 dias; o ano promédio é igual a 365, 25 dias, havendo um erro de + 11 minutos e 14 segundos.<br />Tendo César sido assassinado um ano depois de entrar em vigor o Calendário Juliano, a aplicação da reforma foi mal interpretada pelos magistrados encarregados de intercalar os anos bissextos, os quais, em vez de considerar como bissextos os anos 1, 5, 9...da era Juliana — 45, 41, 37 a.C. da nossa contagem — consideraram outros, como os anos 45, 42, 39...<br />No ano 9 a.C., o erro foi corrigido pelo imperador Augustus, suprimindo o caráter bissexto dos anos 5 e 1 a.C. e do ano 4 d.C., anulando por esta maneira os três dias contados a maior naquele intervalo de tempo.<br />Ao ano 9 a.C. correspondia que fosse bissexto, tanto pela contagem correta como pela contagem dos magistrados. Assinala-se que, desde a reforma juliana até essa data (9 a.C.) tinha que se registrar 10 anos bissextos, mas haviam sido registrados 13.<br />A partir do ano 53 da era Juliana — 8 d.C. — foram intercalados regularmente, a cada quatro anos, o que resultou, a partir de então, que os anos múltiplos de quatro da nossa era fossem bissextos.<br />O pequeno erro de 11 minuto e 14 segundos que excede ao ano trópico, para que chegue a valer um dia, leva aproximadamente 128 anos, o que acarreta pouca diferença, mesmo no espaço de várias gerações. Todavia, tal diferença começa a pesar com o transcurso dos séculos.<br /><br /><strong>VII. A Reforma Gregoriana</strong><br /><br />No Concílio de Nicéia, ocorrido no ano 325 d.C., observou-se que aquele erro de 11 minutos e 14 segundos estava ocasionando uma discrepância de três dias em relação ao ano astronômico. Desta forma, a chegada real da Primavera — equinócio de Primavera — estava acontecendo três dias antes da que estava assinalada no calendário.<br />Não obstante, em vez de corrigir a causa da defasagem, os conciliares limitaram-se a adiantar a data do equinócio da Primavera de 25 para 21 de março, estabelecendo tal data em caráter permanente, com a finalidade de determinarem sem erro o dia da Páscoa da Ressurreição, base do calendário eclesiástico.<br />O dia da Páscoa define-se como o Domingo seguinte à primeira Lua cheia que coincida com, ou seja posterior, ao equinócio de Primavera. Daí porque a importância que a igreja dava à determinação desse evento.<br />Mal comparando, o que fizeram em Nicéia foi acertar o relógio que adianta, sem mexer no seu mecanismo. 1177 anos mais tarde, quando Colombo chegava à América, o equinócio de Primavera estava ocorrendo no dia 12 de março, acumulando-se mais de 9 dias de erro.<br />A necessidade de reformar o calendário, no entanto, já se fazia sentir há muito tempo. Na busca de uma solução, submeteu-se a exame vários trabalhos de astrônomos cristãos para retificação do calendário, em resposta a uma espécie de concurso público proposto pelo Papa. Venceu tal concurso Luís Lílio, um médico e astrônomo calabrês, cujo trabalho foi apresentado postumamente por seu irmão Antônio, cuja aprovação ocorreu em bula pontifícia.<br />Como em 1582 já se acumulara um erro de dez dias entre o ano civil e o astronômico, o Papa Gregório XIII determinou que esses dez dias fossem suprimidos, saltando-se do dia 4 de outubro para o dia 15 do mesmo mês naquele ano. Todavia, uma vez corrigido o ano civil, era necessário tomar providências para se evitar o aumento daquela defasagem persistente, uma vez que não se modificara a duração do ano promédio da reforma juliana, nem tampouco a seqüência de três anos comuns e um bissexto então introduzido.<br />Levando-se em conta que o ano civil adiantava um dia inteiro a cada 128, 2 anos, devia adiantar-se 3 dias a cada quatro séculos, aproximadamente. Desta maneira, o problema apontado seria resolvido suprimindo-se esses três dias do referido período de tempo. Assim, com essa finalidade, concordou-se, como segunda medida da reforma, a supressão do caráter bissexto de 3 dos 100 anos bissextos que estariam contidos no período de 400 anos. Isto é, em 400 anos, em vez de intercalar 100 dias, só se intercalaria 97. Os bissextos suprimidos correspondem ao último ano de cada século cujas duas primeiras cifras não fossem múltiplos de quatro. O ciclo, por essa fórmula, passou a ser de 400 anos = (303 x 365) + (97 x 366) = 146097 dias; enquanto o ano promédio ficou igual a 365,2425 dias. Ficou, ainda um erro diminuto de +26 segundos, mas este foi reduzido a apenas 4 segundos com a supressão do bissexto do ano 4000 e de seus múltiplos.<br />Desde que se implantou a Reforma Gregoriana, ocorreram quatro finais de século — XVI, XVII, XVIII e XIX — nos anos 1600, 1700, 1800 e 1900. Como 16 é múltiplo de 4, o ano 1600 teve 366 dias. Entretanto, como 17, 18 e 19 não o são, os anos 1700, 1800 e 1900, que teriam que ser bissextos pelo calendário juliano, não o foram em virtude da aplicação da segunda regra da Reforma Gregoriana. O último ano do século XX, o ano 2000, também será bissexto, pois, de novo, o número formado pelos dois primeiros algarismos, 20, volta a ser múltiplo de 4.<br />O Calendário Gregoriano foi aceito de imediato pela Espanha, por Portugal e por parte da Itália. Mas, logo veio a ser adotado pelos demais países, embora tenha levado mais tempo para ser aceito pelos países de religião protestante, como a Alemanha e a Suíça, que a adotaram em 1700, e a Inglaterra e a Suécia que aceitaram a mudança em 1752. A Rússia foi o país que mais custou a adotar a reforma Gregoriana, somente a aceitando em 1918, um ano depois da revolução socialista. Este é, assim, o calendário pelo qual nos orientamos hoje.<br /><br /><br /><strong>VIII. Outras Informações</strong><br /><br />1. A palavra calendário deriva de kalendarium do latim medieval, significando livro de conta, o qual por sua vez vem de kalendae, palavra traduzida para o português como calendas, isto é, o primeiro dia de cada mês, como vimos anteriormente no calendário romano, quando os juros das dívidas deviam ser pagos.<br />Vejamos a seguir uma comparação entre os vários Sistemas de Calendário: <br /><br /><br /><strong>GREGORIANO</strong> (Nota 1) <strong>JUDEU</strong> <br />Janeiro 31........................ Tishri 30 <br />Fevereiro 28...................... Heshvan 29 <br />em anos bissexto 29 ou 30 <br />Março 31......................... Kislev 29 <br />ou 30 <br />Abril 30......................... Tebet 29 <br />Maio 31.......................... Shebat 30 <br />Junho 30.......................... Adar 29 <br />ou 30 <br />Julho 31......................... Nisan (Nota 3) 30 <br />Agosto 31........................ Iyar 29 <br />Setembro 30....................... Sivan 30 <br />Outubro 31....................... Tammuz 29 <br />Novembro 30...................... Ab 30 <br />Dezembro 31...................... Elul 29 <br /> <br /><br /><strong>MUÇULMAN</strong>........ <strong>HINDU</strong>(nota 5)<br /><br />Muharram (Nota 4)30.............. Chait (Nota 6)(março-abril) <br />Safar 29........................ Baisakh(abril-maio) <br />Rabi I 30........................ Jeth(maio-junho) <br />Rabi II 29....................... Asarh(junho-julho) <br />Jumada I 30...................... Sawan(julho-agosto) <br />Jumada II 29..................... Bhadon(agosto-setembro) <br />Rajab 30......................... Ason(setembro-outubro) <br />Shaban 29........................ Kartik(outubro-novembro) <br />Ramadan 30....................... Aghan (novembro-dezembro) <br />Shawwal 29....................... Pus(dezembro-janeiro) <br />Dhul-Qadah 30.................... Magh(janeiro-fevereiro) <br />Dhul-Hijja 29.................... Phagun(fevereiro-março) <br />em anos bissexto 30 <br /> <br />Nota 1. Os equinócios acontecem a 21 de março e a 23 de setembro, os solstícios em 22de junho e em 22 de dezembro. <br />Nota 2. Em anos bissexto Adar é seguido por Veadar, ou Adar Sheni, um mês intercalado de 29 dias. <br />Nota 3. Antigamente chamado Abib; o primeiro mês do calendário pós-exílico; às vezes chamado de primeiro mês do ano eclesiástico. <br />Nota 4. Atrasado pelas estações; o ano de Muhammadan é lunar e cada mês começa aproximadamente na lua nova; o ano 1 A.H. começou numa sexta-feira, 16 de julho de 622 d. C. <br />Nota 5. Um mês extra é inserido depois de todos os meses nos quais duas luas novas acontecem (uma vez em três anos). O mês intercalado tem o nome do que o precede. <br />Nota 6. Baisakh às vezes é considerado o primeiro mês do ano hindu. <br /><br />2. Pelo Calendário Chinês, cujos anos são lunares, as celebrações do ano novo são de 19 a 21 de fevereiro. <br />Os chineses denominam os ciclos anuais por nome de animais, como os seguintes: <br /> <br />Rato <br />Boi <br />Tigre <br />Coelho <br />Dragão <br />Serpente <br />Cavalo <br />Cabra <br />Macaco <br />Galo <br />Cachorro <br />Porco <br /> <br /><br /><strong>3. Os Dias da Semana: </strong> <br />Domingo <br />Inglês arcaico - sunnandaeg. O primeiro dia da semana dedicado ao sol. <br />Segunda-feira <br />Anglo saxão – Monandaeg. O segundo dia da semana. O dia da lua. <br />Terça-feira <br />O terceiro dia da semana <br />Quarta-feira <br />O quarto dia da semana. O dia de Woden ou o Dia de Odin. Os persas o tinham em alta conta porque a lua foi criada no quarto dia. <br />Quinta-feira <br />Em francês - Jeudi , isto é, o Dia de Júpiter. O quinto dia da semana. <br />O dia do deus THOR. Ambos, Júpiter e Thor eram deuses do trovão. A Quinta-feira às vezes foi chamada dia de tovão (em inglês – Thunderday) <br />Sexta-feira <br />O sexto dia da semana. Na antiga Roma, dies Veneris, dia de Venus. Sexta-feira foi considerada pelos escandinavos como o dia mais afortunado da semana, quando os casamentos aconteciam, mas foi considerado pelos cristãos como dia de azar porque foi o dia da crucificação. <br />Sábado <br />Anglo saxônio - Saeternes daeg, do latin Saturni dies, o dia de Saturno. <br /><br /><strong>4. O Calendário judeu.</strong> <br />Este calendário data a Criação, fixada pelos judeus em 3.761 a. C., e consiste de 12 meses de 29 e 30 dias que se alternam, com um mês adicional de 30 dias interposto em anos intercalados — ditos embolísticos — para prevenir qualquer grande divergência dos meses do ano solar. Os 3º, 6º, 11º, 14º, 17º, e 19º anos do Ciclo Metônico são anos embolísticos. <br /><br /><strong>5. O Calendário muçulmano. </strong><br />Calendário usado em países islâmicos, cujas datas são contadas a partir de 16 de julho de 622 d.C., o dia de Hegira, isto é, o dia do vôo de Maomé de Meca para Medina, em 622. Consiste em 12 meses lunares de 29 dias 12 horas 44 minutos cada. Como resultado o ano muçulmano tem apenas 354 ou 355 dias. Um ciclo é de 30 anos. <br /><br /><strong>IX. Curiosidades:</strong><br />1. Quando a Inglaterra adotou o Calendário Gregoriano — pelo Ato de Chesterfields, em 1751 — em lugar do Calendário Juliano, 11 dia foram engolidos, saltando-se de 2 de setembro de 1752 para 14 setembro. Muitas pessoas pensaram que estavam sendo roubadas em onze dias, bem assim no pagamento de onze dias de trabalho. Houve, consequentemente, um grito popular: “Devolvam nossos onze dias!” , o que provocou uma grande comoção na sociedade inglesa.<br />2. Anno Domini, do latim, no ano de nosso Senhor Jesus Cristo. Este sistema de datar a partir do nascimento de Cristo foi introduzido pelo monge Dionisius Exiguus que viveu na primeira metade do século VI. <br />3. Luctus Annus, do latim, ano de luto. O período durante o qual é suposto que uma viúva permaneça solteira. Se ela se casa ante de nove meses da morte de seu marido, e uma criança eventualmente nasce nesse período, uma dúvida poderia surgir sobre sua paternidade. <br />4. Sabath, do hebreu, dia sagrado de descanso. É, em verdade, o sétimo dia da semana, que foi incorporado pelos antigos hebreus através do 4º Mandamento — Êxodo 20:8-11 — como um dia de descanso e adoração a Deus. O Domingo é, para os cristãos, o Dia do Senhor, sendo freqüentemente chamado, inadequadamente, por alguns, de Sabath. Para os muçulmanos, a Sexta-Feira é o dia semanal de descanso. <br />5. Sabatistas. Aqueles que observam o dia de descanso, geralmente o sábado, com exatidão excessiva, uma característica peculiar dos puritanos ingleses e escoceses, bem como daqueles que professam a religião adventista. Durante tal dia, é proibido qualquer tipo de trabalho ou de recreação. <br />6. Jornada de Sábado. É a jornada mencionada em Atos 1:12 — Então, voltaram para Jerusalém, do monte chamado Olival, que dista daquela cidade tanto como a jornada de um sábado. — na qual não era permitido pelos judeus exceder a distância entre a arca e a parte mais extrema do acampamento. Tal distância era de 2.000 côvados, aproximadamente 1.000 jardas, ou 914 metros. Surgiu da determinação contida em Êxodo 16:29 — Considerai que o SENHOR vos deu o sábado; por isso, ele, no sexto dia, vos dá pão para dois dias; cada um fique onde está, ninguém saia do seu lugar no sétimo dia. — pela qual é proibido viajar no Sábado sagrado. A distância calculada vem de Josué 3:4 — Contudo, haja a distância de cerca de dois mil côvados entre vós e ela (a Arca). Não vos chegueis a ela, para que conheçais o caminho pelo qual haveis de ir, visto que, por tal caminho, nunca passastes antes. — que estabelece a medida de 2.000 côvados entre a arca e as pessoas, quando eles viajavam pelo deserto. Como as suas tendas ficavam a essa distância da arca, lhes foi assegurado que eles poderiam caminhar, no máximo, esta distância, para que pudessem chegar até o local de adoração. <br />7. Ano Sabático. Um ano em sete, quando a terra, de acordo com a lei Mosaica, devia descansar, nela não se semeando nada — Êxodo 23:10, Levítico 25: 2-7, Deuteronômio 15: 1-11 — O termo geralmente é usado em universidades e no mundo acadêmico para especificar um período de liberdade durante o qual o professor se dedica ao estudo ou a viajar. <br /><br /><strong>X. Conclusão</strong><br />Observamos que o ano promédio da Reforma Gregoriana gera um dia a mais no espaço de mais de três milênios — algo como 3.333 anos — aspecto que foi corrigido eliminando-se o caráter bissexto do ano 4000 e de seus múltiplos. Com essa correção, seria necessário que transcorressem 20.000 anos para que , de novo, o ano civil defasasse um dia do ano astronômico.<br />Entretanto, ao se utilizar de escalas de tempo tão grandes, não faz sentido falar de uma exatidão tão precisa, posto que, para intervalos de tempo dessa ordem, passam a ter significado outras variações que antes não se considerou, como a variação da velocidade de rotação da terra — que afeta a duração do dia solar médio — e da velocidade dos seus parâmetros orbitais — que afetam a duração do ano trópico.<br />Diante disso, poder-se-ia pensar que o Calendário Gregoriano é praticamente perfeito, carecendo, portanto, de sentido criticar a essência dele. Não obstante, tal calendário poderia ser otimizado, alcançando-se uma maior precisão com um menor número de correções. Este é o argumento do astrônomo persa Omar Kayyam (1050-1123) que defendia a idéia de se utilizar um período de 128 anos para suprimir o caráter bissexto. Isto é, em 128 seria necessário intercalar 31 dias em vez de 32. Com essa medida, se obteria um ano promédio de 365, 24218 dias, o que se traduziria numa defasagem de um dia a cada 50.000 anos, sem a necessidade de nenhuma outra correção.<br />O único inconveniente do modelo acima está no fato de que não há uma fórmula fácil de se determinar qual o ano bissexto suprimido.<br /><br /><strong>XI. Referências Bibliográficas</strong><br /><br />COOGAN, Michel. The Oxford Companion to the Bible. Oxford University Press, New York, 1993.<br />JÚNIOR, José L. Bíblia 98. Bíblia Net, Versão em multimídia, Curitiba, 1998.<br />THOMPSON, Frank C. Bíblia de Referência Thompson. Editora Vida, São Paulo, 1996.<br />___________ Lira Espanhola. Site da Internet. <br /><br />Pedro Corrêa CabralPastor Pedrohttp://www.blogger.com/profile/14959296050649164906noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-129497258255618826.post-73614595227516153662008-08-05T08:14:00.012-03:002008-08-05T08:25:12.034-03:00Texto Complementar - Ilustração<strong>A BÍBLIA EM ORDEM CRONOLÓGICA</strong><br />Edward Reese – Editora Vida, São Paulo, 2003<br />(transcrição da parte inícial da obra de referência)<br /><br /><strong>A ETERNIDADE PASSADA</strong><br /><br />O homem, como ser finito, não pode compreender os caminhos de um Deus infinito.<br />Há questões sobre as quais a Bíblia silencia, cujas respostas só poderemos obter na eternidade.<br />Muitos estudiosos acreditam que Satanás, após ser expulso do céu, tornou a terra vazia e caótica, destruindo desse modo a criação pré-adâmica. Então Deus, há cerca de seis mil anos, restaurou o planeta, preparando-o para o homem que conhecemos. Outros acreditam que Satanás não pisou a terra antes de Gênesis 3, quando o pecado entrou no mundo. Reese e Klassen acreditam na teoria da dupla criação (também conhecida como teoria do intervalo).<br /><br /><strong>A PREEXISTÊNCIA DE CRISTO</strong><br /><strong>JOÃO 1</strong><br />1. No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. 2 Ele estava no princípio com Deus. <br /><br /><strong>A CRIAÇÃO</strong><br /><br /><strong>1. Declaração</strong><br /><strong>SALMO 90</strong><br />2. Antes de nascerem os montes e de criares a terra e o mundo, de eternidade a eternidade tu és Deus.<br /><br /><strong>2. Origem da criação</strong><br /><br /><strong>GÊNESIS 1</strong><br />1. No princípio Deus criou os céus e a terra.<br /><br /><strong>3. Satanás é expulso do céu</strong><br /><br /><strong>ISAÍAS 14</strong><br />12 Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações! 13 Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; 14 subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo. 15 Contudo, serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo. 16 Os que te virem te contemplarão, hão de fitar-te e dizer-te: É este o homem que fazia estremecer a terra e tremer os reinos? 17 Que punha o mundo como um deserto e assolava as suas cidades? Que a seus cativos não deixava ir para casa?<br /><strong>EZEQUIEL 28</strong><br />13 Estavas no Éden, jardim de Deus; de todas as pedras preciosas te cobrias: o sárdio, o topázio, o diamante, o berilo, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo e a esmeralda; de ouro se te fizeram os engastes e os ornamentos; no dia em que foste criado, foram eles preparados. 14 Tu eras querubim da guarda ungido, e te estabeleci; permanecias no monte santo de Deus, no brilho das pedras andavas. 15 Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniqüidade em ti. 16 Na multiplicação do teu comércio, se encheu o teu interior de violência, e pecaste; pelo que te lançarei, profanado, fora do monte de Deus e te farei perecer, ó querubim da guarda, em meio ao brilho das pedras. 17 Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; lancei-te por terra, diante dos reis te pus, para que te contemplem. 18 Pela multidão das tuas iniqüidades, pela injustiça do teu comércio, profanaste os teus santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu, e te reduzi a cinzas sobre a terra, aos olhos de todos os que te contemplam.<br /><br /><strong>4. Julgamento da criação</strong><br /><br /><strong>GÊNESIS 1</strong><br />2 A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo,<br /><strong>JEREMIAS 4</strong> <br />23 Olhei para a terra, e ei-la sem forma e vazia; para os céus, e não tinham luz. 24 Olhei para os montes, e eis que tremiam, e todos os outeiros estremeciam. 25 Olhei, e eis que não havia homem nenhum, e todas as aves dos céus haviam fugido. 26 Olhei ainda, e eis que a terra fértil era um deserto, e todas as suas cidades estavam derribadas diante do SENHOR, diante do furor da sua ira.<br /><br /><strong>5. Terra criada para habitação</strong><br /><strong>Isaías 45</strong><br />18 Porque assim diz o SENHOR, que criou os céus, o Deus que formou a terra, que a fez e a estabeleceu; que não a criou para ser um caos, mas para ser habitada: Eu sou o SENHOR, e não há outro. <br /><strong>GÉNESIS 2</strong><br />4 Esta é a gênese dos céus e da terra quando foram criados, quando o SENHOR Deus os criou.Pastor Pedrohttp://www.blogger.com/profile/14959296050649164906noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-129497258255618826.post-28508455485265179562007-11-05T13:16:00.000-03:002008-12-11T20:32:43.373-03:00Aula 14 - Traduções da Bíblia<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAFNoF4_ROYaqd-xjV56zgkQmWwb73pHfu41pfC6YSF-UR43YjDPZ41A07UL9rQd9F7xKi4V94y09AQwS_3rRbOpTey86Eqied9eu5JAQvESfecwOcxce58tcajQHsXU6YJebkBQHDogeA/s1600-h/1765413.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAFNoF4_ROYaqd-xjV56zgkQmWwb73pHfu41pfC6YSF-UR43YjDPZ41A07UL9rQd9F7xKi4V94y09AQwS_3rRbOpTey86Eqied9eu5JAQvESfecwOcxce58tcajQHsXU6YJebkBQHDogeA/s320/1765413.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5129401519894817666" /></a><br />A transmissão da revelação da parte de Deus para nós gira em torno de três desenvolvimentos históricos significativos: a invenção da escrita antes de 3000 a.C.; os inícios da tradução antes de 200 a.C.; os desenvolvimentos da imprensa antes de 1600 d.C. Já vimos antes a redação e a cópia dos manuscritos originais da Bíblia, bem como o papel, o método e as práticas da crítica textual na preservação do texto dos documentos originais. Aqui dirigiremos a atenção à tradução da Palavra de Deus.<br />Esta parte será devotada ao estudo dos primeiros esforços na tradução da Bíblia, e àqueles que por meio da língua empreenderam esses esforços. Antes, todavia, de nos voltarmos para essas traduções, e preciso que entendamos com clareza certos termos técnicos da história da tradução da Bíblia.<br /><br /><strong>Definições e distinções</strong><br />Há definições mais precisas de alguns termos básicos usados no estudo da tradução da Bíblia, do que as definições usadas de modo geral. O estudante cuidadoso da Bíblia deve evitar a confusão desses termos.<br /><br /><strong>Definições</strong><br />Tradução, Tradução Literal e Transliteração. Esses três termos estão intimamente correlacionados. <strong>Tradução</strong> é simplesmente a transposição de uma composição literária de uma língua para outra. Por exemplo, se a Bíblia fosse transcrita dos originais hebraico e grego para o latim, ou do latim para o português, chamaríamos esse trabalho tradução. Se esses textos traduzidos fossem vertidos de volta para as línguas originais, também chamaríamos isso tradução. A The new English Bible [Nova Bíblia inglesa] (NEB) (1961,1970) é uma tradução. <strong>A tradução literal </strong>é uma tentativa de expressar, com toda a fidelidade possível e o máximo de exatidão, o sentido das palavras originais do texto que está sendo traduzido. Trata-se de uma transcrição textual, palavra por palavra. O resultado é um texto um tanto rígido. É o caso da obra Young's literal translation of the Holy Bible [Tradução literal de Young da Bíblia Sagrada] (1898). <strong>A transliteração </strong>é a versão das letras de um texto em certa língua para as letras correspon¬dentes de outra língua. É claro que uma tradução literal da Bíblia fica sem sentido para urna pessoa de pouca cultura, diante de um texto que lhe soa esquisito. No entanto, a transliteração de palavras como "anjo", "batizar" e "evangelizar" foram introduzidas nas línguas modernas.<br /><br />Versão, revisão, versão revista e recensão. Esses termos têm estreito relacionamento entre si. Tecnicamente falando, versão é uma tradução da língua original (ou com consulta direta a ela) para outra língua, ainda que comumente se negligencie essa distinção. O segredo para a compreensão é que a versão envolve a língua original de determinado manuscrito. Para todos os efeitos práticos, a NEB é uma versão, tomando-se essa palavra nesse sentido. A The Rheims-Douay Bible (1582-1609) e a King James version [Versão do rei Tiago] (KJV) (ou Authorized version, AV, 1611) não foram traduzidas a partir das línguas originais. A Rheims-Douay foi traduzida da Vulgata latina, que é uma tradução também, enquanto a KJV é a quinta revisão da versão de Tyndale. No entanto, a Revised version [Versão revisada] (RV ou ERV) (1881,1885), a The American standard version [Versão padrão americana] (ASV) (1946, 1952) e a Revised standard version [Versão padrão revisada] (RSV) (1946,1952) são versões no sentido mais comum da palavra. Entenda-se, porém, que o fator crucial é este: uma versão deve ser o trabalho de traduzir um texto da língua original.<br />Revisão, ou versão revista, é termo usado para descrever certas traduções, em geral feitas a partir das línguas originais, que foram cuidadosa e sistematicamente revistas, cujo texto foi examinado de forma crítica, com vistas em corrigir erros ou introduzir emendas ou substituições. A KJV é um exemplo de tal revisão, como também as edições da Bíblia cha¬madas Rheims-Douay-Challoner e RSV. A New American standard Bible [Nova Bíblia americana padrão] (NASB) (1963,1971) é o exemplo mais notável e recente de uma completa revisão do texto bíblico.<br /><br /><strong>Paráfrase e comentário</strong>. <br />Paráfrase é uma tradução "livre" ou "solta". O objetivo é que se traduza a idéia, e não as palavras. Daí que a paráfrase é mais uma interpretação que uma tradução literal do texto. Na história da tradução da Bíblia, esse tipo de texto tem sido muito popular. Na antiguidade, ao redor do século VII, por exemplo, Cedmão fez paráfrases da Criação. Entre as mais recentes paráfrases temos a obra de J. B. Phillips, New Testament in modern English [Novo Testamento em inglês moderno], A Bíblia na linguagem de hoje (BLH), da Sociedade Bíblica do Brasil e a Bíblia viva, de Kenneth Taylor. O comentário é simplesmente uma explicação das Escrituras. O exemplo mais antigo desse tipo de trabalho é o Midrash, ou comentário judaico do Antigo Testamento. Em anos recentes têm surgido traduções da Bíblia conhecidas como "ampliadas".Elas contêm comentários implícitos, às vezes explícitos, do texto, dentro da própria tradução. Bastam dois exemplos para ilustrar esse tipo de Bíblia: a de Kenneth S. Wuest, Expanded translation of the New Testament [Tradução ampliada do Novo Testamento] (1956-1959), que usou os mesmos princípios para as várias partes do discurso; a Lockman Foundation tentou todos os esforços para traduzir a The amplified Bible [A Bíblia ampliada] (1965), que seria também um comentário que emprega travessões, colchetes, parênteses e itálicos.<br /><br /><strong>Distinções</strong><br />Para que apreciemos de modo integral o papel desempenhado pelas traduções da Bíblia, é importante que compreendamos que o próprio processo de traduzi-la é indício da vitalidade de que a Bíblia goza no seio do povo de Deus. Logo de início, as traduções constituíram parte fundamen¬tal da vida religiosa dos antigos judeus. Esses deram o primeiro passo a preceder todas as traduções posteriores. Na igreja primitiva, as atividades missionárias eram acompanhadas por diversas traduções da Bíblia em outras línguas. Com o passar do tempo, surgiu mais uma fase na história da tradução da Bíblia, com o desenvolvimento da imprensa. O resultado foi que devemos fazer perfeita distinção entre as três categorias genéricas de traduções da Bíblia: as traduções antigas, as medievais e as modernas.<br /><br /><strong>Antigas traduções da Bíblia</strong>. As traduções mais antigas continham trechos do Antigo Testamento e às vezes também do Novo. Apareceram antes do período dos concílios da igreja (c. 350 d.C), abarcando obras como o Pentateuco samaritano, os Targuns aramaicos, o Talmude, o Midrash e a Septuaginta (LXX). Logo após o período apostólico, essas traduções antigas tiveram prosseguimento na versão de Áqúila, na revisão de Símaco, nos Héxapla de Orígenes e nas versões siríacas do Antigo Testamento. Antes do Concílio de Nicéia (325) surgiram traduções do Novo Testamento para o aramaico e para o latim.<br /><br /><strong>Traduções medievais da Bíblia</strong>. As traduções da Bíblia produzidas durante a Idade Média em geral continham tanto o Antigo como o Novo Testamento. Foram concluídas entre 350 e 1400. Durante esse período, as traduções da Bíblia eram dominadas pela Vulgata latina de Jerônimo (c. 340-420). A Vulgata constituiu a base tanto dos comentários como do pensamento, por toda a Idade Média. Foi dela que surgiu a paráfrase de Cedmão, a obra “História eclesiástica”, de Beda, o Venerável, e até mesmo a tradução da Bíblia para o inglês, feita por Wycliffe. A Bíblia continuou a ser traduzida para outras línguas durante esse período.<br /><br /><strong>Traduções modernas</strong>. As traduções modernas surgiram a partir da épo¬ca de Wycliffe e de seus sucessores. Seguindo o exemplo de Wycliffe, visto que foi ele o pai da primeira Bíblia completa em inglês, William Tyndale (1492-1536) fez sua tradução diretamente das línguas originais, em vez de usar a Vulgata latina como fonte. Desde essa época surgiu uma multiplicidade incrível de traduções que continham o total ou apenas partes do Antigo e às vezes também do Novo Testamento. Logo após o desenvolvimento dos tipos móveis de Johann Gutenberg (c. 1454), a história da transmissão, da tradução e da distribuição da Bíblia adentra uma era inteiramente nova.<br />A tradução da Bíblia ajudou a manter o judaísmo puro, nos últimos séculos antes de Cristo, como mostra nosso tratamento sobre o Pentateuco samaritano e os Targuns. A tradução chamada Septuaginta (LXX) foi feita em grego, em Alexandria, no Egito (iniciando-se entre 280-250 a.C.), e serviu de fundo às traduções para o latim e para outras línguas. Essas traduções foram vitais para a evangelização, para a expansão e para o estabelecimento da igreja. Desde a Reforma, a disseminação da Bíblia vem resultando em traduções em numerosas línguas. O papel desempenhado pela Bíblia em inglês tem sido importantíssimo entre as modernas traduções. Nosso debate seguirá essas linhas tópicas, genéricas, iniciando-se com as traduções para o aramaico, para o siríaco e outras que se lhes relacionam.<br /><br /><strong>Traduções principais</strong><br />As mais antigas traduções da Bíblia tinham o propósito duplo que não pode ser subestimado: eram usadas a fim de disseminar a mensagem dos autógrafos ao povo de Deus, e ajudá-lo na obrigação de manter a religião pura. A proximidade dos autógrafos também indica sua importância, visto que conduzem o estudioso da Bíblia de volta aos primórdios dos documentos originais.<br /><br /><strong>O Pentateuco samaritano</strong><br />O Pentateuco samaritano pode ter-se originado no período de Neemias, em que se reedificou Jerusalém. Não sendo, na verdade, uma tradução, nem uma versão, mostra a necessidade do estudo cuidadoso para que se chegue ao verdadeiro texto das Escrituras. Essa obra foi, de fato, uma porção manuscrita do texto do próprio Pentateuco. Contém os cinco livros de Moisés, tendo sido escrito num tipo paleo-hebraico, muito semelhante ao que se encontrou na pedra moabita, na inscrição de Siloé, nas Cartas de Laquis e em alguns manuscritos bíblicos mais antigos de Qumran. A tradição textual do Pentateuco samaritano é independente do Texto massorético. Não foi descoberto pelos estudiosos cristãos senão em 1616, embora fosse conhecido dos pais da igreja, como Eusébio de Cesaréia e Jerônimo, tendo sido publicado, pela primeira vez, na obra Poliglota de Paris (1645) e, depois, na Poliglota de Londres (1657).<br />As raízes dos samaritanos podem ser encontradas na antiguidade, na época de Davi. Durante o reinado de Onri (880-874 a.C.) a capital havia sido estabelecida em Samaria (1Rs 16.24), e todo o Reino do Norte veio a ser conhecido como Samaria. Em 732 a.C., os assírios, sob Tiglate-Pileser III (745-727), conquistaram a parte nordeste de Israel e estabeleceram a política de deportar os habitantes e importar outros povos cativos para outras terras conquistadas. Sob Sargão II (em 721 a.C.) seguiu-se o mesmo procedimento, quando esse rei conquistou o resto de Israel. A Assíria impôs o casamento misto sobre os israelitas que não haviam sido deportados, para garantir que nenhuma revolta ocorresse, pois os povos estariam automaticamente perdendo sua nacionalidade e absorvendo as culturas deoutros povos cativos (2Rs 17.24—18.1). De início, os colonos adoravam deuses próprios. Quando os judeus voltaram do cativeiro babilónico, ou um pouco depois disso, esses colonos aparentemente desejaram seguir o Deus de Israel. Os judeus impediram que os samaritanos fossem integrados, e estes, por sua vez, se opuseram à restauração (v. Ed 4.2-6; Ne 5.11—6:19). No entanto, por volta de 432 a.C., a filha de Sambalate casou-se com o neto do sumo sacerdote Eliasibe. O casal misto foi expulso de judá, e tal incidente provocou o fato histórico do rompimento entre judeus e samaritanos (v. Ne 13.23-31).<br />A religião samaritana como sistema separado de adoração, na verdade, data da expulsão do neto do sumo sacerdote, em cerca de 432 a.C. Por essa época, um exemplar da Torá pode ter sido levado a Samaria e colocado no templo que havia sido construído no monte Gerizim, em Siquém (Nablus), onde se estabelecera um sacerdócio rival. Essa data, no século V, pode explicar tanto o texto paleo-hebraico quanto a dupla categorização, ou divisão do Pentateuco samaritano em Lei e livros não-canônicos. Esse apego samaritano à Torá e o isolamento desse povo, separado dos judeus, resultou em que a Lei foi submetida a uma tradição textual à parte.<br />O manuscrito mais antigo do Pentateuco samaritano data de meados do século XIV e trata-se de um fragmento de um pergaminho — o rolo chamado Ábisa. O códice do Pentateuco samaritano mais antigo traz uma nota sobre ter sido vendido em 1149-1150 d.C, embora fosse muito mais velho. A Biblioteca Pública de Nova Iorque abriga outro exemplar que data de cerca de 1232. Imediatamente após a descoberta desse exemplar, em 1616, o Pentateuco samaritano foi aclamado como superior ao Texto massorético. No entanto, depois de cuidadoso estudo, foi relegado a posição inferior. Só recentemente esse documento reobteve um pouco de sua antiga importância, ainda que seja considerado até hoje de menor im¬portância do que o texto massorético da lei. Os méritos do texto do Pentateuco samaritano podem ser avaliados pelo fato de apresentar apenas 6 000 variantes em relação ao Texto massorético, e em sua maior parte constituem diferenças ortográficas que se considerariam insignificantes. Há ali a afirmativa de que o monte Gerizim é o centro de adoração, e não a cidade de Jerusalém, com acréscimos aos relatos de Êxodo 20.2-17 e Deúteronômio 5.6-21. Às vezes, o Pentateuco samaritano e a Septuaginta concordam a respeito de uma redação que, todavia, é diferente do Texto massorético; provavelmente isso se deva a que aqueles trazem o texto original. No entanto, o Pentateuco samaritano reflete tendências culturais na ambientação hebraica, como inserções sectárias, repetições das ordens de Deus, impulsos no sentido de modernizar certas formas verbais antigas e tentativas de simplificar as partes mais difíceis da redação hebraica.<br /><br /><strong>Os targuns aramaicos</strong><br />A origem dos targuns. Há evidências de que os escribas, já nos tempos<br />de Esdras (Ne 8.1-8), estavam escrevendo paráfrases das Escrituras<br />hebraicas em aramaico. Não estavam produzindo traduções, mas textos<br /> explicativos da linguagem arcaica da Torá. As pessoas que realizavam<br />esse trabalho de produzir paráfrases eram chamados methurgerman; desempenhavam papel importante na comunicação da palavra de Deus em língua hebraica (que aos ouvidos samaritanos soava tão exótica), na língua do dia-a-dia que o povo entendia bem. Antes do nascimento de Cristo, quase todos os livros do Antigo Testamento tinham suas paráfrases, ou interpretações (targuns). Ao longo dos séculos seguintes o targum foi sendo redigido até surgir um texto oficial.<br />Os mais antigos targuns aramaicos provavelmente foram escritos na Palestina, durante o século II d.C., embora haja evidências de alguns textos amaraicos de um período pré-cristão. Esses textos primitivos, oficiais do targum, continham a lei e os profetas, embora targuns de épocas posteriores também incluíssem outros escritos do Antigo Testamento. Vários targuns não-oficiais, em aramaico, foram encontrados nas cavernas de Qumran, cujos textos seriam substituídos pelos textos oficiais do século II d.C. Durante o século III, todos os exemplares do Targum palestino oficial, abrangendo a lei e os profetas, foram praticamente engolidos por outra família de paráfrases dos textos bíblicos, chamadas Targuns aramaico-babilônicos. As cópias do targum que contivessem os demais escritos sagrados, além da lei e dos profetas, continuavam a ser feitas extra-oficialmente.<br /><br /><strong>Os targuns que mais se destacaram</strong>. Durante o século III d.C., surgiu na Babilónia um targum aramaico sobre a Torá. Possivelmente se tratava de uma versão corrigida de texto palestino antigo; mas também poderia ter se originado na Babilónia, tendo sido tradicionalmente atribuído a Onquelos (Ongelos), ainda que tal nome provavelmente resultasse de confusão com Áqúila.<br />O Targum de Jônatas ben Uzziel é outro targum babilónico em aramaico que acompanhava os profetas (os primeiros e os últimos). Data do século IV, sendo uma tradução mais livre do texto que a tradução de Onquelos. Esses targuns eram lidos nas sinagogas: o texto de Onquelos ao lado da Torá, que se liam em sua inteireza; Jônatas era lido ao lado de seleções dos profetas (haphtaroth, pl.). Visto que as demais partes do An¬tigo Testamento (escritos) não eram lidas nas sinagogas, não se produziu nenhum targum oficial, mas havia cópias não-oficiais usadas pelas pessoas de modo particular. Pelos meados do século VII, surgiu o Targum do pseudo-Jônatas, sobre o Pentateuco. Trata-se de uma mistura do Targum de Onquelos e alguns textos do Midrash. Outro targum apareceu ao redor do ano 700, o Targum de Jerusalém, do qual sobreviveu apenas um fragmento. Nenhum desses targuns é importante sob o aspecto do texto, mas todos provêem informações importantes para o estudo da hermenêutica, visto que indicam a maneira por que as Escrituras eram interpretadas pelos estudiosos rabínícos.<br /><br /><strong>O Talmude e o Midrash</strong><br />Surgiu um segundo período na tradição dos escribas do Antigo Testamento, entre 100 e 500 d.C, conhecido como o período talmúdico. O Talmude (lit., instrução) desenvolveu-se como um corpo da lei civil e canônica hebraica, com base na Torá. O Talmude basicamente representa as opiniões e as decisões de professores judeus de cerca de 300 a 500 d.C., consistindo em duas principais divisões: o Midrash e a Gemara. A Mishna (repetição, explicação) completou-se perto de 200 d.C., como se fora um digesto hebraico de todas as leis orais, desde o tempo de Moisés. Era altamente considerada como a segunda lei, sendo a Tora a primeira. A Gemara (término, finalização) era um comentário ampliado, em aramaico, da Mishna. Foi transmitida em duas tradições: a Gemara palestina (c. 200) e a Gemara babilônica, maior, dotada de mais autoridade (c. 500).<br />O Midrash (lit., estudo textual) na verdade era uma exposição formal, doutrinária e homilética das Sagradas Escrituras, redigida em hebraico, ou em aramaico. De mais ou menos 100 até 300 d.C., esses escritos foram reunidos num corpo textual a que se deu o nome de Halaka (procedimento), que era uma expansão adicional da Torá, e Hagada (declaração, explicação), ou comentários de todo o Antigo Testamento. O Midrash de fato diferia do Targum neste ponto: o Midrash eram comentários, em vez de paráfrases. O Midrash contém algumas das mais antigas homilias do Antigo Testamento, bem como alguns provérbios e parábolas, textos usados nas sinagogas,<br /><br /><strong>Traduções siríacas</strong><br />A língua siríaca (aramaico) de algumas partes do Antigo Testamento e até mesmo de alguns manuscritos do Novo Testamento, era comparável ao grego coiné e ao latim da Vulgata. O aramaico era a língua comum do povo nas ruas. Visto que os judeus da época do Senhor Jesus, sem dúvida alguma, falavam o aramaico, a língua daquela região toda, é razoável presumir que os judeus que moravam na vizinha Síria também falassem esse idioma. Por sinal, Josefo relata que os judeus do século I faziam proselitismo nas áreas a leste da antiga Nínive, perto de Arbela. Seguindo o exemplo deles, os primeiros cristãos partiram para a mesma área geográfica e prosseguiram até a Ásia Central, a índia e a China. A língua básica desse grande ramo do cristianismo era o siríaco, ou o que F. F. Bruce chamava "aramaico cristão". Uma vez que a igreja começou a mover-se, saindo da Síria, desenvolvendo seus esforços missionários, tornou-se premente a necessidade de uma versão da Bíblia especial para essa região.<br /><br /><strong>Siríaca peshita</strong>. A Bíblia traduzida para o siríaco era comparável à Vulgata latina. Era conhecida como Peshita (lit., simples). O texto do Antigo Testamento da Peshita deriva de um texto surgido em meados do século II ou início do III, embora a designação Peshita date do século IX. É provável que o Antigo Testamento houvesse sido traduzido do hebraico, mas recebeu revisão a fim de conformar-se com a LXX. A Peshita segue o Texto massorético, supre excelente apoio textual, mas não é tão confiável, como testemunha independente do texto genuíno do Antigo Testamento.<br />Acredita-se que a edição padrão do Novo Testamento siríaco derive de uma revisão datada do século V, feita por Rabbula, bispo de Edessa (411-435). Sua revisão de fato se fez em manuscritos que continham versões siríacas, cujo texto foi alterado para aproximar-se mais dos manuscritos gregos que na época eram usados em Constantinopla (Bizâncio). Essa edição do Novo Testamento siríaco, mais a revisão cristã feita no Antigo Testamento siríaco, viria a ser conhecida como Peshita. Em obediência à ordem de Rabbula, segundo a qual um exemplar de sua revisão fosse colocado em cada igreja de sua diocese, a Peshita obteve ampla circulação de meados do século V até seu final. Em decorrência de sua atuação, a versão Peshita veio a tornar-se a versão autorizada dos dois ra¬mos principais do cristianismo siríaco, os nestorianos e os jacobitas.<br /><br /><strong>Traduções gregas </strong><br />Durante as campanhas de Alexandre, o Grande, os judeus foram alvo de considerável favor. À medida que ele avançava em suas conquistas, ia estabelecendo centros de populações e de administradores que cuidassem dos novos territórios que ia conquistando. Muitas dessas cidades receberam o nome de Alexandria, transformando-se em centros de cultura, em que os judeus recebiam tratamento preferencial. Assim como os judeus haviam abandonado sua língua materna, o hebraico, trocando-a pelo aramaico, no Oriente Próximo, abandonaram o aramaico a favor do grego, em cidades grandes como Alexandria, no Egito.<br />Logo após a morte de Alexandre, em 323 a.C, seu Império foi dividido pelos seus generais em várias dinastias. Os ptolomeus ficaram com o controle do Egito, os selêucidas dominaram a Ásia Menor, os antigonidas ficaram com a Macedônia, e surgiram, então, vários reinos de menor importância. No que diz respeito à Bíblia, a dinastia do Egito, sob os ptolomeus, é de importância primordial. Essa dinastia recebeu seu nome de Ptolomeu I Sóter, filho de Lago, governador de 323 a 305 e rei de então até sua morte, em 285. Foi sucedido por seu filho Ptolomeu II Filadelfo (285-246), que se casou com a irmã, Arsínoe, seguindo o costume dos faraós.<br />Durante o reinado de Ptolomeu II Filadelfo, os judeus receberam privilégios políticos e religiosos totais. Também foi durante esse tempo que o Egito passou por um tremendo programa cultural e educacional, sob o patrocínio de Arsínoe. Nesse programa, inclui-se a fundação do museu de Alexandria e a tradução das grandes obras para o grego. Entre as obras que começaram a ser traduzidas para o grego, nessa época, estava o Antigo Testamento hebraico. De fato, era a primeira vez que o Antigo Testamento estava sendo traduzido para outra língua, como dissemos anteriormente. Nosso tratamento agora gira em torno dessa tradução e de outras que a ela se relacionam.<br /><br /><strong>A Septuaginta (LXX)</strong><br />Os líderes do judaísmo em Alexandria produziram uma versão mo¬delar do Antigo Testamento em língua grega conhecida pelo nome de Septuaginta (LXX), palavra grega que significa setenta. Embora esse termo se aplique estritamente ao Pentateuco, que foi o único trecho da Bíblia hebraica que se traduziu totalmente durante o tempo de Ptolomeu II Filadelfo, essa palavra viria a denotar a tradução para o grego de todo o Antigo Testamento. A própria comunidade judaica, mais tarde, perdeu o interesse de preservar a sua versão grega, quando os cristãos começaram a usá-la extensivamente como seu Antigo Testamento. Exclusão fei¬ta ao Pentateuco, o resto do Antigo Testamento provavelmente foi traduzido durante os séculos II e III a.C. É certo que se tenha concluído antes de 150 a.C., porque a obra é discutida numa carta de Aristéias a Filócrates (c. 130-100 a.C.).<br />Essa carta de Aristéias relata como o bibliotecário de Alexandria persuadiu Ptolomeu a traduzir a Torá para o grego, para uso dos judeus dessa cidade. E prossegue, dizendo que seis tradutores de cada uma das doze tribos foram selecionados, terminando o trabalho em apenas 72 dias. Embora as minúcias desse acontecimento sejam pura ficção, pelo menos mostram que a tradução da Septuaginta para uso dos judeus alexandrinos é confiável.<br />A qualidade da tradução dos Setenta não é a mesma, uniformemente, em toda a obra, o que nos leva a várias observações básicas. Primeira: a LXX abrange desde transliterações literais, servis, da Tora, a traduções livres do texto hebraico. Segunda: deve ter havido um propósito em vista, para a produção da LXX, diferente dos propósitos da Bíblia hebraica. Esta, por exemplo, servia para leituras públicas nas sinagogas, enquanto a LXX apenas representaria uma obra especializada dos escribas. Terceira: a LXX foi um esforço pioneiro na tradução do texto do Antigo Testamento, e um excelente exemplo de tal empreendimento. Finalmente, a LXX de modo geral é fiel ao texto do Antigo Testamento hebraico, como dissemos antes.<br />No entanto, há uma questão grave no que concerne à Septuaginta: há passagens em que ela difere do Texto massorético, e outras em que os rolos<br />do mar Morto concordam com a Septuaginta, em oposição ao texto hebraico. Podem-se indicar várias passagens que sublinham essa constatação, como Deuteronômio 32.8, Êxodo 1.5, Isaías 7.14; Hebreus 1.6 (KJV), que cita Deuteronômio 32.43. Além disso, os rolos do mar Morto também contêm alguns dos livros e textos apócrifos do Antigo Testamento, como o salmo 151, só conhecidos mediante a LXX. A partir das evidências dessas variantes de vários textos, podemos observar três tradições básicas do Antigo Testamento: a massorética, a samaritana e a grega (LXX). Em geral o Texto massorético é o melhor, mas em várias passagens a LXX o supera. O Pentateuco samaritano reflete diferenças sectárias e culturais em relação ao texto hebraico, e a LXX é uma tradução, não um texto original. No entanto, quando ambos concordam entre si, contra o Texto massorético, é provável que reflitam o texto original.<br />É preciso lembrar, todavia, que a LXX em geral é fiel ao Texto massorético, como também são fiéis os rolos do mar Morto. Uma comparação das variantes num dado capítulo da Bíblia pode ilustrar isso. Em Isaías 53, e.g., temos 166 palavras, e entram em questão somente 17 letras. Dez dessas letras são simples questões de grafia, não influindo de modo algum no sentido da passagem. Outras quatro letras são o resultado de mudanças estilísticas de pouca monta, como conjunções acrescentadas pelos escribas. As três letras remanescentes compreendem uma única palavra, "luz", que se acrescenta ao versículo 11 sem influir muito no sentido. Essa palavra tem o apoio da LXX e do rolo do mar Morto IA isb. Esse exemplo é típico do manuscrito integral de Isaías A. Ele força o leitor a observar a confiabilidade do texto do Antigo Testamento de tal modo que reconheça que nem mesmo todas as variantes conseguem mudar nossa compreensão do ensino religioso da Bíblia.<br />Graças a essa qualidade, a importância da LXX é facilmente observável. Ela serviu de ponte religiosa sobre o abismo existente entre os judeus (de língua hebraica) e os demais povos (de língua grega), uma vez que atendia às necessidades dos judeus de Alexandria. A LXX serviu também para cobrir o lapso histórico que separava os judeus do Antigo Testamento dos judeus e dos cristãos de língua grega que adotaram a LXX como seu Antigo Testamento, usando-a ao lado do Novo Testamento. Além disso, a LXX representou um precedente importante para os missionários e para os estudiosos cristãos, para que produzissem traduções de toda a Bíblia em várias línguas e dialetos. Sob o aspecto textual, a LXX elimina o vazio que separava o Antigo Testamento hebraico dos grandes códices da igreja (Àlefe, A, B, c e outros). Ainda que a LXX não reflita a excelência do texto hebraico, pelo menos demonstra sua pureza.<br /><br /><strong>Traduções latinas </strong><br />O cristianismo ocidental produziu apenas uma grandiosa tradução da Bíblia, que foi transmitida ao longo de toda a Idade Média, a Vulgata latina, de Jerônimo. Desde que essa tradução emergiu e atingiu posição predominante, assim permaneceu, jamais desafiada, durante mil anos. Outros estudiosos já haviam traduzido as Escrituras para o latim, antes de Jerônimo, mas, a fim de obtermos uma compre¬ensão melhor de sua façanha, vamos examinar essas traduções anteriores.<br /><br /><strong>Antiga latina</strong><br />Antes de apresentar um retrato exato das traduções da Bíblia para o latim, precisamos entender o ambiente linguístico do mundo antigo em geral e do Império Romano em particular. Examinaremos os aspectos linguísticos e culturais da vida no mundo antigo mediante sua estrutura geográfica, antes de nos voltarmos para a tradução latina.<br /><br /><strong>O Oriente Próximo</strong><br />Os tesouros culturais do Oriente Próximo haviam sido variados, sob os aspectos linguístico, político e social, na época em que o Novo Testamento foi escrito. Em qualquer momento, nos tempos antigos, falavam se várias línguas na área ao redor da Palestina. Acompanhando a marcha das mudanças políticas da época, a língua oficial da região sofria alterações radicais. Os idiomas importantes das Escrituras foram tratado anteriormente, mas seus períodos de domínio precisam ser revistos, para que possamos ter boa perspectiva do processo geral da transmissão da Bíblia.<br /><br /><strong>O aramaico</strong>. Logo após o cativeiro babilónico, o idioma oficial da Pa¬lestina era o aramaico. Era usado pelos escribas hebreus já nos dias de Esdras (Ne 8.1-8). Por sinal, foi em aramaico que se escreveram os targuns, durante o período Soferim (400 a.C-200 d.C), o Talmude e o Midrash, no período entre 100 a.C. e 500 d.C. Na época do Novo Testamento, o aramaico era a língua falada pelo povo, tendo sido a língua materna de Cristo e de seus discípulos.<br /><br /><strong>O grego e o latim</strong>. Depois das campanhas de Alexandre, o Grande (335-323 a.C.), o grego tornou-se a língua oficial dentro dos limites do território conquistado. Grande parte desse território mais tarde seria incorporada pelo Império Romano, incluindo-se o Oriente Médio. Foi quando o grego prevaleceu como língua oficial tanto do Egito como da Síria, sob os impérios ptolemaico e selêucida, e também da Palestina, durante a independência hasmoneana (142-63 a.C.). Por ocasião da morte de Átalo III (133 a.C.), o reino de Pérgamo submeteu-se a Roma e, por volta de 63 a.C., todo o Oriente foi incorporado ao Império Romano. A língua latina acompanhou esse crescimento do Estado Romano e espalhou-se como idioma militar do Oriente Próximo.<br /><br /><strong>A Grécia</strong><br />Dialetos helênicos. Helénico é termo que se aplica à cultura grega da Era Clássica. Deriva da palavra grega que quer dizer Grécia: Hellas. Os vários dialetos helénicos (do grego) relacionam-se às três ondas de imigração que aportaram na parte sul da península dos Bálcãs, durante o II milénio a.C.: a imigração jônia, a acaica e dórica. Os jônios foram empurrados para o mar Egeu até a Jônia; outros gregos imigraram ou fundaram colónias no Oriente Próximo, no norte da África e até no sul da Itália e nas ilhas do Mediterrâneo. Ainda que os gregos se dividissem numa série de pequenos estados, estavam unidos pela língua comum em seus vários dialetos. O mais famoso desses dialetos era o ático, que chegou ao clímax quando se deu a unificação dos estados gregos, com o objetivo de fazer oposição aos persas (490-80 a.C.), sendo esses liderados por Dario I e seu filho Xerxes. Nos próximos cinquenta anos, o Império Ateniense ergueu a cultura grega a alturas gloriosas. A guerra do Peloponeso (431-404 a.C.) trouxe a derrota de Atenas; as cidades-estados gregas lutaram enquanto seguiam caminhos próprios. Filipe II, rei da Macedônia (359-336 a.C.), cedeu o trono ao filho, Alexandre (356-323 a.C.), que viria a transformar em realidade o sonho do pai de voltar a reunir os gregos, ao esmagar as revoltas em 335. Com sua ascensão, surge a era helenística.<br /><br /><strong>O grego helenístico</strong>. A cultura helênica pertencia aos povos de língua grega. A cultura helenística, por sua vez, era imposta aos povos cuja lingua materna não era o grego, após as conquistas de Alexandre, o Grande. Esse avanço intencional da cultura e da civilização grega usou como língua básica uma forma linguística nova, mas comum (o koinê dialektos), que derivava da mistura de vários dialetos gregos, conquanto primordialmente derivasse do ático. Durante vários séculos, desde a morte de Alexandre, o coiné haveria de tornar-se a língua oficial do Oriente Próximo e do Egito, bem como da Grécia e da Macedônia. Aliás, foi nesse dialeto que se fez a tradução do Antigo Testamento, a Septuaginta, ou LXX, em Alexandria. À medida que os romanos iam penetrando a Grécia e o Oriente Médio, e de modo especial após a batalha do Ácio (31 a.C.), o latim passou a ser a língua usada pelos militares, pelo fato de a república romana transformar-se em Império Romano sob o comando de Otaviano. Embora os gregos continuassem a despender suas energias em atividades independentes, já não estavam mais na posição de liderança no mundo antigo.<br /><br /><strong>A Itália</strong><br />A partir do século I a.C., verdadeiramente todos os caminhos iam dar em Roma. Ali estava o maior império que o Ocidente já havia visto. Seu progresso foi contínuo, a partir do século X a.C., quando nem mesmo Roma havia sido fundada (c. 753). Por volta de 509 a.C. os reis tarqüínios foram expulsos da cidade, e nasceu a República Romana. Dessa época em diante, a principal cidade do Lácio e suas aliadas começaram a crescer, atingindo enormes dimensões territoriais ao longo do rio Tibre e controlando a maior parte da península Itálica (c. 265); o latim tornou-se a língua comum do povo. De 264 a 146 a.C., Roma esteve em conflito com Cartago, colónia africana da Fenícia, o que resultou nas guerras púnicas. Antes ainda de tais guerras cessarem, Roma invadiu a área oriental do Mediterrâneo, a Ilíria e a Macedônia (c. 229-148). Por volta de 148 a.C., a Macedônia tornou-se província romana e, em 133, Átalo III entregou seu reino (Pérgamo) a Roma. A presença intrusa dos soldados romanos no Oriente Próximo fez que o latim se tornasse a língua militar e comercial (embora não a língua oficial) do Oriente.<br />Na Itália, de modo especial em Roma, o povo era bilíngue. A língua literária das pessoas das classes mais elevadas era o grego, e até mesmo a literatura latina seguia os padrões gregos. Embora tanto os escravos como as pessoas livres fossem bilíngues, a língua militar e comercial era o latim. Durante os primeiros anos da igreja, os cristãos de Roma em geral falavam grego, como demonstram as cartas de Paulo e as de Clemente. Só mais tarde é que os cristãos romanos começaram a usar o latim como língua de comunicação escrita. Durante os séculos IV e V, as tribos germânicas usavam o latim em vez do grego, mais literário, como veículo de comunicação. Pode-se entender isso com facilidade, se nos lembrarmos de que as tribos germânicas entraram em contato mais imediato com as legiões romanas e com os mercadores, muito antes de conhece¬rem a literatura latina.<br /><br /><strong>A África</strong><br />As línguas básicas do norte da África eram o grego e o latim. O grego era usado no Egito, sob os ptolomeus, sendo Alexandria o centro das traduções do Antigo Testamento hebraico e de outras obras para o grego. Mais longe, a oeste, o latim tornou-se a língua básica do Império Romano, visto que essa região ficou sob a influência dos contatos administrativos, comerciais e militares, antes até das guerras púnicas. O latim viria a ser a língua materna de alguns escritores cristãos como Tertuliano (que escreveu tanto em grego como em latim), Cipriano e outros. A igreja primitiva dentro do Império Romano usava o grego como língua literária, e só mais tarde passaria a usar o latim e outras línguas, porque essas se tornaram necessárias e amplamente divulgadas.<br /><br /><strong>As traduções para o latim antigo</strong><br />Embora o latim fosse a língua oficial, a língua comum do Ocidente, o grego manteve sua posição de língua literária de Roma e do Ocidente até o século III. Ao redor dessa época, as traduções das Escrituras Sagradas para o latim antigo já estavam circulando no norte da África e na Europa, o que indicava que os cristãos começaram (no século II) a expressar o desejo de uma tradução da Bíblia para o latim.<br /><br /><strong>O Antigo Testamento</strong>. Uma das mais antigas traduções conhecidas das Escrituras hebraicas, no Ocidente, foi aquela conhecida pela alcunha de Antiga latina, redigida antes de 200 d.C. Era uma tradução feita a partir da LXX, no norte da África, tendo sofrido certa influência judaica. Essa tradução latina foi largamente usada e citada no norte da África. Teria sido esse o Antigo Testamento usado por Tertuliano e por Cipriano no século II. Houve, segundo parece, acréscimo póstumo dos apócrifos não revistos dessa tradução à Vulgata de Jerônimo (Antigo Testamento lati¬no). A não ser pelas citações e pelos fragmentos que chegaram até nós dos manuscritos da Antiga latina, nada mais sobrou dessa obra. Seu valor para o crítico textual de nossos dias é quase nulo.<br /><br /><strong>O Novo Testamento</strong>. A versão do Novo Testamento também chamada Antiga latina é assunto completamente diferente. Sobreviveram dessa obra cerca de 27 manuscritos dos evangelhos, mais 7 do livro de Atos, 6 das cartas paulinas e alguns fragmentos das cartas gerais e do Apocalipse. Tais manuscritos datam do século IV até o XIII, não existindo, porém, nenhuma cópia do códice. Esse fato mostra que a Antiga latina continuou a ser copiada muito tempo depois de haver sido desalojada pela Vulgata.<br />O Novo Testamento da Antiga latina, de data muito antiga, constitui um dos mais valiosos testemunhos documentais das condições do Novo Testamento no Ocidente. É representado por dois, possivelmente três, diferentes textos. O texto africano era usado por Tertuliano e por Cipriano; um texto europeu aparece nos escritos de Ireneu e de Novaciano; e um texto itálico (ítala) é mencionado nas obras de Agostinho. Em vez de considerar o texto de Agostinho o precursor da Vulgata, a tendência recente tem sido considerá-lo simples referência à Vulgata. Se for esse o caso, haveria apenas dois textos diferentes do Novo Testamento na Antiga latina.<br />O texto africano reflete-se no Códice bobiense (k); é uma tradução tosca e livre do texto grego, datando do século II. O texto europeu é representado por dois códices: o Códice vercelense (a), escrito por Eusébio de Vercelli, morto em 370-371, e o Códice veronense (b), que serviu de base para a Vulgata latina.<br /><br /><strong>A Vulgata latina</strong><br />Os numerosos textos da Antiga latina que apareceram ao redor da segunda metade do século IV induziram a uma situação intolerável. Em virtude desse problema, Dâmaso, bispo de Roma (366-384), providen¬ciou uma revisão do texto da Antiga latina. O resultado desse esforço chama-se Vulgata latina.<br /><br /><strong>O propósito da tradução</strong><br />Dâmaso de Roma demonstrou profundo interesse pelas Escrituras, bem como pelos estudiosos de quem se tornara amigo e a quem patrocinava. Estava perfeitamente ciente da diversidade de versões, traduções, revisões e recensões bíblicas no século IV, e acreditava estar fazendo falta uma nova versão autorizada das Escrituras latinas.<br /><br /><strong>Confusão de textos latinos</strong>. Como dissemos anteriormente, havia muita confusão a respeito dos textos latinos da Bíblia. Tal diversidade advinha do fato de o Antigo Testamento latino ser na verdade uma tradução da LXX; o Novo Testamento havia sido traduzido em ocasiões informais, não-oficiais. Exemplo disso pode-se ver na tradução latina usada por Tertuliano. Ele era bilíngue, capacitado para ler e escrever em grego e em latim; usava o texto africano da Antiga latina até fazer sua própria tradução. Não havia fim para os problemas causados por tais traduções relâmpagos, de modo especial se outras pessoas tentassem comparar a autoridade textual subjacente à obra de Tertuliano.<br />As muitas traduções então existentes. Havia inúmeras traduções das Escrituras, mas o latim tornava-se rapidamente a língua oficial da igreja. Além das traduções mencionadas antes, houve dois textos básicos da Antiga latina no Ocidente. Não era de admirar que Dâmaso desejasse uma tradução nova, autorizada, sobre a qual se poderiam basear as doutrinas oficiais da igreja.<br /><br /><strong>Heresias e controvérsias</strong>. Dentro do Império Romano passou a existir muitas controvérsias entre cristãos e judeus. Até mesmo dentro da igreja houve inúmeras controvérsias, logo depois do surgimento de grupos heréticos como os marcionitas, os maniqueus e os montanistas, que baseavam suas doutrinas em seus próprios cânones e traduções de livros da Bíblia. A controvérsia ariana ocasionou o Concílio de Nicéia (325), o de Constantinopla i (381) e o de Éfeso (431). A controvérsia em torno da tradução do Antigo Testamento por Jerônimo com base no original hebraico reflete não só os conflitos entre cristãos e judeus, mas a crença mais problemática ainda sustentada por muitos líderes cristãos, dos quais Agostinho, segundo a qual a LXX era verdadeiramente a Palavra inspirada, inerrante, da parte de Deus, em vez de mera tradução não-inspirada baseada em originais hebraicos.<br /><br /><strong>A necessidade de um texto modelar</strong>. Havia outros fatores que exigiam uma tradução nova, autorizada: dentre esses, a exigência dos estudiosos de um texto modelar, autorizado e confiável, que fosse o veículo das atividades didáticas da igreja, de seus programas missionários e de sua defesa das doutrinas estabelecidas nos grandes concílios. A transmissão de exemplares das Escrituras às igrejas do Império exigia um texto digno da máxima confiança (fidedigno), mas essa situação real sublinhava tal exigência e necessidade.<br /><br /><strong>O autor da Vulgata latina</strong><br />Sofrônio Eusébio Jerônimo (c. 340-420) nascera de pais cristãos, em Estridão, na Dalmácia. Havia sido educado na escola local até sua ida a Roma, com a idade de doze anos. Durante os oito anos seguintes, Jerônimo estudou latim, grego e autores pagãos, antes de tornar-se cristão, com a idade de dezenove anos. Logo após sua conversão e batismo, Jerônimo devotou-se a uma vida de rígida abstinência e de serviço ao Senhor. Passou muitos anos perseguindo uma vida semi-ascética de eremita. De 374 a 379, empregara um rabino judeu para que lhe ensinasse o hebraico, enquanto estivesse residindo no Oriente, perto de Antioquia. Foi ordenado presbítero em Antioquia antes de partir para Constantinopla, onde passou a estudar sob a orientação de Gregório de Nazianzo. Em 382, foi convocado por Roma para ser secretário de Dâmaso, bispo de Roma, e nomeado membro de uma comissão para revisar a Bíblia latina. É provável que Jerônimo tenha aceitado o projeto em virtude de sua devoção a Dâmaso, pois sabia que as pessoas de menor instrução se oporiam fortemente a sua tradução.<br /><br /><strong>A data e o lugar da tradução</strong><br />Jerônimo recebeu a incumbência em 382 e iniciou seu trabalho quase imediatamente. A pedido de Dâmaso, introduziu uma ligeira revisão nos evangelhos, completada em 383. Não se sabe qual teria sido o texto latino que ele usou para fazer sua revisão; provavelmente teria sido do tipo europeu, o qual ele corrigiu de acordo com o texto grego do tipo alexandrino. Logo após ter terminado a revisão dos evangelhos, morre-lhe o mecenas (384), tendo sido eleito novo bispo de Roma. Jerônimo, que aspirava a esse cargo, já havia terminado uma revisão rápida do chamado Saltério romano quando regressou ao Oriente e se estabeleceu em Belém. No entanto, após sua partida, fez uma revisão mais superficial ainda do resto do Novo Testamento. Por ser desconhecida a data dessa revisão, alguns estudiosos acreditam que nem sequer ele mesmo fez o trabalho.<br />De volta a Belém, Jerônimo voltou sua atenção a uma revisão mais cuidadosa do Saltério romano, que completou em 387. Essa revisão é conhecida como Saltério galileu, empregado atualmente no Antigo Testamento da Vulgata. Baseou-se de fato nos Héxapla de Orígenes, a quinta coluna, sendo mera tradução dos Salmos. Tão logo havia terminado sua revisão dos Salmos, Jerônimo iniciou a revisão da LXX, embora esse trabalho não fizesse parte de seus objetivos iniciais. Estando em Belém, Jerônimo havia iniciado seu trabalho de aperfeiçoar seus conhecimentos do hebraico, de modo que pudesse executar uma nova tradução do Antigo Testamento diretamente das línguas originais.<br />Os amigos ao redor aplaudiram seus esforços, mas outros, muito longe, começaram a suspeitar que Jerônimo estaria judaizando; alguns se enfureceram quando Jerônimo lançou dúvidas sobre a "inspiração da Septuaginta". A partir dessa época, ele se tornou mais envolvido com sua tradução e com a supervisão dos monges de Belém. Traduziu o Saltério hebraico com base no texto hebraico usado na época, na Palestina. Na verdade, sua tradução jamais suplantou o Saltério galileu, nem o Saltério romano, no uso litúrgico, embora fosse calcada nas línguas originais e não em traduções. Jerônimo continuou a traduzir as Escrituras hebraicas a despeito da oposição e da saúde precária. Finalmente, em 405, completou sua tradução latina do Antigo Testamento hebraico, que não recebeu boa acolhida de imediato. Nos últimos quinze anos de vida, Jerônimo continuou escrevendo, traduzindo e revisando sua tradução do Antigo Testamento.<br />Jerônimo pouca atenção deu aos apócrifos; só com grande relutância produziu uma tradução apressada de algumas passagens de Judite, de Tobias e do resto de Ester, mais as adições de Daniel — antes de morrer. O resultado foi que a versão dos livros apócrifos, pertencente à Antiga latina, foi adicionada à Bíblia chamada Vulgata latina na Idade Média, sobre o cadáver de Jerônimo.<br /><br /><strong>As traduções da Bíblia para o inglês moderno</strong><br />A Bíblia é o livro mais divulgado do mundo. Uma das evidências mais fortes disso é o grande número de traduções e a variedade de línguas para as quais já foi traduzida. A Bíblia inteira já foi traduzida para mais de duzentas línguas, e partes dela aparecem em mais de mil línguas e dialetos. Essas traduções ilustram amplamente o elo definitivo na cadeia que provém de Deus para nós, mas nossa principal preocupação e atenção estão agora dirigidas à tradução da Bíblia para o inglês. Nosso levantamento estará centrado nas traduções com base nas Bíblias de Rheims-Douai e do rei Tiago, de fins do século XV e começos do XVI.<br /><br /><strong>As traduções e as versões protestantes</strong><br />Seguindo o princípio da Reforma de interpretação particular, os protestantes produziram um número maior de traduções particulares da Bíblia do que os católicos romanos. Algumas das primeiras traduções derivaram das descobertas de novos materiais manuscritos, visto que nenhum dos grandes manuscritos tinha sido descoberto na época da tradução do rei Tiago, exceto o Códice Beza (D), muito pouco usa¬do. Antes de examinar essas traduções particulares, devemos deter-nos em algumas das tentativas oficiais de fazer a Bíblia do rei Tiago alinhar-se com as descobertas dos manuscritos.<br /><br /><strong>A Bíblia inglesa revisada</strong><br />Todas as revisões da Bíblia do rei Tiago foram feitas sem autorização oficial eclesiástica ou real. Aliás, nenhuma revisão oficial dessa Bíblia foi apresentada por mais de um século depois do trabalho do dr. Blayney (1769). Algumas das revisões que chegaram a ser publicadas foram de imprudentes, com adições como a cronologia de Ussher. Não obstante, houve algumas revisões excelentes de caráter não-oficial, como no caso de uma edição anônima de A Bíblia Sagrada contendo a Versão autorizada do Antigo e do Novo Testamento, com muitas emendas (1841). No prefácio dessa revisão não-oficial da Bíblia do rei Tiago, o autor menciona ter usado manuscritos ainda não disponíveis em 1611.<br />Com as melhorias entre os estudiosos da Bíblia durante o século XIX, incluindo-se o acúmulo de manuscritos mais antigos e melhores, com as<br />descobertas arqueológicas no mundo antigo como um todo, e com as mu-danças na sociedade inglesa e na sua língua, a revisão da Bíblia do rei Tiago de caráter mais "oficial" tornava-se obrigatória. Antes que isso pudesse ser realizado, entretanto, um grupo de estudiosos notáveis publicou a “Edição variorum do Novo Testamento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (1880). Os organizadores dessa obra, R. L. Clark, Alfred Goodwin e W. Sanday, fizeram essa revisão por "ordem especial de sua majestade". Eles tiveram a tarefa de revisar a Bíblia do rei Tiago à luz das várias leituras das melhores autoridades em textos. Por conseguinte, a Bíblia variorum seguiu a tradição de Tyndale, de Coverdale, da Grande Bíblia, da Bíblia de Genebra, da Bíblia dos bispos e das várias edições da Bíblia do rei Tiago. Além disso, ela preparou o caminho para a Bíblia inglesa revisada.<br />O desejo muito difundido de uma revisão plena da Bíblia autorizada resultou numa convocação da Província da Cantuária em 1870. Samuel Wilberforce, bispo de Winchester, propôs revisar o Novo Testamento em que os textos gregos revelassem traduções inexatas ou incorretas no texto do rei Tiago. O bispo Ollivant ampliou a proposta e incluiu o Antigo Testamento e os textos hebraicos. Por consequência, dois grupos foram nomeados. Originariamente havia 24 membros em cada grupo, mas foram mais tarde ampliados para cerca de 65 revisores de diversas denominações. Esses grupos começaram a trabalhar em 1871, e em 1872 um grupo de estudiosos americanos foi convidado a participar do empreendimento em caráter consultivo. As editoras das Universidades de Oxford e de Cambridge assumiram os custos do projeto sob a condição de lhes serem dados privilégios autorais exclusivos do produto pronto. Mais de três milhões de exemplares da revisão foram vendidos nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha em menos de um ano. O Antigo Testamento foi lançado em 1885, os livros apócrifos em 1896 (1898 nos Estados Unidos) e a Bíblia completa foi publicada em 1898. Embora o texto da revisão fosse muito mais exato que o da Bíblia do rei Tiago, levaria diversas gerações para que as alterações nas palavras e nos ritmos fossem aceitas.<br />Parte da tradução da Bíblia inglesa revisada não satisfez completamente à junta americana de revisão, mas seus membros haviam concordado em não dar por catorze anos "nenhuma sanção à publicação de qualquer outra edição da Versão revisada que não fosse a publicada pelas editoras daquelas universidades inglesas". Em 1901, foi publicada a Edição padrão americana da Versão revisada, denunciando a existência de algumas edi¬ções não-autorizadas ou não-padronizadas dessa versão, publicadas antes daquela época. Outras revisões foram feitas pela junta americana, como a mudança dos nomes "Senhor" para "Jeová" e "Holy Ghost" [Es¬pírito Santo] para "Holy Spirit" [Espírito Santo]. As estruturas dos paragrafos foram revisadas e abreviadas, e breves cabeçalhos foram acres¬centados. Aos poucos, a Versão padrão americana (ASV) ganhou aceitação nos Estados Unidos e começou até a ser importada pela Grã-Bretanha.<br />Como a sua equivalente inglesa, a ASV perde a beleza da Bíblia do rei Tiago, mas suas interpretações mais corretas têm-na tornado muito aceitável por parte de professores e estudantes da Bíblia. Em 1929, os direitos autorais passaram para o Concílio Internacional de Educação Religiosa, que fez nova revisão do texto. Como as traduções anteriores, que erigiam seu trabalho sobre o alicerce deixado por William Tyndale, a ASV foi a obra de muitas mãos e diversas gerações.<br /><br /><strong>A Bíblia padrão revisada</strong><br />Meio século depois que a revisão inglesa da Bíblia do rei Tiago foi publicada, o Concílio Internacional de Educação Religiosa expressou seu desejo de utilizar as grandes melhorias advindas recentemente dos estudiosos da Bíblia. O texto de Westcott e de Hort do Novo Testamento fora incisivamente modificado por conta das descobertas de papiros e de novos manuscritos. Ademais, o estilo e o gosto literário da língua inglesa continuavam a mudar, de modo que uma nova revisão se considerou necessária. Em 1937, o Concílio Internacional autorizou uma junta a empreender essa revisão.<br />A junta da revisão se constituiu de 22 estudiosos notáveis que deveriam seguir o significado da Versão padrão americana (RSV), a menos que dois terços da junta concordassem em mudar a interpretação. Foram usados como parâmetros o emprego das formas mais simples e mais atuais dos pronomes, salvo em referência a Deus, e também a ordem mais direta das palavras. Atrasado pela Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o Novo Testamento não surgiu senão em 1946, com o Antigo sendo publicado em 1952 e os livros apócrifos em 1957. Essas publicações foram lançadas após tremenda campanha de publicidade que pôs em movimento reações quase previsíveis. Em contraposição à Versão padrão americana, a Versão padrão revisada foi acusada de velar passagens messiânicas tradicionais, como no caso da substituição de "virgem" por "uma jovem", em Isaías 7.14. As críticas ao Novo Testamento não foram tão contundentes, embora fossem contundentes o bastante. Não obstante todas as críticas, a Versão padrão revisada fornece à igreja de fala inglesa uma revisão atualizada da Bíblia baseada no "texto crítico".<br /><br /><strong>A Nova Bíblia inglesa</strong><br />Não satisfeita com a idéia de que a Versão padrão revisada fosse uma continuação da antiga tradição das primeiras traduções da Bíblia inglesa, a Assembleia Geral da Igreja da Escócia reuniu-se em 1946 a fim de deliberar sobre uma tradução completamente nova. Uma junta comum foi designada em 1947, e três grupos foram escolhidos: um para o Antigo Testamento, um para o Novo e um para os livros apócrifos. C. H. Dodd foi nomeado presidente do grupo especializado em Novo Testamento e, em 1949, foi nomeado diretor de toda a tradução. O Novo Testamento da Nova Bíblia inglesa surgiu em 1961, com o Antigo Testamento e os livros apócrifos sendo publicados em 1970.<br />Os princípios de tradução da Nova Bíblia inglesa buscaram apresentar um idioma inglês que fosse "perpétuo", evitando tanto os anacronismos quanto os modernismos efêmeros. Os tradutores procuraram tornar essa versão simples o suficiente para trasmitir seu significado sem ser árida nem vulgar, pois esperavam produzir uma tradução que fosse uma segunda versão fidedigna, a par da Bíblia do rei Tiago.<br />Mais de quatro milhões de exemplares da Nova Bíblia inglesa foram vendidos durante o primeiro ano de publicação. Diferindo bastante tanto da Versão inglesa revisada quanto da Versão padrão revisada, que a precederam, seus tradutores frequentemente deixavam de lado as traduções literais do texto, especialmente quando achavam que o texto permitia duas possíveis interpretações. Além disso, a Nova Bíblia inglesa tem sido criticada por seus anglicismos e por sua concentração sobre a inteligibilidade e não sobre a literalidade do significado, bem como pela reorganização crítica de algumas seções do Antigo Testamento. Isso indubitavelmente reflete a influência da teologia contemporânea por intermédio dos tradutores. Considerando-se todas as coisas, entretanto, essa tradução continuou a tradição de seus antepassados ingleses e é uma obra valiosa em si mesma.<br /><br /><strong>A Nova Bíblia padrão americana</strong>Durante a década de 1960, tentou-se fazer mais uma revisão da Versão padrão americana. Esse esforço foi empreendido pela Fundação Lockman, na tentativa de reviver, bem como revisar aquela versão. A junta de tradução declarou seu propósito quádruplo no prefácio que acompanha o Novo Testamento (1963). Em 1970, a Bíblia toda foi publicada seguindo o mesmo objetivo quádruplo. Eles buscaram ser fiéis aos textos hebraicos e gregos originais, ser gramaticalmente corretos, ser compreensíveis para as massas e dar o devido lugar ao Senhor Jesus Cristo.<br />Os tradutores da Nova Bíblia padrão americana (NASV) tentaram renovar a Versão padrão americana, a "rocha da veracidade bíblica". Embora não tenham chegado aos pés da obra literária de outras versões modelares, no processo de tradução, produziram uma herdeira útil e fiel da Versão padrão americana. Outra tradução mais ou menos oficial foi recentemente efetuada sob os auspícios da Sociedade Bíblica de Nova Iorque. Intitula-se Bíblia Sagrada: nova versão internacional. A parte do Novo Testamento foi lançada em 1973, e o Antigo Testamento foi lançado em 1976.<br /><br /><strong>As traduções para o português</strong><br />Agora, procuraremos apresentar um breve histórico da tradução da Bíblia em português, tanto em Portugal quanto no Brasil.<br /><br /><strong>Período das traduções parciais</strong><br />"Venturoso" ou "Bem-Aventurado". A despeito desse título ter sido atribuído a D. Manuel como o principal incentivador das grandes navegações, mais bem-aventurado que esse rei português foi um de seus antecessores, D. Diniz (1279-1325), por ter sido a primeira pessoa a traduzir para a língua portuguesa o texto bíblico, tornando assim possível a futura grande navegação dos leitores de língua portuguesa pelo imenso mar da Palavra de Deus.<br />Grande conhecedor do latim clássico e leitor da Vulgata, D. Diniz, resolveu enriquecer o português, traduzindo as Sagradas Escrituras para o nosso idioma, tomando como base a Vulgata latina. Embora lhe faltasse perseverança e só conseguisse traduzir os vinte primeiros capítulos do livro de Génesis, esse seu esforço o colocou em uma posição historiemente anterior a alguns dos primeiros tradutores da Bíblia para outros idiomas, como João Wycliffe por exemplo, que só em 1380 traduziu as Escrituras para o inglês.<br />Fernão Lopes afirmou em seu curioso estilo de cronista do século XV, que d. João I (1385-1433), um dos sucessores de d. Diniz ao trono português, fez grandes letrados tirar em linguagem os Evangelhos, os Atos dos Apóstolos e as epístolas de Paulo, para que aqueles que os ouvissem fossem mais devotos acerca da lei de Deus (Crónica de d. João I, segunda parte). Esses "grandes letrados" eram vários padres que também se utilizaram da Vulgata latina em seu trabalho de tradução.<br />Enquanto esses padres trabalhavam, d. João I, também conhecedor do latim, traduziu o livro de Salmos, que foi reunido aos livros do Novo Testamento traduzidos pelos padres. Seu sucessor, d. João II, outro grande defensor das traduções do texto bíblico, mandou gravar no seu cetro a parte final do versículo 31 de Romanos 8: "Se Deus é por nós, quem será contra nós?", atestando assim quanto os soberanos portugueses reverenciavam a Bíblia.<br />Como nessa época a imprensa ainda não havia sido inventada, os livros eram produzidos em forma manuscrita, fazendo-se uso de folhas de pergaminho. Isso tornava sua circulação extremamente reduzida. Por ser trabalho lento e caro, era necessário que, ou a Igreja Romana, ou alguém muito rico assumisse os custos do projeto. Ninguém mais indicado para isso que os nobres e os reis.<br />Outras figuras da monarquia de Portugal também realizaram traduções parciais da Bíblia. A neta do rei d. João I e filha do infante d. Pedro, a infanta d. Filipa, traduziu do francês os evangelhos. No século XV surgiram publicados em Lisboa o evangelho de Mateus e trechos dos demais evangelhos, trabalho realizado pelo frei Bernardo de Alcobaça, que pertenceu à grande escola de tradutores portugueses da Real Abadia de Alcobaça. Ele baseou suas traduções na Vulgata latina.<br />A primeira harmonia dos evangelhos em língua portuguesa, preparada em 1495 pelo cronista Valentim Fernandes e intitulada “De Vita Christi”, teve os seus custos de publicação pagos pela rainha dona Leonora, espo¬sa de d. João II. Cinco anos após o descobrimento do Brasil, dona Leonora mandou também imprimir o livro de Atos dos Apóstolos e as epístolas universais de Tiago, de Pedro, de João e de Judas, que haviam sido traduzidos do latim vários anos antes por frei Bernardo de Brinega.<br />Em 1566 foi publicada em Lisboa uma gramática hebraica para estudantes portugueses. Ela trazia em português, como texto básico, o livro de Obadias.<br /><br /><strong>Outras traduções</strong><br />Outras traduções em língua portuguesa, realizadas em Portugal, são dignas de menção:<br />Os quatro evangelhos, traduzidos em elegante português pelo padre jesuíta Luiz Brandão.<br />No inicio do srculo XIX, o padre António Ribeiro dos Santos traduziu os Evangelhos de Mateus e de Marcos, ainda hoje inéditos.<br />É fundamental salientar que todas essas obras sofreram, ao longo dos séculos, implacável perseguição da Igreja Romana, e de muitas delas só escaparam um ou dois exemplares, hoje raríssimos. A Igreja Romana também amaldiçoou a todos os que conservassem consigo essas "traduções da Bíblia em idioma vulgar", conforme as denominavam.<br /><br /><strong>Período das traduções completas</strong><br /><strong>Tradução de Almeida</strong><br />Coube a João Ferreira de Almeida a grandiosa tarefa de traduzir pela primeira vez para o português o Antigo e o Novo Testamento. Nascido em 1628, em Torre de Tavares, nas proximidades de Lisboa, João Ferreira de Almeida, quando tinha doze anos de idade, mudou-se para o sudeste da Ásia. Após viver dois anos na Batávia (atual Jacarta), na ilha de Java, Indonésia, Almeida partiu para Málaca, na Malásia, e lá, pela leitura de um folheto em espanhol acerca das diferenças da cristandade, converteu-se do catolicismo à fé evangélica. No ano seguinte, começou a pregar o evangelho no Ceilão (hoje Sri Lanka) e em muitos pontos da costa de Malabar.<br />Não tinha ele ainda dezessete anos de idade quando iniciou o trabalho de tradução da Bíblia para o português, mas lamentavelmente perdeu o seu manuscrito e teve de reiniciar a tradução em 1648.<br />Por conhecer o hebraico e o grego, Almeida pôde utilizar-se dos manuscritos dessas línguas, calcando sua tradução no chamado Texto receptus, do grupo bizantino. Durante esse exaustivo e criterioso trabalho, ele também se serviu das traduções holandesa, francesa (tradução de Beza), italiana, espanhola e latina (Vulgata),<br />Em 1676, João Ferreira de Almeida concluiu a tradução do Novo Testamento, e naquele mesmo ano remeteu o manuscrito para ser impresso na Batávia; todavia, o lento trabalho de revisão a que a tradução foi submetida levou Almeida a retomá-la e enviá-la para ser impressa em Amsterdã, na Holanda. Finalmente, em 1681 surgiu o primeiro Novo Testamento em português, trazendo no frontispício os seguintes dizeres, que transcrevemos ipsis litteris:<br /><br />“O Novo Testamento, isto he, Todos os Sacro Sanctos Livros e Escritos Evangélicos e Apostólicos do Novo- Concerto de Nosso Fiel Salvador e Redentor lesu Cristo, agora traduzido em português por João Ferreira de Almeida, ministro pregador do Sancto Evangelho. Com todas as licenças necessárias. Em Amsterdam, por Viuva de J. V. Someren. Anno 1681”.<br /><br />Milhares de erros foram detectados nesse Novo Testamento de Almeida, muitos deles produzidos pela comissão de eruditos que tentou harmonizar o texto português com a tradução holandesa de 1637. O próprio Almeida identificou mais de dois mil erros nessa tradução, e outro revisor, Ribeiro dos Santos, afirmou ter encontrado número bem maior.<br />Logo após a publicação do Novo Testamento, Almeida iniciou a tradução do Antigo, e, ao falecer, em 6 de agosto de 1691, havia traduzido até Ezequiel 41.21. Em 1748, o pastor Jacobus op den Akker, de Batávia, reiniciou o trabalho interrompido por Almeida, e cinco anos depois, em 1753, foi impressa a primeira Bíblia completa em português, em dois volumes. Estava, portanto concluído o inestimável trabalho de tradução da Bíblia por João Ferreira de Almeida.<br />Apesar dos erros iniciais, ao longo dos anos estudiosos evangélicos têm depurado a obra de Almeida, tornando-a a preferida dos leitores de fala portuguesa.<br /><br /><strong>A Bíblia de Rahmeyer</strong><br />Tradução completa da Bíblia, ainda hoje inédita, feita em meados do século XVIII pelo comerciante hamburguês Pedro Rahmeyer, que residiu em Lisboa por 30 anos. O manuscrito dessa Bíblia se encontra na Biblioteca do Senado de Hamburgo, na Alemanha.<br /><br /><strong>Tradução de Figueiredo</strong><br />Nascido em 1725, em Tomar, nas proximidades de Lisboa, o padre António Pereira de Figueiredo, partindo da Vulgata latina, traduziu integralmente o Novo e o Antigo Testamento, gastando dezoito anos nessa laboriosa tarefa. A primeira edição do Novo Testamento saiu em 1778, em seis volumes. Quanto ao Antigo, os dezessete volumes de sua primeira edição foram publicados de 1783 a 1790. Em 1819 veio à luz a Bíblia completa de Figueiredo, em sete volumes, e em 1821 ela foi publicada pela primeira vez em um só volume.<br />Figueiredo incluiu em sua tradução os chamados livros apócrifos que o Concílio de Trento havia acrescentado aos livros canônicos em 8 de abril de 1546. Esse fato tem contribuído para que a sua Bíblia seja ainda hoje apreciada pelos católicos romanos nos países de fala portuguesa.<br />Na condição de exímio filólogo e latinista, Figueiredo pôde utilizar-se de um estilo sublime e grandiloqüente, e seu trabalho resultou em um verdadeiro monumento da prosa portuguesa. Porém, por não conhecer<br />as línguas originais e ter se baseado tão-somente na Vulgata, sua tradução não tem suplantado em preferência popular o texto de Almeida.<br /><br /><strong>A Bíblia no Brasil</strong><br /><strong>Traduções parciais</strong><br />Nazaré. Em 1847 publicou-se, em São Luís do Maranhão, O Novo Testamento, traduzido por frei Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré, que se baseou na Vulgata. Esse foi, portanto, o primeiro texto bíblico traduzido no Brasil. Essa tradução tornou-se famosa por trazer em seu prefácio pesadas acusações contra as "Bíblias protestantes, que, segundo os acusadores, estariam falsificadas e falavam contra Jesus Cristo e contra tudo quanto há de bom".<br />Em 1879, a Sociedade de Literatura Religiosa e Moral do Rio de Janeiro publicou o que ficou conhecida como A primeira edição brasileira do Novo Testamento de Almeida. Essa versão foi revista por José Manoel Garcia, lente do Colégio D. Pedro II, pelo pastor M. P. B. de Carvalhosa, de Campos, Rio de Janeiro, e pelo primeiro agente da Sociedade Bíblica Americana no Brasil, pastor Alexandre Blackford, ministro do evangelho no Rio de Janeiro.<br />Harpa de Israel foi o título que o notável hebraísta P. R. dos Santos Saraiva deu à sua tradução dos Salmos publicada em 1898.<br />Em 1909, o padre Santana publicou sua tradução do Evangelho de Mateus, vertida diretamente do grego. Três anos depois, Basílio Teles publicou a tradução do Livro de Jó, com sangrias poéticas. Em 1917, foi a vez de J. L. Assunção publicar o Novo Testamento, tradução baseada na Vulgata latina.<br />Traduzido do velho idioma etíope por Esteves Pereira, o livro de Amós surgiu isoladamente no Brasil em 1917. Seis anos depois, J. Basílio Pereira publicou a tradução do Novo Testamento e do Livro dos Salmos, ambos baseados na Vulgata. Por essa época surgiu no Brasil (infelizmente, sem indicação de data) a Lei de Moisés (Pentateuco), edição bilíngue hebraico-português, preparada pelo rabino Meir Masiah Melamed.<br />O padre Huberto Rohden foi o primeiro católico a traduzir no Brasil O Novo Testamento diretamente do grego. Publicada pela instituição católica romana Cruzada Boa Esperança, em 1930, essa tradução, por estar baseada em textos considerados inferiores, sofreu severas críticas.<br /><br /><strong>Traduções completas</strong><br />Em 1902, as sociedades bíblicas, empenhadas na disseminação da Bíblia no Brasil, patrocinaram nova tradução da Bíblia para o português baseada em manuscritos melhores que os utilizados por Almeida. A comissão constituída para tal fim, composta de especialistas nas línguas originais e no vernáculo, entre eles o gramático Eduardo Carlos Pereira, fez uso de ortografia correta e vocabulário erudito. Publicado em 1917, esse trabalho ficou conhecido como Tradução brasileira. Apesar de ainda hoje apreciadíssima por grande número de leitores, essa Bíblia não conseguiu firmar-se no gosto do grande público.<br />Coube ao padre Matos Soares realizar a tradução mais popular da Bíblia entre os católicos, na atualidade. Publicada em 1930 e baseada na Vulgata, essa tradução possui notas entre parênteses defendendo os dogmas da Igreja Romana. Por esse motivo recebeu apoio papal em 1932.<br />A primeira revisão da Bíblia em português feita pela Trinitarian Bible Society [Sociedade Bíblica Trinitária] foi iniciada no dia 16 de maio de 1837. Essa decisão foi tomada seis anos após a formação da Sociedade. O primeiro projeto escolhido para a publicação da Bíblia, numa língua estrangeira pela Sociedade, foi o português. O rev. Thomas Boys, do Trinity College, Cambridge, foi encarregado de liderar o empreendimento. No ano de 1969, em São Paulo, foi fundada a Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, com o objetivo de revisar e publicar a Bíblia de João Ferreira de Almeida como a “Edição corrigida e revisada fiel ao texto original”.<br />Em 1943, as Sociedades Bíblicas Unidas encomendaram a um grupo de hebraístas, helenistas e vernaculistas competentes uma revisão da tradução de Almeida. A comissão melhorou a linguagem, a grafia de nomes próprios e o estilo da Bíblia de Almeida.<br />Em 1948, organizou-se a Sociedade Bíblica do Brasil destinada a "Dar a Bíblia à Pátria". Essa entidade fez duas revisões no texto de Almeida, uma mais aprofundada, que deu origem à “Edição revista e atualizada no Brasil”, e uma menos profunda, que conservou o antigo nome Corrigida.<br />Em 1967, a Imprensa Bíblica Brasileira, criada em 1940, publicou a sua Edição revisada de Almeida, cotejada com os textos em hebraico e grego. Essa edição foi posteriormente reeditada com ligeiras modificações.<br />Mais recentemente, a Sociedade Bíblica do Brasil traduziu e publicou A Bíblia na linguagem de hoje (1988). O propósito básico dessa tradução tem sido o de apresentar o texto bíblico numa linguagem comum e corrente.<br />Em 1990, a Editora Vida publicou a sua Edição contemporânea da Bíblia de Almeida. Essa edição eliminou arcaísmos e ambiguidades do texto quase tricentenário de Almeida, e preservou, sempre que possível, as excelências do texto que lhe serviu de base.<br />Uma comissão constituída de especialistas em grego, hebraico, aramaico e português, coordenada pelo Rev. Luiz Sayão, trabalha em<br />uma nova tradução das Escrituras para a língua portuguesa, sob o patrocínio da Sociedade Bíblica Internacional, com o título “Nova Versão Internacional”(NVI), da qual já se publicou o Novo Testamento em 1993.<br />São também dignas de referência: a Bíblia traduzida pelos monges de Meredsous (1959); A Bíblia de Jerusalém, traduzida pela Escola Bíblica de Jerusalém (padres dominicanos) e editada no Brasil por Edições Paulinas em 1981, com notas, e a Edição Integral da Bíblia, trabalho de diversos tradutores sob a coordenação de Ludovico Garmus, editado pela Vozes e pelo Círculo do Livro, também com notas.Pastor Pedrohttp://www.blogger.com/profile/14959296050649164906noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-129497258255618826.post-69766499158948208082007-11-01T16:42:00.000-03:002007-11-01T20:34:21.760-03:00Aula 13 - A recuperação do texto da Bíblia<a href="http://tbn0.google.com/images?q=tbn:hTyCh9KzpZ9zlM:www.geomundos.com/negocios/fapreniperusac/papiro-con-pergamino-burilado_foto_29690lzomuydlgg.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px;" src="http://tbn0.google.com/images?q=tbn:hTyCh9KzpZ9zlM:www.geomundos.com/negocios/fapreniperusac/papiro-con-pergamino-burilado_foto_29690lzomuydlgg.jpg" border="0" alt="" /></a><br />Embora não se tenham notícias da existência de autógrafos do Antigo e do Novo Testamento, existem numerosas cópias manuscritas e citações à disposição dos estudiosos da Bíblia, que os ajudam em seus esforços no sentido de recuperar o texto bíblico original. Em complementação às evidências que temos discutindo nas últimas aulas, dispomos também de outras evidências de apoio ao texto bíblico, provenientes de suas várias traduções. Esse assunto será discutido na próxima lição. No momento, nosso interesse é a questão do papel da crítica textual na restauração do próprio texto, e não a tradução desse texto nas inúmeras línguas.<br /><br /><strong>O problema da crítica textual</strong><br />O problema da crítica textual gira em torno de três questões básicas: genuinidade e confiabilidade, evidências de manuscritos e as variantes. Ainda que cada integrante desse assunto tenha sido mencionado repeti¬damente em nossas discussões anteriores, é necessário que se dê um tra¬tamento mais minucioso aos tópicos em questão.<br /><br /><strong>A autenticidade e a confíabilidade</strong><br />Autenticidade é o termo que se emprega na crítica textual em referência à verdade sobre a origem de um documento, ou seja, sua autoria. Como mostramos na aula anterior, a autenticidade é assunto que concerne primordialmente à Introdução Especial ao estudo da Bíblia, visto que se relaciona a questões como autoria do texto, data e destinatário dos livros bíblicos. A Introdução Geral está interessada em questões como inspiração, autoridade, canonicidade e confiabilidade dos livros da Bíblia. As perguntas a que a autenticidade responde são estas: "Esse documento realmente procede da fonte ou autor que se alega? É verdadeiramente obra do escritor a que se atribui?".<br /><br /><strong>Confiabilidade</strong> refere-se à verdade dos fatos ou do conteúdo dos documentos da Bíblia. Trata primordialmente da integridade (fidedignidade) e da credibilidade (verdade) dos registros. Em suma, um livro pode ser autêntico sem ser confiável, se quem se professa escritor é verdadeiramente seu autor, ainda que o conteúdo não expresse a verdade. E mais: um livro pode ser confiável sem ser autêntico, caso seu conteúdo seja verdadeiro, mas o autor alegado não seja realmente quem o escreveu. Portanto, no estudo da Introdução Geral, o interesse está na integridade do texto, com base em sua credibilidade e autoridade. Presume-se que determinado livro bíblico, que recebeu autoridade divina e, por isso mesmo, credibilidade, tendo sido transmitido com integridade, possui automaticamente autenticidade. Se houver uma mentira no livro a respeito de sua origem ou autoria, de que forma se poderia crer em seu conteúdo?<br /><br /><strong>As evidências dos manuscritos</strong><br />Creio que será benéfico que se faça, neste momento, um resumo das evidências dos manuscritos, com respeito ao texto bíblico. Rever o assunto nos revelará a diferença básica de abordagem da crítica textual de cada Testamento.<br /><br /><strong>O Antigo Testamento</strong> sobreviveu e chegou até nós em alguns manuscritos completos, a maioria dos quais data do século IX d.C. ou é de data posterior. Há, entretanto, abundantes razões para que acreditemos que essas cópias são boas. Várias evidências apoiam essa afirmação: 1) as poucas variantes existentes nos manuscritos massoréticos; 2) a harmonia quase literal existente entre a maior parte da LXX e o Texto massorético hebraico; 3) as regras escrupulosas dos escribas que copiavam os manuscritos; 4) a similaridade de passagens paralelas do Antigo Testamento; 5) a confirmação arqueológica de minúcias históricas do texto; 6) a concordância em grande parte com o Pentateuco samaritano; 7) os milhares de rnanuscritos Cairo Geneza e 8) a confirmação fenomenal do texto hebraico advinda das descobertas dos rolos do mar Morto.<br /><br /><strong>O Novo Testamento</strong>. Seus manuscritos são numerosos, como também são numerosos os textos paralelos, com variantes. Conseqúentemente, faz-se necessária aciência chamada crítica textual, para que haja recuperação do texto original do Novo Testamento. Mais de 5.000 manuscritos gregos que datam do século IIi em diante dão testemunho do texto. Em contraposição ao Antigo Testamento, que conta apenas com uns poucos manuscritos bons, o Novo Testamento possui muitos manuscritos de qualidade inferior, i.e., que apresentam mais variantes.<br /><br /><strong>As variantes</strong><br />A multiplicidade de manuscritos produz número correspondente de<br />variantes. É que, quanto maior o número de manuscritos copiados, maiores eram as possibilidades de erros cometidos pelos copistas. Todavia,<br />em vez de constituir empecilho à tarefa de recuperação do texto bíblico<br />original, essa situação na verdade se torna extremamente benéfica.<br /><br />As variantes do Antigo Testamento são relativamente raras, por diversas razões: 1) havia uma única tradição importante de manuscrito, pelo que o número total de erros é menor; 2) as cópias eram produzidas por escribas oficiais que trabalhavam seguindo regras rigorosas; 3) os massoretas sistematicamente destruíam todas as cópias em que se detectassem "erros" ou variantes. A descoberta dos rolos do mar Morto serviu de espantosa confirmação da fidelidade do Texto massorético, o que se comprova pelas conclusões de estudiosos do Antigo Testamento como Millar Burrows, em sua obra The Dead Sea Scrolls; R. Laird Harris, em Inspiration and canonicity of the Bible; Gleason L. Archer, Jr., A survey of Old Testament introduction e F. F. Bruce, Second thoughts on the Dead Sea Scrolls [Uma investigação mais aprofundada sobre os rolos do mar Morto]. Uma soma total dos testemunhos desses estudiosos é que existem tão poucas variantes entre o Texto massorético e o dos rolos do mar Morto, que esses confirmam a integridade daquele. Sempre que há divergências, os rolos do mar Morto tendem a dar apoio ao texto da Septuaginta (LXX).<br />Visto que o Texto massorético deriva de uma fonte singular, que fora padronizada por estudiosos judeus aproximadamente em 100 d.C., a descoberta de manuscritos anteriores a essa data esparge nova luz na história do texto do Antigo Testamento de antes dessa época. Além das três tradições textuais básicas do Antigo Testamento que já haviam sido reconhecidas (massorética, samaritana e grega), os rolos do mar Morto revelaram a existência de três outros tipos de textos: um protomassorético, um proto-Septuaginta e um proto-samaritano. As tentativas por traçar as linhas de relacionamento entre essas famílias de textos ainda se acham em fase embrionária; a situação exige estudos profundos e dedicação. Presentemente, o Texto massorético é considerado básico, visto que tanto o texto samaritano como a Septuaginta baseiam-se em traduções do texto hebraico. No entanto, os rolos do mar Morto mostram que existem passagens em que a Septuaginta traz o texto preferido. O problema básico é apurar a grandeza da diferença existente entre as tradições hebraica e grega.<br /><br />As variantes do Novo Testamento. As variantes do Novo Testamento são muito mais abundantes do que as do Antigo, em vista do maior número de manuscritos e das numerosas cópias não-oficiais que foram feitas, de caráter particular. Cada vez que se descobre um manuscrito novo, aumenta o número bruto de variantes. Pode-se ver isso comparando-se o número aproximado de 30 000 variantes, segundo cálculo de John Mill, em 1707, às quase 150 000 computadas por F. H. A. Scrivener em 1874 e às mais de 200 000 recalculadas em nossos dias. Há certa ambiguidade em afirmar que há cerca de 200 000 variantes, visto que essas representam apenas cerca de 10 000 passagens do Novo Testamento. Se uma única palavra foi escrita erroneamente em 3.000 manuscritos diferentes, são contadas como 3.000 variantes. Uma vez entendido o processo de conta¬gem e se eliminem as variantes de ordem mecânica (ortográfica), as variantes mais importantes que permanecem são surpreendentemente poucas sob o aspecto numérico.<br />Para que se compreenda integralmente o significado das variantes nos textos paralelos e se apure a redação correta (a original), é necessário, primeiro, que se examine de que forma essas variantes se introduziram no texto bíblico. Embora esses princípios também se apliquem ao Antigo Testamento, são usados aqui apenas com referência ao Novo.<br />Em geral, os estudantes cuidadosos da crítica textual acreditam haver dois tipos de erros: os não-intencionais e os intencionais.<br />As alterações textuais não-intencionais de vários tipos surgem da imperfeição natural do ser humano. São numerosas e aparecem na transcrição dos textos.<br />Os erros da vista humana, por exemplo, resultam em vários tipos de variantes. Dentre esses, há os que resultam da divisão errônea de uma palavra, o que acaba por gerar novas palavras. Visto que os manuscritos originais não separavam as palavras entre si, mediante espaços, a divi¬são mental errônea de quem lia e copiava a palavra redundava em novo texto — errôneo. Vamos usar um exemplo em português:<br /><br />[ENCONTREIMECOMAMADOCASTELOBRANCO]<br /><br />Poderia significar:<br />[ENCONTREI-ME COM AMADO CASTELO BRANCO.]<br />ou<br />[ENCONTREI-ME COM AMA DO CASTELO BRANCO.].<br /><br />A omissão de letras, de palavras e até de linhas inteiras do texto ocorria quando um olho astigmático pulava de um grupo de letras ou palavras a outro grupo semelhante. Esse erro em particular é causado por homoteleuto (finais semelhantes). Quando apenas uma letra está faltando, o erro se chama haplografia (grafia simples). Repetição é o erro oposto à omissão. Quan¬do a vista apanhasse a mesma letra ou palavra duas vezes, esse erro era chamado de ditografia. Foi a partir de um erro desse tipo, com alguns manuscritos chamados minúsculos, que surgiu o seguinte texto: "Qual quereis que vos solte? Barrabás, ou Jesus, chamado Cristo?" (Mt 27.17). <br />A transposição é a inversão de duas letras ou palavras, e tecnicamente se denomina metátese. Em 2Crônicas 3.4, a transposição de letras alterou as medidas do pátio do templo de Salomão para 120 côvados em vez de 20, como corretamente aparece na LXX. Outras confusões com letras, abreviaturas e inserções de escribas explicam os demais erros desses profissi¬onais da cópia. Esse é o caso sobretudo no que diz respeito às letras do hebraico, que também são usadas como números. Pode-se ver alguma confusão no Antigo Testamento, quando há divergêcia entre os números de passagens correspondentes. Veja-se, e.g., 40.000 em 1Reis 4.26 em oposição a 4.000 em 2Crônicas 9.25; os 42 anos em 2Crônicas 22.2, contra¬pondo-se à anotação certa de 22 anos em 2Reis 8.26, é erro que também se enquadra nessa categoria.<br />Os erros decorrentes da audição só ocorriam quando os manuscritos eram copiados por um escriba que ouvia o ditado de quem os lia. Isso explica por que alguns manuscritos (depois do século V d.C.) trazem kamelos (corda) em vez de kamêlos (camelo), em Mateus 19.24; kauthasomai (ele queima) em vez de kauchasomai (ele se gloria) em 1 Coríntios 13.3, e outras alterações semelhantes no texto do Novo Testamento. <br />Os erros de memória não são numerosos, mas por vezes um escriba se esquecia da palavra exata na passagem e a substituía por um sinônimo. É possível que se tenha deixado influenciar por uma passagem ou verdade paralela, como no caso de Efésios 5.9, talvez confundida com Galatas 5.22, mais a adição de Hebreus 9.22: "... não há remissão [de pecados]".<br />Os erros de julgamento em geral são atribuídos à má iluminação ambiental, ou à má visão do escriba que copiou o manuscrito. Às vezes, as notas marginais eram incorporadas ao texto nesses casos, ou tais erros seriam resultado da sonolência do escriba. Sem dúvida alguma, teríamos uma dessas causas na raiz da redação variante de João 5.4, de 2Coríntios 8.4,5 etc. Às vezes é difícil diferenciar o caso e dizer se determinada variante resultou de um julgamento errôneo, ou de mudanças doutrinárias intencionais. Sem dúvida 1João 5.8, João 7.53—8.11 e Atos 8.37 enquadram-se em uma dessas categorias.<br />Os erros de grafia são atribuídos a escribas que, graças a um estilo imperfeito ou a um acidente, escreviam de modo pouco definido ou impreciso, e assim cometeram erros posteriormente enquadrados como er¬ros de visão ou de julgamento. Em algumas ocasiões, por exemplo, o escriba poderia esquecer-se de inserir certo número ou palavra no texto que estava transcrevendo, como no caso da omissão de número em 1Samuel 13.1.<br />As mudanças intencionais explicam grande número de variantes, ainda que a vasta maioria seja atribuída a erros não-intencionais. Erros cometidos de propósito poderiam talvez ter sido motivados por boas inten¬ções, mas é certo que são alterações deliberadas do texto.<br />Entre os fatores que influíram na inserção de alterações deliberadas num texto bíblico estão as variantes gramaticais e linguísticas. Essas variantes ortográficas na grafia, na eufonia e no léxico repetem-se muito nos papiros; cada tradição escribal tinha idiossincrasias próprias. Dentro dessas tradições, o escriba poderia tender a modificar seus manuscritos, a fim de fazer que se conformassem com as tradições. As mudanças, nesse caso, incluíam nomes próprios, formas verbais, acertos gramaticais, mudanças de gênero e alterações sintáticas.<br />As mudanças litúrgicas encontram-se em grande número nos lecionários. Seriam feitas pequenas alterações no início de uma passagem; às vezes, uma passagem grande era resumida só para uso no culto. Às vezes, uma mudança desse tipo passava a incorporar o próprio texto bíblico, como foi o caso da “doxologia"(Fórmula litúrgica de louvor a Deus) na oração dominical (Mt 6.13). As mudanças harmonizacionais aparecem com frequência nos evangelhos, quando o escriba tentou harmonizar um relato num documento com passagem correspondente de outro documento (v. Lc 11.2-4 e Mt 6.9-13), ou em Atos 9.5,6, que se alterou a fim de ficar mais em acordo literal com Atos 26.14,15. Do mesmo modo, algumas citações do Antigo Testamento foram ampliadas, em alguns documentos, para se harmonizarem com maior precisão à LXX (cf. Mt 15.8 com Is 29.13, em que a expressão este povo foi acrescentada). As mudanças históricas e factuais às vezes eram introduzidas por escribas bem-intencionados. João 19.14 foi alterado em alguns manuscritos, de modo que neles se lê hora “terceira" em vez de “sexta", e Marcos 8.31, em que "depois de três dias" foi alterado para "no terceiro dia", em alguns manuscritos. As mudanças sincréticas resultam da combinação ou da mistura de duas ou mais variantes, de modo que se cria um único texto, como provavelmente é o caso de Marcos 9.49 e Romanos 3.22.<br />As mudanças doutrinárias constituem a última categoria de alterações propositais dos escribas. A maior parte das alterações doutrinárias deliberadas foram introduzidas com vistas na ortodoxia, como a referência à Trindade, em 1 João 5.7,8. Outras alterações, ainda que surgidas por cau¬sa das boas intenções, têm tido o efeito de acrescentar ao texto algo que não fazia parte do ensino original naquela altura. Talvez seja esse o caso da adição de "jejum" à palavra "oração" em Marcos 9.29, e do chamado "final mais longo" desse mesmo evangelho (Mc 16.9-20). Todavia, nem mesmo aqui o texto é herético. É importante que se ressalte, nesta altura, que nenhuma doutrina cristã baseia-se num texto sob objeção, e todo estudioso do Novo Testamento precisa estar consciente da iniquidade que é alterar um texto simplesmente com base em considerações doutrinárias infundadas.<br />Quando se comparam os textos chamados variantes, do Novo Testamento, com outros textos de outros livros que sobreviveram desde a antiguidade, as conclusões são maravilhosas; pouco falta para que as consideremos espantosas. Por exemplo, embora haja cerca de 200 000 "erros" nos manuscritos do Novo Testamento, eles só aparecem em cerca de 10 000 trechos, e apenas cerca de uma sexagésima parte deles ergue-se acima do nível das trivialidades. Westcott e Hort, Ezra Abbot, Philip Schaff e A. T. Robertson avaliaram com o máximo cuidado as evidências e che¬garam à conclusão de que o texto do Novo Testamento tem pureza superior a 99%. À luz do fato de haver mais de 5.000 manuscrítos gregos, cerca de 9.000 versões e traduções, as evidências da integridade do Novo Testamento estão fora de questão. <br />Isso é válido, sobretudo, quando consideramos que alguns dos maiores textos da antiguidade sobreviveram em apenas um punhado de manuscritos. Quando se compara a natureza, ou a qualidade, desses escritos com os manuscritos bíblicos, estes ficam em posição audaciosamente saliente no que concerne à integridade. Bruce M. Metzger fez um excelente estudo da Ilíada, de Homero, e da Mahãbhãrata da índia, em sua obra Chapters in the history of New Testament textual criticism [Capítulos da história da crítica textual do Novo Testamento]. Em seu estudo, o autor demonstra que a corrupção textual desses livros ditos “sagrados” é muito maior do que a que acometeu o Novo Testamento. A Ilíada é particularmente cabível para esse estudo, por ter tanta coisa em comum com o Novo Testamento. Depois do Novo Testamento, a Ilíada é a obra que tem o maior número de manuscritos disponíveis hoje, mais que qualquer outra obra (453 papiros, 2 unciais e 188 minúsculos, ou seja, 643 no total). À semelhança da Bíblia, essa obra foi considerada sagrada, sofrendo mudanças textuais, e seus manuscritos em grego também passaram pela crítica textual. Enquanto o Novo Testamento apresenta cerca de 20 000 linhas, a Ilíada tem cerca de 15 000. Apenas 40 linhas (cerca de 400 palavras) do Novo Testamento inspiram dúvidas, mas 764 linhas da Ilíada estão sob questionamento. Portanto, 5% da Ilíada sofreram corrupção, contra menos de 1% do Novo Testamento. O poema épico nacional da índia, Mahãbhãrata, sofreu um processo mais grave ainda de corrupção. É cerca de oito vezes maior que a Ilíada e a Odisseia juntas, com cerca de 250 000 linhas. Dessas, cerca de 26 000 linhas estão corrompidas textualmente, i.e., pouco mais de 10%.<br />Assim é que o Novo Testamento não só sobreviveu em um número maior de manuscritos, mais que qualquer outro livro da antiguidade, mas sobreviveu em forma muito mais pura (99% de pureza) que qual¬quer outra obra grandiosa, sagrada ou não. Até mesmo o Alcorão, que não é livro antigo, pois originou-se no século VII d.C., sofreu o processo de aparecimento de grande número de variantes que precisaram da revisão de Orthman. De fato, ainda existem sete modos de ler o texto (vocalização e pontuação), todas baseadas na revisão de Orthman, que se fez cerca de vinte anos após a morte do próprio Maomé.<br /><br /><strong>Os princípios da crítica textual</strong><br />A apreciação completa da tarefa árdua de reconstruir o texto do Novo Testamento a partir de milhares de manuscritos, com dezenas de milhares de variantes, pode dar-se, em parte, pelo estudo de quantos críticos textuais se engajaram nesse trabalho. Esses usaram dois tipos de evidên¬cias: as externas e as internas.<br /><br /><strong>Evidência externa</strong><br />A evidência externa distribui-se em três variedades básicas: cronológica, geográfica e genealógica. As evidências cronológicas dizem respeito à data do tipo de texto, e não à data do próprio manuscrito. Os tipos de texto mais antigos trazem textos que devem ser preferidos, em vez de textos posteriores, mais recentes. A distribuição geográfica dos testemunhos independentes em acordo entre si, no apoio a uma variante devem ser preferidos aos testemunhos que têm proximidade ou relacionamento maior. Os relacionamentos genealógicos entre os manuscritos seguem o que foi tratado na aula anterior. Das quatro famílias textuais mais importantes, a alexandrina é considerada a família mais confiável, ainda que às vezes apresente uma correção dos "estudiosos". Os textos que contam com o apoio de bons representantes de dois ou mais tipos de textos de¬vem ter preferência sobre um único tipo de texto. O texto bizantino em geral é considerado o mais pobre de todos. Quando os manuscritos que se encaixam em determinado tipo de texto dividem-se no apoio que dão a determinada variante, o verdadeiro texto provavelmente é o dos manuscritos que em geral se mostram mais fiéis a seu próprio tipo de texto; o texto que difere dos demais tipos de texto, o texto que é diferente da família textual bizantina, ou o texto que caracteriza melhor o tipo de texto a que pertencem os manuscritos em questão.<br /><br /><strong>Evidência interna</strong><br />A evidência interna classifica-se em duas variedades básicas: a transcripcional (que depende dos hábitos dos escribas) e a intrínseca (que depende dos hábitos dos autores). A evidência transcripcional baseia-se em quatro assertivas genéricas: o texto mais difícil (para o escriba) é preferível, de modo especial se for sensato; o texto mais curto é preferível, a menos que tenha surgido por omissão acidental de algumas linhas, em razão de finais semelhantes ou de eliminação intencional; deve-se preferir o texto verbalmente mais dissonante das passagens paralelas, ainda que sejam citações do Antigo Testamento; e deve-se preferir a construção gramatical, expressão ou termo menos refinados.<br />A evidência intrínseca depende da probabilidade daquilo que o autor provavelmente escreveu. É determinada pelo estilo do autor ao longo do livro (e em outras passagens), pelo contexto imediato da passagem, pela harmonia do texto com o ensino do autor em outra passagem (bem como com outros textos canônicos) e pela influência do contexto geral do autor.<br />Ao examinar todos os fatores internos e externos da crítica textual, é essencial que se perceba que seu uso não é meramente uma aplicação da ciência, mas também de uma arte delicada. Algumas observações podem ajudar o iniciante a ficar familiarizado com o processo da crítica textual. Em geral, a evidência externa é mais importante que a interna, visto ser mais objetiva. As decisões devem levar em conta a evidência interna tanto quanto a externa, na avaliação do texto, visto que nenhum manuscrito ou tipo de texto contém todas as grafias corretas. Em algumas ocasiões, diferentes estudiosos aparecerão com posições conflitante entre si, à vista dos elementos subjetivos da evidência interna.<br />Gleason Archer sugere, muito cautelosamente, as prioridades que deveriam ser empregadas no caso de encontrar-se uma variante textual 1) deve-se preferir o texto mais antigo; 2) deve-se preterir o texto mais difícil; 3) deve-se preferir o texto mais curto; 4) deve-se preferir o texto que explique melhor as variantes; 5) o apoio geográfico mais amplo dado a um texto faz que ele seja o preferido; 6) deve-se preferir o texto que se conforme melhor com o estilo e com o vocabulário do autor e 7) deve-se preferir o texto que não dê sinais de desvio doutrinário.<br /><br /><strong>A prática da crítica textual</strong><br />O modo mais prático de observar os resultados dos princípios da críti¬ca textual é comparar as diferenças entre a Versão autorizada do rei Tiago .(KJV), de 1611, baseada no texto recebido, e a Versão padrão americana (ASV)/ de 1901, ou a Versão padrão revisada (RSV), de 1946 e 1952, que se baseiam no texto crítico. Uma pesquisa de várias passagens servirá para ilustrar o procedimento usado para fazer a reconstituição do verdadeiro texto.<br /><br /><strong>Exemplos do Antigo Testamento</strong><br />Deuteronômio 32.8 provê outro exercício interessante sobre a crítica textual do Antigo Testamento. O Texto massorético é acompanhado pelo texto do rei Tiago (KJV) e pela ASV, ao dizer: "O Altíssimo distribuiu as heranças às nações [...] determinou os limites dos povos, segundo o número dos filhos de Israel". A RSV seguiu o texto da LXX: "de acordo com o número dos filhos [ou anjos] de Deus". Um fragmento de Qumran dá apoio ao texto da LXX. Segundo os princípios da crítica textual que mostramos anteriormente, a RSV está correta porque 1) traz o texto mais difícil, 2) tem o apoio do manuscrito mais novo que se conhece, 3) está em harmonia com a descrição patriarcal de os anjos serem "filhos de Deus" (cf. Jó 1.6; 2.1; 38.7 e possivelmente Gn 6.4) e 4) explica a origem da outra variante.<br /><br />Zacarias 12.10 ilustra a mesma questão. As versões KJV e ASV seguem o Texto massorético: "Olharão para mim [o lavé], a quem trespassaram". A RSV segue a Versão teodosiana (c. 180 d. C.) ao traduzir: "Quando olharem aquele a quem trespassaram". O Texto massorético preserva a redação preferida porque 1) baseia-se em manuscritos mais antigos e melhores, 2) é o texto mais difícil e 3) pode explicar as demais redações com base no preconceito teológico contra a divindade de Cristo, ou pela influência da mudança ocorrida no Novo Testamento da primeira para a terceira pessoa, na citação dessa passagem (cf. Jo 19.37).<br />Outras variantes importantes entre o Texto massorético e a LXX foram esclarecidas mediante a descoberta dos rolos do mar Morto; nesses exemplos, tendem a dar apoio à LXX. Dentre tais passagens estão Hebreus 1.6 (KJV), que segue a citação de Deuteronômio 32.43, a famosa passagem de Isaías 7.14 ("e será o seu nome Emanuel"), em vez da redação massorética: "ela chamará seu nome". A Septuaginta traz uma versão de Jeremias com 60 versículos a menos em relação ao Texto massorético, e o fragmento de Qumran de Jeremias tende a apoiar o texto grego. Tais ilustrações não devem ser tomadas como quadro uniforme dos rolos do mar Morto, sempre dando apoio ao texto da Septuaginta, visto que não existem muitas variantes do Texto massorético entre os manuscritos encontrados nas grutas do mar Morto. Em geral os rolos tendem a confirmar a integridade do Texto massorético. As passagens indicadas aqui são meros exemplos dos problemas e dos princípios da crítica textual, no exercício dos estudiosos de expurgar o texto do Antigo Testamento de eventuais incorreções.<br /><br /><strong>Exemplos do Novo Testamento</strong><br />Marcos 16.9-20 (KJV) apresenta-nos o problema textual mais grave, que nos deixa mais perplexos, dentre todos. Esses versículos estão ausentes em muitos dos mais antigos e melhores manuscritos, como o א(Álefe), o B, o itk (Antiga latina), a Siríaca sinaítica, muitos manuscritos armênios e al¬guns etíopes. Muitos dos antigos pais da igreja não demonstram ter conhecimento desse problema, e Jerônimo admitia que essa passagem havia sido omitida em quase todas as cópias gregas. Dentre as cópias que con¬têm esses versículos, algumas também trazem um asterisco ou óbelo, a fim de indicar que se trata de adição espúria ao texto. Há ainda outro final que ocorre em vários unciais, em alguns minúsculos e em cópias de ver¬sões antigas. O longo final com que estamos tão familiarizados, vindo da KJV e do texto recebido, encontra-se em grande número de unciais (c, D, L, w e θ [Theta], na maior parte dos minúsculos, na maior parte dos manuscritos da Antiga latina, na Vulgata latina e em alguns manuscritos siríacos e coptas. No Códice w, o final longo expande-se depois do versículo 14.<br />A decisão sobre qual desses finais é o preferível ainda é controvertida, visto que nenhum dos finais propostos eleva-se como se fora o original, à vista das poucas evidências textuais, por causa do sabor apócrifo e do estilo diferente do de Marcos, perceptível em todos os finais. Assirn, se nenhum desses finais é autêntico, torna-se difícil crer que Marcos 16.8 não é o final original. John W. Burgon fez uma defesa do texto recebido (vv. 9-20) e, mais recentemente, M. van der Valk, ainda que se admita que é muito difícil chegar a uma solução ou decisão sobre qual final é o original de Marcos. Com base nas evidências textuais conhecidas, parece mais plausível admitir que o final original do evangelho de Marcos é o versículo 8.<br /><br />João 7.53 - 8.11 (KJV) relata a história da mulher apanhada em adultério. Está inserida entre parênteses na ASV, com uma nota que diz que os manuscritos mais antigos omitem essa passagem. A RSV coloca a passagem em questão entre parênteses, no final do evangelho de João, com uma nota que diz que as antigas autoridades colocavam-na ali, ou depois de Lucas 21.38. Não existe nenhuma evidência de que essa passagem faça parte do evangelho de João porque 1) não está nos manuscritos gregos mais antigos e melhores; 2) nem Taciano, nem o texto da Antiga siríaca, dão sinais de tê-la conhecido, estando ausente também nos melhores manuscritos da Siríaca peshita, nos da Copta, em vários da Gótica e da Antiga latina; 3) nenhum autor grego faz referência a essa passagem senão no século XII; 4) seu estilo — e interrupção — não se enquadram no contexto do quarto evangelho; 5) aparece inicialmente no Códide Beza em c. 550; 6) vários escribas colocam-na em outros lugares (e.g., depois de Jo 7.36; Jo 21.24; Jo 7.44 ou Lc 21.38) e 7) muitos manuscritos que incluem essa passagem indicam haver dúvidas sobre sua integridade, marcando-a com um óbelo. O resultado é que tal passagem pode ser preservada como se fora uma história verdadeira, mas da perspectiva da crítica textual, deve ser colocada como apêndice de João, com uma nota que diga que a passagem não tem lugar determinado nos manuscritos antigos.<br /><br />1 João 5.7 (KJV) está ausente na ASV e na RSV, sem explicações. Todavia, existe uma explicação para essa omissão, a qual representa uma historieta interessante sobre o processo da crítica textual. Quase não existe apoio textual para a redação apresentada pela KJV, em nenhum documento grego, ainda que haja apoio na Vulgata. Então, quando Erasmo foi desafiado, e lhe perguntaram por que ele não incluíra essa passagem em seu Novo Testamento grego, em 1516 e em 1519, o estudioso respondeu rapidamente que a incluiria na próxima edição, desde que alguém lhe mostrasse pelo menos um manuscrito antigo que lhe desse apoio. Descobriu-se um minúsculo grego do século XVI, o manuscrito de 1520, do frei franciscano Froy, ou Roy. Erasmo cumpriu sua promessa e incluiu esse texto em sua edição de 1522. A KJV seguiu o texto grego de Erasmo e assim foi: com base num único manuscrito tardio, insignificante, desprezou-se todo o peso e autoridade de todos os demais manuscritos gregos. Na verdade, a inclusão desse versículo como genuíno quebra quase todos os cânones principais da crítica textual.<br />Com base nos casos acima estudados, deveria ficar claro que a crítica textual é uma ciência e também uma arte. Não basta afirmar que a Bíblia é o livro mais bem preservado, que sobreviveu desde os tempos antigos, mas lembremo-nos também de que as variantes de certa importância representam menos da metade de 1% de corrupção textual, e que nenhuma dessas variantes influi em alguma doutrina básica do cristíanismo. Alem disso, a crítica textual tem à sua disposição uma série de cânones que, para todos os efeitos práticos, capacita os estudiosos bíblico a recuperar de modo completo o texto exato dos autógrafos hebraicos e gregos das Escrituras - não só linha por linha, mas palavra por palavra.Pastor Pedrohttp://www.blogger.com/profile/14959296050649164906noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-129497258255618826.post-83716876343336894062007-10-31T11:41:00.000-03:002008-12-11T20:32:43.557-03:00Aula 12 - O desenvolvimento da crítica textual<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzpicKx7Y8FhjCUwwG-EonnllX45OZ9OC7h4-VIKWAlCL73rGiJlPOJ6WPqwCeLAanIbJCufg9CRQNKE7dFBFkkt2pnDc-8Yc_Zt0lameUSyF3aBA_ru4ZgV9WJRveap28mQGy0AZ_nylj/s1600-h/papiro+2.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzpicKx7Y8FhjCUwwG-EonnllX45OZ9OC7h4-VIKWAlCL73rGiJlPOJ6WPqwCeLAanIbJCufg9CRQNKE7dFBFkkt2pnDc-8Yc_Zt0lameUSyF3aBA_ru4ZgV9WJRveap28mQGy0AZ_nylj/s320/papiro+2.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5127512258270587586" /></a><br />Uma vez reunidos todos os manuscritos e as demais evidências que dão testemunho quanto ao texto das Escrituras, o estudante da crítica textual torna-se herdeiro de uma tradição grandiosa. Ele passa a ter à sua disposição grande parte dos documentos que devem ser usados a fim de apurar a verdadeira redação do texto bíblico. Esta aula trata do desenvolvimento histórico da ciência da crítica textual.<br /><br /><strong>Distinção entre a alta crítica e a baixa crítica</strong><br />Levantou-se muita confusão e controvérsia em torno da questão da "alta" crítica (crítica histórica) e da "baixa" crítica (crítica textual) da Bíblia. Parte dessa controvérsia resultou da má compreensão do termo “crítica” aplicado às Escrituras. Em seu sentido gramatical esse termo diz respeito meramente ao exercício do julgamento. Quando se aplica à Bíblia, é usado no sentido de exercício do julgamento da própria Bíblia. Todavia, existem dois tipos básicos de crítica, e duas atitudes básicas diante de cada tipo. Os títulos atribuídos a esses dois tipos de crítica nada têm que ver com sua importância, conforme ilustra o debate que se segue.<br /><br /><strong>A alta crítica </strong>(histórica)<br />Quando se aplica o julgamento dos estudiosos à autenticidade do texto bíblico, esse julgamento se chama alta crítica, ou crítica histórica. O assunto desse tipo de julgamento dos especialistas diz respeito à data do texto, seu estiIo literário, sua estrutura, sua historicidade e sua autoria. O resultado é que a alta crítica na verdade não é parte fundamental da nossa matéria “Introdução Geral ao Estudo da Bíblia”. Antes, a alta crítica é a própria essência da Introdução Especial. Os resultados dos estudos da alta crítica, feitos pelos herdeiros da teologia herética dos fins do século XVIII, não passam de um tipo de fruto altamente destrutivo.<br /><br /><strong>O Antigo Testamento</strong>. A última data atribuída aos documentos do An¬tigo Testamento induziu alguns estudiosos a atribuir seus elementos so¬brenaturais a lendas ou mitos. Isso resultou na negação da historicidade e da autenticidade de grande parte do Antigo Testamento por parte dos estudiosos céticos. Na tentativa de mediar entre o tradicionalismo e o ceticismo, Julius Wellhausen e seus seguidores desenvolveram a teoria documental, a qual propõe datar os livros do Antigo Testamento de modo menos sobrenaturalista. O resultado foi que desenvolveram a teoria JEDP sobre o Antigo Testamento.<br />Tal teoria baseia-se em grande parte no argumento de que Israel não possuía escrita, antes da monarquia, e que um Código Eloísta (E) e um Código Javista (j) baseavam-se em duas tradições orais a respeito de Deus ("E" indicava o nome de Eloim e "j" o nome de Jeová [Yahweh]). A esses foi acrescentado o Código Deuteronômico (D) (documentos atribuídos ao tempo de Josias) e o chamado Sacerdotal ("Priestly" em inglês, de onde se origina o "p") do judaísmo pós-exílico. Essas opiniões não agradaram aos estudiosos ortodoxos, pelo que se levantou uma onda de oposição. Essa oposição surgiu só depois de longo tempo, de modo que o mundo dos estudiosos na maior parte seguiu a teoria de Wellhausen, de W. Robertson Smith e de Samuel R. Driver. Quando, finalmente, a oposição levantou sua voz contra a "crítica destrutiva", esta foi considerada insignificante, desprezada e arquivada. Entre os opositores estavam os proponentes de uma "crítica construtiva", como William Henry Green, A. H. Sayce, Franz Delitzch, James Orr, Wilhelm Moller, Eduard Naville e Robert Dick Wilson.<br /><br /><strong>O Novo Testamento</strong>. A aplicação de princípios semelhantes aos escritos do Novo Testamento surgiu na escola de teologia de Túbingen, por orientação de Heinrich Paulus, de Wilhelm de Wette e de outros. Esses homens desenvolveram princípios que desafiavam a autoria, a estrutura, o estilo e a data dos livros do Novo Testamento. A crítica destrutiva do modernismo induziu à crítica da forma, aplicada aos evangelhos, à negação da autoria de Paulo da maior parte das cartas a ele atribuídas até então. Chegou-se à conclusão de que só se poderia reconhecer como autenticamente paulinas as "Quatro Grandes" (Romanos, Gaiatas, 1 e 2 Coríntios). Por volta do final do século XIX, estudiosos ortodoxos competentes começaram a desafiar a crítica destrutiva da escola da alta crítica. Dentre esses estudiosos ortodoxos estavam George Salmon, Theodor v DM Zahn e R. H. Lightfoot. A obra desses homens quanto à alta crítica deve certamente ser considerada crítica construtiva. Grande parte do trabalho recente feito no campo da alta crítica revelou sua natureza racionalista na teologia, ainda que reivindicasse estar fundamentada na doutrina cristã ortodoxa. Esse racionalismo mais recente manifesta-se mais abertamente quando versa sobre certos assuntos como os milagres, o nascimento virginal de Jesus e sua ressurreição física.<br /><br /><strong>A baixa crítica </strong>(textual)<br />Quando o julgamento dos estudiosos se aplica à confiabilidade do texto bíblico, ela é classificada como baixa crítica, ou crítica textual. Abaixa crítica aplica-se à forma, ou ao texto da Bíblia, numa tentativa de restaurar o texto original. Não deve ser confundida com a alta crítica, visto que a baixa crítica, ou crítica textual, estuda a forma das palavras de um documento, e não seu valor documental. Muitos exemplos de baixa crítica podem ser encontrados na história da transmissão do texto bíblico. Alguns desses exemplos foram produzidos por leais defensores do cristianismo ortodoxo, mas outros provieram de seus mais veementes opositores. Os estudiosos que se interessam por obter o original de um texto, mediante a aplicação de certos critérios ou padrões de qualidade, são críticos textuais. Em geral, o trabalho desses homens é construtivo, e sua atitude básica, positiva. Alguns deles seguem o exemplo de B. R Westcott, sir Frederick G. Kenyon, Bruce M. Metzger e outros. Os que usam esses critérios para tentar destruir o texto são "descobridores de defeitos", apenas se interessam por encontrar falhas, e seu trabalho é basicamente negativo e destrutivo.<br />Visto que muitos dos que abraçaram a alta crítica investiram muito tempo e energia no estudo da crítica textual, tem havido uma tendência para que se classifiquem todos os críticos textuais com o termo "modernistas", críticos destrutivos, ou críticos apegados à "alta crítica". Ao fazerem isso, alguns cristãos virtualmente "atiraram o bebé no ralo junto com a água do banho". Desaprovar a crítica textual meramente por que certos críticos da "alta crítica" empregaram esse método em seu trabalho dificilmente representa uma posição justificável, digna de ser defendida. A questão mais importante não é se a crítica é alta ou baixa, mas se é sadia, ortodoxa. Trata-se de assunto de evidências e de argumentações, não de pressuposições apriorísticas.<br /><br /><strong>O desenvolvimento histórico da crítica textual</strong><br />A história do texto da Bíblia na igreja pode ser dividida em vários períodos básicos, de modo especial com referência ao Novo Testamento: 1) o período de reduplicação (até 325), 2) o período de padronização do texto (325-1500), 3) o período de cristalização (1500-1648) e 4) o período de crítica e de revisão (1648 até o presente). Neste período de crítica e de revisão, tem havido uma luta entre os proponentes do "texto recebido" e os que advogam o "texto criticado". Nesse debate o texto criticado tem ocupado a posição de predominância. Ainda que não haja muitos estu¬diosos hoje que defendam seriamente a superioridade do texto recebido, deve-se observar que não existem diferenças substanciais entre o texto recebido e o texto criticado. As diferenças porventura existentes entre ambos são meramente de ordem técnica e não doutrinária, visto que as variantes não acarretam implicações doutrinárias. Apesar disso, tais estudos "críticos", com frequência, são úteis para interpretar a Bíblia, e para todos os propósitos práticos as duas tradições textuais comunicam o con-teúdo dos autógrafos, ainda que estejam separadamente guarnecidas de pequenas diferenças escribais e técnicas.<br /><br /><strong>O período de reduplicação </strong>(até 325)<br />A partir do século III a.C., os estudiosos de Alexandria tentaram res¬taurar os textos dos poetas e proseadores gregos. Foi nesse centro cultural que a versão do Antigo Testamento chamada Septuaginta (LXX) veio à luz, entre cerca de 280 e 150 a.C. Alexandria também era um centro de cristianismo durante os primeiros séculos da igreja, posição que conser¬vou até o surgimento do islamismo, no século VII. Entende-se que essa cidade seria o centro de atividade intelectual, na tentativa de restaurar o texto da Bíblia antes de 325. Todavia, não houve basicamente nenhuma crítica textual verdadeira do Novo Testamento durante esses séculos. Foi, antes, um período de reduplicação de manuscritos, em vez de avaliação de textos. No entanto, em contraposição a Alexandria, na Palestina, de 70-100 d.C, estudiosos rabínicos efetuaram diligente trabalho textual no Antigo Testamento.<br /><br /><strong>As cópias dos autógrafos </strong>(até 150). Durante a segunda metade do século I, os livros do Novo Testamento eram escritos sob a direção do Espírito Santo, sendo, portanto, inerrantes. Não há dúvida, porém, de que as cópias desses autógrafos, feitas em papiro, vieram a perder-se com o tem¬po. Mas antes de perecer, foram providencialmente recopiados, e circularam pelas igrejas. As primeiras cópias foram feitas ao redor de 95 d.C., logo depois de os originais terem sido produzidos. Tais cópias também eram feitas em rolos de papiro; mais tarde, haveriam de ser recopiadas em códices de papiro; mais tarde, seriam usados velinos e pergaminhos. Poucas dessas cópias chegaram até nós, se é que realmente chegaram.<br />Conquanto houvesse muitas cópias dos autógrafos, no início, nem todas tinham a mesma boa qualidade, visto que, tão logo começaram a ser feitas, erros e lapsos de escrita foram-se imiscuindo. A qualidade de uma cópia dependia da capacidade do escriba. As cópias de grande exatidão eram muito caras, por serem trabalho de escribas profissionais. Alguns escribas menos categorizados faziam cópias inferiores, ainda que o baixo custo permitisse uma distribuição mais ampla. Algumas cópias tinha péssima qualidade, por serem feitas por pessoas sem qualificação profissional, para uso de indivíduos ou grupos especiais.<br /><br /><strong>As cópias das cópias </strong>(150-325). Quando o período apostólico estava chegando ao fim, as perseguições contra a igreja foram-se tornando cada vez mais generalizadas. Perseguições esporádicas culminaram em duas perseguições imperiais sob o comando dos imperadores Décio e Diocleciano. Os cristãos, além de terem de enfrentar intensa perseguição, sofrendo até mesmo a morte, frequentemente viam suas Escrituras Sagradas confiscadas e destruídas. Em decorrência dessa destruição, havia o perigo de as Escrituras se perderem, ficando a igreja sem seu Livro Sagrado. Por isso, os cristãos costumavam fazer cópias de quaisquer manuscritos que possuíssem, com a maior rapidez possível. Visto que os escribas corriam o perigo de ser perseguidos, caso fossem apanhados, as Escrituras frequentemente eram copiadas por "amadores", e não por "profissionais", i.e., pelos próprios membros da igreja. Numa situação como essa, era mais fácil os erros penetrarem no texto.<br />Enquanto isso, nesses mesmos anos, a igreja de Alexandria iniciara um trabalho pioneiro em sua área geográfica: comparava textos e os publicava. Isso, por volta de 200-250. O exemplo de iniciativa dessa igreja foi seguido em outras partes do Império, de modo que se criou um trabalho básico de crítica textual, quando se deu a perseguição do imperador Décio (249-251). Orígenes em Alexandria trabalhou em sua obra Héxapla, embora jamais viesse a ser publicada integralmente. Além desse trabalho a respeito do Antigo Testamento, ele escreveu comentários sobre o Novo Testamento, tornando-se uma espécie de crítico textual. Entre outros exemplos de trabalhos primitivos na área da crítica textual está “Lucian recension”, a obra de Julius Africanus sobre “Susanna”, e a de Teodoro de Mopsuéstia, “Cântico dos cânticos”, na região ao redor de Cesaréia. Esses críticos primitivos executaram uma espécie de seleção elementar e revisão dos documentos, mas suas obras não conseguiram deter a onda de criação casual, não-sistemática e, em grande parte, sem objetivo de textos paralelos, ou variantes do texto do Novo Testamento.<br /><br /><strong>O período de padronização </strong>(325-1500)<br />Depois da igreja ter se libertado da ameaça de perseguição, logo após a promulgação do Édito de Milão (313), sua influência se fez sentir no processo de cópia dos manuscritos da Bíblia. Esse período ficou marcado pela introdução de códices de velino e de pergaminho e, no final do período, de livros feitos de papel. Durante esse período, os unciais gregos cederam lugar aos manuscritos minúsculos, i.e., obras impressas foram substituídas por outras escritas num tipo modificado de escrita cursiva. Ao longo desse período, as revisões críticas dos textos eram relativamente raras, exceto pelos esforços de estudiosos como Jerônimo (c. 340-420) e Alcuíno de Iorque (735-804). Todavia, o período especial entre 500 e 1000 testemunhou a obra massorética no texto do Antigo Testamento, de que resultou no Texto massorético.<br />Quando o imperador Constantino escreveu a Eusébio de Cesaréia, dando-lhe instruções para que providenciasse 50 exemplares das Escrituras Cristãs, iniciou-se um novo tempo na história do Novo Testamento. Foi o período da padronização do texto, quando o Novo Testamento começou a ser copiado com todo o cuidado e fidelidade, a partir dos manuscritos existentes. O texto de uma região particular era copiado por copistas dessa região. Quando Constantino transferiu a sede do Império para a cidade que levou seu próprio nome (Constantinopla), seria bem razoável supor que tal cidade haveria de dominar o mundo de fala grega, e que seus textos escriturísticos haveriam de tornar-se os textos predominantes para a igreja. Foi o que ocorreu, sobretudo tendo em mente o patrocínio do imperador, que mandou produzir cópias cuidadosas do texto do Novo Testamento.<br />Em decorrência do precedente criado por Constantino, grande número de manuscritos copiados com todo o cuidado foram produzidos ao longo da Idade Média; todavia, revisões oficiais, planejadas com o máximo cuidado, eram relativamente raras. Visto que assim se desenvolveu a padronização do texto, houve pouca necessidade de classificar, avaliar e criticar os primeiros manuscritos do Novo Testamento. O resultado foi que o texto bíblico permaneceu relativamente intocado por todo o período. Mais ou menos no fim dessa época, tornou-se possível a total padronização do texto, havendo ilimitado número de exemplares mais ou menos idênticos, mediante a introdução de papel barato e da imprensa. Os exemplares da Bíblia impressos em papel tornaram-se mais abundantes depois do século XII. Por volta de 1454, Johann Gutenberg desenvolveu o sistema de tipos móveis para a imprensa, e assim abriu a porta para os esforços favoráveis a uma crítica mais cuidadosa do texto, durante a era da Reforma.<br /><br /><strong>O período de cristalização </strong>(1500-1648)<br />No período da Reforma, o texto bíblico entrou no período de cristalização, assumindo a forma impressa em lugar da manuscrita. Envidaram-se esforços no sentido de se publicarem textos impressos da Bíblia com a maior precisão possível. Com frequência esses textos eram publicados em vários línguas simultaneamente, incluindo títulos como a “Poliglota complutense” (1514-17), a “Poliglota de Antuérpia” (1569-72), a “Poliglota de Pa¬ris” (1629-45) e a “Poliglota de Londres” (1657-69). Publicou-se também nesse período (c. 1525) uma edição modelar do Texto massorético, sob a direção editorial de Jacob ben Chayyim, judeu-cristão. O texto se baseava em manuscritos que datavam do século XIV. O texto é essencialmente uma revisão do massoreta Ben Asher (fl. c. 920), tendo-se tornado a base de todas as cópias subsequentes da Bíblia hebraica, tanto em forma de manuscrito como impressa. O trabalho que se fez no Novo Testamento foi mais variado e abrangente, em seu alcance, em consequência da invenção de Gutenberg.<br /><br />O cardeal Francisco Ximenes de Cisneros (1437-1517), da Espanha, planejou a primeira edição impressa do Novo Testamento grego, que haveria de sair do prelo em 1502. Deveria constituir parte da Poliglota complutense, consistindo em textos em aramaico, em hebraico, em grego e em latim, publicada na cidade universitária de Alcalá (Complutum, em latim), depois do que a edição receberia esse nome, ao ser publicada ali em 1514 e em 1517. Conquanto fosse o primeiro Novo Testamento im¬presso, não foi o primeiro a ser colocado no mercado. O papa Leão X não emitiu o imprimátur senão em março de 1520. Nunca se conseguiu apu¬rar satisfatoriamente quais teriam sido os manuscritos gregos em que se baseou a obra de Ximenes; e surgiram algumas questões a respeito das declarações de Ximenes na dedicação.<br />Desidério Erasmo (c. 1466-1536), de Roterdã, estudioso e humanista holandês, teve a honra de editar o primeiro Novo Testamento grego que veio a público. Já em 1514, Erasmo havia tratado dessa obra com o impressor Johann Froben, da Basileia. Erasmo viajou para a Basileia em julho de 1515, a fim de procurar alguns manuscritos em grego, para que ficassem ao lado de sua própria tradução latina. Embora os manuscritos que ele encontrou precisassem de revisão, Erasmo prosseguiu em seu trabalho. Trabalhava depressa; sua primeira edição, publicada em março do 1516, continha numerosos erros, tanto de natureza tipográfica como mecânica. Bruce M. Metzger afirma em sua obra The text of the New testament [O texto do Novo Testamento], que o texto de Erasmo, o qual posteriormente se tornaria a base do chamado Textus receptus, não se baseou em manuscritos primitivos, mas em textos que não passaram por uma revisão confiável; conseqúentemente, seus textos básicos não eram dignos de confiança. A própria receptividade dada à edição de Erasmo do Novo Testamento em grego teve natureza mista. Apesar disso, ao redor de 1519 tornou-se necessária nova edição. Essa segunda edição tor¬nou-se a base da tradução que Lutero fez da Bíblia para o alemão, embora ele usasse apenas mais um manuscrito em seu trabalho. Outras edições surgiram em 1522, em 1527 e em 1535. Todas essas edições basearam-se no texto bizantino, continham trechos de manuscritos bem recentes e incluíam porções espúrias como l João 5.7,8, bem como a tradução feita por Erasmo para o grego, a partir do texto latino, de alguns versículos do Apocalipse.<br /><br />Roberto Estéfano, impressor da corte real em Paris, publicou o Novo Testamento grego em 1546, em 1549, em 1550 e em 1551. A terceira edição (1550) foi a primeira edição que continha um aparato crítico, ainda que fossem meros quinze manuscritos. Essa edição baseou-se na quarta edição de Erasmo, e foi a base do Textus receptus. Sendo publicada, essa terceira edição haveria de tornar-se o principal texto da Inglaterra. Em sua quarta edição, Estéfano divulgou sua conversão ao protestantismo e implantou a divisão do texto em versículos.<br /><br />Teodoro Beza (1519-1605) foi o sucessor de João Calvino em Genebra. Beza publicou nove edições do Novo Testamento, após a morte de seu famoso predecessor, em 1564, e uma edição póstuma, a décima, veio a lume em 1611. A mais saliente edição publicada por Beza surgiu em 1582, em que ele incluiu alguns textos do Códice Beza (D) e do Códice claromontano (o2). O fato dele usar pouquíssimo esses manuscritos pode-se atribuir a que diferiam muito radicalmente dos textos de Erasmo e da Complutense. Isso resultou em que as edições do Novo Testamento grego de Beza estavam de acordo, em geral, com a edição de Estéfano, de 1550. Sua influência está no fato de que tendia a popularizar e estereotipar o Textus receptus.<br />Os tradutores da versão do rei Tiago usaram a edição de Beza de 1588 a 1589.<br />Boaventura e Abraão Elzevir (1583-1652 e 1592-1652) produziram o texto recebido (Textus receptus). O texto de Estéfano divulgou-se por toda a Inglaterra, mas o de Boaventura e de Abraão tornou-se o mais popular do continente europeu. Tanto o tio quanto o sobrinho eram grandes empreendedores na área de publicações. A empresa deles em Leiden publicou sete edições do Novo Testamento entre 1624 e 1787. A edição de 1624 usou basicamente o texto da edição de Beza de 1565, e a segunda edição (1633) é a fonte do título dado a seu texto, como informa o prefácio: "Textum ergo habes, nunc ab omnibus receptum: in quo nihil immutatum aut corruptum damus". <br />Assim foi que do texto publicitário do editor tirou-se um termo atraente (textus receptus significa "texto recebido, aceito") para designar o texto grego que haviam captado das edições de Beza, de Ximenes e de Estéfano. Esse texto é quase idêntico ao de Estéfano, que serviu de base para a tradução do rei Tiago. No entanto, o texto básico era de origem muito recente, e tirado de um punhado de manuscritos; além disso, várias passagens foram inseridas que nenhum apoio tinham nos textos antigos. Só as novas descobertas de manuscritos confiáveis, nova classificação e comparação poderiam remediar a situação.<br /><br /><strong>O período de crítica e de revisão </strong>(1648 até o presente)<br />No encerramento da era da Reforma, a Bíblia passou por um período de crítica e de revisão que, na verdade, se compõe de três períodos curtos. Cada subperíodo caracteriza-se por uma fase importante de crítica e de revisão, a saber, foram períodos de preparação, de progresso e de purificação. É importante que nos lembremos de que todas essas fases de crítica foram mais construtivas que destrutivas.<br /><br /><strong>O período de preparação </strong>(1648-1831) caracterizou-se pela reunião e pela classificação de textos bíblicos. Quando Brian Walton (1600-1661) editou a Poliglota de Londres, incluiu os textos paralelos da edição de Estéfano, de 1550. Essa obra poliglota continha o Novo Testamento em grego, em latim, em sírio, em etíope, em árabe e em persa (os evangelhos). Nas anotações apareceram os vários textos paralelos recentemente descobertos do Códice alexandrino (A) e um aparato crítico feito pelo arcebispo Usher. Em 1675 John Fell (1625-1686) publicou uma edição anônima do Novo Testamento grego em Oxford que trazia evidências, pela primeira vez, das Versões gótica e boaírica. Então, em 1707, John Mill (1645-1707) reim¬primiu o texto de Estéfano, de 1550, e acrescentou cerca de 30 000 variantos tiradas de quase cem manuscritos. Essa obra foi uma contribuição monumental para os estudiosos subsequentes, porque lhes proporcio¬nou uma base ampla de evidências textuais confiáveis.<br />Richard Bentley (1662-1742) foi um importante estudioso clássico que emitiu um boletim em que anunciava um texto do Novo Testamento que ele jamais concluiu. No entanto, ele conseguiu que outras pessoas juntassem textos e traduções disponíveis para um exame intensivo. Entre esses estudiosos estavam Johann Albrecht Bengel (1687-1752), que esta¬beleceu um dos cânones básicos da crítica textual: <strong>deve-se preferir o texto difícil ao fácil</strong>. Um dos estudiosos que examinavam documentos ao lado de Bentley e havia demonstrado disposição desde o início para a crítica textual foi Johann Jakob Wettstein (1693-1754); foi ele quem publicou o primeiro aparato que identificava os manuscritos unciais com letras maiúsculas romanas e os manuscritos minúsculos com numerais arábicos. Ele também defendia o princípio sadio segundo o qual os manuscritos devem ser avaliados pelo seu peso autorizado, e não por seu número. O fruto de seus esforços ao longo de quarenta anos foi publicado em 1751-1752, em Amsterdã.<br />A reimpressão da obra Prolegomena, de Wettstein, se fez em 1764, por Johann Salomo Semler (1725-1791), conhecido como o "pai do racionalismo alemão". Ele seguiu o padrão estabelecido por Bengel de classificar os manuscritos por grupos, mas levou esse processo a um desenvolvimento maior. Semler foi o primeiro estudioso a aplicar o termo recensão a grupos de testemunhas do Novo Testamento. Ele identificou três dessas recensões: a alexandrina, a oriental e a ocidental. Todos os textos posteriores foram considerados por Semler como misturas desses textos básicos.<br />A pessoa que na verdade desenvolveu de modo completo os princípios de Bengel e de Semler foi Johann Jakob Griesbach (1745-1812). Ele classificou os manuscritos do Novo Testamento em três grupos (alexandrinos, ocidentais e bizantinos), e lançou os alicerces de todo o trabalho subsequente do Novo Testamento grego. Em sua obra, Griesbach estabeleceu quinze cânones de crítica textual. Logo depois de publicar a primeira edição do seu Novo Testamento (1775-1777), vários outros estudiosos publicaram colações que aumentaram enormemente a disponibilidade de evidências textuais oriundas dos pais da igreja, das primeiras versões e do texto grego.<br />Christian Friedrich Matthaei (1744-1811) publicou um aparato crítico valioso em seu Novo Testamento grego e latino, pois acrescentou novas evidências com base em traduções eslavas. Frary Karl Alter (1749-1804), estudioso jesuíta de Viena, acrescentou mais evidências com base em manuscritos eslavos e em mais vinte manuscritos gregos, além de outros manuscritos. De 1788 a 1801 um grupo de estudiosos dinamarqueses pu¬blicou quatro volumes de uma obra textual sob a direção de Andrew Birch (1758-1829). Nesses volumes, os textos do Códice vaticano (B) apareceram em tipo impresso pela primeira vez.<br />Enquanto isso, dois estudiosos católicos romanos trabalhavam intensamente num texto. Eram Johann Leonhard Hug (1765-1846) e seu discípulo Johannes Martin Augustinus Scholz (1794-1852), que desenvolveram a teoria segundo a qual uma "edição comum" (koine ekdosis) apareceu após a degeneração do texto do Novo Testamento, no século III. Scholz acrescentou 616 novos manuscritos ao crescente corpo de textos disponíveis, e salientaou, pela primeira vez, a importância de atribuir proveniência geográfica, que estaria representada por diversos manuscritos. Este último ponto foi ampliado por B. H. Streeter em 1924, como parte de sua teoria de "textos locais". Depois de algum tempo, Scholz adotou a classificação de manuscritos elaborada por Bengel e publicou um Novo Testamento em 1830-1836, que mostrava uma regressão para o Textus receptus, visto que ela seguia o texto bizantino, em vez do alexandrino. Somente em 1845 Scholz mudou seu parecer, favorecendo então os textos alexandrinos.<br /><br /><strong>O período de progresso </strong>(1831-1881) é aquele em que surgiu a crítica construtiva, que se salientou no agrupamento de textos. O rompimento com o texto recebido se fez mediante homens como Karl Lachmann (1793-1851), que publicou o primeiro Novo Testamento grego inteiramente baseado num texto crítico e na avaliação de textos paralelos, ou variantes textuais; Lobegott Friedrich Constantin von Tischendorf (1815-1874), que procurou, descobriu e publicou manuscritos e textos críticos; Samuel Prideaux Tregelles (1813-1875), que serviu de instrumento para afastar a Inglaterra do texto recebido; e Henry Alford (1810-1871), que escreveu numerosos comentários e deitou por terra a reverência pedantesca e indevida ao texto recebido.<br />É preciso que se mencionem vários outros grandes estudiosos, nessa altura da história, visto que esses também desempenharam papéis-chave no desenvolvimento da crítica textual. Gaspar Rene Gregory completou a última edição do Novo Testamento grego de Tischendorf, com um prolegômeno (1894). Essa obra foi fonte principal de textos, da qual os estudiosos ainda dependem, bem como a base do catálogo universalmente aceito de manuscritos. Dois estudiosos de Cambridge, Brooke Foss Westcott (1825-1901) e Fenton John Anthony Hort (1828-1892), ficaram à altura de Tischendorf, pois fizeram contribuições impressionantes ao estudo do texto do Novo Testamento. Publicaram a obra The New Testament in the original Greek [O Novo Testamento no original grego] (1881-82), em dois volumes. O texto dessa obra ficou à disposição de uma comissão de revisão que produziu o English revised New Testament [Novo Testamento inglês revisado], em 1881. Suas concepções não eram originais, mas baseavam-se nas obras de Lachmann, de Tregelles, de Griesbach, de Tischendorf e de outros estudiosos. O emprego de seu texto para a English revised version [Versão inglesa revisada], e a explicação completa que apresentaram de suas opiniões, na introdução, fizeram crescer o índice de aceitação de seu texto crítico.<br />No entanto, alguns estudiosos defensores do texto recebido não pouparam esforços na argumentação contra o texto de Westcott e de Hort. Três desses foram John W. Burgon (1813-1888), que denunciou com toda a veemência o texto crítico, R H. A. Scrivener (1813-1891), que foi bem mais suave em sua crítica, e George Salmon (1819-1904), que lamentou a falta de peso atribuída aos textos "ocidentais" por parte de Westcott e de Hort.<br />A "teoria genealógica" de Westcott e de Hort dividiu os textos em quatro tipos: siríacos, ocidentais, neutros e alexandrinos. O tipo siríaco de texto inclui os textos siríacos propriamente ditos, os antioquinos e os bizantinos, como A, E, F, G, H, s, v, z e a maior parte dos minúsculos. O tipo ocidental de texto para Westcott e para Hort tinha raízes na igreja síria, mas havia sido levado mais longe, na direção do Ocidente, como se observa na Delta (A), na Antiga latina, na Siríaca e no texto da família Theta (9), tanto quanto se sabia. O tipo neutro de texto supostamente tinha origem no Egito e incluía os códices B e Aleph (א). O quarto tipo era alexandrino e compreendia um número menor de testemunhos do Egito, que não eram do tipo neutro. Essa família compunha os textos c, L, a família 33, o Saídico e o Boaírico. De acordo com Westcott e Hort, houve um ancestral comum (א) na raiz do texto neutro e do alexandrino, que teria sido primitivo e muito puro. <br /><br /><strong>O período de purificação </strong>(1881 até o presente) testemunhou a reação contra a teoria de Westcott e de Hort, que nada fizeram senão destronar o texto recebido e mais ainda: eliminar a possibilidade de surgimento de outros textos que seriam utilizáveis na crítica textual. Os principais oponentes do texto crítico foram Burgon e Scrivener, estando entre seus maiores defensores Bernhard Weiss (1827-1918), Alexander Souter (1873-1949) e outros. Os argumentos contra o texto crítico podem ser resumidos da seguinte forma: 1) o texto tradicional utilizado pela igreja durante l 500 anos deve ser correto por causa de sua durabilidade; 2) o texto tradicio¬nal possuía centenas de manuscritos que lhe eram favoráveis, enquanto o texto crítico só possuía uns poucos dos primitivos e 3) o texto tradicio¬nal é melhor porque é mais antigo. Após a morte de Burgon e de Scrivener, a oposição ao texto crítico foi encarada com menos seriedade pelos estudiosos.<br />Outro crítico da posição Westcott-Hort foi Hermann Freiherr von Soden (1852-1914). Esse estudioso iniciou sua obra numa base diferente da de Westcott e de Hort, mas confirmou em sua obra (Novo Testamento) muitas das descobertas daqueles dois. Embora contasse com volumosos recursos financeiros para seu trabalho, o empreendimento de Von Soden tem sido considerado um grande fracasso. No entanto, ele concordou com outros oponentes, ao afirmar que Westcott e Hort tinham uma magnífica noção da revisão siríaca, bem como do texto siríaco.<br />A situação encaminhou-se para a reinvestigação dos textos usados por Westcott e por Hort. Os resultados dessa crítica especializada, suma¬mente construtiva, podem ser vistos no status atual da teoria Westcott-Hort. Os tipos de textos foram reclassificados por causa das críticas de Von Soden e de outros estudiosos. A família siríaca recebeu novo nome: bizantina, ou antioquina, em vista da possibilidade de confundir-se com a Antiga siríaca. No momento existe um reconhecimento geral de que houve grande mistura entre os tipos de textos alexandrinos e neutros, e que ambos os tipos na verdade são variações ligeiras de tipos de textos da mesma família. É por isso que a designação de texto alexandrino inclui agora o texto neutro. Numa reavaliação do tipo de texto ocidental, os estudiosos apuraram a existência, na verdade, de três subgrupos — Códice D, Antiga latina e Antiga siríaca — pois os estudiosos concordam em que o texto em geral não é confiável, quando examinado em si mesmo. Desde o falecimento de Westcott, de Hort e de Von Soden, descobriu-se um novo tipo de texto: o cesareense. Trata-se de uma família de testos que fica a meio termo entre os textos alexandrinos e ocidentais, ou possivelmente mais perto dos ocidentais.<br />As mais recentes colações desses textos estão disponíveis nas obras de Eberhard Nestle, Novum Testamentum graece e The Greek New Testament [O Novo Testamento grego], da United Bible Societies, editadas por K. Alamd e outros. Em geral essas obras fazem uma classificação dos manuscritos da seguinte forma: alexandrinos, cesareenses, ocidentais e bizantinos. Visto que o texto recebido segue o texto bizantino, basicamente, é quase redundante afirmar que sua autoridade não é altamente considerada pelos estudiosos.Pastor Pedrohttp://www.blogger.com/profile/14959296050649164906noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-129497258255618826.post-8842987368940349792007-10-30T11:34:00.000-03:002008-12-11T20:32:43.778-03:00Aula 11 - Os principais manuscritos da Bíblia<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjx77BIqZfIV7RxA_Fpuv7ljnCI51uQ4m1x5BtDnl7qiKzR6moW3_nizvM1IGZUmG1Nt_RoUeXqLkPIVu4sZHr0sZ46oNl7O-meSk6Wfo-t6XhFY13vWhRM9p438w2UggOS9XqERGfVdo37/s1600-h/papiro.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjx77BIqZfIV7RxA_Fpuv7ljnCI51uQ4m1x5BtDnl7qiKzR6moW3_nizvM1IGZUmG1Nt_RoUeXqLkPIVu4sZHr0sZ46oNl7O-meSk6Wfo-t6XhFY13vWhRM9p438w2UggOS9XqERGfVdo37/s400/papiro.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5127147160280623794" /></a><br />Os escritos clássicos da Grécia e de Roma ilustram de modo extraordinário o caráter da preservação dos manuscritos bíblicos. Em contraposição ao número total de mais de cimco mil manuscritos do Novo Testamento conhecidos hoje, outros livros históricos e religiosos do mundo antigo praticamente desaparecem. Só 643 exemplares da Ilíada de Homero sobreviveram em forma de manuscrito. Da “História de Roma”, de Tito Lívio, restaram apenas 20 exemplares, e a obra “Guerras gálicas”, de César, só se conhece mediante 9 ou 10 manuscritos. Da obra de Tucídides, “Guerra do Peloponeso”, dispomos em apenas 8 manuscritos; as Obras de Tácito só podem ser encontradas em 2 manuscritos. Uma pesquisa das evidências em manuscritos do Antigo Testamento, embora não sejam tão numerosas como as do Novo, revela a natureza e a comprovação documentária dos textos originais da Bíblia hebraica. <br /><br /><strong>Os manuscritos do Antigo Testamento</strong><br />Em comparação com o Novo Testamento, há relativamente poucos manuscritos antigos do texto do Antigo Testamento. Era o que se verificava sobretudo antes da descoberta, em 1947, dos rolos do mar Morto. Mas esse acontecimento proporcionou ensejo para nosso estudo das tradições do Texto massorético e dos rolos do mar Morto.<br /><br /><strong>O Texto massorético</strong><br />Até recentemente, só uns poucos manuscritos hebraicos do Antigo Testamento eram conhecidos. Aliás, antes da descoberta dos manuscritos “Cairo Geneza”, em 1890, só 731 manuscritos hebraicos haviam sido publicados. É por isso que a edição corrente da “Bíblia Hebraica”, de Kittel, basei-se só em apenas quatro principais manuscritos, mas sobretudo em um deles, o “Códice de Leningrado”. Nessa tradição, os principais textos foram copiados durante o período massorético, como comprovam as seguintes amostras. O manuscrito “Códice do Cairo” ou “Códice cairota” (c) (895 d. C.) talvez seja o manuscrito massorético mais antigo dos profetas, e contém tanto os profetas antigos como os posterioresb mais recentes. O Códice de Leningrado dos profetas ou Códice babilônico dos profetas posteriores (MX B 3), também conhecido como Códice de [São] Petersburgo (916 d. C.), contém apenas os últimos profetas (Isaías, Jeremias, Ezequiel e os Doze), tendo sido escrito com vocalização babilónica. O Códice Aleppo (930 d.C.) do Antigo Testamento já não está mais completo. Deve ser a principal autoridade em Bíblia hebraica a ser publicada em Jerusalém, tendo sido corrigida e vocalizada por Aaron ben Asher, em 930 d.C. O Códice do Museu Britânico (Oriental 4445) data de 950 d.C.; trata-se de um manuscrito incompleto do Pentateuco. Contém apenas de Génesis 39.20 a Deuteronômio 1.33. O Códice de Leningrado (B 19 A ou L) (1008 d.C.) é o maior manuscrito do Antigo Testamento, o mais completo. Foi escrito em velino, com três colunas de 21 linhas por página. Os sinais vocálicos e os acentos seguem o padeão babilônico, colocados acima da linha. O Códice Reuchlin (MS Ad. 21161) dos profetas (1105 d.C.) contém um texto revisto que atesta a fidelidade do Códice de Leningrado. Os fragmentos de Cairo Geneza (500-800 d.C.), descobertos em 1890, no Cairo, estão espalhados por diversas bibliotecas. Ernst Wurthwein afirma existirem cerca de 10 mil manuscritos bíblicos e fragmentos de manuscritos desse depósito.<br />O número relativamente reduzido de antigos manuscritos do Antigo Testamento, com exceção do Cairo Geneza, pode ser atribuído a vários fatores. O primeiro e mais óbvio é a própria antiguidade dos manuscritos, combinada com sua inerente destrutibilidade; esses dois fatores concorrem para o desaparecimento dos manuscritos. Outro fator que militou contra a sobrevivência dos manuscritos foi a deportação dos Israelitas à Babilónia e ao domínio estrangeiro após o retorno à Palestina. Jerusalém foi conquistada 47 vezes em sua história, só no período de 1800 a 1948 d.C. Isso também explica por que os textos massoréticos foram des¬cobertos fora da Palestina. Outro fator que influi na escassez de manuscritos do Antigo Testamento diz respeito às leis sagradas dos escribas, que exigiam que os manuscritos gastos pelo uso, ou com erros, fossem enterrados. Secundo uma tradição talmúdica, todo manuscrito que contivesse erro, ou falha, e todo aquele que estivesse demasiado gasto pelo uso eram sistemática e religiosamente destruídos. Tais práticas sem dúvida alguma fizeram diminuir o número de manuscritos que se poderiam encontrar algures. Por fim, durante os séculos V e VI d.C., quando os massoretas (escribas judeus) padronizaram o texto hebraico, acredita-se que de modo sistemático e completo destruíram todos os manuscritos que discordassem do sistema de vocalização (adição de letras vocálicas) e de padronização do texto das Escrituras. Muitas evidências arqueológicas e a ausência de manuscritos mais antigos tendem a dar apoio a esse julgamento. O resultado é que o texto massorético impresso do Antigo Testamento, como o temos hoje, baseia-se nuns poucos manuscritos, nenhum dos quais com origem anterior ao século X d.C.<br />Ainda que haja relativamente poucos manuscritos massoréticos primitivos, a qualidade dos manuscritos disponíveis é muito boa. Isso também se deve atribuir a vários fatores. Em primeiro lugar, há pouquíssimas variantes nos textos disponíveis, visto serem todos descendentes de um tipo de texto estabelecido por volta de 100 d.C. Diferentemente do Novo Testamento, que baseia sua fidelidade textual na multiplicidade de cópias de manuscritos, o texto do Antigo Testamento deve sua exatidão à habilidade e à confiabilidade dos escribas que o transmitiram. Com todo o respeito às Escrituras judaicas, só a exatidão dos escribas, no entanto, não basta para garantir o produto genuíno. Antes, a reverência quase supersticiosa que dedicavam às Escrituras é de primordial importância. Segundo o Talmude, só determinados tipos de peles podiam ser utilizados, o tamanho das colunas era controlado por regras rigorosas, o mesmo acontecendo com respeito ao ritual que o escriba deveria seguir ao copiar um manuscrito. Se se descobrisse que determinado manuscrito continha um único erro, a peça era descartada e destruída. Tão severo formalismo dos escribas foi responsável, pelo menos em parte, pelo extremo cuidado aplicado no processo de copiar as Escrituras Sagradas.<br />Outra categoria de evidências quanto à integridade do texto massorético encontra-se na comparação de passagens duplas do próprio texto massorético do Antigo Testamento. O salmo 14, por exemplo, reaparece de novo como salmo 53; grande parte de Isaías 36-39 reaparece em 2Reis 18.20; Isaías 2.2-4 corresponde a Miquéias 4.1-3, e grande parte de Crônicas se encontra de novo em Samuel e em Reis. Um exame dessas passagens, bem como de outras, revela não somente substancial acordo textual, mas também, em certos casos, igualdade quase absoluta, palavra por palavra. Resulta disso a conclusão de que os textos do Antigo Testamento não sofreram revisões radicais, ainda que as passagens paralelas tenham origem em fontes idênticas. <br />Outra prova substancial quanto à exatidão do texto massorético procede da arqueologia. Robert Dick Wilson e William F. Albright, por exemplo, fizeram numerosas descobertas que confirmam a exatidão histórica dos documentos bíblicos, até mesmo no que concerne aos nomes obsoletos de reis estrangeiros. A obra de Wilson, “A scientific investigation of the Old Testament" [Uma Investigação científica do Antigo Testamento], e a de Albright, “From the Stone Age to Christianity" [Da Idade da Pedra ao cristianismo], podem ser consultadas em busca de apoio para essa concepção. Talvez o melhor tipo de evidências em apoio à integridade do texto massorético é encontrada na tradução grega do Antigo Testamento, conhecida como Septuaginta ou LXX. Esse trabalho foi executado durante os séculos II e III a.C, em Alexandria, no Egito. Na maior parte, é pratica¬mente urna reprodução livro por livro, capítulo por capítulo, do texto massorético e contém diferenças estilísticas e idiomáticas comuns. Além disso, a Septuaginta foi a Bíblia que Jesus e os apóstolos usaram, e a maior parte das citações no Novo Testamento foram tiradas diretamente dessa tradução. No todo, a Septuaginta constitui-se no correspondente do texto massorético e tende a confirmar a fidelidade do texto hebraico do século X d.C. Se não houvesse nenhuma outra evidência, a comprovação da fidelidade ao texto massorético poderia ser aceita com confiança, em ra¬zão das evidências aqui apresentadas.<br /><br /><strong>Os rolos do mar Morto</strong><br />Essa grande descoberta ocorreu em março de 1947, quando um jovenzinho árabe (Muhammad adh-Dhib) estava perseguindo uma cabra perdida nas grutas, a doze quilómetros ao sul de Jericó, e um e meio quiló¬metro a oeste do mar Morto. Numa das grutas ele descobriu umas jarras que continham vários rolos de couro. Entre esse dia e fevereiro de 1956, onze grutas que continham rolos e fragmentos de rolos foram escavadas próximo a Qumran. Nessas grutas, os essênios, seita religiosa judaica que existiu por volta da época de Cristo, haviam guardado sua biblioteca. Somando tudo, os milhares de fragmentos de manuscritos constituíam os restos de seiscentos manuscritos.<br />Os manuscritos que trazem o texto do Antigo Testamento são os de maior interesse para nós. A Gruta l é a que havia sido descoberta pelo jovem árabe, a qual continha sete rolos mais ou menos completos e alguns fragmentos, dentre os quais o mais antigo livro que se conhece da Bíblia (Isaías A), um Manual de disciplina, um Comentário de Habacuque, um Apócrifo de Génesis, um texto incompleto de Isaías (Isaías B), a Regra da guerra e cerca de trinta Hinos de ação de graça. Na Gruta 2 foram encontra¬dos outros manuscritos; essa gruta havia sido descoberta por beduínos que roubaram alguns artigos. Descobriram-se ali fragmentos de cerca de cem manuscritos; nenhum desses achados, porém, foi tão espetacular quanto ao que se descobriu nas demais grutas. Na Gruta 3 foram achadas duas metades de um rolo de cobre que dava instruções sobre como achar sessenta ou mais lugares que continham tesouros escondidos, a maior parte dos quais em Jerusalém ou em seus arredores.<br />A Gruta 4 (a Gruta da Perdiz) também havia sido pilhada por beduínos, antes de ser escavada em setembro de 1952. No entanto, verificou-se que haveria de ser a gruta mais produtiva de todas, visto que literalmente milhares de fragmentos foram recuperados e reconstituídos, quer mediante compra dos beduínos, quer em decorrência da peneiração arqueológica da poeira do solo da gruta. Um fragmento de Samuel que se encontrou ali é tido como o mais antigo trecho de hebraico bíblico conhecido, pois data do século IV a.C. Na Gruta 5 acharam-se alguns livros bíblicos e outros apócrifos em avançado estado de deterioração. A Gruta 6 revelou a existência de mais fragmentos de papiro que de couro. As Grutas de 7 a 10 forneceram dados de interesse para o arqueólogo profissional, nada, porém, de interesse relevante ao estudo que estamos empre¬endendo. A Gruta 11 foi a última a ser escavada e explorada, em começos de 1956. Ali se encontrou uma cópia do texto de alguns salmos, incluindo-se o salmo apócrifo 151, que até essa data só era conhecido em textos gregos. Encontrou-se, ainda, um rolo muito fino que continha parte de Levítico e um Targum (paráfrase) aramaico de Jó.<br />Estimulados por essas descobertas originais, os beduínos insistiram nas buscas e descobriram outras grutas a sudoeste de Belém. Aqui, em Murabba'at, descobriram alguns manuscritos que traziam a data e alguns documentos da segunda revolta judaica (132-135 d.C.). Esses docu¬mentos ajudaram a confirmar a antiguidade dos rolos do mar Morto. Descobriu-se também outro rolo dos profetas menores (de Joel a Ageu), cujo texto se aproxima muito do texto massorético. Além disso, descobriu-se ali um palimpsesto, o papiro semítico (o primeiro texto havia sido raspado) mais antigo de que se tem notícia. O segundo texto nele gravado era em hebraico antigo, dos séculos VII e VIII a.C.<br />Vários tipos de evidências tendem a dar apoio às datas dos rolos do mar Morto. Em primeiro lugar, está o processo do carbono 14, que dá a esses documentos a idade de 1917 anos, com margem de variação de 200 anos (10%). Isso significa que tais documentos datam de 168 a.C. a 233 d.C. A paleografia (estudo da escrita antiga e de seus materiais) e a ortografia (redação correta das palavras) marcam a data de alguns desses manuscritos anterior a 100 a.C. A arqueologia trouxe mais algumas evidências paralelas, mediante o estudo da cerâmica encontrada nas grutas: descobriu-se que era da baixa Era Helenística (150-163 a.C.) e da alta Era Romana (63 a.C.-lOO d.C.). Por fim, as descobertas de Murabba'at corroboraram as descobertas de Qumran.<br />A natureza e o número dessas descobertas do mar Morto produziram as seguintes conclusões gerais a respeito da integridade do texto massorético. Os rolos fornecem espantosa confirmação da fidelidade do texto massorético. Millar Burrows, em sua obra “The Dead Sea scrolls” [Os rolos do mar Morto], mostra que existiram pouquíssimas alterações do texto, num período aproximado de mil anos. R. Laird Harris, em sua obra “Inspiration and canonicity of the Bible” [A inspiração e a canonicidade da Bíblia], sustenta que existem menos diferenças nessas duas tradições, em mil anos, do que em duas famílias de manuscritos do Novo Testamento. Gleason Archer, autor de “A survey of Old Testament introduction” [Uma Pesquisa para introdução ao Antigo Testamento] apoia a integridade do texto massorético ao declarar que tal texto concorda com o manuscrito de Isaías encontrado na Gruta l em 95% de seu conteúdo. Os restantes 5% compreendem lapsos óbvios da pena e variações de grafia que ocorreram naquele ínterim.<br /><br /><strong>Manuscritos do Novo Testamento</strong><br />A integridade do Antigo Testamento foi confirmada em primeiro lugar pela fidelidade do processo de transmissão, posteriormente confirmada pelos rolos do mar Morto. Por outro lado, a fidelidade do texto do Novo Testamento baseia-se na multiplicidade de manuscritos existentes. É fato que do Antigo Testamento restaram apenas alguns manuscritos completos, todos muito bons; mas do Novo possuímos muito mais cópias, em geral de qualidade mais precária. Chama-se manuscrito um documento escrito a mão, em contraste com uma cópia ou exemplar impresso. Como dissemos antes, o Novo Testamento foi escrito em letras de imprensa, conhecidas pelo nome de unciais (ou maiúsculas). A partir do século VI esse estilo caiu em desuso, sendo gradualmente substituído pelos manuscritos chamados minúsculos. Estes predominaram no período que vai do século IX ao XV.<br />Outros testemunhos sobre a fidelidade do texto do Novo Testamento procedem de outras fontes básicas: manuscritos gregos, antigas versões e citações patrísticas. Os manuscritos gregos são a fonte mais importante, e podem ser divididos em três categorias. Essas categorias de manuscritos comumente recebem o nome de papiros, unciais e minúsculos, em vista de suas características diferenciadas.<br /><br /><strong>Os papiros</strong><br />Os manuscritos classificados como papiros datam dos séculos II e III, quando o cristianismo ainda era ilegal, e as Escrituras Sagradas eram copiadas nos materiais mais baratos possíveis. Existem cerca de 26 manuscritos do Novo Testamento em papiro. O testemunho comprobatório que esses manuscritos proporcionam ao texto é valiosíssimo, visto que surgiram a partir do alvorecer do século II, apenas uma geração depois dos autógrafos originais, e contêm a maior parte do Novo Testamento.<br />Vamos comentar aqui os representantes mais importantes dos ma¬nuscritos de papiro. O p52 ou Fragmento de John Rylands (117-138) é o mais antigo e genuíno que se conhece e traz um trecho do Novo Testamento. Foi escrito de ambos os lados e traz partes de cinco versículos do evangelho de João (18.31-33,37,38). O p45, o p46 e o p47, os Papiros Chester Beatty (250), consistem de três códices que abrangem a maior parte do Novo Testamento. O P45 compreende trinta folhas de um códice de papiro que contêm os evangelhos e Atos. O p46 traz a maior parte das cartas de Paulo, bem como Hebreus, faltando, porém, algumas partes de Romanos, 1Tessalonicenses e toda 2Tessalonicenses. O p47 contém partes do Apocalipse. O p66, o p72 e o p75, os Papiros Bodmer (175-225), compreendem a mais importante descoberta de papiros do Novo Testamento, desde o Papiro Chester Beatty. O p66 data de 200 d.C; contém algumas porções do evangelho de João. O p72 é a mais antiga cópia de Judas e de 1 e 2Pedro que se conhece; data do século III e contém vários livros, alguns canônicos, outros apócrifos. O p75 contém Lucas e João em unciais cuidadosamente impressos, com toda a clareza; data de 175 a 225. Por isso, é a mais antiga cópia de Lucas de que se tem notícia.<br /><br /><strong>Os unciais</strong><br />Os mais importantes manuscritos do Novo Testamento como um todo são considerados em geral os grandes unciais, escritos em velino e em pergaminho, nos século IV e V. Existem cerca de 297 desses manuscritos unciais. Descreveremos a seguir alguns dos mais importantes desses manuscritos. Os mais importantes deles, o א, o B, o A e o c, não estiveram à disposição dos tradutores da Bíblia do rei Tiago. Na verdade, só o D esteve à disposição desses tradutores, que o utilizaram pouco. Bastaria esse fato para que se exigisse uma nova tradução da Bíblia, depois que esses grandes documentos unciais foram descobertos.<br /><br />O Códice Vaticano (B) talvez seja o mais antigo uncial em velino ou em pergaminho (325-350), sendo uma das mais importantes testemunhas do texto do Novo Testamento. Foi desconhecido dos estudiosos bíblicos até depois de 1475, quando foi catalogado na Biblioteca do Vaticano. Foi publicado pela primeira vez em 1889-1890 em fac-símile fotográfico. Contém a maior parte do Antigo Testamento grego (LXX), o Novo Testamento grego e os livros apócrifos, com algumas omissões. Faltam também nesse códice Génesis 1.1— 46.28; 2Reis 2.5-7,10-13; Salmos 106.27—138.6, bem como Hebreus 9.14 até o fim do Novo Testamento. Marcos 16.9-20 e João 7.58—8.11 foram omitidos do texto de propósito; o texto todo foi escrito em unciais pequenos e delicados, sobre velino fino.<br /><br />O Códice sinaítico (א, Álefe) é o manuscrito grego do século IV conside¬rado em geral a testemunha mais importante do texto, por causa de sua antiguidade, exatidão e inexistência de omissões. A história de sua descoberta é das mais fascinantes e românticas da história do texto bíblico. O manuscrito foi descoberto por Tischendorf, conde alemão, no Mosteiro de Santa Catarina, no monte Sinai. Em 1844 ele descobriu 43 folhas de velino que continham porções da Septuaginta (1Crónicas, Jeremias, Neemias e Ester), num cesto cheio de fragmentos usados pelos monges com o fim de acender fogueiras. O conde apanhou esses fragmentos e os levou para Leipzig, na Alemanha, onde até hoje permanecem com o nome de Códice Frederico-Augustanus. Numa segunda visita, em 1853, o conde Tischendorf nada encontrou de novidade, mas em 1859 partiu para sua terceira visita, sob a direção do czar Alexandre II. Quando ele estava prestes a partir, voltando para casa, o mordomo do mosteiro mostrou-lhe uma cópia quase completa das Escrituras e mais alguns livros. Todas as peças foram subsequentemente entregues ao czar como "presente condicional". Esse manuscrito é conhecido hoje como Códice sinaítico (א); contém mais da metade do Antigo Testamento (LXX) e todo o Novo (com exceção de Mc 16.9-20 e Jo 7.58—8.11), todos os livros apócrifos do Antigo Testa¬mento, a Epístola de Barnabé e O pastor, de Hermas. O texto foi escrito em excelente velino, feito de peles de antílopes. O manuscrito sofreu várias "correções" de escribas, as quais se denominam א. Em Cesaréia, no século VI ou VII, um grupo de escribas introduziu outras alterações textuais conhecidas como א ca ou א cb. Em 1933, o governo inglês comprou o Códice sinaítico por cem mil libras esterlinas. E depois foi publicado num volume intitulado Scribes and correctors of Codex Sinaiticus [Escribas e corretores do Códice sinaítico] em 1938.<br /><br />O Códice alexandrino (A) é um manuscrito do século V, muito bem conservado, que se posiciona logo depois de B e de Álefe, como representan¬te do texto do Novo Testamento. Embora alguns tenham datado esse códice em fins do século IV, provavelmente é o resultado do trabalho de um escriba de Alexandria, no Egito, por volta de 45 d.C. Em 1078 esse códice foi dado de presente ao patriarca de Alexandria, que lhe deu a designação que ostenta até hoje. Em 1621 foi levado a Constantinopla, antes de ser entregue a sir Thomas Roe, embaixador inglês na Turquia, em 1624, para apresentação ao rei Tiago I (James I). Ele morreu antes de o manuscrito chegar à Inglaterra, pelo que foi entregue ao rei Carlos I, em 1627. A ausência do manuscrito nesses anos todos impediu que o documento fosse consultado pelos tradutores da Bíblia do rei Tiago, em 1611, embora todos soubessem de sua existência na época. Em 1757, Jorge II ofertou o manuscrito à Biblioteca Nacional do Museu Britânico. Contém integralmente o Antigo Testamento, exceto algumas partes que sofreram mutilações (Gn 14.14-17; 15.1-5,16-19; 16.6-9; 1Rs [1Sm] 12.18—14.9; SI 49.19-79.100 e a maior parte do Novo Testamento, faltando apenas Mt 1.1—25.6; Jo 6.50—8.52 e 2Co 4.13—12.6). O códice contém 1 e 2Clemente e Salmos de Salomão, com a ausência de algumas partes. Suas grandes letras quadradas, unciais, estão escritas em velino muito fino; o texto é dividido em seções mediante o emprego de letras maiores. O texto é de qualidade variável.<br /><br />O Códice efraimita (c) provavelmente se originou na Alexandria, no Egito, por volta de 345. Foi levado à Itália ao redor de 1500 por John Lascaris e depois vendido a Pietro Strozzi. Catarina de Medici, italiana, mãe e esposa de reis franceses, o comprou em 1533. Após sua morte, o manuscrito foi colocado na Biblioteca Nacional de Paris, onde permanece até hoje. Falta a esse códice a maior parte do Antigo Testamento, constando dele partes de Jó, Provérbios, Eclesiastes, Cânticos dos Cânticos e dois livros apócrifos — Sabedoria de Salomão e Eclesiástico. Ao Novo Testamento faltam 2Tessalonicenses, 2João e parte de outros livros. O manuscrito é um palimpsesto (raspado, apagado) reescrito em que originariamente estavam gravados o Antigo e o Novo Testamento. Ò texto sagrado foi apagado para que nesses pergaminhos se escrevessem sermões de Efraim, pai da igreja do século IV. Mediante reativação química, o conde Tischendorf foi capaz de decifrar as escritas quase invisíveis dos perga¬minhos. Esse manuscrito está guardado na Biblioteca Nacional de Paris, e deixa à mostra sinais e evidências de duas fases de correções: a primeira, c2 ou cb, foi realizada na Palestina, no século VI, e a segunda, c3 ou cc, foi acrescentada no século IX, em Constantinopla.<br /><br />O Códice Beza (D), também chamado Códice de Cambridge, foi transcrito em 450 ou 550. É o manuscrito bilíngue mais antigo que se conhece do Novo Testamento, escrito em grego e em latim, na região geral do sul da Gália (França) ou do norte da Itália. Foi descoberto em 1562 por Teodoro Beza, teólogo francês, no Mosteiro de Santo Ireneu, em Lião, na França. Em 1581 Beza deu-o à Universidade de Cambridge. Contém os quatro evangelhos, Atos e 3João 11—15, com variações tiradas de outros manuscritos, nele indicadas. Há muitas omissões no texto, tendo permanecido apenas o texto latino de 3João 11—15.<br /><br />O Códice claromontano (D2 ou Dp2) é um complemento do século VI do códice D, datado de 550. Contém grande parte do Novo Testamento que está faltando em D. D2 aparentemente originou-se na Itália, ou na Sardenha, tendo recebido seu nome de um mosteiro de Clermont, na França, onde foi descoberto por Beza. Após a morte de Beza, o códice ficou na posse de vários indivíduos, até ser comprado pelo rei Luís XIV, para integrar a Biblioteca Nacional de Paris, em 1656. Foi publicado integralmente pelo conde Tischendorf em 1852. Esse códice contém todas as cartas de Paulo e Hebreus, embora estejam faltando Romanos 1.1-7,27-30 e 1Coríntios 14.13-22, em grego, e 1Coríntios 14.8-18 e Hebreus 13.21-23, em latim. Esse manuscrito bilíngue foi escrito de modo artístico, em velino finíssimo, de alta qualidade. O grego é bom, mas a gramática latina em alguns trechos é inferior.<br /><br />O Códice washingtoniano I (w) data do século IV ou início do V. Charles F. Freer, de Detroit, em 1906, o havia adquirido de um negociante do Cairo, no Egito. Entre 1910 e 1918 foi editado pelo professor H. A. Sanders, da Universidade de Michigan, estando hoje na Instituição Smithsoniana, em Washington, DC. Esse manuscrito contém os quatro evangelhos, porções das epístolas de Paulo (exceto Romanos), Hebreus, Deuteronômio, Josué e Salmos. A ordem dos evangelhos é: Mateus, João, Lucas e Marcos. Marcos contém o final mais longo (Mc 16.9-20); entretanto, acrescenta uma inserção após o versículo 14. É um códice volumoso, feito de velino, cujos tipos de letras são misturados de modo curioso.<br /><br /><strong>Os minúsculos</strong><br />As datas dos manuscritos minúsculos (do século IX ao XV) mostram que em geral são de qualidade inferior, se comparados aos manuscritos em papiros ou unciais. A importância desses manuscritos está no relevo dispensado às famílias textuais e não à sua quantidade. Somam 4 643, dos quais 2 646 são manuscritos e 1997, lecionários (livros antigos que a igreja usava no culto). Alguns desses manuscritos minúsculos mais importantes estão identificados abaixo.<br />Os minúsculos da família alexandrina são representados pelo ms. 33, "rei dos cursivos", datado do século IX ou X. Contém todo o Novo Testamento, menos o Apocalipse. É propriedade da Biblioteca Nacional de Paris.<br />O texto cesareense emprega um tipo que sobreviveu na Família l, den¬tre os manuscritos minúsculos. Essa família contém os manuscritos l, 11 H, 131 e 209, e todos datam do século XII até o XIV.<br />A subfamília italiana do tipo cesareense é representada por cerca de doze manuscritos conhecidos por Família 13. Tais manuscritos haviam sido copiados entre os séculos XI e XV. Incluem os manuscritos 13,69,124, 230, 346, 543, 788, 826, 828, 983, 1689 e 1709. Julgava-se de início que alguns desses manuscritos tinham texto de tipo sírio.<br />Muitos dos demais manuscritos minúsculos podem ser colocados em uma ou outra das várias famílias textuais, mas sustentam-se por seus próprios méritos e não por pertencerem a uma das famílias de manuscritos mencionadas acima. Entretanto, no todo, foram copiados de manuscritos minúsculos ou manuscritos unciais primitivos, e poucas evidências novas acrescentam ao Novo Testamento. Proporcionam uma linha contínua de transmissão do texto bíblico, enquanto os manuscritos de outras obras clássicas apresentam brechas de novecentos a mil anos entre os autógrafos e suas cópias manuscritas, como se pode ver nos exemplos das Guerras gálicas, de César, e das Obras, de Tácito.Pastor Pedrohttp://www.blogger.com/profile/14959296050649164906noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-129497258255618826.post-19037125757948773962007-10-29T12:19:00.000-03:002008-12-11T20:32:43.945-03:00Aula 10 - As línguas e os materiais da Bíblia<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixiavkzO83ZHJgcX5Tl_VxCRt3mzjhUoqazz0caVr3e4Qpk1mRMPSNylqwuqzmMZnjlHkqw0WJehhjSLdTBs2vAoiEux3jsQQq16uKzE85SBlfT63cutFPKWDk_2ITSnrqxwzbu5Q4uCel/s1600-h/abertos-biblia-~-1777134.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixiavkzO83ZHJgcX5Tl_VxCRt3mzjhUoqazz0caVr3e4Qpk1mRMPSNylqwuqzmMZnjlHkqw0WJehhjSLdTBs2vAoiEux3jsQQq16uKzE85SBlfT63cutFPKWDk_2ITSnrqxwzbu5Q4uCel/s200/abertos-biblia-~-1777134.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5126779171777669730" /></a><br /><br />Até agora, nosso estudo está centrado ao redor dos dois primeiros elos da cadeia vinda de Deus para nós. O primeiro elo é a inspiração, que envolvia a outorga e o registro da revelação de Deus para o homem, mediante os profetas. O segundo elo é a canonização, que envolvia o reconhecimento e a compilação dos registros proféticos pelo povo de Deus. A fim de compartilhar esses registros com os novos crentes e com as gerações futuras, era necessário que se copiassem, traduzissem, recopiassem e retraduzissem esses livros. Esse processo constitui o terceiro elo da corrente de comunicação, conhecido como transmissão da Bíblia.<br />Visto que a Bíblia vem passando por quase dois mil anos de transmissão<br />(não computando o Antigo Testamento), é razoável que se pergunte se a Bíblia em português, de que dispomos hoje, no início do século XXI, se constitui na reprodução exata dos textos hebraicos e gregos. Em suma, até que ponto a Bíblia sofreu danos no processo de transmissão? A fim de responder a essa pergunta e tratar bem desse assunto, será necessário que examinemos a ciência da crítica textual, que compreende as línguas e os materiais da Bíblia, bem como as evidências documentais dos próprios manuscritos. Alguns desses assuntos veremos nas próximas aulas<br /><br /><strong>A importância das línguas escritas</strong><br /><br /><strong>Meios alternativos de transmissão</strong><br />Várias alternativas estavam abertas diante de Deus, quando decidiu escolher um meio de transmitir sua verdade aos homens (Hb 1.1). Ele poderia ter usado um ou mais dos veículos empregados em várias ocasi¬ões, ao longo dos tempos bíblicos. Por exemplo, Deus usou anjos nos tempos da Bíblia (v. Gn 18,19; Ap 22.8-21). O lançar sorte, além do Urim e do Tumim, também fo empregado afim de procurar saber a vontade de Deus (Êx 28.30; Pv 16.33), da mesma forma que se ouvia a voz da consciência (Rm 2.15) e da criação (SI 19.1-6). Além disso, Deus usou vozes audíveis (ISm 3) e milagres diretos (Jz 6.36-40).<br />Todos esses veículos sofriam algum tipo de limitação ou deficiência. Enviar um anjo para que entregasse cada mensagem de Deus, a cada ser humano, em cada situação, ou empregar vozes audíveis e milagres diretos, tudo isso seria difícil de administrar e repetitivo. Lançar sorte, ou a simples resposta positiva, ou negativa, advinda do Urim e do Tumim eram limitados demais, em comparação com outros veículos de comunicação de massa com maior amplitude e melhores recursos, sendo capazes de prover descrições minuciosas. Outros meios de comunicação, como visões, sonhos e as vozes da consciência ou da criação, em certas ocasiões sofriam a influência do subjetivismo, da distorção cultural e até da corrupção. Era o que se verificava sobretudo ao compará-los com alguns meios mais objetivos de comunicação, os quais faziam uso da linguagem escrita.<br /><br /><strong>A língua escrita em geral</strong><br />Seria incorreto dizer que todos aqueles meios de comunicação, sem exceção, não eram bons, uma vez que de fato foram meios que Deus usou para comunicar-se com os profetas. No entanto, havia um "caminho mais excelente", mediante o qual o Senhor se comunicaria com os seres humanos de todas as eras por meio dos profetas. Deus decidiu fa¬zer que sua mensagem se tornasse algo permanente e se imortalizasse por meio de um registro escrito entregue aos homens. Tal registro seria mais preciso, mais permanente, mais objetivo e mais facilmente disseminável do que qualquer outro meio.<br /><br /><strong>Precisão</strong>. Uma das vantagens da linguagem escrita sobre os demais veículos de comunicação é a precisão. Para que um pensamento seja captado e expresso por escrito, é preciso que tenha sido claramente entendido pelo autor. O leitor, por sua vez, pode entender com mais precisão um pensamento que lhe tenha sido comunicado mediante a palavra escrita. Visto que os conhecimentos entesourados pelo ser humano, até o presente, têm sido preservados na forma de registros escritos e de livros, pode-se compreender por que Deus escolheu esse processo a fim de comunicar-nos sua verdade.<br /><br /><strong>Permanência</strong>. Outra vantagem da linguagem escrita é a sua permanência. Constitui meio pelo qual se pode preservar o pensamento ou a expressão, sem que os percamos por lapso da memória, por vacilação mental ou por intrusão em outras áreas. Além disso, o registro escrito estimula a memória do leitor e instiga sua imaginação, de modo que passa a incluir inúmeras implicações latentes nas palavras e nos símbolos do registro. As palavras são maleáveis e permitem o enriquecimento pessoal do leitor.<br /><br /><strong>Objetividade.</strong> A transmissão de uma mensagem por escrito também tende a torná-la mais objetiva. A expressão escrita carrega consigo uma narca de irrevocabilidade extrínseca a outras formas de comunicação. Esse caráter definitivo transcende a subjetividade de cada leitor, o que complementa a precisão e a permanência da mensagem transmitida. E mais: a palavra escrita combate a má interpretação e a má transmissão da mensagem.<br /><br /><strong>Disseminação</strong>. Outra vantagem da linguagem escrita sobre os demais meios de comunicação é sua capacidade de propagação, ou disseminação. Independentemente do cuidado com que se processa uma comunicação oral, sempre existe uma probabilidade maior de corrupção e de aIteração das palavras utilizadas em relação à comunicação escrita. Em resumo, a tradição oral tende a sofrer corrupção, em vez de preservar uma mensagem. Na disseminação de sua revelação à humanidade, de iodo especial às gerações futuras, Deus escolheu um modo exato de transmitir sua Palavra.<br /><br /><strong>As línguas bíblicas em particular</strong><br />As línguas utilizadas no registro da revelação de Deus, a Bíblia, vieram das famílias de línguas semíticas e indo-européias. Da família semítica<br />originaram as línguas básicas do Antigo Testamento, qual sejam o hebraico e o aramaico (siríaco). Além dessas línguas, o latim e o grego representam a família indo-européia. De modo indireto, os fenícios exerceram um papel importante na transmissão da Bíblia, ao criar o veículo básico que fez que a linguagem escrita fosse menos complicada do que havia sido até então: inventaram o alfabeto.<br /><br /><strong>As Línguas do Antigo Testamento</strong>. O aramaico era a língua dos sirios,<br />tendo sido usada em todo o período do Antigo Testamento. Durante o século VI a.C., o aramaico se tornou língua geral de todo o Oriente Próximo. Seu uso generalizado se refletiu nos nomes geográficos e nos textos bíblicos de Esdras 4.7—6.18; 7.12-26 e Daniel 2.4—7.28.<br />O hebraico é a língua principal do Antigo Testamento, especialmente adequada para a tarefa de criar uma ligação entre a biografia do povo de Deus e o relacionamento do Senhor com esse povo. O hebraico encaixou-se bem nessa tarefa porque é uma língua pictórica. Expressa-se mediante metáforas vívidas e audaciosas, capazes de desafiar e dramatizar a narrativa dos acontecimentos. Além disso, o hebraico é uma língua pessoal. Apela diretamente ao coração e às emoções, e não apenas à mente e à razão. É uma língua em que a mensagem é mais sentida que meramente pensada.<br /><br /><strong>As línguas do Novo Testamento</strong>. As línguas semíticas também foram usa¬das na redação do Novo Testamento. Na verdade, Jesus e seus discípulos falavam o aramaico, sua língua materna, tendo sido essa a língua falada por toda a Palestina na época. Enquanto agonizava na cruz, Jesus cla¬mou em aramaico: "... Eli, Eli, lema sabactâni, que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mt 27.46). <br />O hebraico fez sentir mais sua influência mediante expressões idiomáticas do que mediante declarações dessa natureza. Uma dessas expressões idiomáticas do hebraico traduzidas em português de diversas maneiras é "e sucedeu que". Outro exemplo da influência hebraica no texto grego, vemos no emprego de um segundo substantivo, em vez de um adjetivo, a fim de atribuir uma qualidade a algo ou a alguém. Como exemplo citamos as expressões: "obra da vossa fé; do vosso trabalho de amor, e da vossa firmeza de esperança" (1Ts 1:3).<br />Além das línguas semíticas a influenciar o Novo Testamento, temos as indo-européias, o latim e o grego. O latim influenciou ao emprestar muitas palavras, como "centurião", "tributo" e "legião", e pela inscrição trilingue na cruz (em latim, em hebraico e em grego).<br />No entanto, a língua em que se escreveu o Novo Testamento foi o grego. Até fins do século XIX, cria-se que o grego do Novo Testamento era a "língua especial" do Espírito Santo, mas a partir de então essa língua tem sido identificada como um dos cinco estágios do desenvolvimento da língua grega. Esse grego coiné era a língua mais amplamente conheci¬da em todo o mundo do século I. O alfabeto havia sido tomado dos fenícios. Seus valores culturais e vocabulário cobriam vasta expansão geográfica, vindo a tornar-se a língua oficial dos reinados em que se divi¬diu o grande império de Alexandre, o Grande. O aparecimento providencial dessa língua, ao lado de outros desenvolvimentos culturais, políticos, sociais e religiosos, durante o século I a.C, fica implícito na decla¬ração de Paulo: "Mas vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei" (Gl 4.4).<br />O grego do Novo Testamento adaptou-se de modo adequado à finali¬dade de interpretar a revelação de Cristo em linguagem teológica. Tinha recursos linguísticos especiais para essa tarefa por ser um idioma intelec¬tual. Era um idioma da mente, mais que do coração, e os filósofos atestam isso amplamente. O grego tem precisão técnica de expressão não encontrada no hebraico. Além disso, o grego era uma língua quase universal. A verdade do Antigo Testamento a respeito de Deus foi revelada inicialmente a uma nação, Israel, em sua própria língua, o hebraico. A revelação completa, dada por Cristo, no Novo Testamento, não veio de forma tão restrita. Em vez disso, a mensagem de Cristo deveria ser anunciada no mundo todo: "... em seu nome se pregará o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém" (Lc 24.47).<br /><br /><strong>O desenvolvimento das línguas escritas</strong><br /><br /><strong>Os avanços na escrita</strong><br />Ainda que o Antigo Testamento nada diga a respeito do desenvolvimento da escrita, podemos discernir três Estágios desse desenvolvimento. No primeiro estágio acham-se os pictogramas, ou representações rudes que antecederam a escrita atual. Eram figuras que representavam seres humanos ou animais, como o boi, o leão e a águia. Com o passar do tempo, os pictogramas foram perdendo sua posição dominante como meio de comunicação escrita. Foram substituídos por ideogramas, figuras que representavam ideias, em vez de pessoas e objetos. Um objeto como o sol representava o calor; um homem de idade representava a velhice; a águia, o poder; o boi, a força e o leão, a realeza e assim por diante, de modo que tais ideogramas, gradualmente, foram substituindo os pictogramas. Outra expansão dos pictogramas foram os fonogramas, ou traços que representavam sons, em vez de objetos ou idéias. Uma boca poderia representar o verbo falar; o ouvido, o verbo ouvir; uma perna, o verbo andar; uma cabeça de leão poderia significar um estrondo; a cabeça de um pássaro, um som delicado; uma harpa, a música e assim por diante. Deu-se um passo gigantesco no desenvolvimento da escrita, depois de longo tempo, quando os Feníncios desenvolveram sua maior inovação na história da comunicação escrita: o alfabeto.<br /><br /><strong>A era da escrita</strong><br />As evidências da escrita na antiguidade de modo algum são abun¬dantes, mas as existentes, pelo menos, bastam como expressão elevada do desenvolvimento cultural. Parece que a escrita se desenvolveu durante o IV milênio a.C. No II milênio a.C. várias experiências conduziram ao desenvolvimento do alfabeto e de documentos escritos por parte dos fenícios. Tudo isso se completou antes da época de Moisés, que escreveu não antes de mais ou menos 1450 a.C<br />Já em c. 3500 a.C. os sumérios usavam tabuinhas de barro para a escri¬ta cuneiforme e registravam acontecimentos de sua história na Mesopotâmia. Como exemplo desse tipo de escrita, temos a descrição sumeriana do dilúvio, que teria sido gravada em 2100 a.C. Havia no Egito (c. 3100 a.C) alguns documentos escritos em hieróglifos (pictografia). Dentre esses escritos egípcios primitivos estavam Os ensinos de Kagemni e O ensino de Ptah-Hetep, que datam de c. 2700 a.C. A partir de c. 2500 a.C. usavam-se textos pictográficos em Biblos (Gebal) e na Síria. Em Cnosso e em Atchana, grandes centros comerciais, apareceram registros gravados anteriores à época de Moisés. Outros elementos correspondentes de meados a fins do II milénio a.C. acrescentam mais evidências de que a escrita já se havia desenvolvido bem antes da época de Moisés. Em suma, Moisés e os demais autores da Bíblia escreveram numa época em que a humanidade estava "alfabetizada", ou, melhor dizendo, já podia comunicar seus pensamentos por escrito.<br /><br /><strong>Os materiais e os instrumentos de escrita</strong><br /><br /><strong>Os materiais de escrita</strong><br />Os autores das Escrituras empregaram os mesmos materiais em uso no mundo antigo. Por exemplo, as tabuinhas de barro eram usadas não só na antiga Suméria, já em 3500 a.C., como também por Jeremias (17.13) e por Ezequiel (4.1) As pedras também eram usadas para fazer inscrições na Mesopotâmia, no Egito e na Palestina, para gravação, por exemplo, do Código de Hamurábi, dos textos da pedra de Roseta e da pedra moabita. Foram empregadas também na região do rio do Cão, no Líbano, e em Behistun, na Pérsia (Irã), como também por escritores bíblicos (v. Êx 24.12; 32.15,16; Dt 27.2,3; Js 8.31,32).<br />O papiro foi usado na antiga Gebal (Biblos) e no Egito por volta de 2100 a.C. Eram folhas de uma planta, que se prensavam e colavam para formar um rolo Foi o material que o apóstolo João usou para escrever o Apocalipse (5.1) e suas cartas (2Jo 12). Velino, pergaminho e couro são palavras que designam os vários estágios de produção de um material de escrita feito de peles de animais. O velino era desconhecido até 200 a. C., pelo que Jeremias teria tido (36.23) em mente o couro. Paulo se refere a pergaminhos em 2Timóteo 4.13. Outros materiais para escrita eram o metal (Êx 28.36; Jó 19.24; Mt 22.19,20), a cera (Is 8.1; 30.8;Hb_2.2; Lc 1.63), as pedras preciosas (Êx 39.6-14) e os cacos de louça (óstracos), como mostra Jó 2.8. O linho era usado no Egito, na Grécia e na Itália, embora não tenhamos indícios de que tenha sido usado no registro da Bíblia. <br /><br /><strong>Os instrumentos de escrita</strong><br />Vários instrumentos básicos foram empregados para que se produzissem os registros escritos nos materiais mencionados acima. Dentre eles estava o estilo, instrumento em formato de pontalete triangular com cabeçote chanfrado, com que se escrevia. Era usado de modo especial para fazer entalhes em tabuinhas de barro ou de cera, sendo às vezes denominado pena pelos escritores bíblicos (v. Jr 17.1). O cinzel era usado para fazer inscrições em pedra, como em Josué 8.31,32. Jó refere-se ao cinzel denominando-o "pena de ferro" (19.24), com a qual se poderiam fazer gravações na rocha. A pena era usada para escrever em papiro, em couro, em velino e em pergaminho (3Jo 13).<br />Outros instrumentos eram usados pelo escriba para desempenhar as tarefas escriturárias. Jeremias refere-se a um canivete que alguém usou a fim de destruir um rolo (Jr 36.23). Seu uso mostra que o rolo teria sido feito de um material mais forte que o papiro, que podia ser rasgado. O canivete também era usado quando o escritor desejava afiar a pena, quan¬do esta começasse a ficar rombuda ou gasta pelo uso. A tinta era o material que acompanhava a pena e ficava no tinteiro. A tinta era usada para escrever em papiro, em couro, em pergaminho ou em velino. Vê-se, des¬se modo, que todos os materiais e instrumentos disponíveis aos escrito¬res no mundo antigo também estavam à disposição dos escritores da Bíblia.<br /><br /><strong>A preparação e a preservação dos manuscritos</strong><br />Os escritos originais, autênticos, saídos da mão de um profeta ou apóstolo, ou de um secretário ou amanuense, sempre sob a direção do homem de Deus, eram chamados autógrafos. Esses não existem mais. Por essa razão, precisaram ser reconstituídos a partir de manuscritos e ver¬sões primitivas do texto da Bíblia. Tais manuscritos oferecem evidências tangíveis e importantes da transmissão da Bíblia para nós por parte de Deus.<br /><br /><strong>A preparação dos manuscritos</strong><br /><strong>Antigo Testamento</strong>. Ainda que a escrita hebraica tenha-se iniciado antes da época de Moisés, é impossível precisar seu surgimento . Não existem manuscritos que teriam sido produzidos antes do cativeiro babilónico (586 a.C), mas houve uma verdadeira avalancha de cópias das Escrituras que datam da era do Talmude (c. 300 a.C. - 500 d.C.). Durante esse período surgiram dois tipos genéricos de cópias manuscritas: os rolos das si¬nagogas e as copias particulares.<br />Os rolos das sinagogas eram considerados "cópias sagradas" do texto<br />do Antigo Testamento, por causa das regras rigorosas que cercavam sua execução. Tais cópias eram usadas em cultos, em reuniões públicas e nas festas anuais. Um rolo separado continha a Tora (Lei); parte dos Nebhiim(Profetas) vinha em outro rolo; os Kethubhim (Escritos), em outros dois rolos, e os Megilloth ("Cinco rolos"), em cinco rolos separados. Os Megilloth sem dúvida eram escritos em rolos separados a fim de facilitar a leitura nas festas anuais.<br />As cópias particulares eram consideradas cópias comuns do texto do Antigo Testamento, não usadas em reuniões públicas. Esses rolos eram preparados com grande cuidado, ainda que não fossem controlados pelas rigorosas regras que regiam a confecção de cópias das sinagogas. Os desejos do comprador determinavam a qualidade de cada cópia. Raramente a pessoa obtinha uma coleção de rolos que contivesse o Antigo Testamento em sua integralidade.<br /><br /><strong>Novo Testamento</strong>. Os autógrafos do Novo Testamento desapareceram há muito tempo, mas existem ainda muitas evidências que garantem a suposição de que tais documentos teriam sido escritos em rolos e em livros feitos de papiro. Paulo mostrou que o Antigo Testamento havia sido copiado em livros e em pergaminhos (2 Tm 4:13), mas é provável que o Novo Testamento tenha sido escrito em rolos de papiro, entre os anos 50 e 100 d.C. Por volta do começo do século II, introduziram-se códices de papiro, mas estes também eram perecíveis. Com a chegada das perseguições dentro do Império Romano, as Escrituras passaram a correr perigo de extinção e já não foram copiadas sistematicamente até a época de Constantino. Com a carta de Constantino a Eusébio de Cesaréia, as cópias sisternáticas do Novo Testamento se iniciaram no Ocidente. A partir de então, o velino e o pergaminho também foram empregados nas cópias manuscritas do Novo Testamento. Só na era da reforma é que as primeiras cópias impressas da Bíblia tornaram-se disponíveis.<br /><br /><strong>A preservação (e a idade) dos manuscritos</strong> <br />Como não houvesse um processo de impressão na época em que as cópias eram manuscritas, a idade e a preservação dessas cópias devem ser apuradas por outros meios que não a data da publicação impressa nas páginas iniciais. Os meios empregados na apuração da idade de um manuscrito incluíam os materiais empregados, o tamanho da letra, seu for¬mato e pontuação, as divisões do texto e outros fatores diversos.<br /><br />Os materiais constituem pista importante. Para propósitos atuais, só se consideram os materiais usáveis no preparo de rolos ou de livros. Os materiais mais antigos são as peles, embora seu uso acarretasse rolos pesados e volumosos do Antigo Testamento. No tempo do Novo Testamento, usavam-se rolos de papiro, por serem baratos, em comparação com o velino e com o pergaminho. Os códices de papiro foram introduzidos para que os rolos individuais fossem unificados num só volume, por volta do começo do século II d.C. O velino e o pergaminho foram usados para o Antigo Testamento na época do Novo Testamento (2Tm 4.13), e para o Novo Testamento após o período de perseguições no século IV. Era comum restaurar pergaminhos, recopiando-se os manuscritos quando os escritos iam ficando apagados.<br />Às vezes, os pergaminhos eram totalmente apagados para receber novos textos, como aconteceu no caso do Códice efraimita (c). Esse tipo de manuscrito também era chamado palimpsesto (gr., "raspado de novo") ou reescrito (termo oriundo da forma latina). O papel foi inventado na China no século II d.C. e introduzido no Turquestão Oriental no começo do século IV; depois, passando a ser manufaturado na Arábia, no século VIII, introduzido na Europa no século X, ali manufaturado no século XII e usado comumente no século XIII. Surgiram outros desenvolvimentos na manufatura do papel que podem ajudar a apurar a idade de um manus¬crito, a partir da análise do material de escrita.<br /><br />O tamanho da letra e seu formato também constituem evidências que possibilitam apurar a data de um manuscrito. O formato mais antigo das letras hebraicas faz lembrar o formato de garfo das letras fenícias. Esse estilo prevaleceu até a época de Neemias (c. 444 a.C.). Depois disso, pas¬sou-se a usar a escrita aramaica, visto ter-se tornado a língua falada em Israel durante o século V a.C. Depois do ano 200 a.C., o Antigo Testamen¬to era copiado com letras quadradas, em estilo aramaico. A descoberta dos rolos do mar Morto, em Qumran, em 1947, lançou mais luzes no estudo da paleografia hebraica. Esses manuscritos revelaram a existência de três tipos diferentes de texto, bem como diferenças de grafia, de regras de gramática e, até certo ponto, diferenças de vocabulário em relação ao texto massorético. Na época dos massoretas, os escribas judeus que padronizaram o texto hebraico do Antigo Testamento (c. 500-1000 d.C.), os princípios do fim do período talmúdico tornaram-se um tanto estereotipados.<br />Os manuscritos gregos do período do Novo Testamento em geral eram produzidos em dois estilos: literário e não-literário. Sem dúvida alguma, o Novo Testamento era escrito no estilo não-literário. Durante os primeiros três séculos, o Novo Testamento provavelmente circulava por fora dos canais regulamentares do comércio de livros em geral, por causa do caráter político do cristianismo. Durante os três primeiros séculos em que se formaram a igreja e o cânon do Novo Testamento, várias tradições orais e escritas seguiram as idiossincrasias de intérpretes e das modas da época, criadas pelos escribas. Só a partir do século IV é que se fizeram esforços sérios para revisar os manuscritos.<br />O estilo das letras usadas nessas revisões e nos manuscritos primitivos é chamado uncial (maiúsculo). As letras eram copiadas separada¬mente, sem espaço entre palavras e frases. Esse processo lento de copiar um manuscrito foi usado até o século X. Por essa época, a procura de manuscritos era tão grande, que se desenvolveu um estilo de escrita mais rápido. Esse estilo cursivo empregava letras menores, ligadas entre si, com espaços entre as palavras e as frases. A esses manuscritos se atribuiu o nome de minúsculos, estilo que se tornou dominante na era de ouro da cópia manuscritora, do século XI ao XV.<br /><br />A pontuação acrescenta mais luz à pesquisa da idade de um manuscrito. De início, as palavras eram ligadas umas às outras, e usava-se pouca pontu¬ação. Durante o século VI, os escribas começaram a fazer emprego mais pro¬fuso da pontuação. Ao redor do século VIII, começaram a usar não só espaço, mas ponto-final, vírgula, ponto-e-vírgula, acentos e, mais tarde, o ponto-de-interrogação. Esse lento processo completou-se em torno do século X, sendo empregado na escrita cursiva da idade de ouro da cópia de manuscritos.<br /><br /><strong>As divisões do texto</strong>. Começaram a ser usadas nos autógrafos do Anti¬go Testamento, em alguns livros, como o de Lamentações, e em certos trechos, como o salmo 119. Foram criadas seções adicionais no Pentateuco, antes do cativeiro babilónico, chamadas sedarim. Durante o cativeiro babilónico, a Tora foi dividida em 54 seções chamadas parashiyyoth, que posteriormente seriam outra vez subdivididas. As seções de Macabeus foram criadas durante o século II a.C. Eram divisões dos profetas, chamadas haphtaroth, correspondentes às seradim da lei. Durante a época da Reforma, o Antigo Testamento hebraico começou a seguir a divisão em capítulos feita pelos protestantes. Todavia, algumas divisões em capítu¬los já haviam sido colocadas nas margens, em 1330. Os massoretas acrescentaram os sinais vocálicos, posteriormente chamados massoréticos, às palavras hebraicas. Mas só depois de 900 d.C. é que a divisão em versículos do Antigo Testamento começou a tornar-se padronizada. Em 1571, Ário Montano publicou o primeiro Antigo Testamento hebraico com marca¬ções de versículos nas margens, bem como divisões em capítulos.<br />Antes do Concílio de Nicéia (325 d.C.), o Novo Testamento era dividido em seções. Tais seções eram chamadas kephalaia (grego), diferentes das modernas divisões em capítulos. O Códice vaticano (B) adotava outro sistema, no século IV, e Eusébio de Cesaréia usava ainda outro. Em tais divisões, os versículos eram maiores do que os atuais, mas os capítulos eram menores. Essas divisões sofreram modificações graduais a partir do século XIII. O trabalho de modificar foi efetuado por Estêvão Langton, professor da Universidade de Paris e mais tarde arcebispo da Cantuária, embora muitos estudiosos atribuam o crédito ao cardeal Hugo de St. Cher (m. 1263). A Bíblia de Wycliffe (1382) seguiu esse padrão. Esse sistema acabou padronizado, visto que seria de base para as versões e traduções posteriores. Os versículos modernos ainda não haviam surgido, embora fossem utilizados no Novo Testamento grego publicado por Roberto Estéfano, em 1551, e introduzidos na Bíblia Inglesa em 1557. Em 1555 foram colocados numa edição da Bíblia em latim, a Vulgata, publicada por Estéfano. A primeira Bíblia inglesa que empregou a divisão atual de capítulos e versículos foi a Bíblia de Genebra (1560).<br /><br /><strong>Fatores diversos</strong>. Outros fatores estão presentes no processo de datação de um manuscrito: o tamanho e o formato das letras, a ornamentação do manuscrito, a grafia das palavras, a cor da tinta, a textura e a cor do pergaminho. A ornamentação dos manuscritos foi-se tornando cada vez mais elaborada nos manuscritos unciais, do século IV ao IX. A partir de então, o ornamento entrou em declínio, pois as letras unciais passaram a ser copiadas com menor cuidado. Esses fatores variados influenciaram também os manuscritos chamados "minúsculos", desde essa época até a introdução das edições e traduções impressas da Bíblia, no século XVI. De início, só se usava tinta preta na produção de um manuscrito. Mais tarde seriam empregadas outras cores: o verde, o vermelho e outras. Da mesma forma que a língua falada vai mudando ao longo dos séculos, assim também mudam os componentes físicos dos manuscritos. Desse modo, a qualidade cambiante da textura dos materiais influi no processo de envelhecimento dos manuscritos, e constitui elemento importante na apuração de sua idade.<br /><br /><strong>Resultados</strong><br />Uma pesquisa superficial das evidências disponíveis, concernentes à idade e à preservação dos manuscritos, oferece-nos algumas informacoes importantes a respeito do valor de determinado manuscrito em re¬lação à transmissão da Bíblia.<br /><br />Os manuscritos do Antigo Testamento geralmente vêm de dois amplos períodos de produção. O período talmúdico (300 a.C - 500 d.C.) produziu manuscritos usados nas sinagogas e outros em estudos particulares. Em comparação com o período massorético posterior (500-1000 d.C) e aquelas cópias de manuscritos primitivos são em número menor; todavia, são cópias consideradas "oficiais", cuidadosamente transmitidas. Durante o período massorético, o processo de copiar o Antigo Testamento sofreu completa revisão em suas regras; o resultado foi uma renova¬ção sistemática das técnicas de transmissão.<br /><br />Os manuscritos do Novo Testamento podem ser classificados em quatro períodos genéricos de transmissão:<br /><br />1. Durante os três primeiros séculos a integridade do Novo Testamen¬to resulta do testemunho combinado de fontes, por causa do caráter de ilegalidade do cristianismo. Não se encontram muitos manuscritos completos desse período, mas os existentes são significativos.<br />2. Apartir dos séculos IV e V, após a legalização do cristianismo, houve a multiplicação de manuscritos do Novo Testamento. Eram produzidos em velino e em pergaminho, em vez de papiro.<br />3. A partir do século VI, os manuscritos passaram a ser copiados por monges que os coligiam e deles cuidavam em mosteiros. Foi um período de reprodução não respaldada pela crítica, de aumento de produção, mas de decréscimo da qualidade do texto.<br />4. Após a introdução dos manuscritos chamados "minúsculos" no século X, as cópias dos manuscritos multiplicaram-se rapidamente, e prosseguiu o declínio da qualidade na transmissão textual.Pastor Pedrohttp://www.blogger.com/profile/14959296050649164906noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-129497258255618826.post-41306576981063596042007-10-22T08:59:00.000-03:002008-12-11T20:32:44.146-03:00Aula 9 - A extensão do cânon do Novo Testamento<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhG9PUPc3PcGDywvOhncx9anJM6qg7nEObz8SQ47qi3n8lP-HfAkB7gwN0y0HC_WE5092BAC_zRXoS84uEchmdDpFy0bPeWzDENhHJgPQEJ4YbaK0dj5XHnMZI9pzrsY6lMSJoJbXUmPpsx/s1600-h/santissimo-biblia-~-1779806.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhG9PUPc3PcGDywvOhncx9anJM6qg7nEObz8SQ47qi3n8lP-HfAkB7gwN0y0HC_WE5092BAC_zRXoS84uEchmdDpFy0bPeWzDENhHJgPQEJ4YbaK0dj5XHnMZI9pzrsY6lMSJoJbXUmPpsx/s200/santissimo-biblia-~-1779806.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5124136358282530978" /></a><br />Quais teriam sido, precisamente, os livros do cânon do Novo Testamento que foram objetados na igreja primitiva? Com base em que obtiveram sua aceitação definitiva? Quais foram os livros apócrifos do Novo Testamento que giraram ao redor do cânon? Essas perguntas são o ponto de partida de nosso debate agora.<br /><br /><strong>Os livros aceitos por todos — homologoumena</strong><br />Como o Antigo Testamento, a maioria dos livros do Novo foi aceita pela igreja logo de início, sem objeções. Tais livros foram chamados homologoumena, porque todos os pais da igreja se pronunciaram favoravelmente pela sua canonicidade. Os homologoumena aparecem em quase todas as principais traduções e cânones da igreja primitiva. Em geral, 20 dos 27 livros do Novo Tes¬tamento sao homologoumena. Incluem-se todos menos Hebreus, Tiago, 2Pedro, 2 e 3João, Judas e Apocalipse. Outros três livros, Filemom, 1Pedro e 1João, às vezes ficam fora do reconhecimento. No entanto, é melhor dizer que foram omitidos, não questionados. Como os livros chamados homologoumena foram aceitos por todos, voltaremos nossa atenção para outros grupos de livros.<br /><br /><strong>Os livros rejeitados por todos — pseudepígrafos</strong><br />Durante os séculos II e III numerosos livros espúrios e heréticos surgiram e receberam o nome de pseudepígrafos, ou escritos falsos. Eusébio os chamou de livros "totalmente absurdos e ímpios".<br /><br /><strong>A natureza dos pseudepígrafos</strong><br />Praticamente nenhum pai da igreja, nenhum cânon ou concílio decla¬rou que um desses livros seria canônico. No que concerne aos cristãos, esses livros têm principalmente interesse histórico. O conteúdo deles resume-se em ensinos heréticos, eivados de erros gnósticos, docéticos (relativos à Doutrina gnóstica do séc. II, segundo a qual o corpo de Cristo não era real, porém só aparente, ou que negava tivesse ele realmente nascido de Maria) e ascéticos (relativos à Doutrina que considera a ascese como o essencial da vida moral). Os gnósticos eram uma seita filosófica que arrogava para si conhecimento especial dos mistérios divinos. Ensinavam que a matéria é má e negavam a encarnação de Cristo. Os docetas ensinavam a divindade de Cristo, mas negavam sua humanidade; diziam que ele só tinha a aparência de ser humano. Os monofisistas ascéticos ensinavam que Cristo tinha uma única natureza, uma fusão do divino com o humano.<br />Quando muito, tais livros eram acatados por alguma seita herética, ou recebiam outra citação por parte de um dos pais ortodoxos da igreja. A corrente principal do cristianismo seguia Eusébio e jamais os considerou nada, a não ser espúrios e ímpios. À semelhança dos pseudepígrafos do Antigo Testamento, tais livros revelavam desmedida fantasia religiosa. Evidenciavam uma curiosidade incurável para descobrir mistérios não-revelados nos livros canônicos (e.g., acerca da infância de Jesus), e exibem uma tendência doentia, mórbida de dar apoio a idiossincrasias doutrinárias, mediante fraudes aparentemente piedosas. Haveria, talvez, um resquício de verdade por dentro das fantasias apresentadas; todavia, os pseudepígrafos precisam ser totalmente "demitizados", a fim de que se descubra essa verdade.<br /><br /><strong>O número dos pseudepígrafos</strong><br />O número exato desses livros é difícil de apurar. Por volta do século XIX, Fótio havia relacionado cerca de 280 obras. A partir de então, muitas outras apareceram. Relacionamos abaixo alguns dos pseudepígrafos mais importantes e das tradições a eles relacionadas:<br /><br /><strong>EVANGELHOS</strong><br />1. O Evangelho de Tomé (século I) é uma visão gnóstica dos supostos milagres da infância de Jesus.<br />2. O Evangelho dos ebionitas (século II) é uma tentativa gnóstico-cristã de perpetuar as práticas do Antigo Testamento.<br />3. O Evangelho de Pedro (século II) é uma falsificação docética e gnóstica.<br />4. O Proto-Evangelho de Tiago (século II) é uma narração que Maria faz do massacre dos meninos pelo rei Herodes.<br />5. O Evangelho dos egípcios (século II) é um ensino ascético contra o casamento, contra a carne e contra o vinho.<br />6. O Evangelho arábico da infância (?) registra os milagres que Jesus teria praticado na infância, no Egito, e a visita dos magos de Zoroastro.<br />7. O Evangelho de Nicodemos (séculos II ou V) contém os Atos de Pilatos e a Descida de Jesus.<br />8. O Evangelho do carpinteiro José (século IV) é o escrito de uma seita monofisista que glorificava a José.<br />9. A História do carpinteiro José (século V) é a versão monofisista da vida de José.<br />10. O passamento de Maria (século IV) relata a assunção corporal de Maria e mostra os estágios progressivos da adoração de Maria.<br />11. O Evangelho da natividade de Maria (século VI) promove a adoração de Maria e forma a base da Lenda de ouro, livro popular do século XIII sobre a vida dos santos.<br />12. O Evangelho de um Pseudo-Mateus (século V) contém uma narrativa sobre a visita que Jesus fez ao Egito e sobre alguns dos milagres do final de sua infância.<br />13-21.Evangelho dos doze, de Barnabé, de Bartolomeu, dos hebreus (v. "Apócrifos"), de Marcião, de André, de Matias, de Pedro, de Filipe.<br /><br /><strong>Atos</strong><br />1. Os Atos de Pedro (século II) contêm a lenda segundo a qual Pedro teria sido crucificado de cabeça para baixo.<br />2. Os Atos de João (século II) mostram a influência dos ensinos gnóstiços e docéticos.<br />3. Os Atos de André (?) são uma história gnóstica da prisão e da morte de André.<br />4. Os Atos de Tomé (?) apresentam a missão e o martírio de Tomé na Índia.<br />5. Os Atos de Paulo apresentam um Paulo de pequena estatura, de nariz grande, de pernas arqueadas e calvo.<br />6-8. Atos de Matias, de Filipe, de Tadeu.<br /><br /><br /><br /><strong>EPÍSTOLAS</strong><br />1. A Carta atribuída a nosso Senhor é um suposto registro da resposta dada por Jesus ao pedido de cura de alguém, apresentado pelo rei da Mesopotâmia. Diz o texto que o Senhor enviaria alguém depois de sua ressurreição.<br />2. A Carta perdida aos coríntios (séculos II, III) é falsificação baseada em 1Coríntios 5.9, que se encontrou numa Bíblia arménia do século V<br />3. Às (Seis) Cartas de Paulo a Sêneca (século IV) é falsificação que recomenda o cristianismo para os discípulos de Sêneca.<br />4. A Carta de Paulo aos laodicenses é falsificação baseada em Colossenses 4.16. (Também relacionamos essa carta sob o título "Apócrifos").<br /><br /><strong>APOCALIPSES</strong><br />1. Apocalipse de Pedro (também relacionado em "Apócrifos").<br />2. Apocalipse de Paulo.<br />3. Apocalipse de Tomé.<br />4. Apocalipse de Estêvão.<br />5. Segundo apocalipse de Tiago.<br />6. Apocalipse de Messos.<br />7. Apocalipse de Dositeu.<br /><br />Os três últimos são obras coptas do século III de cunho gnóstico, descobertas em 1946, em Nag-Hammadi, no Egito.<br /><br /><strong>OUTRAS OBRAS</strong><br />1. Livro secreto de João<br />2. Tradições de Matias<br />3. Diálogo do Salvador<br /><br />Esses três também são de Nag-Hammadi e permaneceram desconhecidos até 1946.<br />Visto que os grandes mestres e concílios da igreja foram praticamente unânimes na rejeição desses livros, em razão da total falta de confiabilidade, ou em virtude das heresias, são adequadamente chamados pseudepígrafos. Seja qual for o fragmento de verdade que porventura preservem, torna-se obscurecido tanto pela fantasia religiosa como pelas tendências heréticas. Tais livros não só deixam de ser canônicos como nenhum valor apresentam no que concerne aos fins devocionais. O principal valor que têm é histórico, pois revelam as crenças de seus autores.<br /><br /><strong>Os livros questionados por alguns — antilegomena</strong><br />De acordo com o historiador Eusébio, houve sete livros cuja autenticidade foi questionada por alguns dos pais da igreja, e por isso ainda não haviam obtido reconhecimento universal por volta do século IV. Os livros objeto de controvérsia foram Hebreus, Tiago, 2Pedro, 2 e 3João, Esdras e Apocalipse.<br /><br /><strong>A natureza dos antilegomena</strong><br />O fato desses livros não terem obtido reconhecimento universal até o início do século IV não significa que não haviam tido aceitação inicial por parte das comunidades apostólicas e subapostólicas. Ao contrário, esses livros foram citados como inspirados por vários estudiosos primitivos. Tampouco, o fato de terem sido questionados, em certa época, por alguns estudiosos, não é indício de que sua presença no cânon atual seja menos firme do que a dos demais livros. Ao contrário, o problema básico a respeito da aceitação da maioria desses livros não era sua inspiração, ou falta de inspiração, mas a falta de comunicação entre o Oriente e o Ocidente a respeito de sua autoridade divina. A partir do momento em que os fatos se tornaram conhecidos por parte dos pais da igreja, a aceitação final, total, dos 27 livros do Novo Testamento foi imediata. <br /><br /><strong>O número dos antilegomena</strong><br />Cada livro sofreu questionamento por razões particulares. Nesta altura de nossa pesquisa, cabe uma breve exposição sobre os motivos das objeções que cercaram cada livro e sua aceitação definitiva.<br /><br /><strong>Hebreus</strong>. Foi basicamente a anonimidade do autor que suscitou dúvi¬das sobre Hebreus. Visto que o autor não se identifica e não afirma ter sido um dos apóstolos (Hb 2.3), o livro permaneceu sob suspeição entre os cristãos do Oriente, que não sabiam que os crentes do Ocidente o haviam aceito como autorizado e dotado de inspiração. Além disso, o fato dos montanistas heréticos terem recorrido a Hebreus em apoio a algumas de suas concepções errôneas fez demorar sua aceitação nos círculos ortodoxos. Ao redor do século IV, no entanto, sob a influência de Jerônimo e de Agostinho, a carta aos Hebreus encontrou seu lugar permanente no cânon.<br />O fato do autor da carta aos Hebreus ser anônimo deixou aberta a questão de sua autoridade apostólica. Com o passar do tempo, a igreja ocidental veio a aceitar que Hebreus era oriundo da pena de Paulo, o que evidentemente resolveu a questão. Uma vez que o Ocidente estava convencido do cunho apostólico desse livro, nenhum obstáculo permaneceu no caminho de sua aceitação plena e irrevogável no cânon. O teor do livro é plenamente confiável, tanto quanto sua reivindicação de deter autoridade divina.<br /><br /><strong>Tiago</strong>. A veracidade do livro de Tiago foi desafiada, tanto quanto sua autoria. Como no caso da carta aos Hebreus, o autor da carta atribuída a Tiago não afirma ser apóstolo. Os primeiros leitores e os que se lhes seguiram puderam atestar que esse era o Tiago do círculo apostólico, o irmão de Jesus (cf. At 15 e Gl 1). Todavia, a igreja ocidental não teve acesso a essa informação original. Também havia o problema do ensino a respeito da justificação e das obras, conforme Tiago o apresenta. O aparente conflito entre seu ensino e o de Paulo, sobre a justificação pela fé, representou um peso contra a carta de Tiago. Até Martinho Lutero chegou a chamar Tiago de ''carta de palha'', colocando-a no fim do Novo Testamento. No entanto, em decorrência dos esforços de Orígenes, de Eusébio (que pessoalmente recomendava a aceitação de Tiago), de Jerônimo e de Agostinho, a veracidade e a apostolicidade dessa carta vieram a ser reconhecidas pela igreja ocidental. Dessa época até o presente, Tiago vem ocupando sua posição canônica no cristianismo. É claro que sua aceitação baseia-se na compreensão de sua compatibilidade essencial com os ensinos paulinos a respeito da justificação do crente pela fé.<br /><br /><strong>Segunda carta de Pedro</strong>. Nenhuma outra carta do Novo Testamento ocasionou maiores dúvidas quanto à sua autenticidade do que 2Pedro. Parece que Jerônimo entendeu o problema; ele afirmou que a hesitação em aceitá-la como obra autêntica do apóstolo Pedro deveu-se à dessemelhança de estilo com a primeira carta do apóstolo. Há algumas diferenças notáveis de estilo entre as duas cartas de Pedro, mas, não obstante os problemas linguísticos e históricos, há mais do que amplas razões para que aceitemos 2Pedro como livro canónico.<br />William F. Albright, chamando a atenção para as similaridades com a literatura do Qumran, data 2Pedro anteriormente a 80 d.C. Isso significa que essa carta não é fraude forjada no século II, mas carta que se originou no período apostólico. O Papiro Bodmer (p72), recentemente descoberto, contém uma cópia de 2Pedro oriunda do Egito, do século III. Essa descoberta também revela que 2Pedro estava sendo usada com grande respeito pelos cristãos coptas, em época bem primitiva. Clemente de Roma, bem como a obra Pseudo-Barnabé, dos séculos I e II respectivamente, citam 2Pedro. Temos além disso os testemunhos de Orígenes, de Eusébio, de Jerônimo e de Agostinho, do século III ao V. Aliás, há mais comprovações de 2Pedro que de alguns clássicos do mundo antigo, como as obras de Heródoto e de Tucídides. Finalmente, há evidências internas a favor da confiabilidade de 2Pedro. Há na carta características e interesses doutrinários notadamente petrinos. As diferenças de estilo podem ser explicadas facilmente, por causa do emprego de um escriba em 1Pedro, o que não ocorreu em 2Pedro (v. 1 Pe 5.12).<br /><br /><strong>2 e 3 João</strong>. As duas cartas mais curtas de João também foram alvo de questionamento quanto à autenticidade. O escritor se identifica apenas como "o presbítero"; por causa dessa anonimidade e de sua circulação limitada, as cartas não gozaram de ampla aceitação, ainda que fossem mais amplamente aceitas do que 2Pedro. Policarpo e Ireneu haviam aceito 2João como confiável. O Cânon muratório e a Antiga latina continham ambas. A semelhança em estilo e em mensagem com 1João, que havia sido amplamente aceita, mostrou ser óbvio que as outras duas vieram do apóstolo João também (cf. 1Jo 1.1-4). Quem mais seria tão íntimo dos primitivos crentes asiáticos, de tal modo que pudes¬se escrever com autoridade sob o título afetuoso de "o presbítero"? O termo presbítero (ancião) era usado como título pelos demais apóstolos (v. 1Pe 5.1), pelo fato de denotar o cargo que ocupavam (v. At 1.20), enquanto apostolado designava o dom que haviam recebido (cf. Ef 4.11)<br /><br /><strong>Judas</strong>. A confiabilidade desse livro foi questionada por alguns. A maioria da contestação centrava-se nas referências ao livro pseudepigráfico de Enoque (Jd 14r15) e numa possível referência ao livro da Assunção de Moisés (Jd 9). Orígenes faz ligeira menção desse problema (Comentário sobre Mateus, 18,30), e Jerônimo declara especificamente ser esse o problema (JERÔNIMO, Vidas de homens ilustres, cap. 4). No entanto, Judas foi suficientemente reconhecida pelos primeiros pais da igreja. Ireneu, Clemente de Alexandria e Tertuliano aceitaram a confiabilidade desse livro, como o fez o Cânon Muratório. As citações pseudepigráficas têm uma explicação, a qual se valoriza muito pelo fato de tais citações não serem essencialmente diferentes das citações feitas por Paulo de poetas não-cristãos (v. At 17.28; ICo 15.33; Tt 1.12). Em nenhum desses casos, os livros são citados como se tivessem autoridade divina, tampouco as citações representam aprovação integral de tudo que os livros pagãos ensinam; os autores das cartas bíblicas meramente citam um fragmento de verdade encravada naqueles livros. O Papiro Bodmer (p72), recentemente descoberto, confirma o uso de Judas, ao lado de 2Pedro, na igreja copta do século III<br /><br /><strong>Apocalipse</strong>. Esse livro havia sido considerado parte dos antilegomena no início do século IV, pelo fato de alguns haverem levantado dúvidas quanto à sua confiabilidade. A doutrina do quiliasmo (a idéia do milênio), achada em Apocalipse 20, foi o ponto central da controvérsia. O debate em torno do Apocalipse provavelmente durou mais que qualquer outro debate sobre outros livros neotestamentários. A controvérsia chegou até fins do século IV. É de se estranhar, contudo, que o Apocalipse tenha sido um dos primeiros livros a ser reconhecidos entre os escritos dos primeiros pais da igreja. Havia sido aceito pelos autores dO Didaguê e dO Pastor, por Papias e por Ireneu, bem como pelo Cânon Muratório. Todavia, quando os montanistas agregaram seus ensinos heréticos ao livro de Apocalipse, no século III, a aceitação definitiva desse livro acabou sofren¬do uma demora mais longa. Dionísio, o bispo de Alexandria, levantou sua voz influente contra o livro de Apocalipse, em meados do século III. Mas essa influência se desvaneceu quando Atanásio, Jerônimo e Agosti¬nho ergueram-se em defesa do Apocalipse. A partir do momento em que se tornou evidente que o livro de Apocalipse estava sendo mal usado pelas seitas heréticas, embora houvesse saído da pena do apóstolo João (Ap 1.4; v. 22.8,9), e não dentre os hereges, assegurou-se o lugar definitivo desse livro no cânon sagrado. <br />Em resumo: alguns pais da igreja haviam-se posicionado contra os antilegomena. Isso ocorrera por causa da falta de comunicação, ou por causa de más interpretações que se fizeram desses livros. A partir do momento em que a verdade passou a ser do conhecimento de todos, tais livros foram aceitos plena e definitivamente, passando para o cânon sagrado, da forma exata como haviam sido reconhecidos pelos cristãos primitivos desde o início.<br /><br /><strong>Os livros aceitos por alguns</strong><br />A distinção que se faz entre os apócrifos do Novo Testamento e os livros pseudepigráficos não é autorizada. Estes, na maior parte, não haviam sido aceitos pelos pais primitivos e ortodoxos da igreja, nem pelas igrejas, não sendo, portanto, considerados canônicos; mas os livros apócrifos gozavam de grande estima pelo menos da parte de um pai da igreja.<br /><br /><strong>A natureza dos apócrifos do Novo Testamento</strong><br />Os apócrifos do Novo Testamento quando muito tiveram o que Alexander Souter chamou de "canonicidade temporal e local”. Haviam sido aceitos por um número limitado de cristãos, durante um tempo limitado, mas nunca receberam um reconhecimento amplo ou permanente. O fato desses livros possuírem mais valor do que os "pseudepígrafos" sem dúvida explica a mais elevada estima de que gozavam entre os cristãos. Há diversas razões por que são importantes, e faziam parte das bibliotecas devocionais e homiléticas das igrejas primitivas: 1) revelam os ensinos da igreja do século II; 2) fornecem documentação da aceitação dos 27 livros canônicos do Novo Testamento; e 3) fornecem outras informações históricas a respeito da igrêja primitiva, no que concerne à sua doutrina e liturgia.<br /><br /><strong>O número dos apócrifos do Novo Testamento</strong><br />Enumerar os livros apócrifos do Novo Testamento é tarefa difícil, porque depende da distinção que se faz entre apócrifos e pseudepígrafos. Se o critério for a aceitação por pelo menos um dos pais ortodoxos, ou as listas dos primeiros cinco séculos, está armado o debate.(“Ortodoxo" denota que o livro está de acordo com os ensinos dos credos e dos concílios dos primeiros cinco séculos, como o Credo dos apóstolos, o Credo niceno e outros).<br /><br /><strong>Epístola do Pseudo-Barnabé </strong>(c. 70-79). Essa carta, que teve ampla circulação no século I, encontra-se no Códice sinaítico (א), sendo mencionada no sumário do Códice Beza (D), nos remotos anos de 550. Foi mencionada como Escritura tanto por Clemente de Alexandria como por Orígenes. Seu estilo é semelhante ao de Hebreus, mas seu conteúdo é mais alegóri¬co. Alguns têm questionado se esse documento realmente é do século I. Mas, como disse Brooke Foss Westcott: "A antiguidade da carta está firmemente comprovada, mas sua confiabilidade é mais do que questionável". O autor da carta é um leigo que não reivindica autoridade divina, e obviamente não é o Barnabé que se nomeia entre os apóstolos do Novo Testamento (At 14.14).<br /><br /><strong>Epístola aos coríntios </strong>(c. 96). De acordo com Dionísio, de Corinto, essa carta de Clemente de Roma havia sido lida publicamente em Corinto e em outros lugares. Também se encontra do Códice alexandrino (A), por volta de 450, e Eusébio nos informa que essa carta havia sido lida em muitas igrejas (História eclesiástica, 3,16). Provavelmente o autor teria sido o Clemente mencionado em Filipenses 4.3, mas a carta não reivindica inspiração divina. Nota-se o emprego um tanto fantasioso de declara¬ções do Antigo Testamento, e o apócrifo Livro da sabedoria é citado como Escritura no cap. 27. O tom da carta é evangélico, mas seu espírito é indubitavelmente subapostólico. Nunca houve ampla aceitação desse li¬vro, e a igreja jamais o reconheceu como canônico. <br /><br /><strong>Homilia antiga</strong>. A chamada Segunda epístola de Clemente (c. 120-140) havia sido erroneamente atribuída a Clemente de Roma. Foi conhecida e usada no século II. No Códice alexandrino (A) consta no fim do Novo Testamento, ao lado de 1Clemente e de Salmos de Salomão. Não existem evidências de que esse livro em certa época haja sido considerado canônico. Se isso aconteceu, certamente teria sido em pequena escala. O cânon do Novo Testamento o exclui até hoje.<br /><br /><strong>O pastor</strong>, de Hermas (c. 15-140). Foi o livro não-canônico mais popular da igreja primitiva. Encontrava-se no Códice sinaítico (א), no sumário de Beza (D), em algumas Bíblias latinas, sendo citado como inspirado por Ireneu e por Orígenes. Eusébio relata que esse livro era lido publicamente nas igrejas e usado para instrução na fé. O pastor, de Hermas, é grande alegoria cristã e, à semelhança dO peregrino, de John Bunyan, posteriormente ficou em segundo lugar em relação aos livros canônicos em circulação na igreja primitiva. Como outro livro, Sabedoria de Siraque (Eclesiástico), dentre os apócrifos do Antigo Testamento, O Pastor tem valor ético e devocional, mas nunca foi reconhecido pela igreja como canônico. A nota no Fragmento Muratório sintetiza a classificação do pastor na igreja primitiva: "Deve ser lido; todavia, não pode ser lido na igreja para o povo, nem como se estivesse entre os profetas, visto que o número destes já está completo, tampouco entre os apóstolos, até o fim dos tempos".<br /><br /><strong>O Didaquê, ou Ensino dos doze apóstolos </strong>(c.120). Essa obra também gozou de grande prestígio na igreja primitiva. Clemente de Alexandria a mencionava como Escritura, e Atanásio afirma ser ela usada na instrução ou catequese. No entanto, Eusébio a colocou entre os "escritos rejeitados", como o fariam os primitivos pais mais importantes, depois dele, e a igreja em geral. Todavia, o livro tem grande importância histórica, como elo entre os apóstolos e os pais primitivos, com suas muitas referências aos evangelhos, às cartas de Paulo e até ao Apocalipse. No entanto, jamais foi reconhecido como canônico em nenhuma das tradu¬ções oficiais e listas produzidas pela igreja primitiva.<br /><br /><strong>Apocalipse de Pedro </strong>(c. 150). Trata-se de um dos mais velhos dos apocalipses não-canônicos do Novo Testamento, tendo circulado em larga escala na igreja primitiva. É mencionado no Fragmento muratório, no sumário de Beza (D) e por Clemente da Alexandria. Suas imagens vívidas do mundo espiritual exerceram forte influência no pensamento medieval, de que derivou o Inferno, de Dante. O Fragmento muratório foi questionado a respeito de sua confiabilidade, havendo quem reclamasse do fato de o livro não ser lido publicamente nas igrejas. A igreja universal nunca o reconheceu como canônico.<br /><br /><strong>Atos de Paulo e de Tecla </strong>(170). É livro mencionado por Orígenes, estan¬do no sumário do Códice Beza (D). Se despido de seus elementos mitológicos, trata-se da história de Tecla, senhora proveniente de Icônio, supostamente convertida pelo ministério de Paulo segundo consta em Atos 14.1-7. Muitos estudiosos acreditam que esse livro traga urna tradição genuína, mas a maioria inclina-se a concordar com Adolf von Harnack em que o livro contém "forte dose de ficção e pouquíssima verdade". Essa obra jamais chegou perto de obter reconhecimento canônico.<br /><br /><strong>Carta aos laodicenses </strong>(século IV?). É obra forjada já conhecida por Jerônimo, a qual aparece em muitas Bíblias do século VI ao XV. Assim observou J. B. Lightfoot: "Essa carta é um punhado de frases paulinas costuradas entre si sem nenhum elemento conector definido, e sem objetivo claro". Não apresenta peculiaridades doutrinárias, sendo tão inócua quanto pode ser uma obra falsificada. Esses elementos combinam-se com o fato de haver um livro com o mesmo título, mencionado em Colossenses 4.16, resultando em tal obra vir a aparecer muito tarde nos círculos cristãos. Ainda que o Concílio de Nicéia II (787) tenha advertido a igreja contra esse livro, chamando-o "carta forjada", ele reaparece na época da Reforma, em língua alemã e também nas Bíblias inglesas. Apesar disso, jamais obteve reconhecimento canônico.<br />O Fragmento muratório menciona um livro com esse mesmo título, mas alguns estudiosos julgam tratar-se de uma referência à Carta aos Efésios ou a Filemom, que Paulo chamava "carta de Laodicéia". Tal confusão explica a persistente reaparição desse livro não-canônico, que, sem som¬bra de dúvidas, não é de fato canônico.<br /><br /><strong>Evangelho segundo os hebreus </strong>(65-100j. Provavelmente esse é o evange¬lho não-canônico mais antigo que exista, o qual sobreviveu apenas em fragmentos encontrados nas citações feitas por vários pais primitivos da igreja. De acordo com Jerônimo, alguns o chamavam verdadeiro evangelho, mas isso é questionável, tendo em vista o fato da obra apresentar pouquíssima semelhança com o Mateus canônico; é livro em muitos aspectos de natureza mais pseudepigráfica que apócrifa. Os primitivos pais da igreja provavelmente o usavam mais como fonte homilética, não tendo jamais obtido categoria de livro bíblico canônico.<br /><br /><strong>Epístola de Policarpo aos filipenses </strong>(c. 108). Policarpo, discípulo do apóstolo João e mestre de Ireneu, constitui elo importante com os apóstolos do século I. Policarpo não advogou inspiração divina para sua obra; disse que apenas ensinava as coisas que havia aprendido com os apóstolos. Há pouca originalidade nessa epístola, visto que tanto o conteúdo como o estilo foram tomados por empréstimo do Novo Testamento, de modo especial da carta de Paulo aos filipenses. Embora a carta de Policarpo não seja canônica, é fonte valiosa de informações a respeito de outros livros do Novo Testamento que ele próprio cita como canônicos.<br /><br /><strong>Sete epístolas de Inácio </strong>(c. 110). Essas cartas revelam familiaridade incontestável com os ensinos do Novo Testamento, de modo especial com as cartas de Paulo. No entanto, o estilo das cartas é mais joanino. Ireneu cita a carta escrita aos efésios, e Orígenes cita tanto a Epístola aos romanos como a enviada aos efésios. Inácio, que segundo a tradição teria sido discípulo de João, não reivindica para si a virtude de falar com autoridade divina. Aos efésios, por exemplo, ele escreve: "Não dou ordens a vós, como se eu fora personagem importante [...] Falo-vos como co-discípulo que sou de vós". Sem dúvida as cartas são autênticas, não, porém, apostólicas e, por isso, não canônicas. Esse tem sido o consenso da igreja ao longo dos séculos. Os escritos genuínos do período subapostólico são os mais úteis, sob o aspecto histórico, visto que revelam o estado da igreja e o reconhecimento dos livros canônicos do Novo Testamento.<br /><br />Podemos resumir tudo isso, dizendo que a grande maioria dos livros do Novo Testamento jamais sofreu polêmicas quanto à inspiração, desde o início. Todos os livros originariamente reconhecidos como inspirados por Deus, que mais tarde sofreriam algum questionamento, chegaram a gozar plena e definitiva aceitação por parte da igreja no mundo inteiro. Certos livros não-canônicos, que gozavam de grande prestígio, que eram muito usados e que tinham sido incluídos em listas provisórias de livros inspirados, foram tidos como valiosos para emprego devocional e homilético, mas nunca obtiveram reconhecimento canônico por parte da igreja. Só os 27 livros do Novo Testamento são tidos e aceitos como genuinamente apostólicos. Só esses 27 encontraram lugar permanente no cânon do Novo Testamento.Pastor Pedrohttp://www.blogger.com/profile/14959296050649164906noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-129497258255618826.post-8156634815605554682007-10-09T13:12:00.000-03:002008-12-11T20:32:44.452-03:00Aula 8 - O Desenvolvimento do Cânon do Novo Testamento<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2N4UOOwKw7XLg1NsBF2tRrzXPspLBxxwK6LF25B5mqAJj8jNl000_PiR1mHOjryjpT5e72lxcbmoewQru6gF4wMqAB6rTBBhUXheHQCSGYS4r38o1l9qjy4i4dS36nBpsM97XNW6kWfVY/s1600-h/abertos-biblia-~-1772904.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2N4UOOwKw7XLg1NsBF2tRrzXPspLBxxwK6LF25B5mqAJj8jNl000_PiR1mHOjryjpT5e72lxcbmoewQru6gF4wMqAB6rTBBhUXheHQCSGYS4r38o1l9qjy4i4dS36nBpsM97XNW6kWfVY/s320/abertos-biblia-~-1772904.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5119371598873759666" /></a><br />A história do cânon do Novo Testamento difere da do Antigo em vários aspectos. Em primeiro lugar, visto que o cristianismo foi desde o começo uma religião internacional, não havia comunidade profética fechada que recebesse os livros inspirados e os coligisse em determinado lugar. Faziam-se coleções aqui e ali, que se iam completando, logo no início da igreja. Não há notícia, todavia, da existência oficial de uma entidade que controlasse os escritos inspirados. Por isso, o processo mediante o qual todos os escritos apostólicos se tornaram universalmente aceitos levou muitos séculos. Felizmente, dada a disponibilidade de textos, há mais manuscritos do cânon do Novo Testamento que do Antigo.<br />Outra diferença entre a história do cânon do Antigo Testamento, em comparação com a do Novo, é que a partir do momento em que as discussões resultaram no reconhecimento dos 27 livros canônicos do Novo Testamento, não mais houve movimentos dentro do cristianismo no sentido de acrescentar ou eliminar livros. O cânon do Novo Testamento en¬controu acordo geral no seio da igreja universal.<br /><br /><strong>Os estímulos para que se coligissem oficialmente os livros</strong><br />Várias forças contribuíram para que o mundo cristão da antiguidade providenciasse o reconhecimento oficial dos 27 livros canônicos do Novo Testamento. Três dessas forças têm significado especial: a eclesiástica, a teológica e a política.<br /><br /><strong>O estímulo eclesiástico à lista dos canônicos</strong><br />A igreja primitiva tinha necessidades internas e externas que exigiam o reconhecimento dos livros canônicos. Internamente havia a necessidade de saber que livros deveriam ser lidos nas igrejas, de acordo com a prática prescrita pelos apóstolos para a igreja do Novo Testamento (1Ts 5.27). Do lado de fora da igreja estava a necessidade de saber que livros deveriam ser traduzidos para as línguas estrangeiras das pessoas convertidas. Sem uma lista dos livros reconhecidos e aprovados, seria difícil para a igreja primitiva a execução dessa tarefa. A combinação dessas forças exerceu pressão sobre os primeiros pais da igreja para produzirem uma lista oficial dos livros canónicos.<br /><br /><strong>O estímulo teológico à lista dos canônicos</strong><br />Outro fator dentro do cristianismo primitivo estava exigindo um pronunciamento oficial da igreja a respeito do cânon. Visto que toda a Escritura era proveitosa para a doutrina (2Tm 3.16,17), tornou-se cada vez mais necessário definir os limites do legado doutrinário apostólico. A necessidade de saber que livros deveriam ser usados para ensinar a doutrina com autoridade divina tornou-se questão que exercia pressão cada vez maior, por causa da multiplicidade de livros heréticos que reivindicavam autoridade divina. Quando o herege Marcião publicou uma lista muitíssimo abreviada dos livros canônicos (c. 140), abarcando apenas o evangelho de Lucas e dez das cartas de Paulo (com a omissão de l e 2Timóteo e de Tito), tornou-se premente a necessidade de uma lista completa dos livros canônicos. A igreja viu-se presa em meio a uma tensão provocada, de um lado, por quem queria acrescentar livros à lista dos canónicos e, por outro, por quem queria eliminar alguns livros, de modo que o ônus da decisão recaiu sobre os primeiros pais da igreja, para que definissem com precisão os limites do cânon sagrado.<br /><br /><strong>O estímulo político à lista dos canônicos</strong><br />As forças que pressionavam a canonização culminaram na pressão política que passou a influir na igreja primitiva. As perseguições de Diocleciano (c 302-305) representaram um forte motivo para a igreja definir de vez a lista dos livros canônicos. De acordo com o historiador cristão Eusébio, houve um edito imperial da parte de Diocleciano, de 303, ordenando que "as Escrituras fossem destruídas pelo fogo". Não deixa de ser irónico que 25 anos antes o imperador Constantino se "convertera" ao cristianismo e dera ordem a Eusébio para que se preparassem e se distribuíssem cinquenta exemplares da Bíblia. A perseguição motivou um exame sério da questão dos livros canônicos: quais eram realmente canônicos e deveriam ser preservados? O pedido de Constantino também tornou necessária a criação da lista de livros canónicos.<br /><br /><strong>A compilação e o reconhecimento progressivos dos livros canónicos</strong><br />Há evidências fortes a mostrar que os primeiros cristãos coligiram e preservaram os livros inspirados do Novo Testamento. Tais livros, sem dúvida alguma, foram copiados e circularam entre as igrejas primitivas. No entanto, em vista de não existir uma lista oficial divulgada, o reconhecimento universal levou vários séculos para ocorrer, até que as pressões ocasionaram a necessidade de tal lista.<br /><br /><strong>Evidências neotestamentárias de um cânon crescente</strong><br />O Novo Testamento havia sido escrito durante a última metade do século I. A maior parte dos livros havia sido escrita para as igrejas locais (e.g., a maior parte das cartas do apóstolo Paulo), e alguns foram dirigidos a pessoas em particular (e.g., Filemom, 2 e 3João). Outros livros tinham em mira auditórios mais amplos, na Ásia Oriental (IPedro), na Ásia Ocidental (Apocalipse) e até mesmo na Europa (Romanos). <br />É provável que algumas dessas cartas tivessem origem em Jerusalém (Tiago), e outras viessem de Roma, nos confins do Ocidente (IPedro). Havendo tão grande diversidade geográfica de origens e destinatários, é compreensível que nem todas as igrejas haveriam de possuir, de imediato, cópias de todos os livros inspirados do Novo Testamento. Acrescentem-se os problemas de comunicação e de transporte, e fica mais fácil ver que seria preciso algum tempo até que houvesse um reconhecimento geral de todos os 27 livros do cânon do Novo Testamento. Apesar de tão grandes dificuldades, a igreja primitiva começou de imediato a coligir todos os escritos apostólicos que pudessem autenticar. <br /><br /><em>A seleção dos livros fidedignos</em>. Desde o início havia escritos falsos, não-apostólicos e, portanto, não-fidedignos em circulação. Por causa de alguns desses relatos fantasiosos sobre a vida de Cristo, Lucas, o compa¬nheiro de Paulo, assumiu o compromisso de escrever seu evangelho, dizendo: "Tendo muitos empreendido uma narração dos fatos que entre nós se cumpriram [...] pareceu-me também conveniente descrevê-los a ti, ó excelente Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio, para que tenhas plena certeza das coisas em que foste ensinado" (Lc 1.1-4). <br />O que se depreende do prólogo de Lucas é que, em seus dias (c. 60 d.C.), já havia alguns relatos inexatos em circulação a respeito da vida de Cristo.<br />Sabemos com certeza que os cristãos de Tessalonica foram advertidos quanto a falsas cartas que lhes teriam sido enviadas em nome do apóstolo Paulo. "Rogamo-vos", escreveu o apóstolo, "que não vos demovais do vosso modo de pensar, nem vos perturbeis [...] por epístola, como se procedesse de nós, como se o dia de Cristo já tivesse chegado" (2Ts 2.20). A fim de que os crentes verificassem a confiabilidade de suas cartas, o apóstolo se despedia dizendo: "Eu, Paulo, escrevo esta saudação com meu próprio punho. Este é o sinal em cada epístola. É assim que escrevo" (2Ts 3.17). Além disso, a carta seria enviada por um portador pessoal da parte do apóstolo.<br />Informa-nos mais o apóstolo João que Jesus fez muitos outros sinais “que não estão escritos neste livro" (Jo 20.30), visto que, se todos fossem escritos, "cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que seriam escritos" 0o 21.25). A partir da multiplicidade de atos de Jesus que não foram registrados pelos apóstolos, surgiram muitas crendices a respeito da vida de Cristo, que exigiram o exame dos apóstolos. Enquanto as testemunhas oculares da vida e da ressurreição de Cristo estivessem vivas (At 1.21,22), tudo poderia sujeitar-se à autoridade do ensino e da tradição oral dos apóstolos (v. 1Ts 2.13; 1Co 11.2). Há quem acredite que as tradições oculares dos apóstolos formaram “kerygma” (lit, proclamação), que funcionou como uma espécie de cânon dentro do cânon. Quer o kerygma fosse o critério, quer não, fica bem claro que, até mesmo, a igreja apostólica havia sido convocada para ser seletiva em apurar a confiabilidade das muitas histórias e ensinos a respeito de Cristo. Em seu evangelho João destruiu uma crendice que circulava no seio da igreja do século I, segundo a qual ele jamais morreria (Jo 21.23,24). Esse mesmo apóstolo também escreveu uma advertência forte aos crentes, dizendo: "Amados, não creiais em todo espírito, mas provai se os espíritos vêm de Deus, porque já muitos falsos profetas têm surgido no mundo" (1Jo 4.1). <br />Em suma, existem muitas evidências de que, no seio da igreja do século I, havia um processo seletivo em operação. Toda e qualquer palavra a respeito de Cristo, fosse oral, fosse escrita, era submetida ao ensino apostólico, dotado de toda autoridade. Se tal palavra ou obra não pudesse ser comprovada pelas testemunhas oculares (v. Lc 1.2; At 1.21,22), era rejei¬tada. Os apóstolos eram pessoas que podiam afirmar: "O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos" (1Jo 1.3); eram o incontestável tribunal de apelação. Assim escreveu outro apóstolo: "Não vos fizemos saber o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas, mas nós mesmos vimos a sua majestade" (2Pe 1.16). <br />Essa fonte primordial de autoridade apostólica era o cânon, mediante o qual a primeira igreja escolheu os escritos aos quais obedeceria, pois eram os ensinos dos apóstolos (At 2.42). Assim, o "cânon" vivo das testemunhas oculares tornou-se o critério mediante o qual os escritos canônicos primitivos vieram a ser reconhecidos, e o próprio Deus deu testemunho aos apóstolos (Hb 2.3,4). <br /><br /><em>A leitura de livros autorizados</em>. Outro sinal de que o processo da canonização do Novo Testamento iniciou-se imediatamente na igreja do século I foi a prática da leitura pública oficial dos livros apostólicos. Paulo havia ordenado aos tessalonicenses: "Pelo Senhor vos conjuro que esta epístola seja lida a todos os santos irmãos" (1Ts 5.27). De modo semelhante, Timóteo foi instruído a apresentar a mensagem de Paulo às igrejas ao lado das Escrituras do Antigo Testamento. "Persiste em ler", escre¬veu o apóstolo, "exortar e ensinar, até que eu vá" (1Tm 4.13; cf. tb. v.11). A leitura em público das palavras autorizadas de Deus era um costume antigo. Moisés e Josué o praticaram (Êx 24.7; Js 8.34). Josias pediu que se lesse a Bíblia em seus dias (2Rs 23.2), e o mesmo fizeram Esdras e os levitas: "Leram no livro da lei de Deus, esclarecendo-a e explicando o sentido, de modo que o povo pudesse entender o que se lia" (Ne 8.8). A leitura das cartas apostólicas às igrejas é uma continuação da longa tradição profética.<br />Há uma passagem significativa a respeito da leitura das cartas apos¬tólicas nas igrejas. Paulo escreveu assim aos colossenses: "Depois que esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei que também o seja na igreja dos laodicenses, e a que veio de Laodicéia lede-a vós também" (Cl 4.16). João prometeu uma bênção a quem lesse sua carta em voz alta (Ap 1.3), a qual ele enviara a sete igrejas diferentes. Tudo isso demonstra com clareza que as cartas apostólicas tinham por intuito ser lidas por um grupo muito maior do que uma congregação. Todas as igrejas no tempo e no espaço teriam a obrigação de lê-las, e, à medida que as igrejas iam recebendo, lendo e coligindo essas cartas, cheias de autoridade divina, lançavam os alicerces de uma coleção crescente de documentos inspirados. <br />Em suma, as igrejas estavam envolvidas num processo incipiente de canonização. Essa aceitação original de um livro, o qual era autorizadamente lido nas igrejas, teria importância crucial para o reconhecimen¬to posterior de um livro canónico.<br /><br /><em>A circulação e a compilação dos livros</em>. Já havia nos tempos do Novo Testamento algo parecido com uma declaração de cânon das Sagradas Escrituras, aprovada tacitamente, circulando pelas igrejas. De início nenhuma igreja detinha todas as cartas apostólicas, mas a coleção foi crescendo à medida que se faziam cópias autenticadas pela assinatura dos apóstolos ou de seus emissários. Não há dúvidas de que as primeiras cópias das Escrituras surgiram dessa prática de fazer que circulassem. À medi¬da que as igrejas foram crescendo, a necessidade de novas cópias foi-se tornando cada vez maior, pois mais e mais congregações desejavam ter sua compilação para as leituras regulares e para os estudos, ao lado das Escrituras do Antigo Testamento.<br />A passagem de Colossenses previamente citada informa-nos que a circulação das cópias das cartas era costume apostólico. Há outros indí¬cios ainda dessa prática. João havia recebido essa ordem da parte de Deus: "O que vês, escreve-o num livro, e envia-o as sete igrejas que estão na Ásia [Menor]; a Éfeso, a Esmirna, a Pérgamo, a Tiatira, a Sardes, a Filadélfia e a Laodicéia" (Ap 1.11). Por tratar-se de um único livro para mui¬tas igrejas, o livro deveria circular entre elas. É também o caso de muitas das epístolas gerais. Tiago é dirigida às doze tribos da Dispersão (Tg 1.1). Pedro escreveu uma carta aos "estrangeiros da Dispersão, no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na Ásia e na Bitínia" (1Pe 11). Alguns estudiosos têm pensado que a carta de Paulo aos Efésios tenha sido uma carta circular genérica, visto que a palavra efésios não está presente nos manuscritos mais antigos. A carta é dirigida simplesmente "aos santos que estão em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus" (Ef 1.1).<br />Todas essas cartas circulares revelam o início de um processo de canonização. Primeiro, as cartas foram obviamente endereçadas às igrejas em geral. A seguir, cada igreja era obrigada a fazer cópias das cartas, para poder realizar estudos e a elas referirem-se. A ordem no Novo Testamento para que se estudem as Escrituras (sem exceção das cartas apostólicas) não significa uma única e mera leitura formal, e nada mais. Os cristãos eram admoestados a ler continuamente as Escrituras (1Tm 4.11,13). A única maneira pela qual se poderia realizar isso no seio de um número crescente de igrejas era fazer cópias, de tal sorte que cada igreja, ou grupo de igrejas, tivesse sua própria compilação de escritos autorizados.<br />Todavia, alguém poderia perguntar se há alguma evidência no Novo Testamento de que tais compilações de escritos estavam se desenvolvendo. Com certeza. Parece que Pedro possuía uma coleção das cartas de Paulo, as quais ele colocava ao lado das "outras Escrituras" (2Pe 3.15,16). Podemos presumir que Pedro possuía uma coletânea das obras de Paulo, visto não haver razão plausível por que Pedro devesse ter a posse das cartas originais de Paulo. Afinal, tais cartas não foram escritas de propósito para Pedro, mas para as igrejas espalhadas por todo o mundo da época. Isso demonstra que haveria outras coletâneas que atenderiam às necessidades das igrejas que iam crescendo. <br />O fato de um escritor citar outro escritor também revela que tais cartas coligidas eram divinamente inspiradas e dotadas de autoridade. Judas menciona Pedro (Jd 17; v. tb. 2Pe 3.2), e Paulo menciona o evangelho de Lucas como Escritura Sagra¬da (1Tm 5.18; cf. Lc 10.7). Lucas presume que Teófilo estava de posse de um primeiro livro ou tratado (At 1.1).<br />Assim, o processo de canonização, desde o início da igreja, estava em andamento. As primeiras igrejas foram exortadas a selecionar apenas os escritos apostólicos fidedignos. Desde que determinado livro fosse examinado e dado por autêntico, fosse pela assinatura, fosse pelo emissário apostólico, era lido na igreja e depois circulava entre os crentes de outras igrejas. <br />As coletâneas desses escritos apostólicos começaram a tomar forma nos tempos dos apóstolos. Pelo final do século I, todos os 27 livros do Novo Testamento haviam sido recebidos e reconhecidos pelas igrejas cristãs. O cânon estava completo, e todos os livros haviam sido reconhecidos pelos crentes de outros lugares. Por causa da multiplicidade dos falsos escritos e da falta de acesso imediato às condições relacionadas ao recebimento inicial de um livro, o debate a respeito do cânon prosseguiu durante vários séculos, até que a igreja universal finalmente reconheceu a canonicidade dos 27 livros do Novo Testamento. <br /><br /><strong>A confirmação da compilação oficial dos livros canónicos</strong><br />Evidencia-se de várias maneiras a confirmação da canonicidade do Novo Testamento. Logo após a era dos apóstolos, vê-se nos escritos dos primeiros pais da igreja o reconhecimento da inspiração de todos os 27 livros do Novo Testamento. Em apoio ao testemunho dos apóstolos, temos as antigas versões, as listas canónicas e os pronunciamentos dos concílios eclesiásticos. Todos juntos constituem elo de reconhecimento desde a concepção do cânon, nos dias dos apóstolos, até a confirmação irrevogável da igreja universal, em fins do século IV.<br /><br /><strong>O testemunho dos pais da igreja sobre o cânon</strong><br />Logo após a primeira geração, passada a era apostólica, todos os livros do Novo Testamento haviam sido citados como dotados de autoridade por algum pai da igreja. Por sinal, dentro de duzentos anos depois do século I, quase todos os versículos do Novo Testamento haviam sido citados em um ou mais das mais de 36 mil citações dos pais da igreja. Visto que os testemunhos patrísticos a favor do Novo Testamento já foram verificados, não os repetiremos aqui. No entanto, o leitor deve ser acautelado sobre o caso de um pai primitivo da igreja não ter feito referência a um livro: isso não deixa necessariamente implícita a rejeição desse livro por ser não-canônico. O argumento do silêncio, nesse caso, como ocorre em geral, é bastante fraco. A não citação pode revelar meramente falta de ocasião por parte do pai da igreja de mencionar determinado livro nos escritos que chegaram até nós. Para ilustrar isso, o próprio leitor poderia perguntar-se quando foi que citou pela última vez a carta a Filemom ou 3João. Nem todos os livros do Novo Testamento são citados por todos os primeiros pais da igreja, mas todos os livros são citados como canônicos por pelo menos um desses pais. A conclusão é que esse fato basta para demonstrar que o livro havia sido reconhecido como apostólico desde o início.<br /><br /><strong>O testemunho das listas primitivas e das traduções do cânon</strong><br />Outras confirmações do cânon do século I encontram-se nas traduções e nas listas canônicas dos séculos II e III. Não se poderiam fazer a menos que houvesse primeiro o reconhecimento dos livros que deveri¬am ser incluídos na tradução.<br /><br /><em>Antiga siríaca</em>. Uma tradução do Novo Testamento circulou na Síria, pelo fim do século IV, representando um texto que datava do século II. Incluía todos os 27 livros do Novo Testamento exceto 2Pedro, 2 e 3João, Judas e Apocalipse. O famoso especialista em Bíblia, B. F. Westcott, ob¬servou: "A harmonia geral entre esse [cânon] e o nosso é extraordinária e de grande importância; as omissões são de fácil explicação". Os livros omitidos foram originariamente destinados ao mundo ocidental, e a igreja siríaca ficava no Oriente. A distância e a falta de comunicações com objetivo de verificação atrasaram a aceitação definitiva desses livros no que tange à Bíblia oriental, a qual havia sido publicada antes dessa evidên¬cia estar à disposição.<br /><br /><em>Antiga latina</em>. O Novo Testamento havia sido traduzido para o latim antes do ano 200, tendo servido de Bíblia para a igreja ocidental, da mesma forma que a Siríaca tinha servido para a igreja oriental. A Antiga latina continha todos os livros do Novo Testamento, com exceção de Hebreus, de Tiago e de 1 e 2Pedro. Essas omissões são o reverso das que se notam na Bíblia siríaca. Hebreus, 1Pedro e provavelmente Tiago foram escritas para as igrejas no Oriente e no mundo mediterrâneo. Daí ter demorado muito tempo para que suas credenciais fossem reconhecidas no Ocidente. A segunda carta de Pedro apresentou um problema especial que será dis¬cutido mais à frente. O que interessa é que, entre as duas primeiras Bíblias da igreja, houve reconhecimento da canonicidade de todos os 27 livros do Novo Testamento.<br /><br /><em>Cânon muratório </em>(170 d.C.). Além do cânon obviamente abreviado do herege Marcião (140 d.C.), a lista canônica mais antiga encontra-se no fragmento muratório. A lista de livros do Novo Testamento corresponde exatamente à da Antiga latina, omitindo-se apenas Hebreus, Tiago e 1 e 2Pedro. Westcott sustenta que provavelmente houve uma falha nos manuscritos com a possível inclusão de tais livros em alguma época. É um tanto inusitado que Hebreus e 1Pedro estivessem ausentes, ao passo que os livros menos frequentemente cilados, Filemom e 3João, estivessem incluídos.<br /><br /><em>Códice barocócio </em>(206). Outro testemunho de apoio do primitivo cânon do Novo Testamento vem de um códice intitulado “Os sessenta livros”. Mediante exame cuidadoso, esses sessenta livros incluíam 64 dos 66 livros canônicos da Bíblia. Só faltava Ester, do Antigo Testamento, e Apocalipse, do Novo. A canonicidade de Apocalipse está bem atestada em outras passagens de outros autores, tendo o apoio de Justino Mártir, de Ireneu, de Clemente de Alexandria, de Tertuliano e da lista do Cânon muratório. <br /><br /><em>Eusébio de Cesaréia </em>(c. 340). A siluação do cânon do Novo Testamento no Ocidente no início do século IV foi bem resumida pelo historiador Eusébio, em sua obra História eclesiástica (3,25). Ele relacionou como totalmente aceitáveis os 27 livros do Novo Teslamento, exceto Tiago, Judas, 2Pedro e 2 e 3João. Esses, ele relacionou como questionados por alguns; ele mesmo rejeilava de vez o Apocalipse. Assim, todos, menos o Apocalipse, haviam recebido aceitação, ainda que algumas das cartas gerais sofressem alguma forma de queslionamento.<br /><br /><em>Atanásio de Alexandria </em>(c. 373). Quaisquer dúvidas existentes no Oci¬dente a respeito das cartas gerais e do Apocalipse foram removidas nos cinquenta anos que se seguiram à obra de Eusébio. Atanásio, o Pai da Ortodoxia, relaciona com clareza todos os 27 livros do Novo Testamento como canônicos. Dentro de uma geração, tanto Jerônimo quanto Agostinho teriam confirmado a mesma lista de livros, de modo que os 27 livros permaneceram no cânon aceito do Novo Testamento. <br /><br /><em>Os Concílios de Hipo </em>(393) <em>e de Cartago </em>(397). O testemunho de apoio ao cânon do Novo Testamento não se limitou a vozes individuais. Dois concílios locais ratificaram os 27 livros canónicos do Novo Testamento. A variação no cânon do Antigo Testamento aceita por esses concílios já foi discutida antes. Também existe uma lista proveniente do Sínodo de Laodicéia (343-381), que inclui todos os livros, menos o Apocalipse; mas onze estudiosos têm questionado a genuinidade dessa lista.<br /><br />Desde o século V a igreja tem aceito esses 27 livros como o cânon do Novo Testamento. Embora mais tarde houvesse objeções ao cânon do Antigo Testamento, a igreja em todos os seus principais ramos continua, até hoje, a reconhecer apenas esses 27 livros do Novo Testamento como apostólicos.<br />Para resumir: o processo de coligir os escritos apostólicos confiáveis iniciou-se nos tempos do Novo Testamento. No século II houve exame desses escritos mediante a citação da autoridade divina de cada um desses 27 livros do Novo Testamento. No século III, as dúvidas e as objeções a respeito de determinados livros prosseguiram, culminando nas decisões dos pais da igreja e dos concílios influentes do século IV. A partir de então, ao longo dos séculos, a igreja vem sustentando a canonicidade desses 27 livros.Pastor Pedrohttp://www.blogger.com/profile/14959296050649164906noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-129497258255618826.post-9967304333011690142007-09-24T17:42:00.000-03:002008-12-11T20:32:44.582-03:00Aula 7 - A extensão do cânon do Antigo Testamento<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoXug5j3Z_4GujiQXppjvERVTi4hymOYKQwplXEfLlKHFb2ia6d8qZe7t3kssdEiiyVy2zG2eD7wxW0L7fG9Kduf50a7TpARLFyHQxQkFb2tS2_eQ_rB0PkJDi79VbiF7TfCqe4qdWxYK0/s1600-h/abertos-biblia-~-1777134.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoXug5j3Z_4GujiQXppjvERVTi4hymOYKQwplXEfLlKHFb2ia6d8qZe7t3kssdEiiyVy2zG2eD7wxW0L7fG9Kduf50a7TpARLFyHQxQkFb2tS2_eQ_rB0PkJDi79VbiF7TfCqe4qdWxYK0/s320/abertos-biblia-~-1777134.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5113879976379682386" /></a><br />A aceitação inicial dos 22 livros (correspondentes exatamente aos nossos 39) das Escrituras hebraicas não resolveu a questão de uma vez por todas. Estudiosos de eras posteriores, nem sempre totalmente conscientes dos fatos a respeito dessa aceitação original, tornavam a levantar questões concernentes a determinados livros. A discussão deu ensejo a que surgisse uma terminologia técnica. Os livros bíblicos aceitos por todos eram chamados "homologoumena" (lit., falar como um). Os livros bíblicos que em certa ocasião tivessem sido questio¬nados por alguns foram classificados como "antilegomena" (falar contra). Os livros não-bíblicos rejeitados por todos foram intitulados "pseudepígrafos" (falsos escritos). Uma quarta categoria compreendia livros não-bíblicos aceitos por alguns, mas rejeitados por outros, dentre os quais os livros questionáveis, chamados "apócrifos" (escondidos ou duvidosos). Nosso tratamento girará em torno dessa classificação em quatro tipos.<br /><br /><strong>Os livros aceitos por todos > homologoumena </strong><br />Acanonicidade de alguns livros jamais foi desafiada por nenhum dos grandes rabis da comunidade judaica. Desde que alguns livros foram aceitos pelo povo de Deus como documentos produzidos pela mão dos profetas de Deus, continuaram a ser reconhecidos como detentores de inspiração e de autoridade divina pelas gerações posteriores. Trinta e quatro dos 39 livros do Antigo Testamento podem ser classificados como "homologoumena". Os cinco excluíveis seriam Cântico dos Cânticos, Eglesiastes, Ester, Ezequiel e Provérbios. Visto, porém, que nenhum desses livros foi alvo de objecão muito séria, nossa atenção pode voltar-se para os outros livros.<br /><br /><strong>Os livros rejeitados por todos > pseudepígrafos</strong><br />Grande número de documentos religiosos espúrios que circulavam entre a antiga comunidade judaica são conhecidos como "pseudepígrafos". Nem tudo nesses escritos "pseudepigráficos” é falso. De fato, a maior parte desses documentos surgiu de dentro de um contexto de fantasia ou tradição religiosa, possivelmente com raízes em alguma verdade. Com frequência, a origem desses escritos estava na especulação espiritual a respeito de algo que não ficou bem explicado nas Escrituras canônicas. <br />As tradições especulativas a respeito do patriarca Enoque, por exemplo, sem dúvida são a raiz do livro de Enoque. De maneira semelhante, a curiosidade a respeito da morte e da glorificação de Moisés, sem dúvida alguma, acha-se por trás da obra Assunção de Moisés No entanto, essa especulação não significa que não exista verdade nenhuma nesses livros. Ao contrário, o Novo Testamento refere-se a verdades implantadas nesses dois livros (cf. Jd 14,15) e chega a aludir à penitência de Janes e Jambres (2Tm 3.8). Entretanto, esses livros não são mencionados como dotados de autoridade, como Escrituras inspiradas. A semelhança das citações que Paulo faz de alguns poetas não-cristãos, como Arato (At 17.28), Menânder (1Co 15.33) e Epimênides (Tt 1.12), trata-se tão somente de verdades verificáveis, contidas em livros que em si mesmos nenhuma autoridade divina têm. A verdade é sempre verdade, não importa onde se encontre, quer pronunciada por um poeta pagão, quer por um profeta pagão (Nm 24.17), por um animal irracional e mudo (Nm 22.28), ou mesmo por um demónio (At 16.17).<br />Observe que nenhuma fórmula como "está escrito" ou "segundo as Escrituras" é utilizada quando o escritor sagrado se refere a tais obras “pseudoepigráficas”. É possível que o fato mais perigoso a respeito desses falsos escritos é que alguns elementos da verdade são apresentados com palavras de autoridade divina, num contexto de fantasias religiosas que em geral contêm heresias teológicas. É importante que nos lembremos de que Paulo cita apenas aquela faceta da verdade, e não o livro pagão como um todo, como conceito a que Deus atribuiu autoridade e fez constar do Novo Testamento.<br /><br /><strong>A natureza dos pseudepígrafos</strong><br />Os pseudepígrafos do Antigo Testamento contêm os extremos da fantasia religiosa judaica expressos entre 200 a.C. e 200 d.C Alguns desses livros são inofensivos, teologicamente (e.g., SI 151), mas outros contêm erros históricos e claras heresias. Desafia-se com vigor a genuinidade desses livros, pelo fato de haver quem afirme que foram escritos por autores bíblicos. Os "pseudepígrafos" refletem o estilo literário vigente num período muito posterior ao encerramento dos escritos proféticos, de modo que muitos desses livros imitam o estilo apocalíptico de Ezêquiel, de Daniel e de Zacarias — ao referir-se a sonhos, visões e revelações. No entanto, diferentemente desses profetas, os "pseudepígrafos" com frequência tornam-se mágicos. Os "pseudepígrafos" ressaltam, sobretudo, um brilhante futuro messiânico, cheio de recompensas para todos quantos vivem em sofrimento e abnegação. Sob a superfície existe, com frequência, um motivo religioso inocente, porém desencaminhado. Todavia, a infundada reivin¬dicação de autoridade divina, o caráter altamente fantasioso dos acontecimentos e os ensinos questionáveis (e até mesmo heréticos) levaram os pais do judaísmo a considerá-los espúrios. O resultado, pois, é que tais livros foram corretamente rotulados de "pseudepígrafos". <br /><br /><strong>O número dos pseudepígrafos</strong><br />A coleção modelar de "pseudepígrafos" contém dezessete livros. Acrescente-se o salmo 151, que se encontra na versão do Antigo Testamento feita pelos Setenta. A lista principal é a seguinte:<br /><strong>Lendários </strong>> 1. O Livro do Jubileu; 2.Epístola de Aristéias; 3. O Livro de Adão e Eva; 4. O Martírio de Isaías.<br /><strong>Apocalíptico</strong> > 1. 1 Enoque; 2. O Testamento dos Doze Patriarcas; 3. O Oráculo Sibilino; 4. Assunção de Moisés; 5. 2 Enoque, ou Livro dos Segredos de Enoque; 6. 2 Baruque, ou Apocalipse Siríaco de Baruque (1 Baruque está relacionado entre os apócrifos); 7. 3 Baruque, ou Apocalipse Grego de Baruque.<br /><strong>Didáticos</strong> > 1. 3 Macabeus; 2. 4 Macabeus; 3. Pirque Abote; 4. A História de Aicar.<br /><strong>Poéticos</strong> > 1. Salmos de Salomão; 2. Salmo 151<br /><strong>Históricos</strong> > 1. Fragmentos de uma obra de Sadoque.<br /><br />De modo nenhum essa lista é completa. Outros são conhecidos, mesmo alguns muito interessantes que vieram à luz quando da descoberta dos rolos do mar Morto. Dentre esses estão o “Gênesis apócrífo” e “Guerra dos filhos da luz contra os filhos das trevas” e outros.<br /><br /><br /><strong>Os livros questionados por alguns > antilegomena</strong><br />A natureza dos antilegomena<br />Os livros que originariamente eram aceitos como canônicos, e mesmo mais tarde também assim reconhecidos, tendo sido, porém, objeto de grave controvérsia entre os rabis, durante o processo de canonização, são de grande interesse para nós. Na aula anterior, vimos como todos os 39 livros do Antigo Testamento foram de início aceitos pelo povo de Deus, vindos dos profetas. Durante os séculos seguintes, surgiu e desenvolveu-se uma escola de pensamento diferente, dentro do judaísmo, que passou a questionar, entre outras coisas, a canonicidade de certos livros do Antigo Testamento que, antes, haviam sido canonizados. Por fim, tais livros foram reconduzidos ao cânon sagrado, por haver prevalecido a categoria de inspirados que lhes havia sido atribuída de início. No entanto, em vista de tais livros terem sido, nesta ou naquela época, difa¬mados por alguns rabis, passaram a chamar-se "antilegomena".<br /><br /><strong>O número dos antilegomena</strong><br />A canonicidade de cinco livros do Antigo Testamento foi questionada numa ou noutra época por algum mestre do judaísmo: Cântico dos Cânticos, Eclesiastes, Ester, Ezequiel e Provérbios. Cada um deles tornou-se controvertido por razões diferentes, todavia, no fim prevaleceu a autoridade divina de todos estes cinco livros.<br /><br /><em>Cântico dos Cânticos</em>. Alguns estudiosos da escola de Shammai consideravam esse cântico sensual em sua essência. Sabidamente, numa tentativa de abafar a controvérsia e defender a canonicidade do Cântico dos Cânticos, o rabino Aquiba escreveu o seguinte:<br />Livre-nos Deus! Ninguém jamais em Israel criou controvérsia acerca do Cântico dos Cânticos, alegando não tornar imundas as mãos [i.e., não ser canônico]; todas as eras somadas não equivalem ao dia em que o Cântico dos Cânticos foi dado a Israel. Todos os Escritos são santos, mas o Cântico dos Cânticos é o Santo dos Santos.<br />Como bem observaram alguns, o simples fato de surgir uma declaração desse teor dá mostras de que alguém duvidou da pureza desse livro. Quaisquer que tenham sido as dúvidas voltadas para o alegado caráter sensual do Cântico dos Cânticos, foram mal orientadas. É muito mais provável que a pureza e a nobreza do casamento façam parte do propósito essencial desse livro. Sejam quais forem as questões levantadas a respeito das várias interpretações, não deve prevalecer nenhuma dúvida concernente à inspiração desse livro, desde que seja visto da perspectiva espiritual correta.<br /><br /><em>Eclesiastes</em>. A objeção que às vezes é atirada contra esse livro é que ele parece cético. Alguns até o têm chamado O cântico do ceticismo. O rabino Aquiba dizia: "Se há algo em questão, a questão gira em torno só do Eclesiastes [e não do Cântico]". Não resta a menor dúvida a respeito do tom às vezes cético do livro: "Vaidade das vaidades [...] tudo é vaidade! [...] nada há novo debaixo do sol [...] na muita sabedoria há muito enfado; o que aumenta o conhecimento aumenta a tristeza" (Ec 1.2,9,18). O que se negligencia quando se acusa o livro de ceticismo é tanto o contex¬to dessas declarações quanto a conclusão geral do livro. Qualquer pes¬soa que procure a máxima satisfação "debaixo do sol" com toda certeza há de sentir as mesmas frustrações sofridas por Salomão, visto que a felicidade eterna não se encontra neste mundo temporal. Além do mais, a conclusão e o ensino genérico desse livro todo estão longe de ser céticos. Depois "de tudo o que se tem ouvido", o leitor é admoestado, "a conclusão é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos, pois isto é todo o dever do homem" (Ec 12.13). Tanto no que se refere ao Eclesiastes, como ao Cântico dos Cânticos, o problema básico é de interpretação do texto, e não de canonização ou inspiraçao.<br /><br /><em>Ester</em>. Em vista da ausência do nome de Deus nesse livro, alguns pensaram que ele não fosse inspirado. Perguntavam, como podia um livro ser Palavra de Deus se nem ao menos trazia o seu nome? Além disso, a história do livro parece ter natureza puramente secular. O resultado é que se fizeram várias tentativas para explicar o fenômeno da aparente ausência do nome de Deus em Ester. Alguns acreditaram que os judeus persas não estavam na linhagem teocrática, e por isso o nome do Deus da aliança não se relacionava a eles. Outros sustentam que a omissão do nome de Deus é proposital, a fim de proteger o livro da possibilidade do plágio pagão: o nome de Deus ser substituído por um falso deus. Ainda outros conseguem ver o nome de Jeová ou Yavé (YHWH) num acróstico em quatro momentos cruciais na história, o que em si eliminaria a possibilidade. <br />Seja qual for a explicação, uma coisa é certa: a ausência do nome de Deus é compensada pela presença de Deus na preservação de seu povo. Ester e as pessoas que a cercavam eram devotas: prescreveu-se um jejum religioso, e Ester exerceu grande fé (Et 4.16). O fato de Deus haver concedido grande livramento, como narra o livro, serve de fundamento e razão da festa judaica do Purim (Et 9.26-28). Basta esse fato para demonstrar a autoridade atribuída ao livro dentro do judaísmo.<br /><br /><em>Ezequiel</em>.Havia pessoas dentro da escola rabínica que pensavam que o livro de Ezequiel era antimosaico em seu ensino. A escola de Shammai, por exemplo, achava que o livro não estava em harmonia com a lei mosaica, e que os primeiros dez capítulos exibiam uma tendência para o gnosticismo. É claro, então, que, se houvesse contradições no livro, ele não poderia ser canônico. No entanto, não se verificaram contradições reais em relação à Tora. Parece que outra vez teria sido mera questão de interpretação, e não de inspiração.<br /><br /><em>Provérbios</em>. A objeção a Provérbios centrava-se no fato de alguns dos ensinos do livro parecerem incompatíveis com outros provérbios. Falando dessa alegada incoerência interna, assim diz o Talmude: "Também procuraram esconder o livro de Provérbios, porque suas palavras se contra¬diziam entre si" ("Shabbath", 30b). Uma dessas supostas contradições encontra-se no capítulo 26, em que o leitor é exortado a responder e ao mesmo tempo não responder ao tolo segundo sua tolice: "Responde ao tolo segundo a sua estultícia, para que não seja ele sábio aos seus próprios olhos" (Pv 26.4,5). Todavia, como outros rabis têm observado, o sentido aqui é que há ocasiões em que o tolo deve receber resposta de acordo com sua tolice, e outras ocasiões em que isso não deve ocorrer. Visto que as declarações estão explicitadas em versículos sucessivos, forma legítima da poesia hebraica, quem os redigiu, não viu nenhuma contradição. A frase qualificativa que indica se alguém deveria ou não responder a um tolo revela que as situações que exigem reações diferentes também são diferentes. Não existe contradição em Provérbios 26, nen nenhuma contradição ficou demonstrada em qualquer outra passagem de Provérbios, e, por isso, nada atravanca o caminho da canonicidade.<br /><br /><strong>Os livros aceitos por alguns > apócrifos</strong><br />O âmbito mais crucial de desacordo a respeito do cânon do Antigo Testamento entre os cristãos é o debate sobre os chamados livros apócrifos.<br />Tais livros são aceitos pelo católicos romanos como canônicos e rejeitados por protestantes e judeus. Na realidade, os sentidos da palavra “apocrypha” refletem o problema que se manifesta nas duas concepções de sua canonicidade. No grego clássico, a palavra apocrypha significava<br />"oculto" ou "difícil de entender". Posteriormente, tomou o sentido de esotérico, ou algo que só os iniciados podem entender, não os de fora. Pela época de Ireneu e de Jerônimo (séculos III e IV), o termo apocrypha veio a ser aplicado aos livros não-canônicos do Antigo Testamento, mesmo aos que foram classificados previamente como "pseudepígrafos". Desde a era da Reforma, essa palavra tem sido usada para denotar os escritos judaicos não-canônicos originários do período intertestamentário. A questão diante de nós é a seguinte: verificar se os livros eram escondidos a fim de ser preservados, porque sua mensagem era profunda e espi¬ritual, ou porque eram espúrios e de confiabilidade duvidosa.<br /><br /><strong>Natureza e número dos apócrifos do Antigo Testamento</strong><br />Há guinze livros chamados apócrifos (catorze se a Epístola de Jeremias se unir a Baruque, como ocorre nas versões católicas de Douai). Com exceção de 2 Esdras, esses livros preenchem a lacuna existente entre Malaquias e Mateus, e compreendem especificamente dois ou três séculos antes de Cris¬to. Vejam a seguir suas datas e classificação:<br /><br /><strong>Os Livros Apócrifos</strong><br />.<strong>Didáticos</strong> > 1. Sabedoria de Salomão (c 30 a.C); 2. Eclesiártico (132 a.C);<br />.<strong>Religioso</strong> > 3. Tobias (c 200 a.C);<br />.<strong>Romance</strong> > 4. Judite (c 150 a.C);<br />.<strong>Histórico</strong> > 5. 1 Esdras (c 150 – 100 a.C); 6. 1 Macabeus (c 110 a.C); 7. 2 Macabeus (c 119-70 a.C);<br />.<strong>Profético</strong> > 8. Baruque (c 150-50 a.C); 9. Epístola de Jeremias (c 300-100 a.C); 10. 2 Esdras (c 100 d.C);<br /><strong>Lendário</strong> > 11. Adições a Ester (140-110 a.C); 12. Oração de Azarias (séc I ou II a.C) também chamado der Cântico dos três Jovens; 13. Susana (séc I ou II a.C); 14. Bel e o Dragão (c 100 a.C); 15. Oração de Manassés (séc I ou II a.C).<br /><br /><strong>Argumentos em prol da aceitação dos apócrifos do Antigo Testamento</strong><br />Os livros apócrifos do Antigo Testamento têm recebido diferentes graus de aceitação pelos cristãos. A maior parte dos protestantes e dos judeus aceita que tenham valor religioso e mesmo histórico, sem terem, contudo, autoridade canônica. Os católicos romanos desde o Concílio de Trento têm aceito esses livros como canônicos. Mais recentemente, os católicos romanos têm defendido a ideia de uma deuterocanonicidade, mas os livros apócrifos ainda são usados para dar apoio a doutrinas extrabíblicas, tendo sido proclamados como livros de inspiração divina no Concílio de Trento. Outros grupos, como os anglicanos e várias igrejas ortodoxas, nutrem diferentes concepções a respeito dos livros apócrifos. A seguir apresentamos um resumo dos argumentos que em geral são aduzidos para a aceitação desses livros, na crença de que detêm algum tipo de canonicidade:<br /><br />1. Alusões no Novo Testamento. O Novo Testamento reflete o pensamento e registra alguns acontecimentos dos apócrifos. Por exemplo, o livro de Hebreus fala de mulheres que receberam seus mortos pela ressurreição (Hb 11.35), e faz referência a 2 Macabeus 7 e 12. Os chamados apócrifos ou pseudepígrafos são também citados em sua amplitude pelo Novo Testa¬mento (Jd 14,15; 2Tm 3.8).<br /><br />2. Emprego que o Novo Testamento faz da versão dos Septuaginta. A tradução grega do Antigo Testamento hebraico, em Alexandria, é conhecida como Septuaginta (LXX). É a versão mais citada pelos autores do Novo Testamento e pelos cristãos primitivos. A LXX continha os livros apócrifos. A presença desses livros na LXX dá apoio ao cânon alexandrino, mais amplo, do Antigo Testamento, em oposição ao cânon palestino, mais reduzido, que os omite.<br /><br />3. Os mais antigos manuscritos completos da Bíblia. Os mais antigos manuscritos gregos da Bíblia contêm os livros apócrifos inseridos entre os livros do Antigo Testamento. Os manuscritos Aleph (X), A e B incluem esses livros, revelando que faziam parte da Bíblia cristã original.<br /><br />4. A arte cristã primitiva. Alguns dos registros mais antigos da arte cristã refletem o uso dos apócrifos. As representações nas catacumbas às vezes se baseavam na história dos fiéis registrada no período intertestamentário.<br /><br />5. Os primeiros pais da igreja. Alguns dos mais antigos pais da igreja, de modo particular os do Ocidente, aceitaram e usaram os livros apócrifos em seu ensino e pregação. E até mesmo no Oriente, Clemente de Alexandria reconheceu 2 Esdras como inteiramente canónico. Orígenes acrescentou Macabeus bem como a Epístola de Jeremias à lista de livros bíblicos canônicos. Ireneu mencionava O livro da sabedoria, e outros pais da igreja citavam outros livros apócrifos.<br /><br />6. A influência de Agostinho. Agostinho (c. 354-430) elevou a tradição ocidental mais aberta, a respeito dos livros apócrifos, ao seu apogeu, ao atribuir-lhes categoria canônica. Ele influenciou os concílios da igreja, em Hipo (393 d.C.) e em Cartago (397 d.C), que relacionaram os apócrifos como canônicos. A partir de então, a igreja ocidental passou a usar os apócrifos em seu culto público. <br /><br />7. O Concílio de Trento. Em 1546, o concílio católico romano do pós-Reforma, realizado em Trento, proclamou os livros apócrifos como canônicos, declarando o seguinte: <br />“O sínodo [...] recebe e venera [...] todos os livros, tanto do Antigo Testa¬mento como do Novo [incluindo-se os apócrifos] — entendendo que um único Deus é o Autor de ambos os testamentos [...] como se houvessem sido ditados pela boca do próprio Cristo, ou pelo Espírito Santo [...] se alguém não receber tais livros como sagrados e canônicos, em todas as suas partes, da forma em que têm sido usados e lidos na Igreja Católica [...] seja anátema”. <br />Desde esse concílio de Trento, os livros apócrifos foram considerados canônicos, detentores de autoridade espiritual para a Igreja Católica Romana. <br /><br />8. Uso não-católico. As Bíblias protestantes desde a Reforma com frequência continham os livros apócrifos. Na verdade, nas igreja anglicanas os apócrifos são lidos regularmente nos cultos públicos, ao lado dos demais livros do Antigo e do Novo Testamento. Os apócrifos são também usados pelas igrejas de tradição ortodoxa oriental.<br /><br />9. A comunidade do mar Morto. Os livros apócrifos foram encontrados entre os rolos da comunidade do mar Morto, em Qumran. Alguns haviam sido escritos em hebraico, o que seria indício de terem sido usados por judeus palestinos antes da época de Jesus.<br /><br />Resumindo todos esses argumentos, essa postura afirma que o amplo emprego dos livros apócrifos por parte dos cristãos, desde os tempos mais primitivos, é evidência de sua aceitação pelo povo de Deus. Essa longa tradição culminou no reconhecimento oficial desses livros, no Concílio de Trento (1546), como se tivessem sido inspirados por Deus. Mesmo não-católicos, até o presente momento, conferem aos livros apócrifos uma categoria de paracanônicos, o que se deduz do lugar que lhes dão em suas Bíblias e em suas igrejas.<br /><br /><strong>Razões por que se rejeita a canonicidade dos apócrifos</strong><br />Os oponentes dos livros apócrifos têm apresentado muitas razões para excluí-los do rol de livros canónicos. Seus argumentos serão apresentados na mesma ordem dos argumentos levantados pelos que advogam a aceitação de um cânon maior.<br /><br />1. A autoridade do Novo Testamento. O Novo Testamento jamais cita um livro apócrifo indicando-o como inspirado. As alusões a tais livros não lhes emprestam autoridade, assim como as alusões neotestamentárias a poetas pagãos não lhes conferem inspiração divina. Além disso, desde que o Novo Testamento faz citações de quase todos os livros canônicos do Antigo e atesta o conteúdo e os limites desse Testamento (omitindo os apócrifos), parece estar claro que o Novo Testamento indubitavelmente exclui os apócrifos do cânon hebraico. Josefo, o historiador judeu, rejeita expressamente os apócrifos, relacionando apenas 22 livros canônicos.<br /><br />2. A tradução dos Septuaginta. A Palestina é que era o lar do cânon ju¬daico, jamais Alexandria, no Egito. O grande centro grego do saber, no Egito, não tinha autoridade para saber com precisão que livros pertenci¬am ao Antigo Testamento judaico. Alexandria era o lugar da tradução, não da canonização. O fato de a Septuaginta conter os apócrifos apenas comprova que os judeus alexandrinos traduziram os demais livros religiosos judaicos do período intertestamentário ao lado dos livros canônicos. Filo, o judeu alexandrino, rejeitou com toda a clareza a canonicidade dos apócrifos, no tempo de Cristo, assim como o judaísmo oficial em outros lugares e épocas. De fato, as cópias existentes da LXX datam do século IV d.C. e não comprovam que os livros haviam sido incluídos na LXX de épocas anteriores.<br /><br />3. A Bíblia cristã primitiva. Os mais antigos manuscritos gregos da Bíblia datam do século IV. Seguem a tradição da LXX, que contém os apócrifos. Como foi observado acima, era uma tradução grega, e não o cânon hebraico. Jesus e os escritores do Novo Testamento quase sempre fizeram citações<br />da LXX, mas jamais mencionaram um livro sequer dentre os apócrifos. No máximo, a presença dos apócrifos nas Bíblias cristãs do século IV mostra tais livros eram aceitos, até certo ponto, por alguns cristãos, naquela époça. Isso não significa que os judeus, ou os cristãos como um todo, aceitaram esses livros como canônicos, isso sem mencionarmos a igreja universal, que nunca os teve na relação de livros canônicos.<br /><br />4. A arte cristã primitiva. As representações artísticas não constituem base para apurar a canonicidade dos apócrifos. As representações pintadas nas catacumbas, extraídas de livros apócrifos, apenas mostram que os crentes daquela era estavam cientes dos acontecimentos do período in¬tertestamentário e os consideravam parte de sua herança religiosa. A arte cristã primitiva não decide nem resolve a questão da canonicidade dos apócrifos.<br /><br />5. Os primeiros pais da igreja. Muitos dos grandes pais da igreja em seu começo, dos quais Melito, Orígenes, Cirilo de Jerusalém e Atanásio, depuseram contra os apócrifos. Nenhum dos primeiros pais de envergadu¬ra da igreja, anteriores a Agostinho, aceitou todos os livros apócrifos ca¬nonizados em Trento.<br /><br />6. O cânon de Agostinho. O testemunho de Agostinho não é definitivo, nem isento de equívocos. Primeiramente, Agostinho às vezes faz supor que os apócrifos apenas tinham uma deuterocanonicidade (Cidade de Deus, 18,36), e não canonicidade absoluta. Além disso, os Concílios de Hipo e de Cartago foram pequenos concílios locais, influenciados por Agostinho e pela tradição da Septuaginta grega. Nenhum estudioso hebreu qualificado esteve presente em nenhum desses dois concílios. O especialista hebreu mais qualificado da época, Jerônimo, argumentou fortemente contra Agostinho, ao rejeitar a canocidade dos apócrifos. Jerônimo chegou a recusar-se a traduzir os apócrifos para o latim, ou mesmo incluí-los em suas versões em latim vulgar (Vulgata latina). Só depois da morte de Jerônimo, e praticamente por cima de seu cadáver, é que os livros apócrifos foram incorpora¬dos à Vulgata latina.<br /><br />7. O Concílio de Trento. A ação do Concílio de Trento foi ao mesmo tempo polémica e prejudicial. Em debates com Lutero, os católicos romanos haviam citado Macabeus, em apoio à oração pelos mortos (v. 2 Macabeus 12.45,46). Lutero e os protestantes que o seguiam desafiaram a canonicidade desse livro, citando o Novo Testamento, os primeiros pais da igreja e os mestres judeus, em apoio. O Concílio de Trento reagiu a Lutero, canonizando os livros apócrifos. A ação do Concílio não foi apenas patentemente polêmica, foi também prejudicial, visto que nem todos os catorze (quinze) livros apócrifos foram aceitos pelo Concílio. Primeiro e Segundo Esdras (3 e 4 Esdras dos católicos romanos; a versão de Douai denomina l e 2 Esdras, respectivamente, os livros canônicos de Esdras e Neemias) e a Oração de Manassés foram rejeitados. A rejeição de 2 Esdras é particularmente suspeita, porque contém um versículo muito forte contra a oração pelos mortos (2 Esdras 7.105). Aliás, algum escriba medieval havia cortado essa seção dos manuscritos latinos de 2 Esdras, sendo conhecida pelos manuscritos árabes, até ser reencontrada outra vez em latim por Robert L. Bentley, em 1874, numa biblioteca de Amiens, na França.<br />Essa decisão, em Trento, não refletiu uma anuência universal, indisputável, dentro da Igreja Católica e na Reforma. Nessa exata época, o cardeal Cajetan, que se opusera a Lutero em Augsburgo, em 1518, publicou “Comentário sobre todos os livros históricos fidedignos do Antigo Testa¬mento”, em 1532, omitindo os apócrifos. Antes ainda desse fato, o cardeal Ximenes havia feito distinção entre os apócrifos e o cânon do Antigo Testamento, em sua obra “Poliglota complutense” (1514-1517). Tendo em mente essa concepção, os protestantes em geral rejeitaram a decisão do Concílio de Trento, que não tivera base sólida.<br /><br />8. Uso não-católico. O uso dos livros apócrifos entre igrejas ortodoxas, anglicanas e protestantes foi desigual e diferenciado. Algumas os usam no culto público. Muitas Bíblias contêm traduções dos livros apócrifos, ainda que colocados numa seção à parte, em geral entre o Antigo e o Novo Testamento. Ainda que não-católicos façam uso dos livros apócrifos, nunca lhes deram a mesma autoridade canônica do resto da Bíblia. Os não-católicos usam os apócrifos em suas devocionais, mais do que na afirmação doutrinária.<br /><br />9. Os rolos do mar Morto. Muitos livros não-canônicos foram descobertos em Qumran, dentre os quais comentários e manuais. Era uma bi¬blioteca que continha numerosos livros não tidos como inspirados pela Comunidade. Visto que na biblioteca de Qumram não se descobriram comentários nem citações autorizadas sobre os livros apócrifos, não existem evidências de que eram tidos como inspirados. Podemos presumir, portanto, que aquela comunidade cristã não considerava os apócrifos canónicos. Ainda que se encontrassem evidências em contrário, o fato de esse grupo ser uma seita que se separara do judaísmo oficial mostraria ser natural que não fosse ortodoxo em todas as suas crenças. Tanto quanto podemos distinguir, contudo, esse grupo era ortodoxo quanto à canonicidade do Antigo Testamento. Em outras palavras, não aceitavam a canonicidade dos livros apócrifos.<br /><br /><strong>Resumo e conclusão</strong><br />O cânon do Antigo Testamento até a época de Neemias compreendia 22 (ou 24) livros em hebraico, que, nas Bíblias dos cristãos, seriam 39, como já se verificara por volta do século IV a.C As objeções de menor monta a partir dessa época não mudaram o conteúdo do cânon. Foram os livros chamados apócrifos, escritos depois dessa época, que obtiveram grande circulação entre os cristãos, por causa da influência da tradução grega de Alexandria. Visto que alguns dos primeiros pais da igreja, de modo especial no Ocidente, mencionaram esses livros em seus escritos, a igreja (em grande parte por influência de Agostinho) deu-lhes uso mais amplo e eclesiástico. No entanto, até a época da Reforma esses livros não eram considerados canónicos. <br />A canonização que receberam no Concílio de Trento não recebeu o apoio da história. A decisão desse concílio foi polêmica e eivada de preconceito, como já o demonstramos.<br />Que os livros apócrifos, seja qual for o valor devocional ou eclesiástico que tiverem, não são canônicos, comprova-se pelos seguintes fatos:<br />1. A comunidade judaica jamais os aceitou como canónicos.<br />2. Não foram aceitos por Jesus, nem pelos autores do Novo Testamento.<br />3. A maior parte dos primeiros grandes pais da igreja rejeitou sua canonicidade.<br />4. Nenhum concílio da igreja os considerou canônicos senão no final do século IV.<br />5. Jerônimo, o grande especialista bíblico e tradutor da Vulgata, rejei¬tou fortemente os livros apócrifos.<br />6. Muitos estudiosos católicos romanos, ainda ao longo da Reforma, rejeitaram os livros apócrifos.<br />7. Nenhuma igreja ortodoxa grega, anglicana ou protestante, até a pre¬sente data, reconheceu os apócrifos como inspirados e canônicos, no sen¬tido integral dessas palavras. <br />À vista desses fatos importantíssimos, torna-se absolutamente necessário que os cristãos de hoje jamais usem os livros apócrifos como se fossem Palavra de Deus, nem os citem em apoio autorizado a qualquer doutrina cristã. <br />Com efeito, quando examinados segundo os critérios elevados de canonicidade, estabelecidos e discutidos, verificamos que aos livros apócrifos falta o seguinte:<br />1. Os apócrifos não reivindicam ser proféticos.<br />2. Não detêm a autoridade de Deus.<br />3. Contêm erros históricos (v. Tobias 1.3-5 e 14.11) e graves heresias teológicas, como a oração pelos mortos (2 Macabeus 12.45[46]; 4).<br />4. Embora seu conteúdo tenha algum valor para a edificação nos mo¬mentos devocionais, na maior parte se trata de texto repetitivo; são textos que já se encontram nos livros canônicos.<br />5. Há evidente ausência de profecia, o que não ocorre nos livros canônicos.<br />6. Os apócrifos nada acrescentam ao nosso conhecimento das verda¬des messiânicas.<br />7. O povo de Deus, a quem os apócrifos teriam sido originariamente apresentados, recusou-os terminantemente.<br /><br />A comunidade judaica nunca mudou de opinião a respeito dos livros apócrifos. Alguns cristãos têm sido menos rígidos e categóricos; mas, seja qual for o valor que se lhes atribui, fica evidente que a igreja como um todo nunca aceitou os livros apócrifos como Escrituras Sagradas.Pastor Pedrohttp://www.blogger.com/profile/14959296050649164906noreply@blogger.com87tag:blogger.com,1999:blog-129497258255618826.post-74996747214380067022007-09-17T10:47:00.000-03:002007-09-17T11:15:24.751-03:00Aula 6<a href="http://www.fotosearch.com.br/thumb/PSK/PSK134/1574R-05113.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px;" src="http://www.fotosearch.com.br/thumb/PSK/PSK134/1574R-05113.jpg" border="0" alt="" /></a><br /><strong>Desenvolvimento do Cânon do Antigo Testamento</strong><br />A história da canonização da Bíblia é incrivelmente fascinante. Trata-se de um livro escrito e coligido ao longo de quase dois mil anos, sem que cada autor estivesse consciente de como sua contribuição, i.e como seu "capítulo" se enquadraria no plano global. Cada contribuição profética era entregue ao povo de Deus simplesmente com base no fato de que Deus havia falado a esse povo mediante o profeta. De que maneira a mensagem se encaixaria na história total era algo que o profeta desconhecia inteiramente, e até mesmo para os crentes que de início ouviam, liam e reconheciam a mensagem. Somente a consciência dos cristãos, capazes de refletir nisso, em época posterior, é que poderia perceber a mão de Deus movimentando cada autor, mão que também moveria a cada um para produzir uma história global sobre a redenção de que só Deus mesmo poderia ser o autor. Nem os profetas que compuseram os livros, nem o povo de Deus que veio coligindo esses livros tiveram consciência de estar edificando a unidade global dentro da qual cada livro desempenharia uma função.<br /><br /><strong>Algumas distinções preliminares</strong><br />Deus inspirou os livros, o povo original de Deus reconheceu-os e coligiu-os, e os crentes de uma época posterior os distribuíram por categorias, como livros canónicos, de acordo com a unidade global que neles entreviam. Eis o resumo da história da canonização da Bíblia. Vamos agora explicar em detalhes algumas distinções importantes, implícitas nesse processo.<br /><br /><strong>Os três passos mais importantes no processo de canonização</strong><br />Há três elementos básicos no processo genérico de canonização da Bíblia: a inspiração de Deus, o reconhecimento da inspiração pelo povo de Deus e a coleção dos livros inspirados pelo povo de Deus. Um breve estudo de cada elemento mostrará que o primeiro passo na canonização da Bíblia (a inspiração de Deus) cabia ao próprio Deus. Os dois passos seguintes (reconhecimento e preservação desses livros), Deus os incumbiria a seu povo. <br /><br /><em>Inspiração de Deus</em>. Foi Deus quem deu o primeiro passo no processo de canonização, quando de início inspirou o texto. Assim, a razão mais fundamental por que existem 39 livros no Antigo Testamento é que só esses livros, nesse número exato, é que foram inspirados por Deus. É evidente que o povo de Deus não teria como reconhecer a autoridade divina num livro, se ele não fosse revestido de nenhuma autoridade.<br /><br /><em>Reconhecimento por parte do povo de Deus</em>. Uma vez que Deus houvesse autorizado e autenticado um documento, os homens de Deus o reconheciam. Esse reconhecimento ocorria de imediato, por parte da comunidade a que o documento fora destinado originariamente. A partir do momento que o livro fosse copiado e circulado, com credenciais da comunidade de crentes, passava a pertencer ao cânon. A igreja universal, mais tarde, viria a aceitar esse livro em seu cânon cristão. Os escritos de Moisés foram aceitos e reconhecidos em seus dias (Êx24.3), como também os de Josué (Js 24.26), os de Samuel (1Sm 10.25) e os de Jeremias (Dn 9.2). Esse reconhecimento seria confirmado também pelos crentes do Novo Testamento, e principalmente por Jesus. <br /><br /><em>Coleção e preservação pelo povo de Deus</em>. O povo de Deus entesourava a Palavra de Deus. Os escritos de Moisés eram preservados na arca (Dt 31.26). As palavras de Samuel foram colocadas "num livro, e o pôs pe¬rante o Senhor" (1Sm 10.25). A lei de Moisés foi preservada no templo nos dias de Josias (2Rs 23.24). Daniel tinha uma coleção dos "livros" nos quais se encontravam "a lei de Moisés" e "os profetas" (Dn 9.2,6,13). Esdras possuía cópias da lei de Moisés e dos profetas (Ne 9.14,26-30). Os crentes do Novo Testamento possuíam todas as "Escrituras" do Antigo Testamento (2Tm 3.16), tanto a lei como os profetas (Mt 5.17).<br /><br /><strong>A diferença entre os livros canônicos e outros escritos religiosos</strong><br />Nem todos os escritos religiosos dos judeus eram considerados canônicos pela comunidade dos crentes. É óbvio que havia certa importância religiosa em alguns livros primitivos como o livro dos justos (Js 10.13), o livro das guerras do Senhor (Nm 21.14) e outros (1Rs 11.41). Os livros apócrifos dos judeus, escritos após o encerramento do período do Antigo Testamento (c. 400 a.C), têm significado religioso definido, mas jamais foram considerados canônicos pelo judaísmo oficial. A diferença essencial entre escritos canónicos e não-canônicos é que aqueles são normativos (têm autoridade), ao passo que estes não são autorizados. Os livros inspirados exercem autoridade sobre os crentes; os não-inspirados poderão ter algum valor devocional, ou para a edificação espiritual, mas jamais devem ser usados para definir ou delimitar doutrinas. Os livros canónicos fornecem o critério para a descoberta da verdade, mediante o qual todos os demais livros (não-canônicos) devem ser avaliados e julgados. Nenhum artigo de fé deve basear-se em documen¬to não-canônico, não importando o valor religioso desse texto. Os livros divinamente inspirados e autorizados são o único fundamento para a dou¬trina. Ainda que determinada verdade canónica receba algum apoio complementar da parte de livros não-canônicos, tal verdade de modo algum confere valor canônico a tais livros. Esse apoio terá sido puramente histórico, destituído de valor teológico autorizado. A verdade transmitida pelas Escrituras Sagradas, e por nenhum outro meio, é que constitui cânon ou fundamento das verdades da fé.<br /><br /><strong>A diferença entre canonização e categorização dos livros da Bíblia</strong><br />A incapacidade de distinguir as seções em que se divide o Antigo Testamento hebraico (lei, profetas e escritos) dos estágios ou períodos em que a coleção de livros se formou tem causado muita confusão. Durante anos, a teoria modelar da crítica tem sustentado que as Escrituras hebraicas haviam sido canonizadas por seções, seguindo as datas alegadas de sua composi¬ção: a lei (c. 400 a.C.), os profetas (c. 200 a.C.) e os escritos (c. 100 a.C.). Essa teoria originou-se na crença errônea, segundo a qual essa categorização tripartida do Antigo Testamento representava seus estágios de canonização. Como veremos mais a frente, não existe relação direta entre essas categorias e os acontecimentos. Os livros das Escrituras judaicas foram reagrupados várias vezes desde quando foram redigidos. Alguns deles, de modo especial os que fazem parte dos escritos, foram redigidos e aceitos pela comunidade judaica séculos antes das datas que os teóricos da crítica lhes atribuem.<br /><br /><strong>Compilação progressiva dos livros do Antigo Testamento</strong><br />O primeiro e mais fundamental fato a respeito do processo de canonização dos livros do Antigo Testamento é que essa primeira seção da Bíblia não se constitui de três partes, mas, quando muito, de duas. As referências mais antigas e mais repetidas do cânon empregam as seguin¬tes expressões: "Moisés e os profetas", "os profetas" ou simplesmente "os livros". Em nenhuma parte das Escrituras, quer na literatura extrabíblica, quer no período inicial da era cristã, existe alguma prova do chamado terceiro estágio canônico, constituído de escritos que teriam sido compostos e coligidos após a época da lei e dos profetas. No que diz respeito à canonicidade, os chamados escritos sempre fizeram parte da seção canônica comumente denominada profetas.<br /><br /><strong>A evidência de um cânon constituído de duas partes</strong><br /><br /><em>A classificação tríplice</em>. No entanto, até mesmo antes da época do Novo Testamento, havia uma tradição crescente, segundo a qual haveria uma terceira seção que compreendia alguns livros do Antigo Testamento. No prólogo do livro apócrifo Siraque (c. 132 a.C), há referência à "lei e os profetas e os outros livros de nossos pais", lidos por seu avô (c. 200 a.C.). Por volta da época de Cristo, o filósofo judeu Filo fez uma distinção tríplice do Antigo Testamento, ao falar de "[1] leis e [2] oráculos transmitidos pela boca dos profetas, e [3] salmos e qualquer outra coisa que estimule e aperfeiçoe o conhecimento e a vida consagrada" (De vita contemplativa, 3,25). O próprio Jesus fez alusão a uma divisão tríplice, quando falou: "na lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos" (Lc 24.44). Mais tarde um pouco, no século 1, Josefo, o historiador judeu, referiu-se aos 22 livros das Escrituras hebraicas, "cinco pertencentes a Moisés [...] os profetas [...] em treze livros. Os quatro livros restantes [aparentemente Jó, Salmos, Pro¬vérbios e Eclesiastes] contêm hinos a Deus, e preceitos para a conduta humana (Contra Ápion, 1,8). Por volta do século V d.C, o Talmude judaico (Baba Bathrá) relacionou onze livros numa terceira divisão chamada os Escritos (Kethubhim). A Bíblia hebraica relaciona-os da mesma forma até hoje, como vimos na aula 1.<br />Várias conclusões muito importantes podem ser tiradas desses da¬dos. Primeira: os fatos não mostram que a atual classificação de escritos, que contêm 11 dos 22 livros, é anterior ao século V d.C. Segunda: a referência mais antiga, segundo a qual a classificação dos livros possui uma terceira divisão, recua até Josefo, que apresenta quatro seções. Essa é uma forte evidência contra a reivindicação dos críticos, segundo os quais Daniel, Crónicas, Esdras e Neemias teriam sido livros posteriores, relacio¬nados entre os escritos que não haviam sido canonizados senão no sécu¬lo I d.C. Terceira: do total de 22 livros, alguns dos quais teriam sido colocados na seção dos escritos, só havia quatro no início, chegando a onze entre os séculos I e V. Nenhum desses fatos dá apoio à concepção de que houvesse um grupo de livros, dentre os quais Daniel, Crônicas, Esdras e Neemias, não incluídos no cânon judaico até o século 1 d.C. É certo que houve uma tendência no início para colocar os livros do Antigo Testa-mento numa classificação tríplice (por razões que não se entendem totalmente), e o número de livros nessa seção foi crescendo com o passar dos anos. Todavia, o número e as diferentes disposições desses livros não tinham nenhuma relação essencial com a divisão dupla, básica, nem com o desenvolvimento do cânon do Antigo Testamento.<br /><br /><em>A canonização em duas partes</em>. As referências mais antigas e persistentes ao cânon do Antigo Testamento mostram que se tratava de uma coletânea de livros proféticos com duas divisões, a lei de Moisés e os profetas que surgiram depois dele. Vamos rastrear essas evidências na história.<br />Antes mesmo do exílio (século VI a.C.), já havia indícios de uma classificação dos livros em duas seções: Moisés e os profetas depois dele.<br />Explica-se isso pela atribuição de uma posição especial a Moisés, o gran¬de legislador, e por causa do estabelecimento de uma comunidade de profetas depois de Moisés (1Sm 19.20). Pela época do exílio, Daniel se referira aos "livros", os quais seriam os da "lei de Moisés" e "os profetas" (Dn 9.2,6,11). O profeta pós-exílio Zacarias (século VI a.C.) menciona: "... não ouvissem a lei, nem as palavras que o Senhor dos exércitos enviara pelo seu Espírito mediante os profetas" (Zc 7.12). Neemias faz a mesma distinção (Ne 9.14,29,30).<br />Durante o período intertestamentário, prossegue essa mesma distinção dupla. Deus falava mediante "a lei e os profetas" (2Mc 15.9). O Manual de disciplina da comunidade de Qumran, coerentemente, se refere ao Antigo Testamento como a lei e os profetas (1.3; 8.15; 9.11). Por fim, no Novo Testamento essa distinção dupla de lei e profetas é mencionada pelo menos dezenas de vezes.<br />Vários fatos significativos brotam de um estudo das referências do Novo Testamento à "lei" e aos "profetas". Em primeiro lugar, trata-se de uma expressão que abrange todos os livros do cânon hebraico. Lembremo-nos de que cerca de 18 dos 22 livros do Antigo Testamento Hebraico são mencionados autorizadamente no Novo Testamento (todos, menos Juizes, Crônicas, Ester e Cântico dos Cânticos). Embora não haja citação clara desses quatro livros, há alusões a eles. Quando Jesus disse: "A lei e os profetas duraram até João" (Lc 16.16,29,31), estava referindo-se a todos os escritos inspirados anteriores aos tempos do Novo Testamento. Mateus 22.40 traz a mesma alusão: "Destes dois mandamen¬tos [sobre o amor] depende toda a lei e os profetas". Jesus usou a mesma expressão quando ressaltou as verdades abrangentes, messiânicas, do Antigo Testamento: "E começando por Moisés, e por todos os profetas, explicou-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras" (Lc 24.27). Lucas informa-nos que "a lei e os profetas" eram lidos na sinagoga no sábado (At 13.15). Ao tentar convencer os judeus de que era completamente ortodoxo, o apóstolo Paulo afirmou crer "em tudo que está escrito na lei e nos profetas" (Lc 24.14; cf. 26.22). As referências ao Antigo Testamento como a lei e os profetas no sermão do monte é de importância crucial (Mt 5.17; cf. Rm 1.2). Declarou Jesus: "Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim para destruí-los, mas para cumpri-los. Em verdade vos digo que até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido" (Mt 5.17,18). Uma declaração forte como essa dificilmente estaria deixando de lado uma parte das Escrituras judaicas, mas abrangendo todos os livros.<br />A partir desses fatos, chegamos à conclusão de que a referência modelar a todo o cânon das Escrituras do Antigo Testamento edifica-se so¬bre a distinção entre Moisés e os profetas que viriam depois. Isso se iniciou numa época anterior ao exílio e estabeleceu-se sistematicamente até a época de Cristo. Visto que o Novo Testamento cita de modo específico todos os 22 livros do cânon hebraico, reconhecido pelos judeus do século I d.C, chegamos também à conclusão de que os limites, ou a extensão, desse cânon foram definidos para nós. O cânon hebraico contém todos os 24 livros que posteriormente (século V d.C.) seriam relacionados em categorias tríplices: a lei, os profetas e os escritos. Assim, seja qual for a origem da tendência para dividir os dezenove "profetas" em duas seções de “oito profetas e onze escritos", sabemos, sem sombra de dúvida, não ser essa a base de um desenvolvimento progressivo do cânon, em três estágios, que só se completaria quando os escritos viessem a ser aceitos no século I d.C.<br /><br /><strong>O desenvolvimento do cânon do Antigo Testamento</strong><br />Não existem dados suficientes para compor a história completa da formação do cânon do Antigo Testamento. No entanto, existem dados disponíveis que permitem traçar um esquema global e ilustrar alguns elos de vital importância. O resto precisa ser projetado, lançando mão do exercício de julgamento racional. O primeiro fator significativo no desenvolvimento do cânon do Antigo Testamento foi a coleção progressiva dos livros proféticos. Tais livros foram preservados como escritos divinos autorizados.<br /><br /><em>A evidência da coleção progressiva dos livros proféticos</em>. Desde o início, os escritos proféticos foram reunidos pelo povo de Deus e reverenciados como escritos sagrados, autorizados, de inspiração divina. As leis de Moisés foram preservadas ao lado da arca no tabernáculo de Deus (Dt 31.24-26) e, mais tarde, no templo (2Rs 22.8). Josué acrescentou suas palavras "no livro da lei de Deus. Então tomou uma grande pedra, e a erigiu ali [...] junto ao santuário do Senhor" (Js 24.26). Samuel informou aos israelitas a respeito dos deveres de seu rei "e escreveu-o num livro, e o pôs perante o Senhor" (1Sm 10.25).<br />Samuel cuidava de uma escola de profetas, cujos alunos eram chamados "filhos dos profetas" (1Sm 19.20). De acordo com Ezequiel, havia um registro oficial de profetas e seus escritos no templo (Ez 13.9). Daniel refere-se aos “livros” que continham a “lei de Moisés” e os “Profetas” (9.2,6,11).<br />Os autores dos livros de Reis e Crónicas estavam cientes da existência de muitos livros escritos pelos profetas que narravam toda a história anterior ao exílio.<br />Essa evidência genérica da existência de uma coleção progressiva de<br />livros proféticos se confirma pelo uso específico de escritos de profetas antigos feito por profetas que viriam mais tarde. Os livros de Moisés são citados por todo o Antigo Testamento, desde Josué (1.7) até Malaquias (4.4), incluindo-se a maior parte dos grandes livros intermediários (1Rs 2.3; 2Rs 14.6; 2Cr 14.4; Jr 8.8; Dn 9.11; Ed 6.18 e Ne 13.1). Em Juizes 1.1,20,21 e 2.8, há referências a Josué e a acontecimentos narrados em seu livro. Os livros de Reis citam a vida de Davi conforme narrada nos livros de Samuel (v. 1Rs 3.14; 5.7; 8.16; 9.5). Crónicas faz uma revisão da história de Israel registrada desde Gênesis até Reis, incluindo-se o elo genealógico mencionado apenas em Rute (1Cr 2.12,13). Neemias 9 resume a história de Israel conforme o registro de Gênesis a Esdras. Um dos salmos de Davi, o salmo 18, está registrado em 2 Samuel 22. Há referências aos Provérbios de Salomão e ao Cântico dos Cânticos em 1Reis 4.32. Daniel cita Jeremias 25 (Dn 9.2). O profeta Jonas recita parte de muitos salmos (Jn 2). Ezequiel menciona Jó e Daniel (Ez 14.14, 20). Nem todos os livros de determinada época são mencionados em livros de época posterior; todavia, há menções suficientes para demonstrar que existia uma coleção crescente de livros divinamente inspirados, dotados da autoridade divina, de que os profetas subsequentes faziam uso, citando-os em suas profecias.<br /><br /><em>A evidência da continuidade profética</em>. Houve, pois, uma coleção crescente de escritos proféticos: o Antigo Testamento em formação. Cada profeta que surgia ligava sua história aos elos da história existente, narrada pelos seus predecessores, formando uma corrente contínua de livros.<br />Visto que o último capítulo de Deuteronômio não se apresenta como profecia, entendemos que Moisés não escreveu a respeito de seu próprio sepultamento. É provável que Josué, seu sucessor nomeado por Deus, tenha registrado a morte de Moisés (Dt 34). O primeiro versículo de Josué está ligado a Deuteronômio: "Depois da morte de Moisés, servo do Senhor, disse o Senhor a Josué, filho de Nun...". Josué acrescentou algum texto ao de Moisés e colocou-o no tabernáculo (Js 24.26). Juizes retoma o texto no final de Josué, dizendo: "Depois da morte de Josué, os filhos de Israel perguntaram ao Senhor...". Todavia, o registro não ficou completo senão nos dias de Samuel. Isso se demonstra repetidamente pela declaração : "Naqueles dias não havia rei em Israel" (Jz 17.6; 18.1; 19.1; 21.25).<br />A essa altura, a continuidade profética se estabeleceu mediante uma escola dirigida por Samuel (1Sm 19.20). Dessa escola haveria de surgir uma série de livros proféticos que cobririam toda a história dos reis de Israel e de Judá como a amostragem seguinte nos ilustra:<br />1. A história de Davi foi escrita por Samuel (cf. 1Sm), por Natã e por Gade (1Cr 29.29).<br />2. A história de Salomão foi registrada pelos profetas Natã, Aias e Ido (2Cr 9.29).<br />3. Os atos de Roboão foram escritos por Semaías e por Ido (2Cr 12.15)<br />4. A história de Abias foi acrescentada pelo profeta Ido (2Cr 13.22).<br />5. A história do reinado de Josafá foi registrada pelo profeta Jeú (2Cr 20.34).<br />6. A história do reinado de Ezequias foi registrada por Isaías (2Cr 32.32).<br />7. A história do reinado de Manassés foi registrada por profetas anô¬nimos (2Cr 33.19).<br />8. Os demais reis também tiveram suas histórias narradas pelos profetas (2Cr 35.27).<br /><br />Qualquer pessoa que esteja familiarizada com os livros bíblicos que abrangem o período de Davi até o exílio, verá que os livros proféticos relacionados acima não são idênticos aos livros de Samuel, Reis e Crónicas. Em cada caso repete-se que "o resto dos atos" do rei Fulano de Tal está escrito "no livro" do profeta Beltrano. Os livros bíblicos parecem resumos proféticos tirados de textos mais longos, registrados por profetas posteriores, numa sucessão iniciada por Samuel.<br />É interessante ressaltar que não houve menção de Jeremias, o qual escreveu antes do exílio judaico e, durante esse exílio, escreveu uma dessas histórias. No entanto, Jeremias era um profeta escritor, como mostram seus livros (Jeremias e Lamentações) e como ele claramente afirma em numerosas ocasiões (cf. Jr 30.2; 36.1,2; 45.1,2; 51.60,63). Aliás, o escriba Baruque nos informa que Jeremias contava com a ajuda de um secretário. Falando de Jeremias, ele confessa: "Com sua boca ditava-me todas estas palavras, e eu as escrevia no livro com tinta" (Jr 36.18; v. tb. 45.1). Além disso, o último capítulo de Reis corresponde aos textos de Jeremias 52, 39, 40 e 41. Esses são outros indícios de que Jeremias era responsável por ambos os livros. Mais tarde, no exílio, Daniel afirma ter tido acesso aos livros de Moisés e dos profetas. Menciona não só Jeremias, dentre eles, mas cita a predição do cativeiro de setenta anos, extraída do capítulo 25 (cf. Dn 9.2,6,11). Com base nesses fatos, é razoável supor que o resumo dos escritos proféticos, que tomou a forma dos livros bíblicos dos Reis, teria sido obra de Jeremias. Assim, a continuidade dos profetas a partir de Moisés, Josué e Samuel se completaria com as obras de Jeremias.<br />Durante o exílio, Daniel e Ezequiel continuaram o ministério profético. Ezequiel reconheceu um registro oficial de profetas nos arquivos do templo. Ele declarou que os falsos profetas "na congregação do meu povo não estarão, nem serão inscritos nos registros da casa de Israel" (Ez 13.9). Ezequiel referiu-se a Daniel por nome como notável servo de Deus (Ez 14.14,20). Visto que Daniel possuía uma cópia dos livros de Moisés e dos profetas, entre os quais o livro de Jeremias, podemos presumir razoavelmen¬te que a comunidade judaica no exílio babilónico possuía os livros de Gênesis a Daniel.<br />Depois do exílio, Esdras, o sacerdote, voltou da Babilónia levando consigo os livros de Moisés e dos profetas (Ed 6.18; Ne 9.14,26-30). Nos livros de Crônicas, sem dúvida, ele registrou seu relato sacerdotal da história de Judá e do templo (v. Ne 12.23). Crônicas está ligado a Esdras-Neemias pela repetição do último versículo de um, como o primeiro versículo do outro.<br />Com Neemias completa-se a cronologia profética. Cada profeta, desde Moisés até Neemias, contribuiu para a coleção sempre crescente de livros, que fora preservada pela comunidade dos profetas a partir de Samuel. Os 22 (24) livros das Escrituras hebraicas foram escritos por profetas, preservados pela comunidade dos profetas, e reconhecidos pelo povo de Deus. Até agora não existem evidências de que outros livros, chamados "escritos", houvessem alcançado canonização depois dessa época (c. 400 a.C.)<br /><br /><em>A evidência de que o cânon do Antigo Testamento se concluiu com os profetas</em>. Até agora mostramos que as Escrituras hebraicas como um todo haviam sido coligidas em duas grandes seções: os cinco livros de Moisés e os dezessete (ou dezenove) profetas que sucederam a Moisés. Demonstramos também que houve continuidade nesses escritos proféticos. Cada profeta apoiou-se na autoridade dos escritos anteriores, de outros profe¬as, e acrescentou sua contribuição à crescente coleção das Escrituras Sagradas. Na época de Neemias (c. 400 a.C.), a sucessão profética havia produzido e coligido os 22 livros do cânon hebraico. Vamos agora comprovar esta última argumentação, e demonstrar que não havia uma terceira seção do cânon, escrita e reconhecida, depois dessa época. As evidências, resumidamente, são as seguintes:<br /><br />1. Não se explorou o chamado Concílio de Jâmnia (c. 90 d.C.), época em que, segundo se afirma, a terceira seção dos escritos teria sido canonizada. Para os judeus, não houve um concílio autorizado. Realizou-se apenas uma reunião de especialistas. Assim, não houve um oficial, nem corpo de oficiais dotados de autoridade, a fim de reconhecer o cânon. Por isso, não houve canonização de livros em Jâmnia.<br /><br />2. 0 livro de Daniel, que na opinião da alta crítica pertencia à seção de escritos, porquanto era tido como livro mais recente (século II a.C.) e não-profético, havia sido relacionado por Josefo entre os livros dos profetas. Dos 22 livros, dissera Josefo, só quatro, talvez Jó, Salmos, Provérbios e Eclesiastes, pertenciam à terceira seção. Daniel, sendo um dos outros li¬vros, deve ter sido relacionado entre os profetas, por Josefo. A descoberta de um fragmento antigo de Daniel, entre os rolos do mar Morto, e a referência que Jesus fez a Daniel como profeta confirmam essa posição.<br /><br />3. O Novo Testamento cita quase todos os livros do cânon hebraico, mesmo os chamados escritos. No entanto, o Novo Testamento relaciona-os a todos claramente sob a dupla classificação de lei e profetas (cf. Mt 7.12; Mt 22.40; Lc 16.16).<br /><br />4. O livro de Salmos, relacionado na terceira seção por Josefo, fazia parte dos profetas. Jesus usou a expressão "Moisés [...] Profetas e [...] Salmos" num paralelismo com a expressão "Moisés e todos os profetas" (Lc 24.27,44). Jesus falou aos judeus e citou um salmo, dizendo: "está escrito na vossa lei" (Jo 10.34,35), identificando-a como Escrituras, a Palavra de Deus. Tudo isso mostra com máxima clareza que os Salmos faziam parte das Escrituras judaicas canônicas, conhecidas como "a Lei e os Profetas". Na verdade, o Novo Testamento com toda a autoridade cita os Salmos como Escrituras, mais do que qualquer outro livro do Antigo Testamento. Isso também comprova que os Salmos eram considerados canônicos antes de 100 a.C.<br /><br />5. De acordo com Josefo (Contra Ápíon, 1,8) e com oTalmude, a sucessão de profetas encerrou-se com Malaquias nos dias de Neemias. Assim registra o Talmude: "Depois dos últimos profetas, Ageu, Zacarias e Malaquias, o Espírito Santo apartou-se de Israel". Além disso, jamais o Novo Testamento cita algum outro livro, depois de Malaquias, como autorizado.<br /><br /><strong>Conclusão:</strong><br />Nossa investigação demonstra que, no que diz respeito às evidências, o cânon do Antigo Testamento se completou por volta de 400 a.C. Havia duas seções principais: a lei e os profetas. Quase todos os 22 (24) livros distribuídos entre as duas seções são mencionados pelo Novo Testamento como Sagradas Escrituras. Não existe apoio escriturístico nem histórico para a teoria de uma terceira divisão conhecida como "escritos", que estaria aguardando canonização em data posterior. Em vez disso, os livros inspirados foram incorporados ao cânon sob a denominação de “a Lei e os profetas". Essa canonização foi um processo duplo. Sejam quais forem os fatores que conduziram a uma categorização tríplice, paralela e subsequente desses livros do Antigo Testamento, um fato parece salientar-se com toda clareza — o cânon completo do Antigo Testamento é men¬cionado sempre como "a lei e os profetas". Q.e.d.Pastor Pedrohttp://www.blogger.com/profile/14959296050649164906noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-129497258255618826.post-9494364229741301112007-09-11T22:14:00.003-03:002009-09-14T09:30:30.806-03:00Aula 5 - AS CARACTERÍSTICAS DA CANONICIDADE<a href="http://www.fotosearch.com.br/thumb/DSN/DSN103/1771508.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 120px; height: 80px;" src="http://www.fotosearch.com.br/thumb/DSN/DSN103/1771508.jpg" border="0" alt="" /></a><br />Que livros fazem parte da Bíblia? Que diremos a respeito dos cha¬mados livros ausentes? Como foi que a Bíblia veio a ser composta de 66 livros? Nas próximas aulas trataremos de responder a essas perguntas. Esse assunto intitula-se canonicidade. Trata-se do segundo grande elo da corrente que vem de Deus até nós. A inspiração é o meio pelo qual a Bíblia recebeu sua autoridade: a canonização é o processo pelo qual a Bíblia recebeu sua aceitação definitiva. Uma coisa é um profeta receber uma mensagem da parte de Deus, mas coisa bem diferente é tal mensagem ser reconhecida pelo povo de Deus. Canonicidade é o estudo que trata do reconhecimentp e da compilação dos livros que nos foram dados por inspiração de Deus.<br /><br /><strong>Definição de canonicidade</strong><br />A palavra cânon deriva do grego <em>kanõn</em> ("cana, régua"), que, por sua vez, se origina do hebraico <em>kaneh</em>, palavra do Antigo Testamento que significa "vara ou cana de medir" (Ez 40.3). Mesmo em época anterior ao cristia¬nismo, essa palavra era usada de modo mais amplo, com o sentido de padrão ou norma, além de cana ou unidade de medida. O Novo Testamento emprega o termo em sentido figurado, referindo-se a padrão ou regra de conduta (Gl 6.16).<br /><br /><strong>O Emprego da palavra "cânon" pelo cristão da Igreja primitiva</strong><br />Nos primórdios do cristianismo, a palavra cânon significava "regra" de fé, ou escritostos normativos (i.e., as Escrituras autorizadas). Por volta da época de Atanásio (c. 350), o conceito de cânon bíblico, ou de Escrituras normativas, já estava em desenvolvimento. A palavra cânon aplicava-se à Bíblia tanto no sentido ativo como no passivo. No sentido ativo, a Bíblia é o cânon pelo qual tudo o mais deve ser julgado. No sentido passivo, cânon significava a regra ou padrão pelo qual um escrito deveria ser julgado inspirado, ou dotado de autoridade. Esse emprego em duas direções causa certa confusão, que tentaremos dissipar. Primeiramente, vamos verificar o que significa cânon em <br />sentido ativo. Em seguida, verificaremos seu sentido passivo.<br /><br /><strong>Alguns sinônimos de canonicidade</strong><br />A existência de um cânon, ou coleção de escritos autorizados, antecede o uso do termo cânon. A comunidade judaica coligiu e preservou as Escrituras Sagradas desde o tempo de Moisés.<br />Escrituras Sagradas. Um dos conceitos mais antigos de cânon foi o de escritos sagrados. O fato de os escritos de Moisés serem considerados sagrados se demonstra pelo lugar santo em que eram guardados, ao lado da arca da aliança (Dt 31.24-26). Depois que o templo foi edificado, esses escritos sagrados foram preservados em seu interior (2Rs 22.8). A consideração especial dada a esses livros especiais mostra que eram tidos como canónicos, ou sagrados.<br />Escritos autorizados. A canonicidade das Escrituras também é designada autoridade divina. A autoridade dos escritos mosaicos foi salientada perante Josué e perante Israel (Js 1.8). Todos os reis de Israel foram exortados a esse respeito: "Quando se assentar no trono do seu reino, escreverá para si num livro uma cópia desta lei [...]. Conservará a cópia consigo, e a lerá todos os dias de sua vida, para que aprenda a temer ao Se¬nhor seu Deus, e a guardar todas as palavras desta lei..." (Dt 17.18,19). Visto que esses livros vieram da parte de Deus, vieram revestidos de sua autoridade. Sendo escritos dotados de autoridade, eram canónicos, i.e, normativos, para o crente israelita.<br />Livros que conspurcam as mãos. Na tradição de ensino de Israel, surgiu o conceito de livros tão sagrados, ou santos, que aqueles que os usassem ficariam com as mãos "conspurcadas". Assim diz o Talmude: "O evangelho e os livros dos hereges não maculam as mãos; os livros de Ben Sira e quaisquer outros livros que tenham sido escritos desde sua época não são canônicos" (Tosefta Yadaim, 3,5). Ao contrário, os livros do Antigo Testamento hebraico, na verdade, tornam imundas as mãos, porque são santos. Por isso, só os livros que exigissem que seu leitor passasse por uma cerimônia especial de purificação é que eram considerados canónicos.<br />Livros proféticos. Como já dissemos antes, determinado livro só era considerado inspirado se escrito por um profeta, ou porta-voz de Deus. As obras e as palavras dos falsos profetas eram rejeitadas e jamais agrupadas e guardadas num lugar santo. De fato, segundo Josefo (Contra Ápion, 1,8), só os livros que haviam sido redigidos durante o período profético, de Moisés até o rei Artaxerxes, podiam ser canônicos. Assim se expressou Josefo: "Desde Artaxerxes até a nossa época tudo tem sido registrado, mas nada foi considerado digno do mesmo crédito das obras do passado, visto que a sucessão exata de profetas cessou". Foram canónicos apenas os livros de Moisés a Malaquias, pois só esses foram escritos por homens em sucessão profética. Do período de Artaxerxes (século IV aC.) até Josefo (século I dC.), não houve sucessão profética; por isso, não faz parte do período profético. O Talmude faz a mesma afirmação, dizendo: "Até esta altura [século iv a.C.] os profetas profetizavam mediante o Espírito Santo; a partir desta época inclinai os vossos ouvidos e ouvi as palavras dos sábios" (Seder Olam Rabba, 30). Portan¬to, para ser canônico, qualquer livro do Antigo Testamento deveria vir de uma sucessão profética, durante o período profético.<br /><br /><strong>A determinação da canonicidade</strong><br />Essas considerações em torno da canonicidade ajudam-nos a esclarecer o que significa Escrituras canônicas. A confusão existente entre os sentidos ativo e passivo da palavra cânon trouxe anbiguidade à questão do que determina a canonicidade de um livro.<br /><br /><strong>Alguns conceitos deficientes sobre o que determina a canonicidade</strong><br />Foram apresentadas várias opiniões a respeito do que determina a canonicidade de um escrito. Essas posições confundem os cânones, ou regras, mediante as quais o crente descobre que determinado livro é inspirado (sentido passivo da palavra cânon), com os cânones dos escritos normativos que foram descobertos (sentido ativo da palavra cânon). Assim, tais teorias são insatisfatórias quanto aos conceitos sobre o que determina a canonicidade de um livro. Vamos examiná-las de modo sucinto.<br /><br />A concepção de que a idade determina a canonicidade. A teoria segundo a qual a canonicidade de um livro é determinada pela sua antiguidade, que tal livro veio a ser venerado por causa de sua idade, erra o alvo por duas razões. Primeira: muitos livros velhíssimos, como o livro dos justos e o livro das guerras do Senhor (Js 10.13 e Nm 21.14) nunca foram aceitos no cânon. Em segundo lugar, há evidências de que os livros canônicos foram introduzidos no cânon imediatamente, e não depois de haverem envelhecido. É o caso dos livros de Moisés (Dt 31.24-26), de Jeremias (Dn 9.2) e dos escritos dp Novo Testamento produzidos por Paulo (2Pe 3.16).<br /><br /><em>A concepção de que a língua hebraica determina a canonicidade</em>. É insatisfatória também a teoria segundo a qual os livros que fossem escritos em hebraico, a língua "sagrada" dos hebreus, seriam considerados sagrados, e os que houvessem sido escritos em outra língua não seriam introduzidos no cânon. A verdade é que nem todos os livros redigidos em hebraico foram aceitos, como é o caso dos livros apócrifos e de outros documentos antigos não-bíblicos (v. Js 10.13). Além disso, há seções de alguns livros aceitos no cânon sagrado que não foram escritas em hebraico (Daniel 2.4b-7.28 e Esdras 4.8—6.18; 7.12-26 foram escritos em aramaico).<br /><br /><em>A concepção de que a concordância do texto com a Torat determina a sua canonicidade</em>. Esta é uma visão errônea, concernente à Torat (lei de Moisés). Nem é necessário mencionar que quaisquer textos que contradigam a Torat deviam ser rejeitados, tendo em vista a crença de que Deus não poderia contradizer-se em suas revelações posteriores. Essa teoria, porém, despreza duas questões de grande importância. Em primeiro lugar, não era a Torat que determinava a canonicidade dos escritos que lhe sucederam. Antes, o fator determinante da canonicidade da Torat era o mesmo que determinaria a de todas as demais Escrituras Sagradas, a saber, que os escritos fossem inspirados por Deus. Em outras palavras, a concepção de que a concordância com a Torat determina a canonicidade de um documento é insatisfatória porque não explica o que foi que determinou a canonicidade da Tora. Em segundo lugar, tal teoria é demasiado generalizante. Muitos outros textos que estavam de acordo com a Tora não foram aceitos como inspirados. Os pais judeus criam que seu Talmude e Midrash concordavam com a Torat, mas jamais os consideraram canônicos. O mesmo vale dizer de muitos escritos cristãos em relação ao Novo Testamento.<br /><br /><em>A concepção de que o valor religioso determina a canonicidade</em>. Essa é outra hipótese: que o valor religioso de um livro determina sua inclusão no cânon sagrado. Outra vez temos aqui o carro adiante dos bois. É axiomático afirmar que, se um livro não tiver algum tipo de valor espiritual, deve ser rejeitado e eliminado do cânon. Também é verdade que nem todos os livros que possuem algum valor espiritual sejam automaticamente canônicos, como o comprovam alguns tesouros da literatura judeu-cristã, dos quais são alguns apócrifos. O fato mais importante, no entanto, é que essa teoria faz confusão entre causa e efeito. Não é o valor religioso que determina a canonicidade de um texto; é sua canonicidade que determina seu valor religioso. De forma mais precisa, não é o valor de um livro que determina sua autoridade divina, mas a autoridade divina é que determina seu valor.<br /><br /><strong>A canonicidade é determinada pela inspiração</strong><br />Os livros da Bíblia não são considerados oriundos de Deus por se haver descoberto neles algum valor; são valiosos porque provieram de Deus — fonte de todo bem. O processo mediante o qual Deus nos concede sua revelação chama-se inspiração. É a inspiração de Deus num livro que determina sua canonicidade. Deus dá autoridade divina a um livro, e os homens de Deus o acatam. Deus revela, e seu povo reconhece o que o Senhor revelou. A canonicidade é determinada por Deus e descoberta pelos homens de Deus. A Bíblia constitui o "cânon", ou "medida" pela qual tudo mais deve ser medido e avaliado pelo fato de ter autoridade concedida por Deus. Sejam quais forem as medidas (i.e., os cânones) usadas pela igreja para descobrir com exatidão que livros possuem essa autoridade canônica ou normativa, não se deve dizer que "determinam" a canonicidade dos livros. Dizer que o povo de Deus, mediante quaisquer regras de reconhecimento, "determina" que livros são autorizados por inspiração de Deus só confunde a questão. Só Deus pode conceder a um jivro autoridade absoluta e, por isso mesmo, canonicidade divina. O sentido primário da palavra cânon aplicado às Escrituras é aplicado na acepção ativa, i.e., a Bíblia é a norma que governa a fé. O sentido secundário, segundo o qual um livro é julgado por certos cânones e é reconhecido como inspirado (o sentido passivo), não deve ser confundido com a determinação divina da canonicidade. Só a inspiração divina determina a autoridade de um livro, i.e., se ele é canónico, de natureza normativa.<br /><br /><strong>A descoberta da canonicidade</strong><br />O povo de Deus tem desempenhado um papel de cabal importância no processo de canonização, ao longo dos séculos, ainda que tal papel não tenha natureza determinadora. A comunidade de crentes arca com a tarefa de chegar a uma conclusão sobre quais livros são realmente de Deus. A fim de cumprir esse papel, a igreja deve procurar certas características próprios da autoridade divina. Como poderia alguém reconhecer um livro inspirado só por vê-lo? Quais são os elementos característicos que distinguem uma declaração de Deus de um enunciado meramente humano? Vários critérios estavam em jogo nesse processo de reconhecimento.<br /><br /><strong>Os princípios de descoberta da canonicidade</strong><br />Nunca deixaram de existir falsos livros e falsas mensagens. Por representarem ameaça constante, fez-se necessário que o povo de Deus revisse cuidadosamente sua coleção de livros sagrados. Até mesmo os livros aceitos por outros crentes, ou em tempos anteriores, foram posteriormente questionados pela igreja. São discerníveis cinco critérios básicos, presentes no processo como um todo: 1) O livro é autorizado —afirma vir da parte de Deus? 2) É profético — foi escrito por um servo de Deus,? 3) É digno de confiança — fala a verdade acerca de Deus, do homem etc.? 4) É dinâmico — possui o poder de Deus que transforma vidas? 5) É aceito pelo povo de Deus para o qual foi originariamente escrito — é reconhecido como proveniente de Deus?<br /><br /><em>A autoridade de um livro</em>. Como demonstramos antes, cada livro da Bíblia traz uma reivindicação de autoridade divina. Com frequência a expressão categórica "assim diz o Senhor" está presente. Às vezes o tom e as exortações revelam sua origem divina. Sempre existe uma declaração divina. Nos escritos mais didáticos (os de ensino), existe uma declaração divina a respeito do que os crentes devem fazer. Nos livros históricos, as exortações ficam mais implícitas, e as declarações autorizadas são mais a respeito do que Deus tem feito na história de seu povo (que é "a história narrada por Deus"). Se faltasse a um livro a autoridade de Deus, esse era considerado não-canônico, não sendo incluído no cânon sagrado.<br />Vamos ilustrar esse princípio de autoridade no que se relaciona ao cânon. Os livros dos profetas eram facilmente reconhecidos como canónicos por esse princípio de autoridade. A expressão repetida "e o Senhor me disse" ou "a palavra do Senhor veio a mim" é evidência abundante de sua autoridade divina. Alguns livros não tinham nenhuma reivindicação de origem divina, pelo que foram rejeitados e tidos como não-canônicos. Talvez tenha sido o caso do livro dos justos e do livro das guerras do Senhor. Outros livros foram questionados e desafiados quanto à sua autoridade divina, mas por fim foram aceitos no cânon. É o caso de Ester. Não antes de se tornar perfeitamente patente que a proteção Deus e, portanto, as declarações do Senhor a respeito de seu povo estavam inquestionavelmente presentes em Ester, recebeu este livro lugar permanente no cânon judaico. Na verdade, o simples fato de alguns li¬vros canónicos serem questionados quanto à sua legitimidade é uma segurança de que os crentes usavam seu discernimento. Se os crentes não estivessem convencidos da autoridade divina de um livro, este era rejeitado.<br /><br /><em>A autoria profética de um livro</em>. Os livros proféticos só foram produzi¬dos pela atuação do Espírito, que moveu alguns homens conhecidos como profetas (2Pe 1.20,21). A Palavra de Deus só foi entregue a seu povo mediante os profetas de Deus. Todos os autores bíblicos tinham um dom profético, ou uma função profética, ainda que tal pessoa não fosse profe¬ta por ocupação (Hb 1.1).<br />Paulo exorta o povo de Deus em Galatas, dizendo que suas cartas deveriam ser aceitas porque ele era apóstolo de Cristo. Suas cartas não foram produzidas por um homem comum, mas por um apóstolo; não "por homem algum, mas por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos" (Gl 1.1). Suas cartas deviam ser acatadas porque eram apostólicas — saíram de um porta-voz de Deus, ou profeta de Deus. Todos os livros deveriam ser rejeitados caso não proviessem de profetas no¬meados por Deus; essa era a advertência de Paulo. Os crentes não deviam aceitar livros de alguém que falsamente afirmasse ser apóstolo de Cristo (2Ts 2.2), conforme advertência de Paulo também em 2Coríntios 11.13 a respeito dos falsos profetas. As advertências de João sobre os falsos messias e para que os crentes provassem os espíritos enquadram-se nessa mesma categoria (IJo 2.18,19 e 4.1-3). Foi por causa desse princípio profético que a segunda carta de Pedro foi objetada por alguns da igreja primitiva. Enquanto os pais da igreja não ficaram convencidos de que essa carta não havia sido forjada, mas de fato viera da mão do apóstolo Pedro, como seu primeiro versículo o menciona, ela não recebeu lugar permanente no cânon cristão.<br /><br /><em>A confiabilidade de um livro</em>. Outro sinal característico da inspiração é ''ser um livro digno de confiança. Todo e qualquer livro que contenha erros factuais ou doutrinários (segundo o julgamento de revelações anteriores) não pode ter sido inspirado por Deus. Deus não pode mentir; a palavras do Senhor só podem ser verdadeiras e coerentes.<br />À vista desse princípio, os crentes de Beréia aceitaram os ensinos de Paulo e pesquisaram as Escrituras, para verificar se o que o apóstolo estava ensinando estava de fato de acordo com a revelação de Deus no Antigo Testamento (At 17.11). O mero fato de um texto estar de acordo com uma revelação anterior não indica que tal texto é inspirado. Mas a contradição de uma revelação anterior sem dúvida seria indício de que o ensino não era inspirado.<br />Grande parte dos apócrifos foi rejeitada por causa do princípio da confiabilidade.Suas anomalias históricas e heresias teológicas os rejeitaram; seria impossível aceitá-los como vindos de Deus, a despeito de sua aparência de autorizados. Não podiam vir de Deus e ao mesmo tempo apresentar erros,<br />Alguns livros canônicos foram questionados com base nesse mesmo princípio. Poderia a carta de Tiago ser inspirada, se contradissesse o ensino de Paulo a respeito da justificação pela fé e nunca pelas obras? Até que a compatibilidade essencial entre os autores se comprovasse, a carta de Tiago foi questionada por alguns estudiosos. Outros questionaram Judas por causa de sua citação de livros não-confiáveis, pseudepigráficos (vv. 9,14). Desde que ficasse entendido que as citações feitas por Judas não podiam conferir nenhuma autoridade àqueles livros, assim como as citações feitas por Paulo, de poetas não-cristãos (v. tb. At 17.28 e Tt 1.12), não poderia conferir a esses nenhuma autoridade, nenhuma razão have¬ria para que a carta de Judas fosse rejeitada.<br /><br /><em>A natureza dinâmica de um livro</em>. O quarto teste de canonicidade, às vezes menos explícito do que alguns dos demais, era a capacidade do texto de transformar vidas "... a palavra de Deus é viva e eficaz..." (Hb 4.12). O resultado é que ela pode ser usada "para ensinar, para repreen¬der, para corrigir e para instruir em justiça" (2Tm 3.16,17).<br />O apóstolo Paulo revelou-nos que a habilidade dinâmica das Escrituras inspiradas estava implicada na aceitação das Escrituras como um todo, como mostra 2Timóteo 3.16,17. Disse Paulo a Timóteo: "... as sagradas letras [...] podem fazer-te sábio para a salvação..." (v. 15). Em outro texto, Pedro se refere ao poder de evangelização e de edificação cristã da Pala¬vra (IPe 1.23; 2.2). Outros livros e mensagens foram rejeitados porque apresentavam falsas esperanças (lRs 22.6-8) ou faziam rugir alarmes falsos (2Ts2.2).Assim, não conduziam o crente ao crescimento na verdade de Jesus Cristo. Assim dissera o Senhor: "Conhecereis a verdade, e a ver¬dade vos libertará" (Jo 8.32). O ensino falso jamais liberta; só a verdade possui poder emancipador.<br />Alguns livros da Bíblia, como Cântico dos Cânticos e Eclesiastes, foram questionados por alguns estudiosos os julgarem isentos desse poder dinâmico, capaz de edificar o crente. Desde que se convenceram de que o Cântico dos Cânticos não era sensual, mas profundamente espiritual, e que Eclesiastes não é um livro cético e pessimista, mas positivo e edificante (e.g., 12.9,10), pouca dúvida restou acerca de sua canonicidade.<br /> <em>A aceitação de um livro</em>. A marca final de um documento escrito autorizado é seu reconhecimento pelo povo de Deus ao qual, originariamente, se havia destinado. A Palavra de Deus, dada mediante seus profetas e contendo sua verdade, deve ser reconhecida pelo seu povo. Gerações posteriores de crentes procuraram constatar esse fato. É que, se determinado livro fosse recebido, coligido e usado como obra de Deus, pelas pessoas a quem originariamente se havia destinado, ficava comprovada a sua canonicidade. Sendo o sistema de comunicações e de transportes atrasado como era nos tempos antigos, às vezes a determinação da canonicidade de um livro da parte dos pais da igreja exigia muito tempo e esforço. É por essa razão que o reconhecimento definitivo, completo, por toda a igreja cristã, dos 66 livros do cânon das Escrituras Sagradas exigiu tantos anos.<br />Os livros de Moisés foram aceitos imediatamente pelo povo de Deus. Foram coligidos, citados, preservados e até mesmo impostos sobre as novas gerações. As cartas de Paulo foram recebidas imediatamente pelas igrejas às quais haviam sido dirigidas (1Ts 2.13), e até pelos demais apóstolos (2Pe 3.16). Alguns escritos foram imediatamente rejeitados pelo povo de Deus, por não apresentarem autoridade divina (2Ts 2.2) Os falsos profetas (Mt 7.21-23) e os espíritos de mentira deveriam ser testados e rejeitados (IJo 4.1-3), como se vê em muitos exemplos den¬tro da própria Bíblia (cf. Jr 5.2; 14.14) Esse princípio de aceitação levou alguns a questionar durante algum tempo certos livros da Bíblia, como 2 e 3 João. São de natureza particular e de circulação restrita; é compreensível, pois, que houvesse alguma relutância em aceitá-los, até que essas pessoas em dúvida tivessem absoluta certeza de que tais livros haviam sido recebidos pelo povo de Deus do século 1 como cartas do apóstolo João.<br />É quase desnecessário dizer que nem todas as pessoas deram pronto reconhecimento às mensagens dos profetas de Deus. Deus assumia a de¬fesa rigorosa de seus profetas, contra todos quantos os rejeitassem (e.g., IRs 22.1-38). E, quando o Senhor era desafiado, mostrava quem era seu povo. Quando a autoridade de Moisés foi desafiada por Coré e seus asseclas, a terra se abriu e os engoliu vivos (Nm 16). O papel do povo de Deus era decisivo no reconhecimento da Palavra de Deus. O próprio Deus havia determinado a autoridade que envolvia os livros do cânon que ele inspirara, mas o povo de Deus também havia sido chamado para essa tarefa: descobrir quais eram os livros dotados de autoridade, e quais eram falsos. Para auxiliar o povo de Deus nessa descoberta, havia cinco testes de canonicidade.<br /><br /><strong>O procedimento para a descoberta da canonicidade</strong> <br />Quando nos pomos a discorrer sobre o processo de canonização, não devemos imaginar uma comissão de pais da igreja, carregando pilhas de livros, tendo diante dos olhos a lista desses cinco princípios orientadores. Tampouco houve uma comissão ecuménica nomeada com o objetivo de canonizar a Bíblia. O processo era muitíssimo natural e dinâmico. O desenvolvimento da história real da criação do cânon do Antigo e do Novo Testamento será discutido mais tarde. O que devemos registrar aqui é como as cinco regras determinadoras da canonicidade foram usadas no processo de descobrir que livros eram inspirados por Deus, sendo, por isso, canônicos.<br />Alguns princípios estão apenas implícitos no processo. Embora todos os cinco elementos estejam presentes em cada documento escrito e inspirado, nem todas as regras de reconhecimento ficam visíveis na decisão sobre a provável (ou improvável) inspiração de cada livro. Nem sempre parecia imediatamente óbvio ao antigo povo de Deus que determinado livro fosse "dinâmico" ou "autorizado". Era lhes mais óbvio o fato de um livro ser "profético" e "aceito". Você pode ver facilmente como a ex¬pressão implícita "assim diz o Senhor" desempenhava papel de grande importância na descoberta e na determinação dos livros canónicos, reveladores do plano redentor global de Deus. No entanto, às vezes acontecia o contrário; em outras palavras, o poder e a autoridade de um livro eram mais visíveis do que sua autoria (e.g., Hebreus). De qualquer maneira, todas as cinco características estavam presentes na descoberta e na determinação de cada livro canônico, ainda que alguns desses princípios só fossem aplicados de modo implícito.<br />Alguns princípios atuavam de modo negativo no processo. Algumas das regras de reconhecimento atuavam de modo rnais negativo que outras. Por exemplo, o princípio da confiabilidade eliminava mais depressa os livros não-canônicos, não tendo a mesma rapidez para indicar os canónicos. Não existem ensinos falsos que, apesar disso, sejam canônicos; no entanto, há muitos escritos que expõem a verdade sem jamais terem sido inspirados. De modo semelhante, muitos livros que edificam, ou apresentam dinâmica espiritual positiva, não são canônicos, embora nenhum livro canônico deixe de ter importância no plano salvífico de Deus.<br />Semelhantemente, um livro pode reivindicar autoridade sem ser inspirado por Deus, como o mostram os muitos livros apócrifos, mas nenhum livro pode ser canônico sem que seja revestido de autoridade divina. Em outras palavras, se a um livro faltar autoridade, é certo que não veio de Deus. Mas o simples fato de um livro reivindicar autoridade para si mesmo não o torna, <em>ipso facto</em>, inspirado. O princípio da aceitação tem função primordialmente negativa. Nem mesmo o fato de um livro receber aceitacão de parte do povo de Deus significa prova de sua inspiração. <br />Muitos anos depois, passadas algumas gerações de cristãos, alguns destes, mal-informados a respeito da aceitação ou da rejeição pelo povo de Deus dos livros propostos, atribuíram reconhecimento local, temporal a certos livros não-canônicos (e.g., alguns livros apócrifos). O simples fato de um livro qualquer ter sido aceito em algum lugar, por alguns crentes em Cristo, de modo algum constitui prova da canonicidade e da inspiração de tal livro. O reconhecimento inicial de um derminado livro, pelo povo de Deus, que estava na melhor posição possível para testar a autoridade profética desse livro, é elemento de cabal importância. Levou algum tempo até que todos os segmentos das gerações posteriores de cristãos ficassem totalmente informados a respeito das circunstâncias iniciais. Assim, a aceitação por parte desses cristãos posteriores é importante, mas funciona como apoio adicional.<br /><br /><em>O princípio realmente essencial substitui todos os demais princípios</em>. No alicerce de todo o processo de reconhecimento existe um princípio fundamental — o da natureza profética do livro. Se um livro houver sido escrito por um profeta prestigiado e honrado de Deus, e se ele afirmar que presentará uma enunciação autorizada da parte de Deus, nem há necessidade de formular as demais perguntas. E claro que o povo de Deus reconheceu esse livro como poderoso e verdadeiro, quando lhes foi entregue por um profeta de Deus. Quando não havia confirmação direta da vocação desse profeta da parte de Deus (como frequentemente havia, cf. Êx 4.1-9), então a confiabilidade, a habilidade dinâmica desse livro e sua aceitarão pelo povo, ou seja, pela comunidade cristã original, seria elemento ssencial para o reconhecimento posterior de sua inspiração.<br />A questão de poder ou não falta de confiabilidade afastar a confirmação de um livro profético é puramente hipotética. Nenhum livro concedido por Deus pode ser falso. Se um livro que se considera profético apresenta falsidade inquestionável, é preciso que se reexaminem suas credenciais proféticas. Deus não pode mentir. Dessa forma, os outros quatro princípios servem para conferir o caráter profético dos livros do cânon.Pastor Pedrohttp://www.blogger.com/profile/14959296050649164906noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-129497258255618826.post-52783909131543098672007-09-08T23:24:00.000-03:002008-12-11T20:32:44.859-03:00A Origem de Satanás (texto complementar)<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidS2RG1Geta-eXE1IhDb9Xo3v79ZpAd-Pm-MZnXgS8b7EeltON6uAUF1kO1d7891BF2xFkx4UB3eadl9vIk8_58IlQRS496N2NshdMzOh1W4zB-db1zNMi35DPU1PXkP2MKcmxncuJOWtu/s1600-h/65835_wallpaper110.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidS2RG1Geta-eXE1IhDb9Xo3v79ZpAd-Pm-MZnXgS8b7EeltON6uAUF1kO1d7891BF2xFkx4UB3eadl9vIk8_58IlQRS496N2NshdMzOh1W4zB-db1zNMi35DPU1PXkP2MKcmxncuJOWtu/s200/65835_wallpaper110.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5108026623259201026" /></a><br />Em algumas obras de referência bíblica, comumente encontramos a palavra "Satanás" explicada da seguinte maneira: <br />— O Velho Testamento indica que Satanás foi criado por Deus como um anjo governante chamado Lúcifer, com grandes poderes. Mas o orgulho levou Lúcifer a se rebelar contra Deus, conforme está em Isaías 14:12-14 e em Ezequiel 28:12-15. Torcido pelo pecado, Lúcifer é transformado em Satanás, que quer dizer `inimigo´ ou `adversário´ ...Satanás é um poderoso anjo decaído, intensamente hostil a Deus e antagonista do povo de Deus.<br />Assim, se perguntarmos à maioria das pessoas que crêem na Bíblia, de onde veio Satanás, nove entre dez dirão algo semelhante ao que acabamos de ler. <br />A idéia de que Satanás é um anjo decaído a quem Deus expulsou do céu e que caiu na terra é tão divulgada que muitas pessoas acreditam que a Bíblia ensina isso. Mas, a verdade é outra. A Bíblia não ensina tal coisa. É certo que há passagens na Bíblia que falam de seres caindo do céu, mas estas passagens não são sobre Satanás, e tais passagens usam linguagem figurada, como veremos. <br />Somente através de uma leitura descuidada destes textos pode alguém chegar à história popular relativa à origem de Satanás. Vamos examinar as passagens bíblicas que são importantes sobre esse assunto para que os irmãos compreendam bem o que queremos dizer.<br /><br /><strong>Quem é Satanás?</strong><br />O nome "Satanás" é uma representação da palavra hebraica satan, significando aquele que é acusador no sentido legal. Ou seja, um queixoso que tem uma acusação a apresentar diante de um tribunal ou de alguém. <br />Em Zc 3:1 lemos — Deus me mostrou o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do Anjo do SENHOR, e Satanás estava à mão direita dele, para se lhe opor. <br />Ou seja, Satanás se opõe a nós, trabalha contra nós, ou "nos persegue", na tentativa de nos derrotar espiritual e moralmente. Neste sentido, Jesus chamou Satanás de homicida e de mentiroso, conforme está em Jo 8:44. <br />Em Ap 12:9, João retrata Satanás como um grande dragão, uma representação que ressalta a sua natureza terrível. Esse mesmo verso identifica Satanás, também, como a serpente, numa referência a Gênesis 3, e como o diabo, que é outro nome bíblico comum para ele. <br />Talvez, 1 Pe 5:8 nos diga o que mais precisamos saber a respeito de Satanás — O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar.<br />Agora, reparem, a ênfase bíblica está no que Satanás é em relação a nós, ou seja, um inimigo. Algumas pessoas, entretanto, pensam que certos textos bíblicos nos dizem como Satanás veio a se tornar assim. <br />Vamos, então, examinar estes textos cuidadosamente, para que não fique qualquer dúvida na nossa cabeça.<br /><br /><strong>1º - Isaías 14:12-14</strong><br />Esta passagem diz: — Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações! Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.<br />Reparem que esta passagem não menciona Satanás por nenhum de seus nomes bíblicos. Somente assumindo que esta passagem descreve Satanás é que poderíamos extrair deste texto uma teoria da origem de Satanás. Mas, isso não pode ser feito porque teríamos que ignorar o contexto da passagem na mensagem de Isaías.<br />Vejam que Isaías não estava falando sobre Satanás nesse capítulo 14, nem tampouco a origem de Satanás faz parte da mensagem do profeta. Se dissermos que este texto é sobre a origem de Satanás, isso simplesmente torna sem sentido o contexto da mensagem. <br />Isaías, reparem, profetizou durante os reinados dos reis Uzias, Jotão, Acaz, e Ezequias (Is 1:1). Seu ministério abrangeu, aproximadamente, os anos 750 - 686 a.C., uns 65 anos, no máximo. Naquele tempo, o povo de Deus tinha se corrompido pela idolatria. <br />Deus, então, enviou Isaías para pregar o arrependimento ao seu povo e para adverti-lo de que, se eles não abandonassem a idolatria, haveria um desastre em escala nacional. <br />Isaías pregou a ambos os reinos, de Israel e de Judá, cumprindo sua missão, dizendo ao povo que eles sofreriam terrivelmente se recusassem arrepender-se. <br />Is 10:5-6 resume a mensagem ao reino do norte, dizendo — Ai da Assíria, cetro da minha ira! A vara em sua mão é o instrumento do meu furor. Envio-a contra uma nação ímpia e contra o povo da minha indignação lhe dou ordens, para que dele roube a presa, e lhe tome o despojo, e o ponha para ser pisado aos pés, como a lama das ruas. <br />Em linguagem semelhante, Is13:3-6 fala ao reino do sul, o reino contra o qual Deus enviaria os babilônios — Eu dei ordens aos meus consagrados, sim, chamei os meus valentes para executarem a minha ira, os que com exultação se orgulham. Já se ouve sobre os montes o rumor como o de muito povo, o clamor de reinos e de nações já congregados. O SENHOR dos Exércitos passa revista às tropas de guerra. Já vêm de um país remoto, desde a extremidade do céu, o SENHOR e os instrumentos da sua indignação, para destruir toda a terra. Uivai, pois está perto o Dia do SENHOR; vem do Todo-Poderoso como assolação. <br />Reparem que a mensagem de Isaías não era somente de desânimo e condenação. Os assírios e os babilônios eram, simplesmente, instrumentos que Deus usaria para punir o seu povo. Uma vez que Deus tivesse usado essas nações para seus propósitos, Ele se voltaria e aplicaria seu julgamento sobre eles, pela impiedade deles próprios. <br />Essa é, portanto, uma mensagem da soberania de Deus em ação. A Babilônia cairia e, depois disso, Deus renovaria e reuniria seu povo e lhes daria uma gloriosa e nova existência. <br />Isaías 14 é, assim, uma mensagem sobre a queda do império babilônico. Isaías diz aos habitantes do reino de Judá que, depois que eles tivessem sofrido o castigo, viria o dia quando eles poderiam ver a queda de seu opressor e mangar de Babilônia do mesmo modo como Babilônia havia mangado de Judá. <br />Dessa maneira, reparem, por que motivo Isaías começaria o capítulo falando sobre a queda de Babilônia, interromperia com uma descrição da origem de Satanás, e então recomeçaria a falar sobre a queda de Babilônia novamente? <br />Simplesmente, não faz qualquer sentido no contexto, ver 14:12-14 como sendo um texto sobre a origem de Satanás. <br />O fato é que Isaías estava descrevendo, para povo de Judá, o que eles estariam dizendo quando zombassem do rei de Babilônia que tinha sido rebaixado e decaído do poder (v.4). As posições iriam se inverter, e Isaías está, justamente, descrevendo a ironia de tudo isso. <br />Até mesmo uma leitura corrida da passagem revela que a linguagem aqui é poética e figurativa, e temos que tratá-la de acordo. <br />"Céu" no (v.12) é linguagem figurativa para significar o que é alto e exaltado, e Isaías está aqui descrevendo a alta consideração em que o rei de Babilônia era tido. O profeta descreve sua queda do poder, figurativamente, como uma queda do céu. Então, ele chama o rei de Babilônia, também usando linguagem figurada, de "estrela da manhã". <br />Na sua glória, durante algum tempo, o soberano de Babilônia era como uma estrela brilhante no céu. Contudo, seu reinado e seu poder cairiam, e, mantendo as mesmas imagens, Isaías pinta sua extinção como se fora uma estrela cadente.<br />Uma parte da incompreensão desta passagem é resultado do aparecimento da palavra "Lúcifer" em algumas versões do v.12. A palavra hebraica é helel, que significa "estrela da manhã" e não tem nenhuma ligação com Satanás. <br />Aliás, "Lúcifer" é uma velha palavra latina que originalmente significava "portador da luz", e era o nome do planeta Vênus sempre que aparecia no céu matinal. Na época que esta palavra foi usada nas traduções deste versículo, "Lúcifer" não significava Satanás. Infelizmente, para muitas pessoas, hoje em dia, Lúcifer é o nome de Satanás, justamente, porque Isaías 14:12-14 é aceito, erradamente, como sendo sobre Satanás! <br />Agora, reparem. Não é porque os tradutores erraram, mas porque pessoas de tempos posteriores, ou esqueceram o que lúcifer significava, ou concluíram erradamente que era o nome de Satanás.<br />Isaías 14:13 fala da soberba e da arrogância do rei babilônico. Certa vez, ele pensou que era o maior do mundo, que tinha poder e autoridade igual à do próprio Deus. Uma das características do retrato profético de Babilônia é seu grande orgulho. Todavia, Deus rebaixaria seu rei ao mais baixo nível imaginável para a mente hebraica: ao Sheol, o reino dos mortos (v.15). <br />Os v.9-11 descrevem como os habitantes do Sheol ficariam surpresos porque alguém que pensava ser tão "alto" estava agora entre eles, num lugar tão "baixo". <br />O importante observar é que o rei de Babilônia foi do extremo da exaltação mundana até a extrema humilhação, e isto era um feito de Deus, o julgamento de Deus. A passagem toda é, portanto, um quadro, uma imagem, e não uma narrativa histórica literal. <br />A ênfase está no contraste entre as condições do soberano babilônico "antes" e "depois". As pessoas, então, olhariam para o fracasso do rei babilônico e perguntariam: "É este o homem que fazia a terra tremer, que sacudia reinos, que fazia do mundo um deserto, derrubava suas cidades, que não permitia aos seus prisioneiros voltar para casa?" (v.16-17).<br />Vemos, então, que quando examinamos Isaías 14:12-14 em seu contexto, ele não nos diz nada sobre a origem de Satanás. É uma descrição figurativa da queda do rei de Babilônia.<br /><br /><strong>Outra suposta passagem sobre a origem de Satanás é</strong>: <br />Ezequiel 28:12-16, onde se lê: — ... Assim diz o SENHOR Deus: Tu és o sinete da perfeição, cheio de sabedoria e formosura. Estavas no Éden, jardim de Deus; de todas as pedras preciosas te cobrias: o sárdio, o topázio, o diamante, o berilo, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo e a esmeralda; de ouro se fizeram os engastes e os ornamentos; no dia em que foste criado, foram eles preparados. Tu eras querubim da guarda ungido, e te estabeleci; permanecias no monte santo de Deus, no brilho das pedras andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniqüidade em ti. Na multiplicação do teu comércio, se encheu o teu interior de violência, e pecaste; pelo que te lançarei profanado fora do monte de Deus, e te farei perecer, ó querubim da guarda, em meio ao brilho das pedras.<br />Reparem que a referência ao Éden é, para muitas pessoas, um indicador seguro de que esta passagem tem que ser sobre a origem de Satanás. Assim, vejam, para estas pessoas não importa que Satanás já fosse o inimigo do homem no Éden! Mas, novamente, é somente aceitando que esta passagem é sobre Satanás (a própria coisa que precisa ser provada) que podemos lê-la desse modo. O contexto aqui argumenta em outra direção.<br />As palavras de Ezequiel nessa passagem falam a respeito do rei de Tiro. Os v.1-11 tornam isto claro. Reparem que o capítulo 27 é sobre a queda da nação, e o capítulo 28 é, especialmente, sobre a queda do rei dessa nação. <br />Se nós prestarmos um pouco de atenção ao contexto, veremos que tudo se esclarece! Exatamente como na passagem de Isaías, tomar as palavras do profeta como descritivas de Satanás e de sua "queda" é fazer deste capítulo um completo contra-senso.<br />Aqui, a mensagem está em duas partes, mas cada uma delas apresenta a mesma mensagem. Os versículos 1-10 descrevem o rei de Tiro do ponto de vista de Deus. <br />Reparem: Ez 28:1-10 diz — Veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: (2) Filho do homem, dize ao príncipe de Tiro: Assim diz o SENHOR Deus: Visto que se eleva o teu coração, e dizes: Eu sou Deus, sobre a cadeira de Deus me assento no coração dos mares, e não passas de homem e não és Deus, ainda que estimas o teu coração como se fora o coração de Deus - (3) sim, és mais sábio que Daniel, não há segredo algum que se possa esconder de ti; (4) pela tua sabedoria e pelo teu entendimento, alcançaste o teu poder e adquiriste ouro e prata nos teus tesouros; (5) pela extensão da tua sabedoria no teu comércio, aumentaste as tuas riquezas; e, por causa delas, se eleva o teu coração -, (6) assim diz o SENHOR Deus: Visto que estimas o teu coração como se fora o coração de Deus, (7) eis que eu trarei sobre ti os mais terríveis estrangeiros dentre as nações, os quais desembainharão a espada contra a formosura da tua sabedoria e mancharão o teu resplendor. (8) Eles te farão descer à cova, e morrerás da morte dos traspassados no coração dos mares. (9) Dirás ainda diante daquele que te matar: Eu sou Deus? Pois não passas de homem e não és Deus, no poder do que te traspassa. (10) Da morte de incircuncisos morrerás, por intermédio de estrangeiros, porque eu o falei, diz o SENHOR Deus. <br />Reparem que, da mesma maneira que o rei de Babilônia, o rei de Tiro era orgulhoso, arrogante e soberbo. Ele se achava divino, e assim declarava ter uma glória que não lhe pertencia (v.2,6,9). <br />O profeta descreve, com ironia, a grandeza do monarca nos (v.3-5). Pela sua arrogância, o orgulhoso rei colherá o julgamento de Deus. O julgamento sobre ele é que Deus o abaterá (v.7-10). <br />Os v.11-19 repetem esta mensagem. O retrato irônico que o profeta faz do rei reaparece nos v.12-16. O aumento no nível de imagens e figuras na linguagem aumenta ainda mais a ironia. O rei pensava sobre si mesmo em termos absolutamente altos, mas para Deus isto era pura loucura. A referência ao Éden, no v.13, não é literal, mas significa que o rei imaginava-se privilegiado, acima de todos os outros. Ele pensava que era especial, como querubim ungido de Deus, ou como alguém que vivesse na própria montanha de Deus (v.14). Ele se retratava nos termos mais gloriosos. Pela sua arrogância, Deus o julgaria severamente (v.16-19). Novamente, portanto, quando lemos esta passagem no seu contexto, vemos que ela não tem nada a ver com a origem de Satanás.<br /><br /><strong>Lucas 10:18</strong><br />Em Lc 10:18, Jesus diz: — Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago. <br />Aqueles que pensam que Satanás é um anjo rebelde decaído acreditam que este versículo estabelece o assunto convincentemente. Contudo, de novo, precisamos olhar para esta afirmação no seu contexto.<br />Em Lc 10:1 e seguintes, Jesus havia enviado setenta discípulos numa missão de pregação. Realmente, era mais do que apenas uma missão de pregação, pois Jesus também os enviou para curar e expulsar demônios (v.9,17). <br />Agora, reparem, é importante entender exatamente o que estes setenta discípulos cumpriram, e o que o próprio Jesus cumpriu em seu ministério. <br />Enquanto Jesus estava nesta terra, ele guerreou contra o reino de Satanás. Antes que Jesus pudesse estabelecer seu reino (o reino de Deus), ele precisava invadir o território do inimigo, vencê-lo e tornar o inimigo (Satanás) impotente e fraco. <br />Isto ele fez pregando o evangelho e demonstrando visivelmente seu poder. As curas milagrosas e, especialmente, a expulsão de demônios, não eram atos casuais de bondade, elas eram, em vez disso, assaltos diretos ao reino de Satanás. <br />Proclamando a "libertação dos cativos" no evangelho (Lc 4:18), Jesus estava proclamando a derrota de Satanás e do pecado. Jesus veio, justamente, libertar o homem do domínio de Satanás, um domínio resumido em pecado e morte.<br />É no contexto desta guerra espiritual que temos de entender os milagres associados com o ministério de Jesus e, mais tarde, dos apóstolos. Os milagres eram físicos, demonstrações visíveis, exemplos, ilustrações do que Jesus pode fazer pelos homens espiritualmente. <br />Em nenhum lugar isto fica mais claro do que na expulsão de demônios. A possessão por demônios era uma manifestação óbvia do domínio de Satanás sobre pessoas. Que maior domínio sobre uma pessoa Satanás poderia ter do que invadir seu corpo, através de um demônio, e comandar seus atos?<br />Quando Jesus expulsava demônios, ele estava libertando pessoas das garras de Satanás. Ele estava destruindo o domínio do Maligno sobre elas. Era uma demonstração especialmente clara, a nível físico, do poder do evangelho, e era uma ilustração de como Jesus podia libertar os homens do reino de Satanás e colocá-los sob o reino de Deus.<br />A mesma coisa é verdade, também, quanto às curas milagrosas de Cristo. Doença e morte eram manifestações do poder de Satanás sobre o homem. Curando os doentes, Jesus estava livrando pessoas do poder de morte exercido por Satanás, e, assim, vencendo o maligno. <br />Reparem o que Jesus disse sobre a mulher que tinha uma doença causada por um espírito em Lc 13:16 — ... esta filha de Abraão, a quem Satanás trazia presa há dezoito anos — não deveria ela ter sido libertada, no sábado? <br />Jesus estava demonstrando, em suas curas milagrosas, seu poder sobre Satanás, seu poder para livrar os homens do domínio de Satanás. A cura era, portanto, uma ilustração do que Jesus pode fazer por nós espiritualmente, através do evangelho. Assim, não é coincidência que Mateus ligue as atividades de pregar o evangelho e a cura dos doentes como está em (Mt 4:23) — Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda a sorte de doenças e enfermidades entre o povo. — Vejam que estas duas atividades andavam juntas muito naturalmente.<br />Quando os setenta discípulos retornaram, relataram seu grande sucesso a Jesus, regozijando-se porque — ... os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome! (Lc 10:17). <br />Jesus os havia enviado como um exército para invadir o território de Satanás e guerrear. Sua campanha tinha tido um tremendo sucesso. Satanás sofreu uma derrota com cada demônio que eles expulsaram. E, assim, Jesus respondeu com um reconhecimento (v.18-19) — Ele lhes disse: Eu via a Satanás caindo do céu como um relâmpago. Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo, e nada absolutamente vos causará dano.<br />Reparem a menção de Jesus a "... sobre todo o poder do inimigo". Satanás estava sendo derrotado no ministério de Jesus. Os setenta discípulos tinham compartilhado esse ministério, e isso culminaria na maior vitória sobre Satanás: a morte e a ressurreição de Cristo que decisivamente derrotaram o poder de Satanás de pecado e de morte, respectivamente. <br />Assim, quando Jesus diz: "... eu via a Satanás caindo do céu como um relâmpago", ele estava descrevendo quão grandemente seu ministério estava derrotando o poder de Satanás sobre os homens. <br />O poder de Satanás não mais seria incontestável e absoluto. Em sua obra, Cristo estava destruindo o aparentemente invencível poder do pecado e da morte. <br />Em uma linguagem que relembra Is 14:12-14, Jesus compara o poder anterior de Satanás a uma estrela, e essa estrela agora caiu. Apocalipse 9:12 e Mateus 24:29 também usam a imagem de uma estrela cadente para descrever a derrota do poder.<br />Portanto, novamente, o texto que, alegadamente, prova a origem do diabo não é sobre a origem de Satanás de modo nenhum. É somente introduzindo tal idéia no texto que ele pode prestar algum serviço a tal doutrina.<br />Analisamos Isaías 14:12-14 e mostramos que essa passagem fala sobre a queda do rei de Babilônia. Outra passagem que supostamente falaria sobre a origem de Satanás seria Ez 28:12-16. Mas, aqui também mostramos que se trata da queda do rei de Tiro...<br />Agora, iremos ver Apocalipse 12:7-9...<br />Talvez, esta seja a passagem mais popular quando se fala sobre a origem de Satanás. Apocalipse 12:7-9 diz: — Houve peleja no céu. Miguel e os seus anjos pelejaram contra o dragão. Também pelejaram o dragão e os seus anjos; (8) todavia, não prevaleceram; nem mais se achou no céu o lugar deles. (9) E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos.<br />Qualquer pessoa que tenha estudado um pouquinho do Livro do Apocalipse de João sabe que o Apocalipse está cheio de símbolos estranhos. <br />Assim, reparem que somente a pulso podemos considerar a linguagem simbólica de forma literal e, se ignorarmos o contexto, poderíamos talvez tirar uma história sobre a origem de Satanás deste texto.<br />O capítulo 12 de Apocalipse é uma descrição simbólica das circunstâncias espirituais que causaram a perseguição aos cristãos do primeiro século, mostrando o que os leitores de João enfrentaram. <br />João escreveu o Apocalipse para dar aos seus primeiros leitores uma visão de seu sofrimento, para que eles vissem o seu sofrimento num contexto mais amplo. Desta maneira, esses primeiros cristãos foram apanhados numa tremenda luta entre Deus e Satanás. O diabo estava tentando destruir a igreja, usando Roma como seu agente. <br />João, assim, estava dando aos seus leitores uma perspectiva de sua situação de maneira a poder ajudá-los a suportar as perseguições do Império Romano. <br />Assim, como uma descrição simbólica e figurativa, não devemos e não podemos ler essa passagem literalmente. Não devemos sequer tratar essa passagem como alguma espécie de narrativa cronológica e histórica do que havia acontecido.<br />Apocalipse 12 é, de fato, reconhecido pelos estudiosos como uma passagem difícil, mas as pessoas que vêem o livro do ponto de vista de seu contexto histórico, na sua grande maioria, concordam que ele fala sobre a vitória do povo de Deus e a derrota de seu inimigo, Satanás. <br />A primeira parte do capítulo (v.1-6) apresenta a história do nascimento de uma criança do sexo masculino que se torna o regente das nações. Esta imagem representa Cristo. <br />É uma alusão ao Salmo messiânico, Salmo 2, que diz nos (v.7-9) — Proclamarei o decreto do SENHOR: Ele me disse: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei. Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão. Com vara de ferro as regerás e as despedaçarás como um vaso de oleiro. <br />E Ap 12:5 confirma isto ao dizer — Nasceu-lhe, pois, um filho varão, que há de reger todas as nações com cetro de ferro. E o seu filho foi arrebatado para Deus até ao seu trono. <br />Entretanto, um grande dragão (Satanás) imediatamente desafia o aparecimento de Cristo na cena. O aparecimento de Jesus desencadeia uma grande guerra espiritual (v.7). Reparem que o domínio de Satanás sobre a situação humana não havia, até agora, sido contestado. <br />Mas, quando Cristo aparece, o poder de Satanás sobre o homem é efetivamente destruído, e Satanás sofre uma derrota esmagadora (v.9). <br />A história básica que João apresenta aqui (v.7s) é que Satanás perdeu sua tentativa de ganhar domínio sobre a humanidade. E as suas forças não são adversárias para Deus e seus exércitos. Ele não pode derrotar Deus e seu Filho. Numa grande destruição, Satanás é lançado abaixo, simbolizando sua ruína.<br />Que Satanás tenha sido atirado à terra é, de fato, algo significativo. É uma mudança na frente de batalha. Desde que Satanás não pôde derrotar Deus no reino espiritual, ele então volta sua atenção para o reino físico, onde ele espera ser vitorioso. <br />Reparem que é a mesma batalha pelo domínio espiritual, mas agora é uma batalha espiritual travada na terra. Agora, em vez de tentar destruir o Filho de Deus (tentativa que fracassou), Satanás tenta destruir o povo de Deus que vive na terra. <br />Satanás inunda, então, a terra com suas mentiras, enganos, tentações, e todo tipo de artimanhas, em seu esforço para destruir o povo de Deus, mas isto também fracassa conforme podemos ver nos (v.11,17) que dizem — (11) Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida... (17) Irou-se o dragão contra a mulher e foi pelejar com os restantes da sua descendência, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus; e se pôs em pé sobre a areia do mar. <br />Desta forma, não resta dúvida de que Ap 12:7-9 é sobre como Satanás foi derrotado esmagadoramente pelo advento e pela obra de Jesus Cristo. João escreveu isto para encorajar seus leitores que estavam sofrendo por causa do ataque de Satanás através de um poder mundial perverso, o poder do Império Romano. Eles poderiam suportar se soubessem que a vitória final seria deles. <br />Reparem que para aqueles primeiros cristãos, conhecer a origem de Satanás não teria efeito nenhum para encorajá-los a perseverar na fé, no meio das provações e das perseguições.<br />E agora? Vocês devem estar perguntando: Então, donde veio Satanás? Qual a sua origem?<br />Se nenhuma das passagens que são comumente citadas como relatos da origem de Satanás são realmente sobre sua origem, então donde ele veio? <br />Bem, estou certo de que a Bíblia não revela a resposta para nós exatamente. Podemos ter uma curiosidade sobre o assunto. É natural. Mas, temos que nos policiar para não permitir que tal curiosidade nos leve a encontrar respostas onde elas não se encontram.<br />O melhor que podemos fazer, eu penso, é deduzir umas poucas coisas sobre Satanás: <br />Primeiro, somente Deus (o Altíssimo) é incriado. Tudo o mais e todos no universo são criados. Portanto, Satanás é um ser criado. A Bíblia, em nenhum lugar diz que ele é um ser eterno como Deus. <br />Segundo, a Bíblia atribui onipotência somente a Deus (o Soberano). Portanto, Satanás não é um ser onipotente. Ainda que ele tenha grandes poderes. Deus, inclusive, limita o uso desses poderes conforme lemos em (1 Co 10:13) — Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar. <br />Terceiro, há seres que foram feitos e que existem acima do nível humano. Podemos chamá-los seres espirituais por falta de um termo melhor. Entre estes seres espirituais estão os anjos, mas estes, aparentemente, não são os únicos tipos de seres espirituais, conforme Ef 6:12 — porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. <br />A respeito desta ordem de seres, conhecemos mais sobre anjos do que os outros seres celestiais. O quadro que obtemos pela palavra de Deus é que os seres espirituais estão interessados em assuntos da terra e, às vezes, são até envolvidos neles. <br />Por exemplo, anjos mediaram a Lei de Moisés (Gálatas 3:19), anjos anunciaram a ressurreição de Cristo (Mateus 28:5), e anjos desejaram ver o cumprimento do plano de Deus de salvação (1 Pedro 1:12). <br />Quarto, embora isso possa ser uma especulação, também parece que seres espirituais, embora sejam criados, entretanto não são ligados em sua existência pelas limitações de tempo ou de idade.<br />A Bíblia em lugar nenhum identifica Satanás como um ser humano. Ele é, obviamente, um dos seres espirituais sobre os quais lemos na Bíblia. <br />Agora, reparem: Isto não quer dizer que Satanás seja um anjo. De fato, teria sido muito fácil, em qualquer dos contextos e para qualquer dos escritores, dizer que Satanás era um anjo, mas eles nunca disseram isso. <br />Satanás é, de fato, um ser espiritual, e a Bíblia o descreve como, entre outras coisas, "o príncipe da potestade do ar" (Ef 2:2). Vemos Satanás, pela primeira vez, no Jardim do Éden (Gênesis 3), justamente no começo da história humana, e ele tem existido continuamente desde então.<br />Quinto, os seres espirituais, como os seres humanos, têm vontade. Judas descreve o castigo dos anjos rebeldes no (v.6) de sua epístola, e Pedro fala de anjos pecando em 2 Pedro 2:4. Portanto, Satanás se opõe a Deus porque ele decidiu fazer isso. <br />Deus, certamente, não criou Satanás para o mal, ou como um ser mau, pois a Bíblia nos diz claramente que não há mal associado com Deus (Tiago 1:13; 1 João 1:5).<br />Parece, portanto, que o máximo que poderíamos dizer sobre a origem de Satanás é que ele é um ser criado, mas espiritual, que decidiu se opor a Deus, e que ele recruta outros seres espirituais e, também, seres humanos para guerrearem contra Deus. <br />Mais do que isto é só especulação. Desta forma, num sentido muito significativo, não importa de onde Satanás veio. A ênfase na Bíblia cai, isto sim, no que ele faz. Não é como ele veio a existir que preocupa. O que preocupa é o fato de que ele existe. Ele continua a trabalhar contra nós em sua tentativa de dominar a humanidade...<br />Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes (Ef 6:10-12). <br />Rev. Augustus Nicodemus (adaptado para o estudo por Rev. Pedro Corrêa Cabral).Pastor Pedrohttp://www.blogger.com/profile/14959296050649164906noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-129497258255618826.post-61142481972313069022007-09-03T13:24:00.003-03:002009-09-14T09:26:00.180-03:00Aula 4 - Evidências da Inspiração da Bíblia<a href="http://www.fotosearch.com.br/thumb/UNZ/UNZ220/u13947599.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 120px; height: 62px;" src="http://www.fotosearch.com.br/thumb/UNZ/UNZ220/u13947599.jpg" border="0" alt="" /></a><br />Os cristãos têm sido desafiados, ao longo dos séculos, a apresentar as razões em defesa de sua fé (IPe 3.15). Visto que as Escrituras se firmam nos alicerces da fé em Cristo, repousou sobre ombros dos apologistas cristãos a tarefa de apresentar evidências da ispiração divina da Bíblia. Reivindicar que a Bíblia é inspirada por Deus é uma coisa, mas comprovar essa reivindicação é coisa bem diferente. Antes de examinarmos as evidências que dão apoio à doutrina da inspiração da Bíblia, vamos resumir com precisão o que afirma a doutrina da inspiração.<br /><br /><strong>Resumo da reivindicação a favor da inspiração da Bíblia</strong><br />Não devemos confundir inspiração da Bíblia com inspiração poética. A inspiração que se atribui à Bíblia diz respeito à autoridade dada por Deus quanto a seus ensinos, os quais hão de formar o pensamento e a vida do crente.<br /><br /><strong>Explicação bíblica da inspiração</strong><br />A palavra inspiração significa "soprado por Deus", ou seja, "que passou pelo hálito de Deus". É o processo mediante o qual as Escrituras, a saber, os escritos sagrados, foram revestidos de autoridade divina no que concerne à doutrina e à prática (2Tm 3.16,17). Esse revestimento divino foi dado aos escritos, não aos escritores. No entanto, estes foram movidos pelo Espírito Santo para escreverem suas mensagens vindas de Deus. Por isso, a inspiração, quando vista como processo total, é fenómeno sobrenatural ocorrido quando escritores movidos pelo Espírito registraram mensagens sopradas por Deus. Existem três elementos nesse processo total de inspiração: a causa divina, a mediação profética e a resultante autoridade de que se reveste o documento.<br /><br /><strong>Os três elementos da inspiração. </strong><br />O primeiro elemento da inspiração é a sua causa: Deus, que a origina. Deus é a Força Primordial que moveu profetas e apóstolos a escrever. A motivação primária por trás dos escritos inspirados é o desejo de Deus de comunicar-se com o ser humano. O segundo fator é a mediação humana. A Palavra de Deus nos veio por meio de homens de Deus. Deus faz uso da pessoa humana como instrumento para transmitir sua mensagem. Por último, a mensagem profética escrita foi revestida de autoridade divina. As palavras dos profetas são a Palavra de Deus.<br /><br /><em>As características dos escritos inspirados</em>. A primeira característica da inspiração fica implícita no fato de que se trata de escrito inspirado, ou seja, é inspiração verbal. As próprias palavras dos profetas foram dadas por Deus mesmo, não ditadas, mas pelo emprego do vocabulário e do estilo dos próprios profetas, dirigidos pelo Espírito. A inspiração afirma ainda ser plenária (total, completa). Nenhum trecho das Escrituras foge ao al¬cance da inspiração divina. Assim escreveu Paulo: "Toda Escritura é divinamente inspirada". Além disso, a inspiração implica a inerrância dos ensinos dos documentos originais (chamados autógrafos). Tudo quanto Deus proferiu é verdadeiro e isento de erro, e a Bíblia é tida como enunciação de Deus. Por fim, a inspiração resulta na autoridade divina de que se revestem as Escrituras. O ensino da Bíblia se impõe ao crente no que tange à sua fé e prática.<br /><br /><strong>A reivindicação da Bíblia quanto à sua inspiração</strong><br />A inspiração não é algo que meramente os cristãos atribuam à Bíblia; é reivindicação que a própria Bíblia faz a respeito de si mesma. Há prati¬camente centenas de referências no texto da Bíblia que afirmam sua ori¬gem divina.<br /><br /><em>A reivindicação da inspiração do Antigo Testamento</em>. O Antigo Testamento afirma ser um documento com mensagem profética. A expressão muito comum "assim diz o SENHOR" enche suas páginas. Os falsos profetas e suas obras foram excluídos da casa do Senhor. As profecias que comprovadamente provinham de Deus foram preservadas em lugar especial, sagrado. Essa coleção de escritos sagrados que ia aumentando foi reconhecida e muito citada como Palavra de Deus.<br />Jesus e os autores do Novo Testamento tinham esses escritos na mais alta conta; para eles, não podiam ser revogados por serem a própria Palavra de Deus, cheia de autoridade e de inspiração. Mediante numerosas referências ao Antigo Testamento como um todo, a suas seções básicas e a praticamente cada um de seus livros, os autores do Novo Testamento atestaram com toda a força e convicção a certeza da inspiração divina de que se reveste o Antigo Testamento.<br /><br /><em>A reivindicação da inspiração do Novo Testamento</em>. Os escritos apostólicos foram ousadamente aludidos da mesma forma autorizada por que se caracterizava o Antigo Testamento como Palavra de Deus. Eram chamados "Escrituras", "profecia". Cada livro do Novo Testamento contém alguma reivindicação de autoridade divina. A igreja do período neotestamentário fazia circular, lia, colecionava e mencionava os livros do Novo Testamento, ao lado das Escrituras inspiradas do Antigo Testamento.<br />Os da era apostólica e os que de imediato lhe sucederam reconheciam a origem divina dos escritos do Novo Testamento, ao lado da autoridade divina do Antigo Testamento. Salvo casos de heréticos, todos os grandes pais da igreja cristã, desde os tempos mais remotos, creram na inspiração divina do Novo Testamento, e assim a ensinaram. Em resumo, sempre houve uma reivindicação contínua e firme da inspiração do Antigo e do Novo Testamento, desde o tempo de sua composição até o presente momento. Nos tempos modernos, essa reivindicação vem sendo seriamente desafiada por muitos estudiosos dentro e fora da igreja. Esse desafio mostra a necessidade de fundamentarmos a reivindicação de inspiração da Bíblia.<br /><br /><strong>Apoio à reivindicação bíblica de inspiração</strong><br />Os defensores da fé cristã têm reagido a esse desafio de maneiras variadas. Alguns transformaram o cristianismo num sistema racional, outros afirmam crer por ser "absurdo", mas a grande massa de cristãos bem informados, ao longo dos séculos, tem evitado tanto o racionalismo como o fideísmo (erro teológico de algumas correntes católicas do séc. XIX, que consistia em não reconhecer no homem outra fonte válida de conhecimento fora da fé, mesmo para as simples verdades naturais). Sem sustentar a irrevocabilidade absoluta, nem o ceticismo completo, os apologistas cristãos têm dado "uma razão da esperança que há neles". A seguir apresentamos uma síntese das evidências da doutrina bíblica da inspiração.<br /><br /><strong>Evidência interna da inspiração da Bíblia</strong><br />Há duas espécies de evidências que se devem levar em conta no que diz respeito à inspiração da Bíblia: a evidência que brota da própria Bíblia (chamada evidência interna), e a que surge de fora da Bíblia (conhecida como evidência externa). Há várias espécies de evidência interna já apresentadas.<br /><br /><em>A evidência da autoridade que se autoconfirma</em>. Há quem afirme que a Bíblia fala com autoridade própria, cheia de convicção, à semelhança do rugido de um leão. O Senhor Jesus enchia as multidões de grande admiração, porque "os ensinava como tendo autoridade" (Mc 1.22), e, de modo semelhante, a expressão "assim diz o Senhor", encontrada nas Escritu¬ras, fala por si mesma. Quando uma voz falou a Jó, saída de um redemoinho, ficou bem evidente para o patriarca ser a voz do Senhor (Jó 38). As palavras das Escrituras não precisam ser defendidas; precisam apenas ser ouvidas, para que se saiba que são a Palavra de Deus. O modo mais convincente de demonstrar a autoridade de um leão é soltá-lo. De modo semelhante, a inspiração da Bíblia não precisa ser defendida; antes, os ensinos da Bíblia precisam apenas ser explanados. Afirma-se que Deus pode falar mais eficazmente quando fala por si mesmo. A Bíblia pode defender sua própria autoridade, desde que sua voz se faça ouvir.<br /><br /><em>A evidência do testemunho do Espírito Santo</em>. Intimamente relacionado com a evidência da autoridade das Escrituras, que se demonstra por si mesma, temos o testemunho do Espírito Santo. A Palavra de Deus confirma-se perante os filhos de Deus pelo Espírito de Deus. O testemunho íntimo de Deus no coração do crente, à medida que este vai lendo a Bíblia, é evidência da origem divina da Bíblia. O Espírito Santo não só dá testemunho ao crente de que este é filho de Deus (Rm 8.16), mas também afirma que a Bíblia é a Palavra de Deus (2Pe 1.20,21). O mesmo Espírito que comunica a verdade de Deus também confirma perante o crente que a Bíblia é a Palavra de Deus. Desde o século I o consenso da comunidade cristã, na qual opera o Espírito Santo, tem sido que os livros da Bíblia são a Palavra de Deus. Assim, a Palavra de Deus recebe confirmação da par¬te do Espírito de Deus.<br /><br /><em>A evidência da capacidade transformadora da Bíblia</em>. Outra evidência denominada "interna" é a capacidade que tem a Bíblia de converter o incrédulo e de edificá-lo na fé cristã. Assim diz Hebreus: "A palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes..." (4.12). Milhares e milhares têm experimentado esse poder; viciados em drogas têm sido curados pela Palavra; delinquentes têm sido transformados; o ódio tem cedido lugar ao amor; tudo isso pela leitura da Palavra de Deus (IPe 2.2). Os entristecidos recebem conforto, os pecadores são repreendidos, os negligentes são exortados pelas Escrituras. A Palavra de Deus tem o poder, o dinamismo transformador de Deus. A evidência de que Deus atribuiu sua autoridade à Bíblia está em seu poder evangelístico e edificador.<br /><br /><em>A evidência da unidade da Bíblia</em>. Uma evidência mais formal da inspiração da Bíblia está em sua unidade. Sendo constituída de 66 livros escritos ao longo de 1. 500 anos, por cerca de quarenta autores, em diversas línguas, com centenas de tópicos, é muito mais que mero acidente que a Bíblia apresente espantosa unidade temática — Jesus Cristo. Um problema — o pecado — e uma solução — o Salvador Jesus — unificam as páginas da Bíblia, do Génesis ao Apocalipse. Se a compararmos a um manual médico redigido sob tão grande variedade, a Bíblia apresenta marcas notáveis de unidade divina. Essa é uma questão de inigualável validade, uma vez que nenhuma pessoa, ou grupo de pessoas, engendraram a composição da Bíblia. Os livros iam sendo colecionados e acrescentados, à medida que iam sendo escritos pelos autores, os profetas. Eram guardados simplesmente por serem tidos como inspirados. Só mediante reflexão posterior, tanto da parte de profetas (e.g., IPe 1.10,11) quanto de autores de gerações futuras, é que se descobriu que na verdade a Bíblia é um livro só, cujos "capítulos" foram escritos por homens sem conhecimento visível de sua estrutura global. O papel desses autores da Bíblia seria comparável ao de diferentes escritores que estivessem escrevendo os capítulos de uma novela, sem que tivessem nem mesmo um esboço geral da história. Toda a unidade que a Bíblia demonstra certamente adveio de algo que se achava fora do alcance de seus autores humanos.<br /><br /><strong>Evidência externa da inspiração da Bíblia</strong><br />A evidência interna da inspiração é, em grande parte, de natureza subjetiva. Relaciona-se àquilo que o crente vê ou sente em sua experiência pessoal com a Bíblia. Com a possível exceção da última evidencia mencionada, a saber, a unidade da Bíblia, a evidência interna está disponível apenas para os que se acham dentro do cristianismo. O incrédulo não ouve a voz de Deus, tampouco sente o testemunho do Espírito de Deus e jamais sente o poder edificador das Escrituras em sua vida. Se o incrédulo não penetrar pela fé no interior do cristianismo, essa evidência pouco ou nenhum valor de persuasão terá em sua vida. É aqui, então, que a evidência externa exerce papel crucial. Funciona como balizas ou sinais que conduzem ao "interior" da verdadeira vida cristã. Trata-se de testemunho público de algo inusitado, que serve para atrair a atenção do ser humano para a voz de Deus nas Escrituras.<br /><br /><em>A evidência baseada na historicidade da Bíblia</em>. Grande parte do conteúdo bíblico é história e, por isso mesmo, passível de constatação. Existem duas espécies principais de apoio da história bíblica: os artefatos arqueológicos e os documentos escritos. No que diz respeito aos artefatos desenterrados, nenhuma descoberta arqueológica invalidou um ensino ou relato bíblico. Ao contrário, como escreveu Donald J. Wiseman: "A geografia das terras mencionadas na Bíblia e os remanescentes visíveis da antiguidade foram gradativamente registrados, até que hoje, em sentido mais amplo, foram localizados mais de 25 000 locais, nesta região, que datam dos tempos do Antigo Testamento". Aliás, grande parte da antiga crítica à Bíblia foi firmemente refutada pelas descobertas arqueológicas que demonstraram a existência da escrita nos dias de Moisés, a história e a cronologia dos reis de Israel e até mesmo a existência dos hititas, povo até há pouco só mencionado na Bíblia.<br />A descoberta amplamente divulgada dos rolos do mar Morto ilustra algo não muito bem conhecido, a saber, que existem milhares de manuscritos tanto do Antigo como do Novo Testamento, o que contrasta com o punhado de originais disponíveis de muitos clássicos seculares de grande importância. Isso significa que a Bíblia é o livro do mundo antigo mais bem documentado que existe. É verdade que nenhuma descoberta histórica representa evidência direta de alguma afirmação espiritual feita pela Bíblia, como, por exemplo, a reivindicação de ser inspirada por Deus; no entanto, a historicidade da Bíblia fornece com certeza uma comprovação indireta de sua inspiração. É que a confirmação da exatidão da Bíblia, em questões factuais, confere credibilidade às suas declarações e ensinos em outros assuntos. Disse Jesus: "Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?" (Jo 3.12).<br /><br /><em>A evidência do testemunho de Cristo</em>. O testemunho de Cristo é evidência relacionada à da historicidade dos documentos bíblicos. Visto que o Novo Testamento é documentado como livro histórico e esses mesmos documentos históricos nos fornecem o ensino de Cristo a respeito da inspiração da Bíblia, resta-nos apenas presumir a veracidade de Cristo, para convencer-nos firmemente da inspiração da Bíblia. Se Jesus Cristo possui alguma autoridade ou integridade como mestre religioso, podemos concluir que a Bíblia é inspirada por Deus. O Senhor Jesus ensinou que a Bíblia é a Palavra de Deus. Se alguém quiser provar ser essa assertiva falsa, deverá primeiro rejeitar a autoridade que tinha Jesus de se pronunciar sobre a questão da inspiração. As evidências escriturísticas revelam irrefutavelmente que Jesus confirmou a autoridade divina da Bíblia. O texto do evangelho como um todo, com amplo apoio histórico, revela que Jesus era homem de integridade e de verdade. O argumento, portanto, é este: se o que Jesus ensinou é a verdade, e Jesus ensinou que a Bíblia é inspirada, segue-se que é verdade que a Bíblia é inspirada por Deus.<br /><br /><em>A evidência da profecia</em>. Outro testemunho externo dotado de grande força em apoio da inspiração das Escrituras é o fato da profecia cumprida. De acordo com Deuteronômio 18, o profeta era tido como falso quando fazia predições que não se cumprissem. Até o presente momento, nenhuma profecia incondicional da Bíblia a respeito de acontecimentos ficou sem cumprimento. Centenas de predições, algumas delas feitas centenas de anos antes de se cumprirem, concretizaram-se literalmente. A época do nascimento de Jesus (Dn 9), a cidade em que ele haveria de nascer (Mq 5.2) e a natureza de sua concepção e nascimento (Is 7.14) foram preditos no Antigo Testamento, bem como dezenas de outras minúcias de sua vida, morte e ressurreição. Outras profecias, como a da explosão da instrução e da comunicação (Dn 12.4), a da repatriação de Israel e a da repovoação da Palestina (Is 61.4), estão sendo cumpridas em nossos dias. Outros livros reivindicam inspiração divina, como o Alcorão e partes do Veda. Todavia, nenhum desses livros contém predições do futuro. O resultado é que a Bíblia conta com um argumento muito forte a favor de sua autoridade divina: suas profecias, que sempre se cumprem.<br /><br /><em>A evidência da influência da Bíblia</em>. Nenhum outro livro tem sido tão largamente disseminado, nem exercido tão forte influência sobre o curso dos acontecimentos mundiais do que a Bíblia. As Escrituras Sagradas têm sido traduzidas em mais línguas, têm sido impressas em maior número de exemplares, têm influenciado mais o pensamento, inspirado mais as artes e motivado mais as descobertas do que qualquer outro livro. A Bíblia foi traduzida em mais de mil línguas, abrangendo mais de 90% da população do mundo. Suas tiragens somam alguns bilhões de exemplares. Os <em>best sellers </em>que têm vindo em segundo lugar, ao longo dos séculos, nunca chegam perto do detentor perpétuo do primeiro lugar, a Bíblia. A influência da Bíblia e de seu ensino sobre o mundo ocidental está bem à mostra para todos quantos estudam a história. O papel de forte influência desempenhado pelo Ocidente sobre o desenrolar dos acontecimentos mundiais fica igualmente evidente. As Escrituras judeu-cristãs têm influenciado mais a civilização que qualquer outro livro ou combinação de livros do mundo. Na verdade, nenhuma outra obra religiosa, ou de fundo moral, no mundo excede a profundidade moral contida no princípio do amor cristão, e nenhuma apresenta conceito espiritual mais majestoso sobre Deus do que o conceito que a Bíblia oferece. A Bíblia apresenta ao homem os mais elevados ideais que já pautaram a civilização.<br /><br /><em>A evidência da manifesta indestrutibilidade da Bíblia</em>. A despeito (ou talvez por conta) de sua tremenda importância, a Bíblia tem sofrido muito mais ataques perversos do que seria de esperar, em se tratando de um livro. No entanto, a Bíblia tem resistido a todos os ataques e a todos os seus atacantes. Diocleciano tentou exterminá-la (c. 303 d.C); no entanto, a Bíblia é hoje o livro mais impresso e mais divulgado do mundo. Críticos da Bíblia no passado tachavam-na de composta, na maior parte, por historietas mitológicas, mas a arqueologia lhe comprovou a historicidade. Seus antagonistas atacam seus ensinos, tachando-os de primitivos e obsoletos, mas os moralistas exigem que seus ensinos a respeito do amor sejam postos em prática na sociedade moderna. Os céticos têm lançado dúvidas sobre a confiabilidade da Bíblia; todavia, mais pessoas hoje se convencem de suas verdades do que em toda a história. Prosseguem os ataques da parte de alguns cientistas, de alguns psicólogos e de alguns líderes políticos, mas a Bíblia permanece ilesa, indestrutível. Ela se parece com uma muralha de um metro e meio de altura por um metro e meio de largura: é inútil tentar derrubá-la com assopros. A Bíblia continua mais forte que nunca, depois desses ataques. Assim se manifestara a seu respeito o Senhor Jesus: "Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão" (Mc 13.31).<br /><br /><em>A evidência oriunda da integridade de seus autores humanos</em>. Não existem razões sólidas em que basear a idéia de que os autores das Escrituras não eram honestos e sinceros. Por tudo quanto se sabe de suas vidas e até pelo fato de haverem morrido por causa da fé que abraçaram, os autores da Bíblia estavam totalmente convencidos de que Deus lhes havia falado. Que faremos de mais de quinhentos homens (ICo 15.6) que apresen¬tam como evidência da autoridade divina de sua mensagem o fato de terem visto a Jesus de Nazaré, crucificado sob o poder de Pôncio Pilatos, agora vivo e em perfeitas condições? Que faremos da afirmação deles, segundo a qual viram a Jesus cerca de doze vezes, num período de um mês e meio? e segundo a qual conversaram com ele, comeram com ele, viram suas feridas, tocaram-no, e até o mais cético dentre eles caiu de joelhos e clamou: "Senhor meu e Deus meu!" (Jo 20.28)? Se alguém crer que estavam todos entoxicados ou iludidos, isso seria equivalente a violentar a própria credulidade, se considerarmos o número de vezes em que Cristo se encontrou com seus discípulos após a ressurreição, e se considerarmos a natureza desses encontros, além do efeito duradouro que exerceram sobre os discípulos. Todavia, depois de aceitar o fato fundamental da integridade desses homens, ainda vemos diante de nós o fenômeno inusitado de pessoas — centenas delas — que enfrentariam a morte por causa da convicção de que Deus lhes havia concedido autoridade para falar e para escrever em nome do Senhor. Quando homens sadios mentalmente, dotados de reconhecida integridade moral, reivindicam inspiração divina e oferecem como evidência o fato de haverem mantido comunicações com o Cristo ressurreto! Todas as pessoas de boa fé, que buscam a verdade, precisam reconhecer a realidade desses fatos. Em suma, a honestidade dos escritores da Bíblia constitui comprovante da autoridade bíblica que reveste seus escritos.<br /><br />Outros argumentos têm sido formulados para comprovar a inspiração da Bíblia, mas os principais, os que sustentam o maior peso da defesa, são esses. Será que esses argumentos provam que a Bíblia é inspirada? Não. Não representam provas dotadas de conclusões racionais inescapáveis. Até mesmo um filósofo amador pode criar contra-argumentos que neutralizam a lógica da argumentação. E, ainda que tal argumentação comprovasse a inspiração da Bíblia, não se concluiria daí que os argumentos conseguiriam persuadir e satisfazer a todos. Em vez disso, temos evidências, testemunhos, testemunhas. Como testemunhos, precisam ser examinados para uma avaliação global. A seguir, o júri que existe na alma de cada pessoa deverá tomar sua decisão — decisão fundada não em provas racionais, inescapáveis, mas em evidências que ficam "acima de quaisquer dúvidas racionais".<br />Talvez tudo que seria necessário acrescentar aqui é que, se a Bíblia estivesse sob julgamento num tribunal, e fizéssemos parte do júri, e devêssemos apresentar um veredicto, com base num exame global, completo, das reivindicações e das credenciais alegadas da Bíblia como Escrituras Sagradas, inspiradas por Deus, seríamos compelidos a votar da seguinte forma: "A Bíblia é culpada de ser inspirada, conforme acusa¬ção". O leitor também precisa tomar sua decisão. Para os que têm a tendência à indecisão, resta o lembrete incisivo das palavras de Pedro: "Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna" (Jo 6.68). Em outras palavras, se a Bíblia — com sua reivindicação categórica de ser inspirada, com suas características incomparáveis e suas credenciais múltiplas — não for inspirada, então, a quem ou a que nos dirigire¬mos? É nela que encontramos as palavras de vida eterna.Pastor Pedrohttp://www.blogger.com/profile/14959296050649164906noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-129497258255618826.post-52110646086908166412007-08-27T11:58:00.003-03:002008-12-11T20:32:45.327-03:00Aula 3 - A natureza da inspiração<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOr1c5iRcn7pYs35UPIOeCL8FmZOtSejc9RMJdBrlhSlMdSWrJvKwFfNlCjxyuwMZnfU7e93aovp-7uD8QXWDr6qQTsDP3G7ZDQ9a6YNAuMf6ZCLplPrXzmWqqcE4_7C4pho__RvMr6Huo/s1600-h/B%C3%ADblia+Judas.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOr1c5iRcn7pYs35UPIOeCL8FmZOtSejc9RMJdBrlhSlMdSWrJvKwFfNlCjxyuwMZnfU7e93aovp-7uD8QXWDr6qQTsDP3G7ZDQ9a6YNAuMf6ZCLplPrXzmWqqcE4_7C4pho__RvMr6Huo/s320/B%C3%ADblia+Judas.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5230620491239490450" /></a><br /><br />O primeiro grande elo da cadeia comunicativa "de Deus para nós" chama-se inspiração. Há diversas teorias a respeito da inspiração. Algumas delas não se coadunam com o ensino bíblico sobre o assunto. Nosso propósito, portanto, tem dois aspectos: primeiro, examinar as teorias a respeito da inspiração e, segundo, apurar com a máxima precisão o que está implícito no ensino da Bíblia a respeito de sua própria inspiração.<br /><br /><strong>As várias teorias a respeito da inspiração</strong><br />Ao longo da história, as teorias a respeito da inspiração da Bíblia têm variado segundo as características essenciais de três movimentos teológicos: a ortodoxia, o modernismo e a neo-ortodoxia. Ainda que essas três perspectivas não se limitem a um único período, suas manifestações primordiais são características de três períodos sucessivos na história da igreja.<br />Na maior parte dessa história, prevaleceu a visão ortodoxa, a saber: a Bíblia é a Palavra de Deus. Com o surgimento do modernismo, muitas pessoas vieram a crer que a Bíblia meramente contém a Palavra de Deus. Mais recentemente, sob a influência do existencialismo contemporâneo, os teólogos neo-ortodoxos têm ensinado que a Bíblia torna-se a Palavra de Deus quando a pessoa tem um encontro pessoal com Deus em suas páginas. <br /><br /><strong>Ortodoxia: a Bíblia É a Palavra do Deus</strong><br />Por cerca de 18 séculos de história da igreja, prevaleceu a opinião ortodoxa da inspiração divina. Os pais da igreja, em geral, com raras manifestações menos importantes em contrário, ensinaram firmemente que a Bíblia é a Palavra de Deus escrita. Teólogos ortodoxos ao longo dos séculos vêm ensinando, todos de comum acordo, que a Bíblia foi inspirada verbal¬mente, i.e., é o registro escrito por inspiração de Deus. No entanto, tem havido tentativas de procurar explicação para o fato de que o registro escrito ser a Palavra de Deus, ao mesmo tempo que o Livro, obviamente, foi composto por autores humanos, dotados de estilos pessoais diferentes uns dos outros. Essas tentativas conduziram os estudiosos ortodoxos a duas opiniões divergentes. Alguns abraçaram a ideia do "ditado verbal", afirmando que os autores humanos da Bíblia registraram apenas o que Deus lhes havia ditado, palavra por palavra. De outro lado, estão os estudiosos que preferiam a teoria do "conceito inspirado", segundo a qual Deus só concedeu aos autores pensamentos inspirados, e os autores tiveram liberdade de revesti-los com palavras próprias. <br /><br /><em>Ditado verbal</em>. Na obra de John R. Rice, Our God-breathed book—the Bible [Nosso livro soprado por Deus — a Bíblia), encontramos uma apresentação clara e bem ordenada do ditado verbal. O autor descarta a idéia de que o ditado verbal seja mecânico, sustentando que Deus ditou sua Palavra mediante a personalidade do autor humano. É que Deus, por sua atuação especial e providência, foi quem formou as personalidades sobre as quais, posteriormente, o Espírito Santo haveria de soprar seu ditado palavra por palavra. Assim, argumenta Rice, Deus havia preparado de antemão os estilos particulares que ele próprio desejava, a fim de produzir as palavras exatas, ao usar estilos e vocabulários predeterminados, encontráveis nos diferentes autores humanos. O resultado final, então, foi um ditado palavra por palavra da parte de Deus, as Escrituras Sagradas.<br />Conceitos inspirados. Em sua Systematic theology [Teologia sistemática], A. H. Strong apresenta uma visão que vem sendo denominada inspiração conceitual. Deus teria inspirado apenas os conceitos, não as expressões literárias particulares com que cada autor concebeu seus textos. Deus teria dado seus pensamentos aos profetas, que tiveram toda a liberdade de exprimi-los em seus termos humanos. Dessa maneira, Strong esperava evitar quaisquer<br />implicações mecanicistas derivadas do ditado verbal, e ainda preservar a origem divina das Escrituras. Deus concedeu a inspiração conceitual, e os homens de Deus forneceram a expressão verbal característica de seus estilos próprios.<br /><br /><strong>Modernismo: a Bíblia CONTÉM a Palavra de Deus</strong><br />Ao surgir o idealismo germânico e a crítica da Bíblia, surgiu também uma nova visão evoluída da inspiração bíblica, a par do modernismo, ou liberalismo teológico. Opondo-se à opinião ortodoxa tradicional de que a Bíblia é a Palavra de Deus, os modernistas ensinam que a Bíblia meramente contém a Palavra de Deus. Certas partes dela são divinas, expressam a verdade, mas outras são obviamente humanas e apresentam erros. Tais autores acham que a Bíblia foi vítima de sua época, exatamente como acontece a quaisquer outros livros. Afirmam que ela teria incorporado muito das lendas, dos mitos e das falsas crenças relacionadas à ciência. Sustentam, então, que, pelo fato desses elementos não terem sido inspirados por Deus, devem ser rejeitados pelos homens iluminados de hoje. Tais erros seriam resquícios de uma mentalidade primitiva indigna de fazer parte do credo cristão. Só as verdades divinas, entremeadas nessa mistura de ignorância antiga e erro grosseiro, é que de fato teriam sido inspiradas por Deus.<br /><br /><em>O conceito da iluminação</em>. Defendem alguns estudiosos que as "partes inspiradas" da Bíblia resultam de uma espécie de iluminação divina, mediante a qual Deus teria concedido uma profunda percepção religiosa a alguns homens piedosos. Tais percepções teriam sido usufruídas com diferentes gradações de compreensão, tendo sido registradas com misturas de idéias religiosas errôneas e crendices da ciência, comuns naqueles dias. Daí resultaria um livro, a Bíblia, que expressa vários graus de inspiração, dependendo da profundidade da iluminação religiosa experimentada por qualquer dos autores.<br /><br /><em>O conceito da intuição</em>. Na outra extremidade da visão modernista estão os estudiosos que negam totalmente a existência de algum elemento divino na composição da Bíblia. Para eles a Bíblia não passa de um caderno de rascunho em que os judeus registravam suas lendas, histórias, poemas e outras coisas, sem nenhum valor histórico. O que alguns denominam inspiração divina não seria outra coisa senão intensa intuição humana. Dentro desse folclore judaico a que se deu o nome de Bíblia, encontram-se alguns exemplos significativos de elevada moral e de gênio religioso. Todavia, essas percepções espirituais são puramente naturalistas. Em absolutamente nada, passam de intuição humana; não existiria inspiração sobrenatural, tampouco iluminação.<br /><br /><strong>Neo-Ortodoxia: a Bíblia TORNA-SE a Palavra de Deus</strong><br />No início do século xx, a reviravolta nos acontecimentos mundiais e a influência do pai dinamarquês do existencialismo, Sören Kierkegaard, deram origem a uma nova reforma na teologia europeia. Muitos estudiosos começaram a voltar-se de novo para as Escrituras, a fim de ouvir nelas a voz de Deus. Sem abrir mão de suas opiniões críticas a respeito da Bíblia, começaram a levar a Bíblia a sério, por ser a fonte da revelação de Deus aos homens. Criando um novo tipo de ortodoxia, afirmavam que Deus fala aos homens mediante a Bíblia; as Escrituras tornam-se a Palavra de Deus num encontro pessoal entre Deus e o homem.<br />À semelhança das outras teorias a respeito da inspiração da Bíblia, a neo-ortodoxia desenvolveu duas correntes. Na extremidade mais importante estavam os demitizadores, que negam todo e qualquer conteúdo religioso importante, factual ou histórico, nas páginas da Bíblia, e crêem apenas na preocupação religiosa existencial sobre a qual medram os mitos. Na outra extremidade, os pensadores de tendência mais evangélica tentam preservar a maior parte dos dados factuais e históricos das Escrituras, mas sustentam que a Bíblia de modo algum é revelação de Deus. Antes, Deus se revela na Bíblia nos encontros pessoais; não, porém, de maneira proposicional.<br /><br /><em>Visão demitizante</em>. Rudolf Bultmann e Shubert Ogden são representantes característicos da visão demitizante. Ambos diferem entre si, uma vez que Ogden não vê nenhum cerne histórico que dê consistência aos mitos da Bíblia, embora Bultmann consiga enxergar isso. Ambos concordam em que a Bíblia foi escrita em linguagem mitológica, a da época de seus autores, época já passada e obsoleta. A tarefa do cristão moderno é demitizar a Bíblia, ou seja, despi-la de seus trajes lendários, mitológicos, e descobrir o conhecimento existencial a ela subjacente. Afirma Bultmann que, a partir do momento que a Bíblia é despida desses mitos religiosos, a pessoa encontra a verdadeira mensagem do amor sacrificial de Deus em Cristo. Não é necessário que a pessoa se prenda a uma revelação objetiva, histórica e proposicional, a fim de experimentar essa verdade pessoal e subjetiva. Daí decorre que a Bíblia torna-se a revelação de Deus aos homens, mediante uma interpretação adequada (i.e., demitizada), quando a pessoa depara com o amor absoluto, exposto no mito do amor altruísta de Deus em Cristo. Por isso, a Bíblia em si mesma não é revelação alguma; é apenas uma expressão primitiva, mitológica, mediante a qual Deus se revela pessoalmente, desde que demitizado da maneira correta.<br /><br /><em>Encontro pessoal</em>. A outra corrente da neo-ortodoxia, representada por Karl Barth e Emil Brunner, nutre uma visão mais ortodoxa das Escrituras. Barth reconhece que existem algumas imperfeições no registro escrito (até mesmo nos autógrafos) e, no entanto, afirma que a Bíblia é a fonte da revelação de Deus. Afirma ele que Deus nos fala mediante a Bíblia; que ela é o veículo de sua revelação. Assim como um cão ouve a voz de seu dono, gravada de modo imperfeito na gravação de uma fita ou disco, assim também o cristão pode ouvir a voz de Deus que ressoa nas Escrituras. Afirma Brunner que a revelação de Deus não é proposicional (i.e., feita por meio de palavras). Assim, a Bíblia, como se nos apresenta, deixa de ser uma revelação de Deus, passando a ser mero registro da revelação pessoal de Deus aos homens de Deus em eras passadas. Todavia,sempre que o homem moderno se encontra com Deus, mediante as Escrituras Sagradas, a Bíblia torna-se a Palavra de Deus para nós. Em contraposição à visão ortodoxa, para os teólogos neo-ortodoxos a Bíblia não seria um registro inspirado. Antes, é um registro imperfeito, que, apesar dessa mesma imperfeição, constitui o testemunho singular da revelação de Deus. Quando Deus surge no registro escrito, de maneira pessoal, a fim de falar ao leitor, a Bíblia nesse momento torna-se a Palavra de Deus para esse leitor.<br /><br /><strong>O ensino bíblico a respeito da inspiração</strong><br />Muitas objeções têm sido levantadas contra as várias teorias da inspiração, as quais partem de diferentes concepções, tendo variados graus de legitimidade, dependentemente do ângulo de observação da pessoa que as formula. Visto que o objetivo deste estudo é levar o aluno a compreender o caráter da Bíblia, o critério analítico que escolhemos visa a avaliar todas essas teorias, levando em consideração o que as Escrituras revelam a respeito de sua própria inspiração. Comecemos com o que a Bíblia ensina, formalmente, sobre essa questão e, depois, examinemos o que se acha logicamente implícito nesse ensino.<br /><br /><strong>O que a própria Bíblia ensina a respeito de sua inspiração</strong><br />Na aula anterior, examinamos de modo genérico o ensino de dois grandes textos do Novo Testamento a respeito da inspiração (2Tm 3.16 e 2Pe 1.21). A Bíblia declara ser um livro dotado de autoridade divina, resultante de um processo pelo qual homens movidos pelo Espírito Santo escreveram textos inspirados (soprados) por Deus. Vamos agora examinar em minúcias o que significa essa declaração.<br /><br /><em>A inspiração é verbal</em>. Independentemente de outras afirmações que possam ser formuladas a respeito da Bíblia, fica bem claro que esse livro reivindica para si mesmo esta qualidade: a inspiração verbal. O texto clássico de 2Timóteo 3.16 declara que as graphã, i.e., os textos, é que são inspiradas. "Moisés escreveu todas as palavras do Senhor..." (Êx 24.4). O Senhor ordenou a Isaías que escrevesse num livro a mensagem eterna de Deus (Is 30.8). Davi confessou: "O Espírito do Senhor fala por mim, e a sua palavra está na minha boca" (2Sm 23.2). Era a palavra do Senhor que chegava aos profetas nos tempos do Antigo Testamento. Jeremias recebeu esta ordem: "... não te esqueças de nenhuma palavra" (Jr 26.2).<br />No Novo Testamento, Jesus e seus apóstolos ressaltaram a revelação registrada ao usar repetidamente a expressão "está escrito" (v. Mt 4.4,7; Lc 24.27,44). O apóstolo Paulo testemunhou: "... falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina..." (ICo 2.13). João nos adverte quanto a não "tirar quaisquer palavras do livro desta profecia" (Ap 22.19). As Escrituras (i.e., os escritos) do Antigo Testamento são continuamente mencionadas como Palavra de Deus. No célebre sermão da montanha, Jesus declarou que não só as palavras, mas até mesmo os pequeninos sinais diacríticos de uma palavra hebraica vieram de Deus: "Em verdade vos digo que até que a terra e o céu passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido" (Mt 5.18). Portanto, o que quer que se diga como teoria a respeito da inspiração das Escrituras, fica bem claro que a Bíblia reivindica para si mesma toda a autoridade verbal ou escrita. Diz a Bíblia que suas palavras vie¬ram da parte de Deus.<br /><br /><em>A inspiração é plena</em>. A Bíblia reivindica a inspiração divina de todas as suas partes. É inspiração plena, total, absoluta. "Toda Escritura é divinamente inspirada..." (2Tm 3.16). Nenhuma parte das Escrituras deixou de receber total autoridade doutrinária. A Escritura toda (i.e., o Antigo Testamento integralmente), escreveu Paulo, "é divinamente inspirada e pro¬veitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça" (2Tm 3.16). E foi além, ao escrever: "... tudo o que outrora foi escrito, para o nosso ensino foi escrito" (Rm 15.4). Jesus e todos os autores do Novo Testamento exemplificam amplamente sua crença firme na inspiração integral e completa do Antigo Testamento, citando trechos de todas as Escrituras que eram para eles de autoridade, até mesmo os que apresentam ensinos fortemente polêmicos: A criação de Adão e de Eva, a destruição do mundo pelo dilúvio, o milagre de Jonas e o grande peixe, e muitos outros acontecimentos são mencionados por Jesus deixando bem clara a autoridade deles. Todo trecho das Sagradas Escrituras reivindica total e completa autoridade. A inspiração da Bíblia é plena.<br />É claro que a inspiração plena estendesse apenas aos ensinos dos autógrafos, como já afirmamos. Todavia, tudo quanto a Bíblia ensi¬na, quer no Antigo, quer no Novo Testamento, é integralmente dotado de autoridade divina. Nenhum ensino das Escrituras deixou de ter origem divina. O próprio Deus inspirou as palavras usadas para exprimir os ensinos proféticos. Repitamos: a inspiração é plena, a saber, completa e integral, abrangendo todas as partes da Bíblia.<br /><br /><em>A inspiração atribui autoridade</em>. Fica, pois, saliente o fato de que a inspiração concede autoridade indiscutível ao texto ou documento escrito. Disse Jesus: "... a Escritura não pode ser anulada..." (Jo 10.35). Em numerosas ocasiões o Senhor recorreu à Palavra de Deus escrita, que ele considerava árbitro definitivo em questões de fé e de prática. O Senhor recorreu às Escrituras como a autoridade para ele purificar o templo (Mc 11.17), para pôr em cheque a tradição dos fariseus (Mt 15.3,4) e para resolver divergências doutrinárias (Mt 22.29). Até mesmo Satanás foi repreendido por Cristo mediante a autoridade da Palavra escrita de Deus: "Está escrito [...] Está escrito [...] Está escrito...". Jesus contra-atacou as tentações de Satanás com a Palavra de Deus escrita (Mt 4.4,7,10).<br />Algumas vezes, Jesus declarou o seguinte: "... era necessário que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos" (Lc 24.44). Todavia, é em outra declaração de Jesus que encontramos apoio ainda mais forte do Senhor à autoridade inquestionável das Escrituras: "É mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da lei" (Lc 16.17). A Palavra de Deus não pode ser anulada. Provém de Deus e está envolta na autoridade divina que o próprio Deus lhe concedeu.<br /><br /><strong>Implicações da doutrina bíblica da inspiração</strong><br />Há certos fatos que, embora não formalmente apresentados na doutrina da inspiração, acham-se implícitos. Vamos tratar aqui de três deles: a igualdade entre o Antigo e o Novo Testamento, a variedade da expressão literária e a inerrância do texto.<br />A inspiração diz respeito, igualmente, ao Antigo e ao Novo Testamento. A maioria das passagens citadas acima a respeito da natureza plena da inspiração refere-se diretamente ao Antigo Testamento. Com base em que, então, podem aplicar-se (por extensão) ao Novo Testamento? A resposta a essa pergunta é que o Novo Testamento, à semelhança do Antigo, reivin¬dica a virtude de ser Escritura Sagrada, escrito profético, e toda a Escritura e todos os escritos proféticos devem ser considerados inspirados por Deus.<br />De acordo com 2Timóteo 3.16, toda a Escritura é inspirada. Ainda que a referência explícita, aqui, refira-se ao Antigo Testamento, é verdade que o Novo Testamento também deve ser considerado Escritura Sagrada. Pedro, por exemplo, classifica as cartas de Paulo como parte das "outras Escrituras" do Antigo Testamento (2Pe 3.16). Em ITimóteo 5.16, Paulo cita o evangelho de Lucas (10.7), referindo-se a ele como "Escritura". Tal fato é mais significativo ainda quando consideramos que nem Lucas, nem Paulo fizeram parte do grupo dos doze apóstolos. Visto que as car¬tas de Paulo e os escritos de Lucas (Lucas e Atos; v. At 1.1, Lc 1.1-4) foram classificados como Escritura Sagrada, por implicação direta o resto do Novo Testamento, escrito pelos apóstolos, também é considerado Escritura Sagrada. Em suma, se "toda Escritura é divinamente inspirada" e o Novo Testamento é considerado Escritura, decorre disso claramente que o Novo Testamento é encarado com a mesma autoridade do Antigo. Na verdade, é exatamente assim que os cristãos, desde o tempo dos apóstolos, têm considerado o Novo Testamento. Eles o consideravam com a mesma autoridade do Antigo Testamento.<br />Além disso, de acordo com 2Pedro 1.20,21, todas as mensagens escritas de natureza profética foram dadas ou inspiradas por Deus. E, visto que o Novo Testamento reivindica a natureza de mensagem profética, segue-se que ele também reclama autoridade igual à dos escritos proféti¬cos do Antigo Testamento. João, por exemplo, refere-se ao livro do Apocalipse da seguinte forma: "palavras da profecia deste livro" (Ap 22.18). Paulo afirmou que a igreja estava edificada sobre o alicerce dos apóstolos e profetas do Novo Testamento (Ef 2.20; 3.5). Visto que o Novo Testamento, à semelhança do Antigo, é um texto dos profetas de Deus, ele possui, por essa razão, a mesma autoridade dos textos inspirados do Antigo Testamento.<br /><br /><strong>A inspiração abarca uma variedade de fontes e de gêneros literários</strong>. <br />O fato da inspiração ser verbal, ou escrita, não exclui o uso de documentos literários e de gêneros literários diferentes entre si. As Escrituras Sagradas não foram ditadas palavra por palavra, no sentido comum que se atribui ao verbo ditar. Na verdade, há certos trechos menores da Bíblia, como, por exemplo, os Dez Mandamentos, que Deus outorgou diretamente ao homem (v. Dt 4.10), mas em parte alguma está escrito, ou fica implícito, que a Bíblia é resultante de um ditado palavra por palavra. Os autores das Sagradas Escrituras eram escritores e compositores, não meros secretários, amanuenses ou estenógrafos.<br />Há vários fatores que contribuíram para a formação das Escrituras Sagradas e dão forte apoio a essa afirmativa. Em primeiro lugar, existe uma diferença marcante de vocabulário e de estilo de um escritor para outro. Comparem-se as poderosas expressões literárias de Isaías com os tons lamurientos de Jeremias. Compare-se a construção literária de suma complexidade, encontrada em Hebreus, com o estilo simples de João. Distinguimos facilmente a linguagem técnica de Lucas, o médico amado, da linguagem de Tiago, formada de imagens pastorais.<br />Em segundo lugar, a Bíblia faz uso de documentos não-bíblicos, como o Livro de Jasar (Js 10.13; 2Sm 1.18), o livro de Enoque (Jd 14) e até o poeta Epimênedes (At 17.28). Somos informados de que muitos dos provérbios de Salomão haviam sido editados pelos homens de Ezequias (Pv 25.1). Lucas reconhece o uso de muitas fontes escritas sobre a vida de Jesus, na composição de seu próprio evangelho (Lc 1.1-4).<br />Em terceiro lugar, os autores bíblicos empregavam vasta variedade de géneros literários; tal fato não caracteriza um ditado monótono em que as palavras são pronunciadas uma após a outra, segundo o mesmo padrão. Grande parte das Escrituras é formada de poesia (e.g., Jó, Sal¬mos, Provérbios). Os evangelhos contêm muitas parábolas. Jesus empregava a sátira (v. Mt 19.24), Paulo usava alegorias (Gl 4) e até hipérboles (Cl 1.23), ao passo que Tiago gostava de usar metáforas e símiles.<br />Por fim, a Bíblia usa a linguagem simples do senso comum, do dia-a-dia, que salienta a ocorrência de um acontecimento, não a linguagem de fundamento científico. Isso não significa que os autores usassem linguagem anticientífica ou negadora da ciência, e sim linguagem popular para descrever fenómenos científicos. Não é mais anticientífico afirmar que o sol permaneceu parado (Js 10.12) do que dizer que o sol nasceu ou subiu (Js 1.15). Dizer que a rainha de Sabá veio "dos confins da terra", ou que as pessoas no Pentecostes vieram "de todas as nações debaixo do céu", não é dizer coisas com exatidão científica. Os autores usaram formas comuns, gramaticais de expressar seu pensamento sobre os assuntos.<br />Por isso, o que quer que fique implícito na doutrina dos escritos inspirarados, os dados das Escrituras mostram com clareza que elas incluem o emprego de grande variedade de fontes literárias e de estilos de expressão. Nem todas as mensagens vieram diretamente de Deus, mediante ditado. Tampouco foram expressas de modo uniforme e literal. É preciso que se entenda a inspiração da perspectiva histórica e gramatical. A inspiração não pode ser entendida como um ditado uniforme, ainda que divino, que exclua os recursos, a personalidade e as variadas formas hu¬manas de expressão.<br /><br /><em>Inspiração pressupõe inerrância</em>. A Bíblia não só é inspirada; é também, por causa de sua inspiração, inerrante, i.e., não contém erro. Tudo quanto Deus declara é verdade isenta de erro. Com efeito, as Escrituras afirmam ser a declaração (aliás, as próprias palavras) de Deus. Nada do que a Bíblia ensina contém erro, visto que a inerrância é consequência lógica da inspiração divina. Deus não pode mentir (Hb 618); sua Palavra é a verdade (Jo 17.17). Por isso, seja qual for o assunto sobre o qual a Bíblia diga alguma coisa, ela só dirá a verdade. Não existem erros históricos, nem científicos nos ensinos das Escrituras. Tudo quanto a Bíblia ensina vem de Deus e, por isso, não tem a mácula do erro.<br />Não é possível refugir às implicações da inerrância factual com a declaração de que a Bíblia nada tem para dizer a respeito de assuntos factuais ou históricos. Grande parte da Bíblia apresenta-se como história. Bastam as tediosas genealogias para atestar essa realidade. Alguns dos maiores ensinos da Bíblia, como a criação, o nascimento virginal de Cristo, a crucificação e a ressurreição corpórea, claramente pressupõem matérias factuais. Não existem meios de "espiritualizar" a natureza factual e histórica dessas verdades bíblicas, sem praticar violência terrível contra a análise honesta do texto, da perspectiva cultural e gramatical.<br />A Bíblia não é um compêndio de Ciências, mas, quando trata de assuntos científicos em seu ensino, o faz sem cometer erro. A Bíblia não é um compêndio de História, mas, sempre que a história secular se cruza com a história sagrada em suas páginas, a Bíblia faz referência a ela sem cometer erro. Se a Bíblia não fosse inerrante e não estivesse certa nas questões factuais, empíricas, comprováveis, de que maneira seria possível confiar nela em questões espirituais, não sujeitas a testes? Como disse Jesus a Nicodemos: "Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?" (Jo 3.12).Pastor Pedrohttp://www.blogger.com/profile/14959296050649164906noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-129497258255618826.post-42205448739475102842007-08-27T09:29:00.000-03:002008-12-11T20:32:45.561-03:00Aula 2 - Algumas distinções importantes<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfEF4YDWvJY-VwFR37IcM4QuHgJ_NA3YIIFe2lPIOMFP-AGItVQTKURZoJpZVkER6WbHK-QgvAKnzqTgUPcYA-7HUJEK2yCa2mhX1FLchlcZkDBPoT3xNS5OWtIw8AWModqkTwxXBJEdJu/s1600-h/mensagens2.gif"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfEF4YDWvJY-VwFR37IcM4QuHgJ_NA3YIIFe2lPIOMFP-AGItVQTKURZoJpZVkER6WbHK-QgvAKnzqTgUPcYA-7HUJEK2yCa2mhX1FLchlcZkDBPoT3xNS5OWtIw8AWModqkTwxXBJEdJu/s320/mensagens2.gif" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5103369130658647378" /></a><br /><br /><strong>A inspiração em contraste com a revelação e a iluminação</strong><br />Há dois conceitos inter-relacionados que nos ajudam a esclarecer, pela contraposição, o que significa inspiração. São eles revelação e a iluminação. Revelação diz respeito à exposição da verdade. Iluminação, à devida compreensão dessa verdade descoberta. No entanto, a inspiração não consiste nem em uma, nem em outra. A revelação prende-se à origem da verdade e à sua transmissão; a inspiração relaciona-se com a recepção e o registro da verdade. A iluminação ocupa-se da posterior apreensão e compreensão da verdade revelada. A inspiração que traz a revelação escrita aos homens não traz em si mesma garantia alguma de que os homens a entendam. É necessário que haja iluminação do coração e da mente. A revelação é uma abertura objetiva; a iluminação é a compreensão subjetiva da revelação; a inspiração é o meio pelo qual a revelação se tornou uma exposição aberta e objetiva. A revelação é o fato da comunicação divina; a inspiração é o meio; a iluminação, o dom de compreender essa comunicação.<br /><br /><strong>Inspiração dos originais, não das cópias</strong><br />A inspiração e a consequente autoridade da Bíblia não se estendem automaticamente a todas as cópias e traduções da Bíblia. Só os manuscritos originais, conhecidos por autógrafos, foram inspirados por Deus. Os erros e as mudanças efetuados nas cópias e nas traduções não podem ser atribuídos à inspiração original. Por exemplo, 2Reis 8.26 diz que Azarias tinha 22 anos de idade quando foi coroado rei, enquanto 2Crônicas 22.2 diz que tinha 42 anos. Não é possível que ambas as informações estejam corretas. O original é autorizado; a cópia errônea não tem autoridade. Outros exemplos desse tipo de erro podem encontrar-se nas atuais cópias das Escrituras (e.g., cf. IRs 4.26 e 2Cr 9.25). Portanto, uma tradução ou cópia só é autorizada à medida que reproduz com exatidão os autógrafos. Veremos posteriormente até que ponto as cópias da Bíblia são exatas, segundo a ciência da crítica textual. Por ora, basta-nos observar que o grandioso conteúdo doutrinário e histórico da Bíblia tem sido transmitido de geração a geração, ao longo da história, sem mudanças nem perdas substanciais. As cópias e as traduções da Bíblia, encontradas no século xx, não detêm a inspiração original, mas contêm uma inspiração derivada, uma vez que são cópias fiéis dos autógrafos! De uma perspectiva técnica, só os autógrafos são inspirados; todavia, para fins práticos, a Bíblia nas línguas de nossa época, por ser transmissão exata dos originais, é a Palavra de Deus inspirada.<br />Visto que os originais não mais existem, alguns críticos têm objetado a inerrância de autógrafos que não podem ser examinados e nunca foram vistos. Eles perguntam como é possível afirmar que os originais não continham erro, se não podem ser examinados? A resposta é que a inerrância bíblica não é um fato conhecido empiricamente, mas uma crença baseada no ensino da Bíblia a respeito de sua inspiração, bem como baseada na natureza altamente precisa da grande maioria das Escrituras transmitidas, e na ausência de qualquer prova em contrário. Afirma a Bíblia ser a declaração de um Deus que não pode cometer erro. É verdade que nunca se descobriram os originais infalíveis da Bíblia, mas tampouco se descobriu um único autógrafo original falível. Temos, pois, manuscritos que foram copiados com toda precisão e traduzidos para muitas línguas, dentre as quais o português. Portanto, para todos os efeitos de doutrina e de dever, a Bíblia como a temos hoje é representação suficiente da Palavra de Deus, cheia de autoridade.<br /><br /><strong>Inspiração do ensino, mas não de todo o conteúdo da Bíblia</strong><br />Cumpre ressaltar também que só o que a Bíblia ensina foi inspirado por Deus e não apresenta erro; nem tudo que está na Bíblia ficou isento de erro. Por exemplo, as Escrituras contêm o relato de muitos atos maus, pecaminosos, mas de modo algum a Bíblia os elogia; tampouco os recomenda. Ao contrário, condena essas práticas malignas. A Bíblia chega a narrar algumas das mentiras de Satanás (e.g., Gn 3.4). Portanto, a simples existência dessa narração não significa que a Bíblia ensine serem verdadeiras essas mentiras. A única coisa que a inspiração divina garante aqui é que se trata de um registro verdadeiro de uma mentira satânica, de uma perversidade real de Satanás.<br />Às vezes, não está perfeitamente claro se a Bíblia registra apenas um mero relato do que alguém disse ou fez, ou se ela está ensinando que devemos proceder de igual forma. Por exemplo, estará a Bíblia ensinando que tudo quanto os amigos de Jó disseram é verdade? Seriam todos os ensinos daquele homem "debaixo do sol", em Eclesiastes, ensino de Deus, ou mero registro fiel de pensamentos vãos? Seja qual for a resposta, o estudante da Bíblia é admoestado a não julgar verdadeiro tudo quanto a Bíblia afirma só por ter aparência de verdade. O estudante da Bíblia precisa procurar seu verdadeiro ensino, sem atribuir verdade a tudo quanto está escrito em suas páginas. De fato, a Bíblia registra muitas coisas que ela de modo algum recomenda, como a asserção: "Não há Deus" (SI 14.1). Em todas as passagens, o que a Bíblia está declarando deve ser estudado com cuidado, a fim de se apurar o que ela está ensinando na verdade. Só o que a Bíblia ensina é que é inspirado, e não todas as palavras relacionadas a todo o seu conteúdo.<br />Resumindo, a Bíblia é um livro incomum. Compõe-se de dois testamentos formados de 66 livros, os quais declaram ou comprovam a inspiração divina. Com inspiração queremos dizer que os manuscritos originais da Bíblia nos foram concedidos pela revelação de Deus e, exatamente por isso, detêm a absoluta autoridade de Deus, para formar o pensamento e a vida cristã. Isso significa que tudo quanto a Bíblia ensina constitui tribunal de apelação infalível. O próximo tópico de estudo diz respeito à natureza exata da inspiração da Bíblia.Pastor Pedrohttp://www.blogger.com/profile/14959296050649164906noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-129497258255618826.post-59621445079325883452007-08-20T12:49:00.009-03:002008-12-11T20:32:45.862-03:00Aula 1<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8FFI0wIGWXxhE_1KCoGql4ZrYfZzpMdMF9YDsM2dlu-5pGiQlQWWhvdO9x1YGarq-Rv5Oy4R3eL7hF_2N3R-FaiN9OYOvTasxDocSZJaZHyZ2mKQ5KD21bjfwkCd4Hs81zcT48ftafQ3L/s1600-h/Jo%C3%A3o.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8FFI0wIGWXxhE_1KCoGql4ZrYfZzpMdMF9YDsM2dlu-5pGiQlQWWhvdO9x1YGarq-Rv5Oy4R3eL7hF_2N3R-FaiN9OYOvTasxDocSZJaZHyZ2mKQ5KD21bjfwkCd4Hs81zcT48ftafQ3L/s400/Jo%C3%A3o.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5230622249179465954" /></a><br /><br />Observação > O material postado no blog é oriundo do livro "Introdução Bíblica" de Norman Geisler e William Nix<br /><br /><strong>O caráter da Bíblia</strong><br />A Bíblia é um livro singular. Trata-se de um dos livros mais antigos do mundo e, no entanto, ainda é o bestseller mundial por excelência. É produto do mundo oriental antigo; moldou, porém, o mundo ocidental moderno. Tiranos houve que já queimaram a Bíblia, e os crentes a reverenciam. É o livro mais traduzido, mais citado, mais publicado e que mais influência tem exercido em toda a história da humanidade.<br />Afinal, que é que constitui esse caráter inusitado da Bíblia? Como foi que ela se originou? Quando e como assumiu sua forma atual? Que significa "inspiração" da Bíblia? São essas as perguntas para as quais se voltará o nosso interesse nesta aula introdutória ao assunto.<br /><br /><strong>A estrutura da Bíblia</strong><br />A palavra Bíblia (Livro) entrou para as línguas modernas por intermédio do francês, passando primeiro pelo latim bíblia, com origem no grego biblos. Originariamente, era o nome que se dava à casca de um papiro do século XI a.C. Por volta do século II d.C., os cristãos usavam a palavra para designar seus escritos sagrados.<br /><br /><strong>Os dois testamentos da Bíblia</strong><br />A Bíblia compõe-se de duas partes principais: o Antigo Testamento (AT) e o Novo Testamento (NT). O AT foi escrito pela comunidade judaica, e por ela preservado um milénio ou mais antes da era de Jesus. O NT foi composto pelos discípulos de Jesus Cristo ao longo do século l d.C.<br />A palavra testamento, que seria melhor traduzida por "aliança", é tradução de palavras hebraicas e gregas que significam "pacto" ou "acordo" celebrado entre duas partes ("aliança"). Portanto, no caso da Bíblia, temos o contrato antigo, celebrado entre Deus e seu povo, os judeus, e o pacto novo, celebrado entre Deus e os cristãos.<br />Estudiosos cristãos frisaram a unidade existente entre esses dois testamentos da Bíblia sob o aspecto da Pessoa de Jesus Cristo, que declarou ser o tema unificador da Bíblia. Agostinho dizia que o NT acha-se velado no AT, e o AT, revelado no NT. Outros autores disseram o mesmo em outras palavras: "O Novo Testamento está no Antigo Testamento ocultado, e o Antigo, no Novo revelado". Assim, Cristo se esconde no Antigo Testamento e é desvendado no Novo. Os crentes anteriores a Cristo olhavam adiante com grande expectativa, ao passo que os crentes de nossos dias vêem em Cristo a concretização dos planos de Deus.<br /><br /><strong>As seções da Bíblia</strong><br />A Bíblia divide-se comumente em oito seções, quatro do Antigo Testamento e quatro do Novo.<br />A divisão do Antigo Testamento em quatro seções baseia-se na disposição dos livros por tópicos, com origem na tradução das Escrituras Sagradas para o grego. Essa tradução, conhecida como a Versão dos septuaginta(LXX), iniciara-se no século III a.C. A Bíblia hebraica não segue essa divisão tópica dos livros, em quatro partes. Antes, emprega-se uma divisão de três partes, talvez baseada na posição oficial de seu autor. Os cinco livros de Moisés, que outorgou a lei, aparecem em primeiro lugar. Seguem-se os livros dos homens que desempenharam a função de profetas. Por fim, a terceira parte contém livros escritos por homens que, segundo se cria, tinham o dom da profecia, sem serem profetas oficiais. É por isso que o Antigo Testamento hebraico apresenta a estrutura do quadro 1.<br />A razão dessa divisão das Escrituras hebraicas em três partes encontra-se na história judaica. É provável que o testemunho mais antigo dessa divisão seja o prólogo ao livro de Siraque, ou Eclesiástico, durante o século II a.C. O <em>Mishna</em> (ensino) judaico, Josefo, primeiro historiador judeu, e a tradição judaica posterior também deram prosseguimento a essa divisão tríplice de suas Escrituras. O Novo Testamento faz uma possível alusão a uma divisão em três partes do Antigo Testamento, quando Jesus disse: "... era necessário que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos" (Lc 24.44).<br />A despeito do fato de o Judaísmo ter mantido uma divisão tríplice até a presente data, a Vulgata latina, de Jerônimo, e as Bíblias posteriores a ela seguiriam o formato mais tópico das quatro partes em que se divide a Septuagjnta. Se combinarmos essa divisão com outra, mais natural e largamente aceita, também de quatro partes, do Novo Testamento, a Bíblia pode ser divida na estrutura geral e cristocêntrica apresentada no quadro 2.<br />Ainda que não existam razões de ordem divina para dividirmos a Bíblia em oito partes, a insistência cristã em que as Escrituras devam ser entendidas tendo Cristo por centro baseia-se nos ensinos do próprio Cristo. Cerca de cinco vezes no Novo Testamento, Jesus afirmou ser ele próprio o tema do Antigo Testamento (Mt 5.17; Lc 24.27; Jo 5.39; Hb 10.7). Diante dessas declarações, é natural que analisemos essas divisões das Es¬crituras, em oito partes, por tópicos, sob o aspecto de seu tema maior — Jesus Cristo.<br /><br /><strong>Capítulos e versículos da Bíblia</strong><br />As Bíblias mais antigas não eram divididas em capítulos e versículos. Essas divisões foram feitas para facilitar a tarefa de citar as Escrituras. Stephen Langton, professor da Universidade de Paris, mais tarde arcebispo da Cantuária, dividiu a Bíblia em capítulos em 1227. Robert Stephanus, impressor parisiense, acrescentou a divisão em versículos em 1551 e em 1555. Felizmente, estudiosos judeus, desde aquela época, adotaram essa divisão de capítulos e versículos para o Antigo Testamento.<br /><br /><strong>A inspiração da Bíblia</strong><br />A característica mais importante da Bíblia não é sua estrutura e sua forma, mas o fato de ter sido inspirada por Deus. Não se deve interpretar de modo errôneo a declaração da própria Bíblia a favor dessa inspiração. Quando falamos de inspiração, não se trata de inspiração poética, mas de autoridade divina. A Bíblia é singular; ela foi literalmente "soprada por Deus". A seguir examinaremos o que significa isso. <br /><br /><strong>Uma definição de inspiração</strong><br />Embora a palavra inspiração seja usada apenas uma vez no Novo Testamento (2Tm 3.16) e outra no Antigo (Jó 32.8), o processo pelo qual Deus transmite sua mensagem autorizada ao homem é apresentado de muitas maneiras. Um exame das duas grandes passagens a respeito da inspiração, encontradas no Novo Testamento, poderá ajudar-nos a entender o que significa a inspiração bíblica.<br /><br /><strong>Descrição bíblica de inspiração</strong><br />Assim escreveu Paulo a Timóteo: "Toda Escritura é divinamente ins¬pirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça" (2Tm 3.16). Em outras palavras, o texto sagrado do Antigo Testamento foi "soprado por Deus" (<em>theopneustos</em>) e, por isso, dotado da autoridade divina para o pensamento e para a vida do crente. A passagem correlata de 1 Co 2.13 realça a mesma verdade. "Disto também falamos", escreveu Paulo, "não com palavras de sabedoria hu¬mana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais." Quaisquer palavras ensinadas pelo Espírito Santo são palavras divinamente inspiradas.<br />A segunda grande passagem do Novo Testamento a respeito da inspiração da Bíblia está em 2 Pe 1.21. "Pois a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens santos da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo." Em outras palavras, os profetas eram homens cujas mensagens não se originaram de seus próprios impulsos, mas foram "sopradas pelo Espírito". Pela revelação, Deus falou aos profetas de muitas maneiras (Hb 1.1): mediante anjos, visões, sonhos, vozes e milagres. Inspiração é, assim, a forma pela qual Deus falou aos homens mediante os profetas. Mals um sinal de que as palavras dos profetas não partiam deles próprios, mas de Deus, é o fato deles sondarem seus próprios escritos a fim de verificar "qual o tempo ou qual a ocasião que o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e sobre as glórias que os seguiriam" (1 Pe 1.11).<br />Fazendo uma combinação das passagens que ensinam sobre a inspiração divina, descobrimos que a Bíblia é inspirada no seguinte sentido: homens, movidos pelo Espírito, escreveram palavras sopradas por Deus, as quais são a fonte de autoridade para a fé e para a prática cristã. Vamos a seguir analisar com mais cuidado esses três elementos da inspiração.<br /><br /><strong>Definição teológica da inspiração</strong><br />Na única vez em que o Novo Testamento usa a palavra inspiração, ela se aplica aos escritos, não aos escritores. A Bíblia é que é inspirada, e não seus autores humanos. O adequado, então, é dizer que: o produto é inspirado, os produtores não. Os autores indubitavelmente escreveram e falaram sobre muitas coisas, como, por exemplo, quando se referiram a assuntos mundanos, pertinentes a esta vida, os quais não foram divinamente inspirados. Todavia, visto que o Espírito Santo, conforme ensina Pedro, tomou posse dos homens que produziram os escritos inspirados, podemos, por extensão, referir-nos à inspiração em sentido mais amplo. Tal sentido mais amplo inclui o processo total pelo qual alguns homens, movidos pelo Espírito Santo, enunciaram e escreveram palavras emanadas da boca do Senhor; e, por isso mesmo, palavras dotadas da autoridade divina. É esse processo total de inspiração que contém os três elementos essenciais: a causalidade divina, a mediação profética e a autoridade escrita.<br /><strong>Causalidade divina</strong>. Deus é a Fonte Primordial da inspiração da Bíblia. O elemento divino estimulou o elemento humano. Primeiro Deus falou aos profetas e, em seguida, aos homens, mediante esses profetas. Deus revelou-lhes certas verdades da fé, e esses homens de Deus as registra¬ram. O primeiro fator fundamental da doutrina da inspiração bíblica, e o mais importante, é que Deus é a fonte principal e a causa primeira da verdade bíblica. No entanto, não é esse o único fator.<br /><strong>Mediação profética</strong>. Os profetas que escreveram as Escrituras não eram autômatos. Eram algo mais que meros secretários preparados para anotar o que se lhes ditava. Escreveram segundo a intenção total do coração, segundo a consciência que os movia no exercício normal de sua tarefa, com seus estilos literários e seus vocabulários individuais. As personalidades dos profetas não foram violentadas por uma intrusão sobrenatural. A Bíblia que eles produziram é a Palavra de Deus, mas também é a palavra do homem. Deus usou personalidades humanas para comunicar proposições divinas. Os profetas foram a causa imediata dos textos escritos, mas Deus foi a causa principal.<br /><strong>Autoridade escrita</strong>. O produto final da autoridade divina em operação por meio dos profetas, como intermediários de Deus, é a autoridade escríta de que se reveste a Bíblia. A Escritura "é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça". A Bíblia é a última palavra no que concerne a assuntos doutrinários e éticos. Todas as controvérsias teológicas e morais devem ser trazidas ao tribunal da Palavra escrita de Deus. As Escrituras receberam sua autoridade do próprio Deus, que falou mediante os profetas. No entanto, são os escritos proféticos e não os escritores desses textos sagrados que possuem e retêm a resultante autoridade divina. Todos os profetas morreram; os escritos proféticos prosseguem. <br />Em resumo, a definição adequada de inspiração precisa ter três fatores fundamentais: Deus, o Causador original, os homens de Deus, que serviram de instrumentos, e a autoridade escrita, ou Sagradas Escrituras, que são o produto final.Pastor Pedrohttp://www.blogger.com/profile/14959296050649164906noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-129497258255618826.post-27760800437944567802007-08-20T12:43:00.000-03:002008-12-11T20:32:46.316-03:00Quadro 2<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNt24OJiTl20g9HrxCUzaSlaswE69QPLgu-orouk_B1415Qr11fTecSGNVpsQlgYdxdyIwAQjsrjvivOkOSG-1AWowDXjifjNIekNoF22n1bXLq-SMn8ClcIlD68E_IoDiZ3UMj6kmlkFu/s1600-h/img004.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNt24OJiTl20g9HrxCUzaSlaswE69QPLgu-orouk_B1415Qr11fTecSGNVpsQlgYdxdyIwAQjsrjvivOkOSG-1AWowDXjifjNIekNoF22n1bXLq-SMn8ClcIlD68E_IoDiZ3UMj6kmlkFu/s400/img004.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5100809824071469954" /></a>Pastor Pedrohttp://www.blogger.com/profile/14959296050649164906noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-129497258255618826.post-41899054013159550972007-08-20T12:40:00.000-03:002008-12-11T20:32:49.262-03:00Quadro 1<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkJB_JZ5IjE2c-ajzLRenPg5jRj36nCEEjJ7e7bFFzPnNx06d5OeR7j4Xk-9Crld5UUFlrTZL8bQpJDBr7oq7gmxCG3B4zX6L7yhEoVYLyivv_azC1npwErjyeHuJdN8KOGrKgf_kE7EWp/s1600-h/img003.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkJB_JZ5IjE2c-ajzLRenPg5jRj36nCEEjJ7e7bFFzPnNx06d5OeR7j4Xk-9Crld5UUFlrTZL8bQpJDBr7oq7gmxCG3B4zX6L7yhEoVYLyivv_azC1npwErjyeHuJdN8KOGrKgf_kE7EWp/s400/img003.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5100808471156771698" /></a>Pastor Pedrohttp://www.blogger.com/profile/14959296050649164906noreply@blogger.com0