Introdução Bíblica

Esta página tem por finalidade colocar à disposição dos meus alunos da Escola Teológica Rev. Celso Lopes textos referentes à matéria título do blog

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

O CALENDÁRIO - Texto Complementar


I. Introdução

Recentemente, chegamos ao ano 2000. Será que aquele ano foi o primeiro do século XXI? Ou será que ele é o último do século XX? Por que dezembro não é o décimo mês do ano como parece indicar o seu próprio nome? E por que novembro não é o nono?
Estas e outras perguntas serão respondidas ao longo desse trabalho. Conheceremos como eram os diversos calendários que regeram distintas fases da história da humanidade. Saberemos, enfim, qual é a origem do calendário. E, principalmente, o que é um calendário.
Desde que o homem tomou consciência do seu passado e de sua história, fez-se necessário um sistema de referência mediante o qual se pudesse estabelecer uma ordem para contagem do tempo.
Para se instituir um sistema com tal finalidade é preciso que se disponha de algum fenômeno físico com um comportamento cíclico, que nos permita agrupar os acontecimentos em episódios, marcando-os dentro do ciclo correspondente e lhes atribuindo um número de ordem.
Neste sentido, o homem logo descobriu três fenômenos desse tipo os quais, desde o alvorecer da humanidade, não puderam passar despercebidos:
1. a sucessão dos dias e das noites;
2. as distintas fases da lua;
3. a seqüência das estações do ano.

Do primeiro surgiu a unidade de tempo básica e a mais comum para todos os povos que habitaram a terra: o dia.
As distintas fases da lua tiveram uma importância vital para a sociedade primitiva cuja atividade principal era a caça. Saber o tempo que levaria para chegar a lua cheia, por exemplo, era decisivo para preparar cuidadosamente uma boa excursão de caça que permitisse obter mais peças com o menor risco possível. Da mesma forma, a observação da cambiante imagem do nosso satélite oferecia o sistema mais natural para contabilizar a duração da gestação, ou do ciclo menstrual da mulher. Assim, do cômputo desses eventos originaram se o mês e o ano lunar.
O Sol também apresenta um comportamento que se repete de ciclo em ciclo, ainda que a sua duração seja bem mais longa. Basta observar o seu nascer e o seu ocaso durante vários dias consecutivos para se verificar que, a cada vez que nasce ou se põe, ele o faz em lugares diferentes, deslocando-se sempre na mesma direção — norte ou sul — até que chega um dia que tal direção se inverte. Nessa ocasião, ele passa a nascer e a se por nos pontos anteriormente ocupados, percorrendo o caminho inverso — sul ou norte.
Notadamente, desde o solstício de Inverno — 21 de dezembro (Observe-se que as datas se referem ao hemisfério Norte, uma vez que as fontes deste trabalho são de origem norte-americana) — até o de Verão — 21 de junho — os pores-do-sol têm lugar, nas latitudes do hemisfério Norte, cada vez mais para noroeste. Desde essa data até chegar novamente o 21 de dezembro, os ocasos ocorrerão cada dia mais para sudoeste. Também, a altura máxima do Sol no céu é variável, sendo mais baixa no Inverno do que no Verão. Fato semelhante ocorre com a parte iluminada do dia, que é mais longa do que as noites no Verão, e mais curta, no Inverno.
Todas estas mudanças são acompanhadas por outras que têm lugar no terreno, no clima, nas florestas, nos animais e em diversos outros aspectos da vida do nosso planeta. Contudo, tais mudanças não acontecem de maneira arbitrária, mas, sim, estão encadeadas de forma tão evidente que as suas correlações tiveram o poder de chamar a atenção do homem primitivo.
Identificar estas associações e predizer quando teriam lugar as mudanças foi algo fundamental para aquela sociedade inicialmente coletora e, mais ainda, para a sociedade agrícola que depois se formou. Saber quando lavrar, quando semear, quando colher e quando estocar para sobreviver durante as intempéries foi crucial para os primeiros ajuntamentos humanos. De tais observações surgiu a divisão do tempo em estações, e da repetição da seqüência das estações, o ano solar.
Já temos, portanto, as unidades sobre as quais podemos construir um calendário: o dia, o mês e o ano. Estas unidades são marcadas pelas mudanças da Lua e do Sol.

II. O Dia Solar
Vimos acima, em linhas gerais, os fenômenos em que se baseiam os calendários: o dia, o mês lunar e a sucessão das estações. O dia como unidade de tempo está vinculado ao movimento de rotação da Terra ao redor de seu eixo, cuja duração — igual a do giro da abóbada celeste, que é o que percebemos — pode ser calculada com uma precisão suficiente a partir das observações.
É fácil contar as voltas que um objeto dá sobre si mesmo, se colocarmos duas marcas, uma no próprio objeto e a outra exterior a ele. A partir daí, observa-se as vezes que uma dessas marcas passa na frente da outra. É isso o que se faz para contar os dias. Naturalmente, o termo “marca” aqui usado está no seu sentido amplo, significando qualquer coisa que nos permita discernir quando acaba um giro e começa o outro.
Para contar as voltas que a terra dá, tomamos como primeira marca um meridiano, que nada mais é do que uma semicircunferência sobre a superfície terrestre indo perpendicularmente ao equador do polo Norte ao polo Sul. A segunda marca é o Sol. Definidas ambas as referências, chamamos dia ao intervalo de tempo que transcorre entre duas passagens sucessivas do Sol pelo meridiano eleito. Na realidade, e por razões que veremos mais adiante, esta definição corresponde ao que se conhece como dia solar verdadeiro.
O dia solar verdadeiro, contudo, apresenta um grave inconveniente para ser usado como unidade temporal: a sua duração não é constante! Para que uma unidade de qualquer magnitude sirva como padrão é imprescindível que o seu valor seja precisamente definido, isto é, que não varie. Assim, o dia solar verdadeiro não cumpre esta condição.
Como a terra não descreve uma circunferência em torno do Sol, mas, sim, uma elipse, bem como o Sol não ocupa o centro, posto que se acha ancorado num ponto denominado foco, não a percorrendo com velocidade constante, o tempo entre duas passagens sucessivas do Sol pelo meridiano de referência varia de um dia para o outro. Esta dificuldade foi, entretanto, contornada, definindo-se um dia solar médio.
Para não descermos a detalhes desnecessários, acrescentamos apenas, ainda que correndo o risco de simplificarmos demais, que o dia solar médio se define como o valor médio do dia solar verdadeiro no período de um ano. Para calcular a sua duração, mede-se o tempo total que a terra leva para dar uma volta completa em torno do Sol. Divide-se esta cifra pelo número de dias solares verdadeiros contidos no dito período. O quociente obtido é o tempo do dia solar médio.
Desta forma, ainda que o dia solar médio seja às vezes mais curto e às vezes mais longo que o verdadeiro, o número dos dias ao cabo do ano será sempre o mesmo. Esta apreciação é fundamental para que o dia solar médio — inventado por nós — tenha sentido do ponto de vista do fenômeno astronômico que lhe serve de base. E como nós o definimos de forma que a sua duração seja constante, podemos, agora, usá-lo como unidade de tempo.
Todavia, o dia serve somente para datar acontecimentos que ocorreram num passado próximo, ou que acontecerão num futuro visível. Evidentemente, essa medida perde sua utilidade à medida que desejamos nos referir a datas que tenham acontecido num tempo muito distante.


III. O Ano Trópico
Como observamos, o dia é uma unidade totalmente inadequada para se registrar datas históricas. O seu emprego nos penalizaria com o manejo de cifras enormes e nos obrigaria a ter que atualizá-las a cada dia. Para realizar esta tarefa de maneira mais eficaz, é necessário que lancemos mão de uma outra unidade baseada no movimento de translação da terra ao redor do Sol: o ano trópico.
O ano trópico se define como o intervalo de tempo transcorrido entre duas passagens consecutivas do Sol pelo ponto do equinócio de Primavera. A palavra “equinócio” é um termo latino que significa “igual a noite”, porque, quando o sol se acha neste ponto, a parte iluminada do dia e a noite têm a mesma duração. A partir do equinócio de Primavera e à medida que avançamos para o Verão, a parte iluminada do dia vai crescendo até chegar ao solstício de Verão, a partir do qual começa a minguar até se fazer igual à noite no equinócio de Outono.
À continuação, o dia vai diminuindo até que a noite atinja a sua máxima duração no solstício de Inverno (21 de junho no hemisfério Sul). A partir daí, a parte diurna volta a crescer, ainda que se mantendo mais curta que a noite, até chegar de novo ao ponto do equinócio de Primavera, onde outra vez se igualam.
O intervalo de tempo que leva para ocorrer o ciclo completo acima descrito é o que se chama de ano trópico e eqüivale a 365,2444 dias solares médios. Tal cifra representa 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos. Assim o ano trópico serve de base para os calendários solares, categoria a que pertence, hoje, o calendário da maioria dos países.
Desta maneira, um calendário não é outra coisa do que um sistema de se contar longos períodos de tempo. A sua elaboração exige, de pronto, a satisfação de duas condições básicas:
1. A duração média do ano civil durante vários anos, a que chamamos de ano promédio, deve se aproximar o mais possível da duração do ano astronômico que lhe serve de base. No caso, a do ano trópico.
2. O ano civil deve conter um número inteiro de dias, pois, caso contrário, poderia ocorrer a situação de um ano começar à tarde, o seguinte pela manhã e o terceiro à noite, o que não seria muito sério.

Como o ano trópico não contém, segundo vimos, um número inteiro de dias solares médios, obedecer simultaneamente a ambas as condições torna-se, na prática, impossível de se cumprir.
Com efeito, como o ano não é um múltiplo do dia, como é o quilômetro do metro, ou o litro do centímetro cúbico, buscar que o ano civil conste de um número exato de dias, exige que se arredonde a sua duração. Isso introduz um desajuste entre a sua duração real e a sua duração estimada que, ao longo do tempo, terá como conseqüência o descumprimento da primeira condição.
Para remediar essa situação, é preciso ir introduzindo correções que tendam, senão a evitar, pelo menos, a minimizar a defasagem que se origina. A partir desse tipo de correção encontramos todo o itinerário que nos leva até o nosso calendário atual, uma caminhada que não foi ao longo dos séculos uma trilha de rosas.

IV. O Primitivo Calendário Romano
Retrocedendo no tempo, vamos descobrir a origem do nosso calendário atual na antiga Roma, durante o reinado de Numa Pompílio — 715 a 672 a. C. — o segundo dos reis legendários. Homem pacífico por excelência, foi eleito pelo Senado como sucessor de Rômulo, graças à fama de que gozava de possuir a virtude da sabedoria. A esse monarca é atribuída a lenda da organização religiosa de Roma, bem como da criação de colégios religiosos no império. Além disso e o mais importante para esse estudo, foi ele quem primeiro adaptou o antigo calendário romano, o de Rômulo, que era lunar, ao ciclo solar das estações.
Este calendário agrupava o ano em dez meses de 30 e 31 dias, com um total de 304 dias. Os meses — de meteri = medir — denominavam-se e ordenavam-se de acordo com a seguinte tabela:

Primitivo Calendário Lunar Romano:

1. MARTII março 31 dias..... 6. SEXTILIS sexto 30 dias
2. APRILIS abril 30 dias.... 7. SEPTEMBER setembro 30 dias
3. MAIUS maio 31 dias....... 8. OCTOBER outubro 31 dias
4. JUNIUS junho 30 dias..... 9. NOVEMBER novembro 30 dias
5. QUINTILIS quinto 31 dias..10. DECEMBER dezembro 30 dias


No calendário de Rômulo não havia nenhum mecanismo de correção e não existia ciclo; o ano promédio era de 304 dias, havendo, portanto, um erro de - 61,2422 dias.
O calendário de Rômulo necessitava, pois, de uma reforma, e Numa levou-a a cabo. As razões dessa reforma são explicadas a seguir. O tempo que leva para a Lua passar por duas fases sucessivas homônimas, por exemplo, de lua nova a lua nova, denomina-se mês sinódico e corresponde a cerca de 29,5 dias solares médios.
Assim, o ano de Rômulo, de 304 dias, era longo para 10 meses lunares de 295 dias e, ao mesmo tempo, muito curto em relação à estações (ano trópico = 365 dias). Doze meses lunares duram aproximadamente 354 dias, correspondente a 12 x 29,5, enquanto 13 meses corresponderiam a 383. Em vista disso, Numa alongou para 354 dias, aproximando-se bastante do ano trópico, do qual diferia apenas 11 dias.
A reforma de Numa baseou-se em dois pontos:
1. Acrescentou ao ano dois novos meses, JANUARIUS – janeiro e FEBRUARIUS – fevereiro, colocando-os à continuação dos já estabelecidos.
2. Modificou a distribuição dos dias nos meses.

Em princípio, todos os meses do calendário de Numa tinham um número ímpar de dias: quatro com 31 dias — março, maio, quinto e outubro — e os demais com 29 dias, exceto fevereiro que ficou com 27 dias. Isso se devia a uma peculiaridade desse calendário a qual dividia os dias em dois grupos: os dias fastis e os dias nefastis. Os dias fastis ocupavam os lugares ímpares e neles era permitido religiosamente se ocupar dos negócios e da distribuição da justiça. Os dias nefastis eram os dias pares, os quais eram sacrílegos, por serem dedicados aos deuses. Os romanos lhes atribuíam má sorte e não queriam saber deles.
E mais, o cômputo total dos dias destes doze meses era de 354 dias, cifra par e que não agradava a Numa. Desta maneira, decidiu o monarca alterar o número de dias de fevereiro acrescentando lhe mais um dia, chegando-se ao ano de 355 dias, distribuídos como na tabela seguinte:

Calendário de Numa

No Calendário de Numa havia um sistema de correção, pela introdução do mês Macedonius, alternativamente com 22 e 23 dias, ano sim e ano não; o ciclo era de 4 anos — 355, 377, 355 e 378 dias; ano promédio de 366,25 dias, com um erro aproximado de + 1 dia.
Como a duração do ano era de aproximadamente 10 dias mais curto que o ano solar, provocando uma grande diferença no curso de dois anos, o monarca decidiu intercalar, entre os dias 23 e 24 de fevereiro, um mês extra a cada dois anos, denominando-o de mês Macedonius que contava com 22 ou 23 dias alternativamente.
Com essa disposição, formava-se um ciclo de quatro anos, com uma duração promédia de 366,25 dias, corrigindo-se a situação anterior, embora excedendo de um dia o ano trópico.

V. A Reforma dos Decênviros

Em 450 a. C. , com a finalidade de corrigir a defasagem do Calendário de Numa, os Decênviros — grupo de dez magistrados que constituíam os tribunais permanentes encarregados de intervir na constituição das leis — adotaram um dos ciclos usados pelos gregos no cômputo do tempo: a octoeterida — octo = oito e etos = ano — do astrônomo Cleóstrato de Tecnedos.
Os romanos ao fazerem esta adaptação, estabeleceram que em cada terceiro período de oito anos, em vez de quatro Macedonius, intercalavam-se três de 22 dias. Estabelecia-se, assim, um ciclo de 24 anos dividido em três períodos de oito. O número total de dias de cada um dos dois períodos iniciais era de 2930 dias — 355+377+355+378+355+377+355+378 — o que totalizava 5860 dias. O terceiro período constava de cinco anos de 355 dias cada e três anos de 377 dias cada, os quais somavam 2906 dias. Assim, vinte e quatro anos totalizavam 5860 + 2906 = 8766 dias, dando como resultado um ano promédio de 365,25 o que se constituía num erro muito pequeno, isto é, apenas 11 minutos e 14 segundos em relação ao ano trópico.
Todavia, magistrados encarregados de dar ao mês Macedonius o número de dias necessários para assegurar a concordância do ano civil com o ano verdadeiro, começaram a fazê-lo de maneira arbitrária, atribuindo lhe os dias conforme suas conveniências, seus interesses, ou os interesses de seus amigos, para favorecer eleições ou, até, o pagamento de dívidas.
Estes abusos chegaram a tal ponto que, no tempo de Júlio César, havia uma defasagem de quase três meses entre o equinócio civil e o astronômico. Nesta situação, os meses do inverno correspondiam ao outono, e estes ao verão, estabelecendo-se uma confusão total.


VI. A Reforma Juliana
O calendário estabelecido pelos Decênviros esteve vigente até 46 a. C. Naquele ano, Júlio César realizou uma série de reformas no Estado, entre as quais a do calendário.
Para esta tarefa, buscou assessoria do matemático e astrônomo Sosígenes, o qual começou por reparar o erro acumulado, aumentando em 67 dias a duração do ano 46 a. C. pela intercalação de dois meses ao final de novembro, um de 29 e outro de 31 dias, mais 7 dias contados à parte. Como àquele ano correspondia um mês Macedônio de 23 dias, no total o ano ficou com 445 dias, pelo que foi denominado de o ano da confusão.
Tentando buscar com essas medidas a concordância do ano civil com as estações, Sosígenes ditou as seguintes regras naquilo a que veio se chamar de “Reforma Juliana”. Tais medidas foram as seguintes:
• Fixou-se o dia 1 de janeiro como o primeiro dia do ano e o 25 de março como o equinócio de Primavera.
• A duração do ano civil foi estabelecida em 365 dias solares médios no transcurso de três anos consecutivos.
• Cada quarto ano teria a duração de 366 dias.
• Suprimiu-se o mês Macedônio, agregando se os 10 dias correspondentes da seguinte maneira: dois aos meses de janeiro, sexto e dezembro que passaram a ter 31 dias; um dia aos meses de abril, junho, setembro e novembro os quais passaram a ter 30 dias.
• A cada quatro anos passava-se a intercalar um dia entre o 23 e 24 de fevereiro. Desta forma, os anos de 365 dias denominavam-se anos comuns, e os anos de 366 receberam o nome de bissextos.

A origem da denominação bissexto está na forma de contar os dias romanos. Eles dividiam os meses em três partes, chamando aos dias que iniciavam cada uma dessas partes de calendas, nonas e idos, respectivamente. Datavam os dias em ordem inversa a partir desses dias iniciais que usavam como referência.
Como as calendas correspondiam ao dia 1 de cada mês, as calendas de março, por exemplo, eram a primeira referência após o dia 24 de fevereiro. Assim desde o dia 24/02 até o 01/03, ambos inclusive, há seis dias, pelo que o 24 de fevereiro era, para os romanos, “o sexto dia antes das calendas de março”, ou em latim: sextus kalendas martii; o 23 de fevereiro era, assim, o septimus kalendas martii. E, o dia intercalado entre o 23 e o 24 de fevereiro era o sexto bis, ou como chamavam os romanos: bissextus, donde procede o dia bissexto que mais tarde, por analogia, veio a designar o ano em que a referida intercalação ocorria.
Desta maneira, a Reforma Juliana estabeleceu o seguinte calendário:

Calendário da Reforma Juliana

Neste calendário introduz-se um dia extra a cada 4 anos; o ciclo de quatro anos é de 365 + 365 + 365 + 366 dias; o ano promédio é igual a 365, 25 dias, havendo um erro de + 11 minutos e 14 segundos.
Tendo César sido assassinado um ano depois de entrar em vigor o Calendário Juliano, a aplicação da reforma foi mal interpretada pelos magistrados encarregados de intercalar os anos bissextos, os quais, em vez de considerar como bissextos os anos 1, 5, 9...da era Juliana — 45, 41, 37 a.C. da nossa contagem — consideraram outros, como os anos 45, 42, 39...
No ano 9 a.C., o erro foi corrigido pelo imperador Augustus, suprimindo o caráter bissexto dos anos 5 e 1 a.C. e do ano 4 d.C., anulando por esta maneira os três dias contados a maior naquele intervalo de tempo.
Ao ano 9 a.C. correspondia que fosse bissexto, tanto pela contagem correta como pela contagem dos magistrados. Assinala-se que, desde a reforma juliana até essa data (9 a.C.) tinha que se registrar 10 anos bissextos, mas haviam sido registrados 13.
A partir do ano 53 da era Juliana — 8 d.C. — foram intercalados regularmente, a cada quatro anos, o que resultou, a partir de então, que os anos múltiplos de quatro da nossa era fossem bissextos.
O pequeno erro de 11 minuto e 14 segundos que excede ao ano trópico, para que chegue a valer um dia, leva aproximadamente 128 anos, o que acarreta pouca diferença, mesmo no espaço de várias gerações. Todavia, tal diferença começa a pesar com o transcurso dos séculos.

VII. A Reforma Gregoriana

No Concílio de Nicéia, ocorrido no ano 325 d.C., observou-se que aquele erro de 11 minutos e 14 segundos estava ocasionando uma discrepância de três dias em relação ao ano astronômico. Desta forma, a chegada real da Primavera — equinócio de Primavera — estava acontecendo três dias antes da que estava assinalada no calendário.
Não obstante, em vez de corrigir a causa da defasagem, os conciliares limitaram-se a adiantar a data do equinócio da Primavera de 25 para 21 de março, estabelecendo tal data em caráter permanente, com a finalidade de determinarem sem erro o dia da Páscoa da Ressurreição, base do calendário eclesiástico.
O dia da Páscoa define-se como o Domingo seguinte à primeira Lua cheia que coincida com, ou seja posterior, ao equinócio de Primavera. Daí porque a importância que a igreja dava à determinação desse evento.
Mal comparando, o que fizeram em Nicéia foi acertar o relógio que adianta, sem mexer no seu mecanismo. 1177 anos mais tarde, quando Colombo chegava à América, o equinócio de Primavera estava ocorrendo no dia 12 de março, acumulando-se mais de 9 dias de erro.
A necessidade de reformar o calendário, no entanto, já se fazia sentir há muito tempo. Na busca de uma solução, submeteu-se a exame vários trabalhos de astrônomos cristãos para retificação do calendário, em resposta a uma espécie de concurso público proposto pelo Papa. Venceu tal concurso Luís Lílio, um médico e astrônomo calabrês, cujo trabalho foi apresentado postumamente por seu irmão Antônio, cuja aprovação ocorreu em bula pontifícia.
Como em 1582 já se acumulara um erro de dez dias entre o ano civil e o astronômico, o Papa Gregório XIII determinou que esses dez dias fossem suprimidos, saltando-se do dia 4 de outubro para o dia 15 do mesmo mês naquele ano. Todavia, uma vez corrigido o ano civil, era necessário tomar providências para se evitar o aumento daquela defasagem persistente, uma vez que não se modificara a duração do ano promédio da reforma juliana, nem tampouco a seqüência de três anos comuns e um bissexto então introduzido.
Levando-se em conta que o ano civil adiantava um dia inteiro a cada 128, 2 anos, devia adiantar-se 3 dias a cada quatro séculos, aproximadamente. Desta maneira, o problema apontado seria resolvido suprimindo-se esses três dias do referido período de tempo. Assim, com essa finalidade, concordou-se, como segunda medida da reforma, a supressão do caráter bissexto de 3 dos 100 anos bissextos que estariam contidos no período de 400 anos. Isto é, em 400 anos, em vez de intercalar 100 dias, só se intercalaria 97. Os bissextos suprimidos correspondem ao último ano de cada século cujas duas primeiras cifras não fossem múltiplos de quatro. O ciclo, por essa fórmula, passou a ser de 400 anos = (303 x 365) + (97 x 366) = 146097 dias; enquanto o ano promédio ficou igual a 365,2425 dias. Ficou, ainda um erro diminuto de +26 segundos, mas este foi reduzido a apenas 4 segundos com a supressão do bissexto do ano 4000 e de seus múltiplos.
Desde que se implantou a Reforma Gregoriana, ocorreram quatro finais de século — XVI, XVII, XVIII e XIX — nos anos 1600, 1700, 1800 e 1900. Como 16 é múltiplo de 4, o ano 1600 teve 366 dias. Entretanto, como 17, 18 e 19 não o são, os anos 1700, 1800 e 1900, que teriam que ser bissextos pelo calendário juliano, não o foram em virtude da aplicação da segunda regra da Reforma Gregoriana. O último ano do século XX, o ano 2000, também será bissexto, pois, de novo, o número formado pelos dois primeiros algarismos, 20, volta a ser múltiplo de 4.
O Calendário Gregoriano foi aceito de imediato pela Espanha, por Portugal e por parte da Itália. Mas, logo veio a ser adotado pelos demais países, embora tenha levado mais tempo para ser aceito pelos países de religião protestante, como a Alemanha e a Suíça, que a adotaram em 1700, e a Inglaterra e a Suécia que aceitaram a mudança em 1752. A Rússia foi o país que mais custou a adotar a reforma Gregoriana, somente a aceitando em 1918, um ano depois da revolução socialista. Este é, assim, o calendário pelo qual nos orientamos hoje.


VIII. Outras Informações

1. A palavra calendário deriva de kalendarium do latim medieval, significando livro de conta, o qual por sua vez vem de kalendae, palavra traduzida para o português como calendas, isto é, o primeiro dia de cada mês, como vimos anteriormente no calendário romano, quando os juros das dívidas deviam ser pagos.
Vejamos a seguir uma comparação entre os vários Sistemas de Calendário:


GREGORIANO (Nota 1) JUDEU
Janeiro 31........................ Tishri 30
Fevereiro 28...................... Heshvan 29
em anos bissexto 29 ou 30
Março 31......................... Kislev 29
ou 30
Abril 30......................... Tebet 29
Maio 31.......................... Shebat 30
Junho 30.......................... Adar 29
ou 30
Julho 31......................... Nisan (Nota 3) 30
Agosto 31........................ Iyar 29
Setembro 30....................... Sivan 30
Outubro 31....................... Tammuz 29
Novembro 30...................... Ab 30
Dezembro 31...................... Elul 29


MUÇULMAN........ HINDU(nota 5)

Muharram (Nota 4)30.............. Chait (Nota 6)(março-abril)
Safar 29........................ Baisakh(abril-maio)
Rabi I 30........................ Jeth(maio-junho)
Rabi II 29....................... Asarh(junho-julho)
Jumada I 30...................... Sawan(julho-agosto)
Jumada II 29..................... Bhadon(agosto-setembro)
Rajab 30......................... Ason(setembro-outubro)
Shaban 29........................ Kartik(outubro-novembro)
Ramadan 30....................... Aghan (novembro-dezembro)
Shawwal 29....................... Pus(dezembro-janeiro)
Dhul-Qadah 30.................... Magh(janeiro-fevereiro)
Dhul-Hijja 29.................... Phagun(fevereiro-março)
em anos bissexto 30

Nota 1. Os equinócios acontecem a 21 de março e a 23 de setembro, os solstícios em 22de junho e em 22 de dezembro.
Nota 2. Em anos bissexto Adar é seguido por Veadar, ou Adar Sheni, um mês intercalado de 29 dias.
Nota 3. Antigamente chamado Abib; o primeiro mês do calendário pós-exílico; às vezes chamado de primeiro mês do ano eclesiástico.
Nota 4. Atrasado pelas estações; o ano de Muhammadan é lunar e cada mês começa aproximadamente na lua nova; o ano 1 A.H. começou numa sexta-feira, 16 de julho de 622 d. C.
Nota 5. Um mês extra é inserido depois de todos os meses nos quais duas luas novas acontecem (uma vez em três anos). O mês intercalado tem o nome do que o precede.
Nota 6. Baisakh às vezes é considerado o primeiro mês do ano hindu.

2. Pelo Calendário Chinês, cujos anos são lunares, as celebrações do ano novo são de 19 a 21 de fevereiro.
Os chineses denominam os ciclos anuais por nome de animais, como os seguintes:

Rato
Boi
Tigre
Coelho
Dragão
Serpente
Cavalo
Cabra
Macaco
Galo
Cachorro
Porco


3. Os Dias da Semana:
Domingo
Inglês arcaico - sunnandaeg. O primeiro dia da semana dedicado ao sol.
Segunda-feira
Anglo saxão – Monandaeg. O segundo dia da semana. O dia da lua.
Terça-feira
O terceiro dia da semana
Quarta-feira
O quarto dia da semana. O dia de Woden ou o Dia de Odin. Os persas o tinham em alta conta porque a lua foi criada no quarto dia.
Quinta-feira
Em francês - Jeudi , isto é, o Dia de Júpiter. O quinto dia da semana.
O dia do deus THOR. Ambos, Júpiter e Thor eram deuses do trovão. A Quinta-feira às vezes foi chamada dia de tovão (em inglês – Thunderday)
Sexta-feira
O sexto dia da semana. Na antiga Roma, dies Veneris, dia de Venus. Sexta-feira foi considerada pelos escandinavos como o dia mais afortunado da semana, quando os casamentos aconteciam, mas foi considerado pelos cristãos como dia de azar porque foi o dia da crucificação.
Sábado
Anglo saxônio - Saeternes daeg, do latin Saturni dies, o dia de Saturno.

4. O Calendário judeu.
Este calendário data a Criação, fixada pelos judeus em 3.761 a. C., e consiste de 12 meses de 29 e 30 dias que se alternam, com um mês adicional de 30 dias interposto em anos intercalados — ditos embolísticos — para prevenir qualquer grande divergência dos meses do ano solar. Os 3º, 6º, 11º, 14º, 17º, e 19º anos do Ciclo Metônico são anos embolísticos.

5. O Calendário muçulmano.
Calendário usado em países islâmicos, cujas datas são contadas a partir de 16 de julho de 622 d.C., o dia de Hegira, isto é, o dia do vôo de Maomé de Meca para Medina, em 622. Consiste em 12 meses lunares de 29 dias 12 horas 44 minutos cada. Como resultado o ano muçulmano tem apenas 354 ou 355 dias. Um ciclo é de 30 anos.

IX. Curiosidades:
1. Quando a Inglaterra adotou o Calendário Gregoriano — pelo Ato de Chesterfields, em 1751 — em lugar do Calendário Juliano, 11 dia foram engolidos, saltando-se de 2 de setembro de 1752 para 14 setembro. Muitas pessoas pensaram que estavam sendo roubadas em onze dias, bem assim no pagamento de onze dias de trabalho. Houve, consequentemente, um grito popular: “Devolvam nossos onze dias!” , o que provocou uma grande comoção na sociedade inglesa.
2. Anno Domini, do latim, no ano de nosso Senhor Jesus Cristo. Este sistema de datar a partir do nascimento de Cristo foi introduzido pelo monge Dionisius Exiguus que viveu na primeira metade do século VI.
3. Luctus Annus, do latim, ano de luto. O período durante o qual é suposto que uma viúva permaneça solteira. Se ela se casa ante de nove meses da morte de seu marido, e uma criança eventualmente nasce nesse período, uma dúvida poderia surgir sobre sua paternidade.
4. Sabath, do hebreu, dia sagrado de descanso. É, em verdade, o sétimo dia da semana, que foi incorporado pelos antigos hebreus através do 4º Mandamento — Êxodo 20:8-11 — como um dia de descanso e adoração a Deus. O Domingo é, para os cristãos, o Dia do Senhor, sendo freqüentemente chamado, inadequadamente, por alguns, de Sabath. Para os muçulmanos, a Sexta-Feira é o dia semanal de descanso.
5. Sabatistas. Aqueles que observam o dia de descanso, geralmente o sábado, com exatidão excessiva, uma característica peculiar dos puritanos ingleses e escoceses, bem como daqueles que professam a religião adventista. Durante tal dia, é proibido qualquer tipo de trabalho ou de recreação.
6. Jornada de Sábado. É a jornada mencionada em Atos 1:12 — Então, voltaram para Jerusalém, do monte chamado Olival, que dista daquela cidade tanto como a jornada de um sábado. — na qual não era permitido pelos judeus exceder a distância entre a arca e a parte mais extrema do acampamento. Tal distância era de 2.000 côvados, aproximadamente 1.000 jardas, ou 914 metros. Surgiu da determinação contida em Êxodo 16:29 — Considerai que o SENHOR vos deu o sábado; por isso, ele, no sexto dia, vos dá pão para dois dias; cada um fique onde está, ninguém saia do seu lugar no sétimo dia. — pela qual é proibido viajar no Sábado sagrado. A distância calculada vem de Josué 3:4 — Contudo, haja a distância de cerca de dois mil côvados entre vós e ela (a Arca). Não vos chegueis a ela, para que conheçais o caminho pelo qual haveis de ir, visto que, por tal caminho, nunca passastes antes. — que estabelece a medida de 2.000 côvados entre a arca e as pessoas, quando eles viajavam pelo deserto. Como as suas tendas ficavam a essa distância da arca, lhes foi assegurado que eles poderiam caminhar, no máximo, esta distância, para que pudessem chegar até o local de adoração.
7. Ano Sabático. Um ano em sete, quando a terra, de acordo com a lei Mosaica, devia descansar, nela não se semeando nada — Êxodo 23:10, Levítico 25: 2-7, Deuteronômio 15: 1-11 — O termo geralmente é usado em universidades e no mundo acadêmico para especificar um período de liberdade durante o qual o professor se dedica ao estudo ou a viajar.

X. Conclusão
Observamos que o ano promédio da Reforma Gregoriana gera um dia a mais no espaço de mais de três milênios — algo como 3.333 anos — aspecto que foi corrigido eliminando-se o caráter bissexto do ano 4000 e de seus múltiplos. Com essa correção, seria necessário que transcorressem 20.000 anos para que , de novo, o ano civil defasasse um dia do ano astronômico.
Entretanto, ao se utilizar de escalas de tempo tão grandes, não faz sentido falar de uma exatidão tão precisa, posto que, para intervalos de tempo dessa ordem, passam a ter significado outras variações que antes não se considerou, como a variação da velocidade de rotação da terra — que afeta a duração do dia solar médio — e da velocidade dos seus parâmetros orbitais — que afetam a duração do ano trópico.
Diante disso, poder-se-ia pensar que o Calendário Gregoriano é praticamente perfeito, carecendo, portanto, de sentido criticar a essência dele. Não obstante, tal calendário poderia ser otimizado, alcançando-se uma maior precisão com um menor número de correções. Este é o argumento do astrônomo persa Omar Kayyam (1050-1123) que defendia a idéia de se utilizar um período de 128 anos para suprimir o caráter bissexto. Isto é, em 128 seria necessário intercalar 31 dias em vez de 32. Com essa medida, se obteria um ano promédio de 365, 24218 dias, o que se traduziria numa defasagem de um dia a cada 50.000 anos, sem a necessidade de nenhuma outra correção.
O único inconveniente do modelo acima está no fato de que não há uma fórmula fácil de se determinar qual o ano bissexto suprimido.

XI. Referências Bibliográficas

COOGAN, Michel. The Oxford Companion to the Bible. Oxford University Press, New York, 1993.
JÚNIOR, José L. Bíblia 98. Bíblia Net, Versão em multimídia, Curitiba, 1998.
THOMPSON, Frank C. Bíblia de Referência Thompson. Editora Vida, São Paulo, 1996.
___________ Lira Espanhola. Site da Internet.

Pedro Corrêa Cabral

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Texto Complementar - Ilustração

A BÍBLIA EM ORDEM CRONOLÓGICA
Edward Reese – Editora Vida, São Paulo, 2003
(transcrição da parte inícial da obra de referência)

A ETERNIDADE PASSADA

O homem, como ser finito, não pode compreender os caminhos de um Deus infinito.
Há questões sobre as quais a Bíblia silencia, cujas respostas só poderemos obter na eternidade.
Muitos estudiosos acreditam que Satanás, após ser expulso do céu, tornou a terra vazia e caótica, destruindo desse modo a criação pré-adâmica. Então Deus, há cerca de seis mil anos, restaurou o planeta, preparando-o para o homem que conhecemos. Outros acreditam que Satanás não pisou a terra antes de Gênesis 3, quando o pecado entrou no mundo. Reese e Klassen acreditam na teoria da dupla criação (também conhecida como teoria do intervalo).

A PREEXISTÊNCIA DE CRISTO
JOÃO 1
1. No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. 2 Ele estava no princípio com Deus.

A CRIAÇÃO

1. Declaração
SALMO 90
2. Antes de nascerem os montes e de criares a terra e o mundo, de eternidade a eternidade tu és Deus.

2. Origem da criação

GÊNESIS 1
1. No princípio Deus criou os céus e a terra.

3. Satanás é expulso do céu

ISAÍAS 14
12 Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações! 13 Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; 14 subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo. 15 Contudo, serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo. 16 Os que te virem te contemplarão, hão de fitar-te e dizer-te: É este o homem que fazia estremecer a terra e tremer os reinos? 17 Que punha o mundo como um deserto e assolava as suas cidades? Que a seus cativos não deixava ir para casa?
EZEQUIEL 28
13 Estavas no Éden, jardim de Deus; de todas as pedras preciosas te cobrias: o sárdio, o topázio, o diamante, o berilo, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo e a esmeralda; de ouro se te fizeram os engastes e os ornamentos; no dia em que foste criado, foram eles preparados. 14 Tu eras querubim da guarda ungido, e te estabeleci; permanecias no monte santo de Deus, no brilho das pedras andavas. 15 Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniqüidade em ti. 16 Na multiplicação do teu comércio, se encheu o teu interior de violência, e pecaste; pelo que te lançarei, profanado, fora do monte de Deus e te farei perecer, ó querubim da guarda, em meio ao brilho das pedras. 17 Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; lancei-te por terra, diante dos reis te pus, para que te contemplem. 18 Pela multidão das tuas iniqüidades, pela injustiça do teu comércio, profanaste os teus santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu, e te reduzi a cinzas sobre a terra, aos olhos de todos os que te contemplam.

4. Julgamento da criação

GÊNESIS 1
2 A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo,
JEREMIAS 4
23 Olhei para a terra, e ei-la sem forma e vazia; para os céus, e não tinham luz. 24 Olhei para os montes, e eis que tremiam, e todos os outeiros estremeciam. 25 Olhei, e eis que não havia homem nenhum, e todas as aves dos céus haviam fugido. 26 Olhei ainda, e eis que a terra fértil era um deserto, e todas as suas cidades estavam derribadas diante do SENHOR, diante do furor da sua ira.

5. Terra criada para habitação
Isaías 45
18 Porque assim diz o SENHOR, que criou os céus, o Deus que formou a terra, que a fez e a estabeleceu; que não a criou para ser um caos, mas para ser habitada: Eu sou o SENHOR, e não há outro.
GÉNESIS 2
4 Esta é a gênese dos céus e da terra quando foram criados, quando o SENHOR Deus os criou.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Aula 14 - Traduções da Bíblia


A transmissão da revelação da parte de Deus para nós gira em torno de três desenvolvimentos históricos significativos: a invenção da escrita antes de 3000 a.C.; os inícios da tradução antes de 200 a.C.; os desenvolvimentos da imprensa antes de 1600 d.C. Já vimos antes a redação e a cópia dos manuscritos originais da Bíblia, bem como o papel, o método e as práticas da crítica textual na preservação do texto dos documentos originais. Aqui dirigiremos a atenção à tradução da Palavra de Deus.
Esta parte será devotada ao estudo dos primeiros esforços na tradução da Bíblia, e àqueles que por meio da língua empreenderam esses esforços. Antes, todavia, de nos voltarmos para essas traduções, e preciso que entendamos com clareza certos termos técnicos da história da tradução da Bíblia.

Definições e distinções
Há definições mais precisas de alguns termos básicos usados no estudo da tradução da Bíblia, do que as definições usadas de modo geral. O estudante cuidadoso da Bíblia deve evitar a confusão desses termos.

Definições
Tradução, Tradução Literal e Transliteração. Esses três termos estão intimamente correlacionados. Tradução é simplesmente a transposição de uma composição literária de uma língua para outra. Por exemplo, se a Bíblia fosse transcrita dos originais hebraico e grego para o latim, ou do latim para o português, chamaríamos esse trabalho tradução. Se esses textos traduzidos fossem vertidos de volta para as línguas originais, também chamaríamos isso tradução. A The new English Bible [Nova Bíblia inglesa] (NEB) (1961,1970) é uma tradução. A tradução literal é uma tentativa de expressar, com toda a fidelidade possível e o máximo de exatidão, o sentido das palavras originais do texto que está sendo traduzido. Trata-se de uma transcrição textual, palavra por palavra. O resultado é um texto um tanto rígido. É o caso da obra Young's literal translation of the Holy Bible [Tradução literal de Young da Bíblia Sagrada] (1898). A transliteração é a versão das letras de um texto em certa língua para as letras correspon¬dentes de outra língua. É claro que uma tradução literal da Bíblia fica sem sentido para urna pessoa de pouca cultura, diante de um texto que lhe soa esquisito. No entanto, a transliteração de palavras como "anjo", "batizar" e "evangelizar" foram introduzidas nas línguas modernas.

Versão, revisão, versão revista e recensão. Esses termos têm estreito relacionamento entre si. Tecnicamente falando, versão é uma tradução da língua original (ou com consulta direta a ela) para outra língua, ainda que comumente se negligencie essa distinção. O segredo para a compreensão é que a versão envolve a língua original de determinado manuscrito. Para todos os efeitos práticos, a NEB é uma versão, tomando-se essa palavra nesse sentido. A The Rheims-Douay Bible (1582-1609) e a King James version [Versão do rei Tiago] (KJV) (ou Authorized version, AV, 1611) não foram traduzidas a partir das línguas originais. A Rheims-Douay foi traduzida da Vulgata latina, que é uma tradução também, enquanto a KJV é a quinta revisão da versão de Tyndale. No entanto, a Revised version [Versão revisada] (RV ou ERV) (1881,1885), a The American standard version [Versão padrão americana] (ASV) (1946, 1952) e a Revised standard version [Versão padrão revisada] (RSV) (1946,1952) são versões no sentido mais comum da palavra. Entenda-se, porém, que o fator crucial é este: uma versão deve ser o trabalho de traduzir um texto da língua original.
Revisão, ou versão revista, é termo usado para descrever certas traduções, em geral feitas a partir das línguas originais, que foram cuidadosa e sistematicamente revistas, cujo texto foi examinado de forma crítica, com vistas em corrigir erros ou introduzir emendas ou substituições. A KJV é um exemplo de tal revisão, como também as edições da Bíblia cha¬madas Rheims-Douay-Challoner e RSV. A New American standard Bible [Nova Bíblia americana padrão] (NASB) (1963,1971) é o exemplo mais notável e recente de uma completa revisão do texto bíblico.

Paráfrase e comentário.
Paráfrase é uma tradução "livre" ou "solta". O objetivo é que se traduza a idéia, e não as palavras. Daí que a paráfrase é mais uma interpretação que uma tradução literal do texto. Na história da tradução da Bíblia, esse tipo de texto tem sido muito popular. Na antiguidade, ao redor do século VII, por exemplo, Cedmão fez paráfrases da Criação. Entre as mais recentes paráfrases temos a obra de J. B. Phillips, New Testament in modern English [Novo Testamento em inglês moderno], A Bíblia na linguagem de hoje (BLH), da Sociedade Bíblica do Brasil e a Bíblia viva, de Kenneth Taylor. O comentário é simplesmente uma explicação das Escrituras. O exemplo mais antigo desse tipo de trabalho é o Midrash, ou comentário judaico do Antigo Testamento. Em anos recentes têm surgido traduções da Bíblia conhecidas como "ampliadas".Elas contêm comentários implícitos, às vezes explícitos, do texto, dentro da própria tradução. Bastam dois exemplos para ilustrar esse tipo de Bíblia: a de Kenneth S. Wuest, Expanded translation of the New Testament [Tradução ampliada do Novo Testamento] (1956-1959), que usou os mesmos princípios para as várias partes do discurso; a Lockman Foundation tentou todos os esforços para traduzir a The amplified Bible [A Bíblia ampliada] (1965), que seria também um comentário que emprega travessões, colchetes, parênteses e itálicos.

Distinções
Para que apreciemos de modo integral o papel desempenhado pelas traduções da Bíblia, é importante que compreendamos que o próprio processo de traduzi-la é indício da vitalidade de que a Bíblia goza no seio do povo de Deus. Logo de início, as traduções constituíram parte fundamen¬tal da vida religiosa dos antigos judeus. Esses deram o primeiro passo a preceder todas as traduções posteriores. Na igreja primitiva, as atividades missionárias eram acompanhadas por diversas traduções da Bíblia em outras línguas. Com o passar do tempo, surgiu mais uma fase na história da tradução da Bíblia, com o desenvolvimento da imprensa. O resultado foi que devemos fazer perfeita distinção entre as três categorias genéricas de traduções da Bíblia: as traduções antigas, as medievais e as modernas.

Antigas traduções da Bíblia. As traduções mais antigas continham trechos do Antigo Testamento e às vezes também do Novo. Apareceram antes do período dos concílios da igreja (c. 350 d.C), abarcando obras como o Pentateuco samaritano, os Targuns aramaicos, o Talmude, o Midrash e a Septuaginta (LXX). Logo após o período apostólico, essas traduções antigas tiveram prosseguimento na versão de Áqúila, na revisão de Símaco, nos Héxapla de Orígenes e nas versões siríacas do Antigo Testamento. Antes do Concílio de Nicéia (325) surgiram traduções do Novo Testamento para o aramaico e para o latim.

Traduções medievais da Bíblia. As traduções da Bíblia produzidas durante a Idade Média em geral continham tanto o Antigo como o Novo Testamento. Foram concluídas entre 350 e 1400. Durante esse período, as traduções da Bíblia eram dominadas pela Vulgata latina de Jerônimo (c. 340-420). A Vulgata constituiu a base tanto dos comentários como do pensamento, por toda a Idade Média. Foi dela que surgiu a paráfrase de Cedmão, a obra “História eclesiástica”, de Beda, o Venerável, e até mesmo a tradução da Bíblia para o inglês, feita por Wycliffe. A Bíblia continuou a ser traduzida para outras línguas durante esse período.

Traduções modernas. As traduções modernas surgiram a partir da épo¬ca de Wycliffe e de seus sucessores. Seguindo o exemplo de Wycliffe, visto que foi ele o pai da primeira Bíblia completa em inglês, William Tyndale (1492-1536) fez sua tradução diretamente das línguas originais, em vez de usar a Vulgata latina como fonte. Desde essa época surgiu uma multiplicidade incrível de traduções que continham o total ou apenas partes do Antigo e às vezes também do Novo Testamento. Logo após o desenvolvimento dos tipos móveis de Johann Gutenberg (c. 1454), a história da transmissão, da tradução e da distribuição da Bíblia adentra uma era inteiramente nova.
A tradução da Bíblia ajudou a manter o judaísmo puro, nos últimos séculos antes de Cristo, como mostra nosso tratamento sobre o Pentateuco samaritano e os Targuns. A tradução chamada Septuaginta (LXX) foi feita em grego, em Alexandria, no Egito (iniciando-se entre 280-250 a.C.), e serviu de fundo às traduções para o latim e para outras línguas. Essas traduções foram vitais para a evangelização, para a expansão e para o estabelecimento da igreja. Desde a Reforma, a disseminação da Bíblia vem resultando em traduções em numerosas línguas. O papel desempenhado pela Bíblia em inglês tem sido importantíssimo entre as modernas traduções. Nosso debate seguirá essas linhas tópicas, genéricas, iniciando-se com as traduções para o aramaico, para o siríaco e outras que se lhes relacionam.

Traduções principais
As mais antigas traduções da Bíblia tinham o propósito duplo que não pode ser subestimado: eram usadas a fim de disseminar a mensagem dos autógrafos ao povo de Deus, e ajudá-lo na obrigação de manter a religião pura. A proximidade dos autógrafos também indica sua importância, visto que conduzem o estudioso da Bíblia de volta aos primórdios dos documentos originais.

O Pentateuco samaritano
O Pentateuco samaritano pode ter-se originado no período de Neemias, em que se reedificou Jerusalém. Não sendo, na verdade, uma tradução, nem uma versão, mostra a necessidade do estudo cuidadoso para que se chegue ao verdadeiro texto das Escrituras. Essa obra foi, de fato, uma porção manuscrita do texto do próprio Pentateuco. Contém os cinco livros de Moisés, tendo sido escrito num tipo paleo-hebraico, muito semelhante ao que se encontrou na pedra moabita, na inscrição de Siloé, nas Cartas de Laquis e em alguns manuscritos bíblicos mais antigos de Qumran. A tradição textual do Pentateuco samaritano é independente do Texto massorético. Não foi descoberto pelos estudiosos cristãos senão em 1616, embora fosse conhecido dos pais da igreja, como Eusébio de Cesaréia e Jerônimo, tendo sido publicado, pela primeira vez, na obra Poliglota de Paris (1645) e, depois, na Poliglota de Londres (1657).
As raízes dos samaritanos podem ser encontradas na antiguidade, na época de Davi. Durante o reinado de Onri (880-874 a.C.) a capital havia sido estabelecida em Samaria (1Rs 16.24), e todo o Reino do Norte veio a ser conhecido como Samaria. Em 732 a.C., os assírios, sob Tiglate-Pileser III (745-727), conquistaram a parte nordeste de Israel e estabeleceram a política de deportar os habitantes e importar outros povos cativos para outras terras conquistadas. Sob Sargão II (em 721 a.C.) seguiu-se o mesmo procedimento, quando esse rei conquistou o resto de Israel. A Assíria impôs o casamento misto sobre os israelitas que não haviam sido deportados, para garantir que nenhuma revolta ocorresse, pois os povos estariam automaticamente perdendo sua nacionalidade e absorvendo as culturas deoutros povos cativos (2Rs 17.24—18.1). De início, os colonos adoravam deuses próprios. Quando os judeus voltaram do cativeiro babilónico, ou um pouco depois disso, esses colonos aparentemente desejaram seguir o Deus de Israel. Os judeus impediram que os samaritanos fossem integrados, e estes, por sua vez, se opuseram à restauração (v. Ed 4.2-6; Ne 5.11—6:19). No entanto, por volta de 432 a.C., a filha de Sambalate casou-se com o neto do sumo sacerdote Eliasibe. O casal misto foi expulso de judá, e tal incidente provocou o fato histórico do rompimento entre judeus e samaritanos (v. Ne 13.23-31).
A religião samaritana como sistema separado de adoração, na verdade, data da expulsão do neto do sumo sacerdote, em cerca de 432 a.C. Por essa época, um exemplar da Torá pode ter sido levado a Samaria e colocado no templo que havia sido construído no monte Gerizim, em Siquém (Nablus), onde se estabelecera um sacerdócio rival. Essa data, no século V, pode explicar tanto o texto paleo-hebraico quanto a dupla categorização, ou divisão do Pentateuco samaritano em Lei e livros não-canônicos. Esse apego samaritano à Torá e o isolamento desse povo, separado dos judeus, resultou em que a Lei foi submetida a uma tradição textual à parte.
O manuscrito mais antigo do Pentateuco samaritano data de meados do século XIV e trata-se de um fragmento de um pergaminho — o rolo chamado Ábisa. O códice do Pentateuco samaritano mais antigo traz uma nota sobre ter sido vendido em 1149-1150 d.C, embora fosse muito mais velho. A Biblioteca Pública de Nova Iorque abriga outro exemplar que data de cerca de 1232. Imediatamente após a descoberta desse exemplar, em 1616, o Pentateuco samaritano foi aclamado como superior ao Texto massorético. No entanto, depois de cuidadoso estudo, foi relegado a posição inferior. Só recentemente esse documento reobteve um pouco de sua antiga importância, ainda que seja considerado até hoje de menor im¬portância do que o texto massorético da lei. Os méritos do texto do Pentateuco samaritano podem ser avaliados pelo fato de apresentar apenas 6 000 variantes em relação ao Texto massorético, e em sua maior parte constituem diferenças ortográficas que se considerariam insignificantes. Há ali a afirmativa de que o monte Gerizim é o centro de adoração, e não a cidade de Jerusalém, com acréscimos aos relatos de Êxodo 20.2-17 e Deúteronômio 5.6-21. Às vezes, o Pentateuco samaritano e a Septuaginta concordam a respeito de uma redação que, todavia, é diferente do Texto massorético; provavelmente isso se deva a que aqueles trazem o texto original. No entanto, o Pentateuco samaritano reflete tendências culturais na ambientação hebraica, como inserções sectárias, repetições das ordens de Deus, impulsos no sentido de modernizar certas formas verbais antigas e tentativas de simplificar as partes mais difíceis da redação hebraica.

Os targuns aramaicos
A origem dos targuns. Há evidências de que os escribas, já nos tempos
de Esdras (Ne 8.1-8), estavam escrevendo paráfrases das Escrituras
hebraicas em aramaico. Não estavam produzindo traduções, mas textos
explicativos da linguagem arcaica da Torá. As pessoas que realizavam
esse trabalho de produzir paráfrases eram chamados methurgerman; desempenhavam papel importante na comunicação da palavra de Deus em língua hebraica (que aos ouvidos samaritanos soava tão exótica), na língua do dia-a-dia que o povo entendia bem. Antes do nascimento de Cristo, quase todos os livros do Antigo Testamento tinham suas paráfrases, ou interpretações (targuns). Ao longo dos séculos seguintes o targum foi sendo redigido até surgir um texto oficial.
Os mais antigos targuns aramaicos provavelmente foram escritos na Palestina, durante o século II d.C., embora haja evidências de alguns textos amaraicos de um período pré-cristão. Esses textos primitivos, oficiais do targum, continham a lei e os profetas, embora targuns de épocas posteriores também incluíssem outros escritos do Antigo Testamento. Vários targuns não-oficiais, em aramaico, foram encontrados nas cavernas de Qumran, cujos textos seriam substituídos pelos textos oficiais do século II d.C. Durante o século III, todos os exemplares do Targum palestino oficial, abrangendo a lei e os profetas, foram praticamente engolidos por outra família de paráfrases dos textos bíblicos, chamadas Targuns aramaico-babilônicos. As cópias do targum que contivessem os demais escritos sagrados, além da lei e dos profetas, continuavam a ser feitas extra-oficialmente.

Os targuns que mais se destacaram. Durante o século III d.C., surgiu na Babilónia um targum aramaico sobre a Torá. Possivelmente se tratava de uma versão corrigida de texto palestino antigo; mas também poderia ter se originado na Babilónia, tendo sido tradicionalmente atribuído a Onquelos (Ongelos), ainda que tal nome provavelmente resultasse de confusão com Áqúila.
O Targum de Jônatas ben Uzziel é outro targum babilónico em aramaico que acompanhava os profetas (os primeiros e os últimos). Data do século IV, sendo uma tradução mais livre do texto que a tradução de Onquelos. Esses targuns eram lidos nas sinagogas: o texto de Onquelos ao lado da Torá, que se liam em sua inteireza; Jônatas era lido ao lado de seleções dos profetas (haphtaroth, pl.). Visto que as demais partes do An¬tigo Testamento (escritos) não eram lidas nas sinagogas, não se produziu nenhum targum oficial, mas havia cópias não-oficiais usadas pelas pessoas de modo particular. Pelos meados do século VII, surgiu o Targum do pseudo-Jônatas, sobre o Pentateuco. Trata-se de uma mistura do Targum de Onquelos e alguns textos do Midrash. Outro targum apareceu ao redor do ano 700, o Targum de Jerusalém, do qual sobreviveu apenas um fragmento. Nenhum desses targuns é importante sob o aspecto do texto, mas todos provêem informações importantes para o estudo da hermenêutica, visto que indicam a maneira por que as Escrituras eram interpretadas pelos estudiosos rabínícos.

O Talmude e o Midrash
Surgiu um segundo período na tradição dos escribas do Antigo Testamento, entre 100 e 500 d.C, conhecido como o período talmúdico. O Talmude (lit., instrução) desenvolveu-se como um corpo da lei civil e canônica hebraica, com base na Torá. O Talmude basicamente representa as opiniões e as decisões de professores judeus de cerca de 300 a 500 d.C., consistindo em duas principais divisões: o Midrash e a Gemara. A Mishna (repetição, explicação) completou-se perto de 200 d.C., como se fora um digesto hebraico de todas as leis orais, desde o tempo de Moisés. Era altamente considerada como a segunda lei, sendo a Tora a primeira. A Gemara (término, finalização) era um comentário ampliado, em aramaico, da Mishna. Foi transmitida em duas tradições: a Gemara palestina (c. 200) e a Gemara babilônica, maior, dotada de mais autoridade (c. 500).
O Midrash (lit., estudo textual) na verdade era uma exposição formal, doutrinária e homilética das Sagradas Escrituras, redigida em hebraico, ou em aramaico. De mais ou menos 100 até 300 d.C., esses escritos foram reunidos num corpo textual a que se deu o nome de Halaka (procedimento), que era uma expansão adicional da Torá, e Hagada (declaração, explicação), ou comentários de todo o Antigo Testamento. O Midrash de fato diferia do Targum neste ponto: o Midrash eram comentários, em vez de paráfrases. O Midrash contém algumas das mais antigas homilias do Antigo Testamento, bem como alguns provérbios e parábolas, textos usados nas sinagogas,

Traduções siríacas
A língua siríaca (aramaico) de algumas partes do Antigo Testamento e até mesmo de alguns manuscritos do Novo Testamento, era comparável ao grego coiné e ao latim da Vulgata. O aramaico era a língua comum do povo nas ruas. Visto que os judeus da época do Senhor Jesus, sem dúvida alguma, falavam o aramaico, a língua daquela região toda, é razoável presumir que os judeus que moravam na vizinha Síria também falassem esse idioma. Por sinal, Josefo relata que os judeus do século I faziam proselitismo nas áreas a leste da antiga Nínive, perto de Arbela. Seguindo o exemplo deles, os primeiros cristãos partiram para a mesma área geográfica e prosseguiram até a Ásia Central, a índia e a China. A língua básica desse grande ramo do cristianismo era o siríaco, ou o que F. F. Bruce chamava "aramaico cristão". Uma vez que a igreja começou a mover-se, saindo da Síria, desenvolvendo seus esforços missionários, tornou-se premente a necessidade de uma versão da Bíblia especial para essa região.

Siríaca peshita. A Bíblia traduzida para o siríaco era comparável à Vulgata latina. Era conhecida como Peshita (lit., simples). O texto do Antigo Testamento da Peshita deriva de um texto surgido em meados do século II ou início do III, embora a designação Peshita date do século IX. É provável que o Antigo Testamento houvesse sido traduzido do hebraico, mas recebeu revisão a fim de conformar-se com a LXX. A Peshita segue o Texto massorético, supre excelente apoio textual, mas não é tão confiável, como testemunha independente do texto genuíno do Antigo Testamento.
Acredita-se que a edição padrão do Novo Testamento siríaco derive de uma revisão datada do século V, feita por Rabbula, bispo de Edessa (411-435). Sua revisão de fato se fez em manuscritos que continham versões siríacas, cujo texto foi alterado para aproximar-se mais dos manuscritos gregos que na época eram usados em Constantinopla (Bizâncio). Essa edição do Novo Testamento siríaco, mais a revisão cristã feita no Antigo Testamento siríaco, viria a ser conhecida como Peshita. Em obediência à ordem de Rabbula, segundo a qual um exemplar de sua revisão fosse colocado em cada igreja de sua diocese, a Peshita obteve ampla circulação de meados do século V até seu final. Em decorrência de sua atuação, a versão Peshita veio a tornar-se a versão autorizada dos dois ra¬mos principais do cristianismo siríaco, os nestorianos e os jacobitas.

Traduções gregas
Durante as campanhas de Alexandre, o Grande, os judeus foram alvo de considerável favor. À medida que ele avançava em suas conquistas, ia estabelecendo centros de populações e de administradores que cuidassem dos novos territórios que ia conquistando. Muitas dessas cidades receberam o nome de Alexandria, transformando-se em centros de cultura, em que os judeus recebiam tratamento preferencial. Assim como os judeus haviam abandonado sua língua materna, o hebraico, trocando-a pelo aramaico, no Oriente Próximo, abandonaram o aramaico a favor do grego, em cidades grandes como Alexandria, no Egito.
Logo após a morte de Alexandre, em 323 a.C, seu Império foi dividido pelos seus generais em várias dinastias. Os ptolomeus ficaram com o controle do Egito, os selêucidas dominaram a Ásia Menor, os antigonidas ficaram com a Macedônia, e surgiram, então, vários reinos de menor importância. No que diz respeito à Bíblia, a dinastia do Egito, sob os ptolomeus, é de importância primordial. Essa dinastia recebeu seu nome de Ptolomeu I Sóter, filho de Lago, governador de 323 a 305 e rei de então até sua morte, em 285. Foi sucedido por seu filho Ptolomeu II Filadelfo (285-246), que se casou com a irmã, Arsínoe, seguindo o costume dos faraós.
Durante o reinado de Ptolomeu II Filadelfo, os judeus receberam privilégios políticos e religiosos totais. Também foi durante esse tempo que o Egito passou por um tremendo programa cultural e educacional, sob o patrocínio de Arsínoe. Nesse programa, inclui-se a fundação do museu de Alexandria e a tradução das grandes obras para o grego. Entre as obras que começaram a ser traduzidas para o grego, nessa época, estava o Antigo Testamento hebraico. De fato, era a primeira vez que o Antigo Testamento estava sendo traduzido para outra língua, como dissemos anteriormente. Nosso tratamento agora gira em torno dessa tradução e de outras que a ela se relacionam.

A Septuaginta (LXX)
Os líderes do judaísmo em Alexandria produziram uma versão mo¬delar do Antigo Testamento em língua grega conhecida pelo nome de Septuaginta (LXX), palavra grega que significa setenta. Embora esse termo se aplique estritamente ao Pentateuco, que foi o único trecho da Bíblia hebraica que se traduziu totalmente durante o tempo de Ptolomeu II Filadelfo, essa palavra viria a denotar a tradução para o grego de todo o Antigo Testamento. A própria comunidade judaica, mais tarde, perdeu o interesse de preservar a sua versão grega, quando os cristãos começaram a usá-la extensivamente como seu Antigo Testamento. Exclusão fei¬ta ao Pentateuco, o resto do Antigo Testamento provavelmente foi traduzido durante os séculos II e III a.C. É certo que se tenha concluído antes de 150 a.C., porque a obra é discutida numa carta de Aristéias a Filócrates (c. 130-100 a.C.).
Essa carta de Aristéias relata como o bibliotecário de Alexandria persuadiu Ptolomeu a traduzir a Torá para o grego, para uso dos judeus dessa cidade. E prossegue, dizendo que seis tradutores de cada uma das doze tribos foram selecionados, terminando o trabalho em apenas 72 dias. Embora as minúcias desse acontecimento sejam pura ficção, pelo menos mostram que a tradução da Septuaginta para uso dos judeus alexandrinos é confiável.
A qualidade da tradução dos Setenta não é a mesma, uniformemente, em toda a obra, o que nos leva a várias observações básicas. Primeira: a LXX abrange desde transliterações literais, servis, da Tora, a traduções livres do texto hebraico. Segunda: deve ter havido um propósito em vista, para a produção da LXX, diferente dos propósitos da Bíblia hebraica. Esta, por exemplo, servia para leituras públicas nas sinagogas, enquanto a LXX apenas representaria uma obra especializada dos escribas. Terceira: a LXX foi um esforço pioneiro na tradução do texto do Antigo Testamento, e um excelente exemplo de tal empreendimento. Finalmente, a LXX de modo geral é fiel ao texto do Antigo Testamento hebraico, como dissemos antes.
No entanto, há uma questão grave no que concerne à Septuaginta: há passagens em que ela difere do Texto massorético, e outras em que os rolos
do mar Morto concordam com a Septuaginta, em oposição ao texto hebraico. Podem-se indicar várias passagens que sublinham essa constatação, como Deuteronômio 32.8, Êxodo 1.5, Isaías 7.14; Hebreus 1.6 (KJV), que cita Deuteronômio 32.43. Além disso, os rolos do mar Morto também contêm alguns dos livros e textos apócrifos do Antigo Testamento, como o salmo 151, só conhecidos mediante a LXX. A partir das evidências dessas variantes de vários textos, podemos observar três tradições básicas do Antigo Testamento: a massorética, a samaritana e a grega (LXX). Em geral o Texto massorético é o melhor, mas em várias passagens a LXX o supera. O Pentateuco samaritano reflete diferenças sectárias e culturais em relação ao texto hebraico, e a LXX é uma tradução, não um texto original. No entanto, quando ambos concordam entre si, contra o Texto massorético, é provável que reflitam o texto original.
É preciso lembrar, todavia, que a LXX em geral é fiel ao Texto massorético, como também são fiéis os rolos do mar Morto. Uma comparação das variantes num dado capítulo da Bíblia pode ilustrar isso. Em Isaías 53, e.g., temos 166 palavras, e entram em questão somente 17 letras. Dez dessas letras são simples questões de grafia, não influindo de modo algum no sentido da passagem. Outras quatro letras são o resultado de mudanças estilísticas de pouca monta, como conjunções acrescentadas pelos escribas. As três letras remanescentes compreendem uma única palavra, "luz", que se acrescenta ao versículo 11 sem influir muito no sentido. Essa palavra tem o apoio da LXX e do rolo do mar Morto IA isb. Esse exemplo é típico do manuscrito integral de Isaías A. Ele força o leitor a observar a confiabilidade do texto do Antigo Testamento de tal modo que reconheça que nem mesmo todas as variantes conseguem mudar nossa compreensão do ensino religioso da Bíblia.
Graças a essa qualidade, a importância da LXX é facilmente observável. Ela serviu de ponte religiosa sobre o abismo existente entre os judeus (de língua hebraica) e os demais povos (de língua grega), uma vez que atendia às necessidades dos judeus de Alexandria. A LXX serviu também para cobrir o lapso histórico que separava os judeus do Antigo Testamento dos judeus e dos cristãos de língua grega que adotaram a LXX como seu Antigo Testamento, usando-a ao lado do Novo Testamento. Além disso, a LXX representou um precedente importante para os missionários e para os estudiosos cristãos, para que produzissem traduções de toda a Bíblia em várias línguas e dialetos. Sob o aspecto textual, a LXX elimina o vazio que separava o Antigo Testamento hebraico dos grandes códices da igreja (Àlefe, A, B, c e outros). Ainda que a LXX não reflita a excelência do texto hebraico, pelo menos demonstra sua pureza.

Traduções latinas
O cristianismo ocidental produziu apenas uma grandiosa tradução da Bíblia, que foi transmitida ao longo de toda a Idade Média, a Vulgata latina, de Jerônimo. Desde que essa tradução emergiu e atingiu posição predominante, assim permaneceu, jamais desafiada, durante mil anos. Outros estudiosos já haviam traduzido as Escrituras para o latim, antes de Jerônimo, mas, a fim de obtermos uma compre¬ensão melhor de sua façanha, vamos examinar essas traduções anteriores.

Antiga latina
Antes de apresentar um retrato exato das traduções da Bíblia para o latim, precisamos entender o ambiente linguístico do mundo antigo em geral e do Império Romano em particular. Examinaremos os aspectos linguísticos e culturais da vida no mundo antigo mediante sua estrutura geográfica, antes de nos voltarmos para a tradução latina.

O Oriente Próximo
Os tesouros culturais do Oriente Próximo haviam sido variados, sob os aspectos linguístico, político e social, na época em que o Novo Testamento foi escrito. Em qualquer momento, nos tempos antigos, falavam se várias línguas na área ao redor da Palestina. Acompanhando a marcha das mudanças políticas da época, a língua oficial da região sofria alterações radicais. Os idiomas importantes das Escrituras foram tratado anteriormente, mas seus períodos de domínio precisam ser revistos, para que possamos ter boa perspectiva do processo geral da transmissão da Bíblia.

O aramaico. Logo após o cativeiro babilónico, o idioma oficial da Pa¬lestina era o aramaico. Era usado pelos escribas hebreus já nos dias de Esdras (Ne 8.1-8). Por sinal, foi em aramaico que se escreveram os targuns, durante o período Soferim (400 a.C-200 d.C), o Talmude e o Midrash, no período entre 100 a.C. e 500 d.C. Na época do Novo Testamento, o aramaico era a língua falada pelo povo, tendo sido a língua materna de Cristo e de seus discípulos.

O grego e o latim. Depois das campanhas de Alexandre, o Grande (335-323 a.C.), o grego tornou-se a língua oficial dentro dos limites do território conquistado. Grande parte desse território mais tarde seria incorporada pelo Império Romano, incluindo-se o Oriente Médio. Foi quando o grego prevaleceu como língua oficial tanto do Egito como da Síria, sob os impérios ptolemaico e selêucida, e também da Palestina, durante a independência hasmoneana (142-63 a.C.). Por ocasião da morte de Átalo III (133 a.C.), o reino de Pérgamo submeteu-se a Roma e, por volta de 63 a.C., todo o Oriente foi incorporado ao Império Romano. A língua latina acompanhou esse crescimento do Estado Romano e espalhou-se como idioma militar do Oriente Próximo.

A Grécia
Dialetos helênicos. Helénico é termo que se aplica à cultura grega da Era Clássica. Deriva da palavra grega que quer dizer Grécia: Hellas. Os vários dialetos helénicos (do grego) relacionam-se às três ondas de imigração que aportaram na parte sul da península dos Bálcãs, durante o II milénio a.C.: a imigração jônia, a acaica e dórica. Os jônios foram empurrados para o mar Egeu até a Jônia; outros gregos imigraram ou fundaram colónias no Oriente Próximo, no norte da África e até no sul da Itália e nas ilhas do Mediterrâneo. Ainda que os gregos se dividissem numa série de pequenos estados, estavam unidos pela língua comum em seus vários dialetos. O mais famoso desses dialetos era o ático, que chegou ao clímax quando se deu a unificação dos estados gregos, com o objetivo de fazer oposição aos persas (490-80 a.C.), sendo esses liderados por Dario I e seu filho Xerxes. Nos próximos cinquenta anos, o Império Ateniense ergueu a cultura grega a alturas gloriosas. A guerra do Peloponeso (431-404 a.C.) trouxe a derrota de Atenas; as cidades-estados gregas lutaram enquanto seguiam caminhos próprios. Filipe II, rei da Macedônia (359-336 a.C.), cedeu o trono ao filho, Alexandre (356-323 a.C.), que viria a transformar em realidade o sonho do pai de voltar a reunir os gregos, ao esmagar as revoltas em 335. Com sua ascensão, surge a era helenística.

O grego helenístico. A cultura helênica pertencia aos povos de língua grega. A cultura helenística, por sua vez, era imposta aos povos cuja lingua materna não era o grego, após as conquistas de Alexandre, o Grande. Esse avanço intencional da cultura e da civilização grega usou como língua básica uma forma linguística nova, mas comum (o koinê dialektos), que derivava da mistura de vários dialetos gregos, conquanto primordialmente derivasse do ático. Durante vários séculos, desde a morte de Alexandre, o coiné haveria de tornar-se a língua oficial do Oriente Próximo e do Egito, bem como da Grécia e da Macedônia. Aliás, foi nesse dialeto que se fez a tradução do Antigo Testamento, a Septuaginta, ou LXX, em Alexandria. À medida que os romanos iam penetrando a Grécia e o Oriente Médio, e de modo especial após a batalha do Ácio (31 a.C.), o latim passou a ser a língua usada pelos militares, pelo fato de a república romana transformar-se em Império Romano sob o comando de Otaviano. Embora os gregos continuassem a despender suas energias em atividades independentes, já não estavam mais na posição de liderança no mundo antigo.

A Itália
A partir do século I a.C., verdadeiramente todos os caminhos iam dar em Roma. Ali estava o maior império que o Ocidente já havia visto. Seu progresso foi contínuo, a partir do século X a.C., quando nem mesmo Roma havia sido fundada (c. 753). Por volta de 509 a.C. os reis tarqüínios foram expulsos da cidade, e nasceu a República Romana. Dessa época em diante, a principal cidade do Lácio e suas aliadas começaram a crescer, atingindo enormes dimensões territoriais ao longo do rio Tibre e controlando a maior parte da península Itálica (c. 265); o latim tornou-se a língua comum do povo. De 264 a 146 a.C., Roma esteve em conflito com Cartago, colónia africana da Fenícia, o que resultou nas guerras púnicas. Antes ainda de tais guerras cessarem, Roma invadiu a área oriental do Mediterrâneo, a Ilíria e a Macedônia (c. 229-148). Por volta de 148 a.C., a Macedônia tornou-se província romana e, em 133, Átalo III entregou seu reino (Pérgamo) a Roma. A presença intrusa dos soldados romanos no Oriente Próximo fez que o latim se tornasse a língua militar e comercial (embora não a língua oficial) do Oriente.
Na Itália, de modo especial em Roma, o povo era bilíngue. A língua literária das pessoas das classes mais elevadas era o grego, e até mesmo a literatura latina seguia os padrões gregos. Embora tanto os escravos como as pessoas livres fossem bilíngues, a língua militar e comercial era o latim. Durante os primeiros anos da igreja, os cristãos de Roma em geral falavam grego, como demonstram as cartas de Paulo e as de Clemente. Só mais tarde é que os cristãos romanos começaram a usar o latim como língua de comunicação escrita. Durante os séculos IV e V, as tribos germânicas usavam o latim em vez do grego, mais literário, como veículo de comunicação. Pode-se entender isso com facilidade, se nos lembrarmos de que as tribos germânicas entraram em contato mais imediato com as legiões romanas e com os mercadores, muito antes de conhece¬rem a literatura latina.

A África
As línguas básicas do norte da África eram o grego e o latim. O grego era usado no Egito, sob os ptolomeus, sendo Alexandria o centro das traduções do Antigo Testamento hebraico e de outras obras para o grego. Mais longe, a oeste, o latim tornou-se a língua básica do Império Romano, visto que essa região ficou sob a influência dos contatos administrativos, comerciais e militares, antes até das guerras púnicas. O latim viria a ser a língua materna de alguns escritores cristãos como Tertuliano (que escreveu tanto em grego como em latim), Cipriano e outros. A igreja primitiva dentro do Império Romano usava o grego como língua literária, e só mais tarde passaria a usar o latim e outras línguas, porque essas se tornaram necessárias e amplamente divulgadas.

As traduções para o latim antigo
Embora o latim fosse a língua oficial, a língua comum do Ocidente, o grego manteve sua posição de língua literária de Roma e do Ocidente até o século III. Ao redor dessa época, as traduções das Escrituras Sagradas para o latim antigo já estavam circulando no norte da África e na Europa, o que indicava que os cristãos começaram (no século II) a expressar o desejo de uma tradução da Bíblia para o latim.

O Antigo Testamento. Uma das mais antigas traduções conhecidas das Escrituras hebraicas, no Ocidente, foi aquela conhecida pela alcunha de Antiga latina, redigida antes de 200 d.C. Era uma tradução feita a partir da LXX, no norte da África, tendo sofrido certa influência judaica. Essa tradução latina foi largamente usada e citada no norte da África. Teria sido esse o Antigo Testamento usado por Tertuliano e por Cipriano no século II. Houve, segundo parece, acréscimo póstumo dos apócrifos não revistos dessa tradução à Vulgata de Jerônimo (Antigo Testamento lati¬no). A não ser pelas citações e pelos fragmentos que chegaram até nós dos manuscritos da Antiga latina, nada mais sobrou dessa obra. Seu valor para o crítico textual de nossos dias é quase nulo.

O Novo Testamento. A versão do Novo Testamento também chamada Antiga latina é assunto completamente diferente. Sobreviveram dessa obra cerca de 27 manuscritos dos evangelhos, mais 7 do livro de Atos, 6 das cartas paulinas e alguns fragmentos das cartas gerais e do Apocalipse. Tais manuscritos datam do século IV até o XIII, não existindo, porém, nenhuma cópia do códice. Esse fato mostra que a Antiga latina continuou a ser copiada muito tempo depois de haver sido desalojada pela Vulgata.
O Novo Testamento da Antiga latina, de data muito antiga, constitui um dos mais valiosos testemunhos documentais das condições do Novo Testamento no Ocidente. É representado por dois, possivelmente três, diferentes textos. O texto africano era usado por Tertuliano e por Cipriano; um texto europeu aparece nos escritos de Ireneu e de Novaciano; e um texto itálico (ítala) é mencionado nas obras de Agostinho. Em vez de considerar o texto de Agostinho o precursor da Vulgata, a tendência recente tem sido considerá-lo simples referência à Vulgata. Se for esse o caso, haveria apenas dois textos diferentes do Novo Testamento na Antiga latina.
O texto africano reflete-se no Códice bobiense (k); é uma tradução tosca e livre do texto grego, datando do século II. O texto europeu é representado por dois códices: o Códice vercelense (a), escrito por Eusébio de Vercelli, morto em 370-371, e o Códice veronense (b), que serviu de base para a Vulgata latina.

A Vulgata latina
Os numerosos textos da Antiga latina que apareceram ao redor da segunda metade do século IV induziram a uma situação intolerável. Em virtude desse problema, Dâmaso, bispo de Roma (366-384), providen¬ciou uma revisão do texto da Antiga latina. O resultado desse esforço chama-se Vulgata latina.

O propósito da tradução
Dâmaso de Roma demonstrou profundo interesse pelas Escrituras, bem como pelos estudiosos de quem se tornara amigo e a quem patrocinava. Estava perfeitamente ciente da diversidade de versões, traduções, revisões e recensões bíblicas no século IV, e acreditava estar fazendo falta uma nova versão autorizada das Escrituras latinas.

Confusão de textos latinos. Como dissemos anteriormente, havia muita confusão a respeito dos textos latinos da Bíblia. Tal diversidade advinha do fato de o Antigo Testamento latino ser na verdade uma tradução da LXX; o Novo Testamento havia sido traduzido em ocasiões informais, não-oficiais. Exemplo disso pode-se ver na tradução latina usada por Tertuliano. Ele era bilíngue, capacitado para ler e escrever em grego e em latim; usava o texto africano da Antiga latina até fazer sua própria tradução. Não havia fim para os problemas causados por tais traduções relâmpagos, de modo especial se outras pessoas tentassem comparar a autoridade textual subjacente à obra de Tertuliano.
As muitas traduções então existentes. Havia inúmeras traduções das Escrituras, mas o latim tornava-se rapidamente a língua oficial da igreja. Além das traduções mencionadas antes, houve dois textos básicos da Antiga latina no Ocidente. Não era de admirar que Dâmaso desejasse uma tradução nova, autorizada, sobre a qual se poderiam basear as doutrinas oficiais da igreja.

Heresias e controvérsias. Dentro do Império Romano passou a existir muitas controvérsias entre cristãos e judeus. Até mesmo dentro da igreja houve inúmeras controvérsias, logo depois do surgimento de grupos heréticos como os marcionitas, os maniqueus e os montanistas, que baseavam suas doutrinas em seus próprios cânones e traduções de livros da Bíblia. A controvérsia ariana ocasionou o Concílio de Nicéia (325), o de Constantinopla i (381) e o de Éfeso (431). A controvérsia em torno da tradução do Antigo Testamento por Jerônimo com base no original hebraico reflete não só os conflitos entre cristãos e judeus, mas a crença mais problemática ainda sustentada por muitos líderes cristãos, dos quais Agostinho, segundo a qual a LXX era verdadeiramente a Palavra inspirada, inerrante, da parte de Deus, em vez de mera tradução não-inspirada baseada em originais hebraicos.

A necessidade de um texto modelar. Havia outros fatores que exigiam uma tradução nova, autorizada: dentre esses, a exigência dos estudiosos de um texto modelar, autorizado e confiável, que fosse o veículo das atividades didáticas da igreja, de seus programas missionários e de sua defesa das doutrinas estabelecidas nos grandes concílios. A transmissão de exemplares das Escrituras às igrejas do Império exigia um texto digno da máxima confiança (fidedigno), mas essa situação real sublinhava tal exigência e necessidade.

O autor da Vulgata latina
Sofrônio Eusébio Jerônimo (c. 340-420) nascera de pais cristãos, em Estridão, na Dalmácia. Havia sido educado na escola local até sua ida a Roma, com a idade de doze anos. Durante os oito anos seguintes, Jerônimo estudou latim, grego e autores pagãos, antes de tornar-se cristão, com a idade de dezenove anos. Logo após sua conversão e batismo, Jerônimo devotou-se a uma vida de rígida abstinência e de serviço ao Senhor. Passou muitos anos perseguindo uma vida semi-ascética de eremita. De 374 a 379, empregara um rabino judeu para que lhe ensinasse o hebraico, enquanto estivesse residindo no Oriente, perto de Antioquia. Foi ordenado presbítero em Antioquia antes de partir para Constantinopla, onde passou a estudar sob a orientação de Gregório de Nazianzo. Em 382, foi convocado por Roma para ser secretário de Dâmaso, bispo de Roma, e nomeado membro de uma comissão para revisar a Bíblia latina. É provável que Jerônimo tenha aceitado o projeto em virtude de sua devoção a Dâmaso, pois sabia que as pessoas de menor instrução se oporiam fortemente a sua tradução.

A data e o lugar da tradução
Jerônimo recebeu a incumbência em 382 e iniciou seu trabalho quase imediatamente. A pedido de Dâmaso, introduziu uma ligeira revisão nos evangelhos, completada em 383. Não se sabe qual teria sido o texto latino que ele usou para fazer sua revisão; provavelmente teria sido do tipo europeu, o qual ele corrigiu de acordo com o texto grego do tipo alexandrino. Logo após ter terminado a revisão dos evangelhos, morre-lhe o mecenas (384), tendo sido eleito novo bispo de Roma. Jerônimo, que aspirava a esse cargo, já havia terminado uma revisão rápida do chamado Saltério romano quando regressou ao Oriente e se estabeleceu em Belém. No entanto, após sua partida, fez uma revisão mais superficial ainda do resto do Novo Testamento. Por ser desconhecida a data dessa revisão, alguns estudiosos acreditam que nem sequer ele mesmo fez o trabalho.
De volta a Belém, Jerônimo voltou sua atenção a uma revisão mais cuidadosa do Saltério romano, que completou em 387. Essa revisão é conhecida como Saltério galileu, empregado atualmente no Antigo Testamento da Vulgata. Baseou-se de fato nos Héxapla de Orígenes, a quinta coluna, sendo mera tradução dos Salmos. Tão logo havia terminado sua revisão dos Salmos, Jerônimo iniciou a revisão da LXX, embora esse trabalho não fizesse parte de seus objetivos iniciais. Estando em Belém, Jerônimo havia iniciado seu trabalho de aperfeiçoar seus conhecimentos do hebraico, de modo que pudesse executar uma nova tradução do Antigo Testamento diretamente das línguas originais.
Os amigos ao redor aplaudiram seus esforços, mas outros, muito longe, começaram a suspeitar que Jerônimo estaria judaizando; alguns se enfureceram quando Jerônimo lançou dúvidas sobre a "inspiração da Septuaginta". A partir dessa época, ele se tornou mais envolvido com sua tradução e com a supervisão dos monges de Belém. Traduziu o Saltério hebraico com base no texto hebraico usado na época, na Palestina. Na verdade, sua tradução jamais suplantou o Saltério galileu, nem o Saltério romano, no uso litúrgico, embora fosse calcada nas línguas originais e não em traduções. Jerônimo continuou a traduzir as Escrituras hebraicas a despeito da oposição e da saúde precária. Finalmente, em 405, completou sua tradução latina do Antigo Testamento hebraico, que não recebeu boa acolhida de imediato. Nos últimos quinze anos de vida, Jerônimo continuou escrevendo, traduzindo e revisando sua tradução do Antigo Testamento.
Jerônimo pouca atenção deu aos apócrifos; só com grande relutância produziu uma tradução apressada de algumas passagens de Judite, de Tobias e do resto de Ester, mais as adições de Daniel — antes de morrer. O resultado foi que a versão dos livros apócrifos, pertencente à Antiga latina, foi adicionada à Bíblia chamada Vulgata latina na Idade Média, sobre o cadáver de Jerônimo.

As traduções da Bíblia para o inglês moderno
A Bíblia é o livro mais divulgado do mundo. Uma das evidências mais fortes disso é o grande número de traduções e a variedade de línguas para as quais já foi traduzida. A Bíblia inteira já foi traduzida para mais de duzentas línguas, e partes dela aparecem em mais de mil línguas e dialetos. Essas traduções ilustram amplamente o elo definitivo na cadeia que provém de Deus para nós, mas nossa principal preocupação e atenção estão agora dirigidas à tradução da Bíblia para o inglês. Nosso levantamento estará centrado nas traduções com base nas Bíblias de Rheims-Douai e do rei Tiago, de fins do século XV e começos do XVI.

As traduções e as versões protestantes
Seguindo o princípio da Reforma de interpretação particular, os protestantes produziram um número maior de traduções particulares da Bíblia do que os católicos romanos. Algumas das primeiras traduções derivaram das descobertas de novos materiais manuscritos, visto que nenhum dos grandes manuscritos tinha sido descoberto na época da tradução do rei Tiago, exceto o Códice Beza (D), muito pouco usa¬do. Antes de examinar essas traduções particulares, devemos deter-nos em algumas das tentativas oficiais de fazer a Bíblia do rei Tiago alinhar-se com as descobertas dos manuscritos.

A Bíblia inglesa revisada
Todas as revisões da Bíblia do rei Tiago foram feitas sem autorização oficial eclesiástica ou real. Aliás, nenhuma revisão oficial dessa Bíblia foi apresentada por mais de um século depois do trabalho do dr. Blayney (1769). Algumas das revisões que chegaram a ser publicadas foram de imprudentes, com adições como a cronologia de Ussher. Não obstante, houve algumas revisões excelentes de caráter não-oficial, como no caso de uma edição anônima de A Bíblia Sagrada contendo a Versão autorizada do Antigo e do Novo Testamento, com muitas emendas (1841). No prefácio dessa revisão não-oficial da Bíblia do rei Tiago, o autor menciona ter usado manuscritos ainda não disponíveis em 1611.
Com as melhorias entre os estudiosos da Bíblia durante o século XIX, incluindo-se o acúmulo de manuscritos mais antigos e melhores, com as
descobertas arqueológicas no mundo antigo como um todo, e com as mu-danças na sociedade inglesa e na sua língua, a revisão da Bíblia do rei Tiago de caráter mais "oficial" tornava-se obrigatória. Antes que isso pudesse ser realizado, entretanto, um grupo de estudiosos notáveis publicou a “Edição variorum do Novo Testamento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (1880). Os organizadores dessa obra, R. L. Clark, Alfred Goodwin e W. Sanday, fizeram essa revisão por "ordem especial de sua majestade". Eles tiveram a tarefa de revisar a Bíblia do rei Tiago à luz das várias leituras das melhores autoridades em textos. Por conseguinte, a Bíblia variorum seguiu a tradição de Tyndale, de Coverdale, da Grande Bíblia, da Bíblia de Genebra, da Bíblia dos bispos e das várias edições da Bíblia do rei Tiago. Além disso, ela preparou o caminho para a Bíblia inglesa revisada.
O desejo muito difundido de uma revisão plena da Bíblia autorizada resultou numa convocação da Província da Cantuária em 1870. Samuel Wilberforce, bispo de Winchester, propôs revisar o Novo Testamento em que os textos gregos revelassem traduções inexatas ou incorretas no texto do rei Tiago. O bispo Ollivant ampliou a proposta e incluiu o Antigo Testamento e os textos hebraicos. Por consequência, dois grupos foram nomeados. Originariamente havia 24 membros em cada grupo, mas foram mais tarde ampliados para cerca de 65 revisores de diversas denominações. Esses grupos começaram a trabalhar em 1871, e em 1872 um grupo de estudiosos americanos foi convidado a participar do empreendimento em caráter consultivo. As editoras das Universidades de Oxford e de Cambridge assumiram os custos do projeto sob a condição de lhes serem dados privilégios autorais exclusivos do produto pronto. Mais de três milhões de exemplares da revisão foram vendidos nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha em menos de um ano. O Antigo Testamento foi lançado em 1885, os livros apócrifos em 1896 (1898 nos Estados Unidos) e a Bíblia completa foi publicada em 1898. Embora o texto da revisão fosse muito mais exato que o da Bíblia do rei Tiago, levaria diversas gerações para que as alterações nas palavras e nos ritmos fossem aceitas.
Parte da tradução da Bíblia inglesa revisada não satisfez completamente à junta americana de revisão, mas seus membros haviam concordado em não dar por catorze anos "nenhuma sanção à publicação de qualquer outra edição da Versão revisada que não fosse a publicada pelas editoras daquelas universidades inglesas". Em 1901, foi publicada a Edição padrão americana da Versão revisada, denunciando a existência de algumas edi¬ções não-autorizadas ou não-padronizadas dessa versão, publicadas antes daquela época. Outras revisões foram feitas pela junta americana, como a mudança dos nomes "Senhor" para "Jeová" e "Holy Ghost" [Es¬pírito Santo] para "Holy Spirit" [Espírito Santo]. As estruturas dos paragrafos foram revisadas e abreviadas, e breves cabeçalhos foram acres¬centados. Aos poucos, a Versão padrão americana (ASV) ganhou aceitação nos Estados Unidos e começou até a ser importada pela Grã-Bretanha.
Como a sua equivalente inglesa, a ASV perde a beleza da Bíblia do rei Tiago, mas suas interpretações mais corretas têm-na tornado muito aceitável por parte de professores e estudantes da Bíblia. Em 1929, os direitos autorais passaram para o Concílio Internacional de Educação Religiosa, que fez nova revisão do texto. Como as traduções anteriores, que erigiam seu trabalho sobre o alicerce deixado por William Tyndale, a ASV foi a obra de muitas mãos e diversas gerações.

A Bíblia padrão revisada
Meio século depois que a revisão inglesa da Bíblia do rei Tiago foi publicada, o Concílio Internacional de Educação Religiosa expressou seu desejo de utilizar as grandes melhorias advindas recentemente dos estudiosos da Bíblia. O texto de Westcott e de Hort do Novo Testamento fora incisivamente modificado por conta das descobertas de papiros e de novos manuscritos. Ademais, o estilo e o gosto literário da língua inglesa continuavam a mudar, de modo que uma nova revisão se considerou necessária. Em 1937, o Concílio Internacional autorizou uma junta a empreender essa revisão.
A junta da revisão se constituiu de 22 estudiosos notáveis que deveriam seguir o significado da Versão padrão americana (RSV), a menos que dois terços da junta concordassem em mudar a interpretação. Foram usados como parâmetros o emprego das formas mais simples e mais atuais dos pronomes, salvo em referência a Deus, e também a ordem mais direta das palavras. Atrasado pela Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o Novo Testamento não surgiu senão em 1946, com o Antigo sendo publicado em 1952 e os livros apócrifos em 1957. Essas publicações foram lançadas após tremenda campanha de publicidade que pôs em movimento reações quase previsíveis. Em contraposição à Versão padrão americana, a Versão padrão revisada foi acusada de velar passagens messiânicas tradicionais, como no caso da substituição de "virgem" por "uma jovem", em Isaías 7.14. As críticas ao Novo Testamento não foram tão contundentes, embora fossem contundentes o bastante. Não obstante todas as críticas, a Versão padrão revisada fornece à igreja de fala inglesa uma revisão atualizada da Bíblia baseada no "texto crítico".

A Nova Bíblia inglesa
Não satisfeita com a idéia de que a Versão padrão revisada fosse uma continuação da antiga tradição das primeiras traduções da Bíblia inglesa, a Assembleia Geral da Igreja da Escócia reuniu-se em 1946 a fim de deliberar sobre uma tradução completamente nova. Uma junta comum foi designada em 1947, e três grupos foram escolhidos: um para o Antigo Testamento, um para o Novo e um para os livros apócrifos. C. H. Dodd foi nomeado presidente do grupo especializado em Novo Testamento e, em 1949, foi nomeado diretor de toda a tradução. O Novo Testamento da Nova Bíblia inglesa surgiu em 1961, com o Antigo Testamento e os livros apócrifos sendo publicados em 1970.
Os princípios de tradução da Nova Bíblia inglesa buscaram apresentar um idioma inglês que fosse "perpétuo", evitando tanto os anacronismos quanto os modernismos efêmeros. Os tradutores procuraram tornar essa versão simples o suficiente para trasmitir seu significado sem ser árida nem vulgar, pois esperavam produzir uma tradução que fosse uma segunda versão fidedigna, a par da Bíblia do rei Tiago.
Mais de quatro milhões de exemplares da Nova Bíblia inglesa foram vendidos durante o primeiro ano de publicação. Diferindo bastante tanto da Versão inglesa revisada quanto da Versão padrão revisada, que a precederam, seus tradutores frequentemente deixavam de lado as traduções literais do texto, especialmente quando achavam que o texto permitia duas possíveis interpretações. Além disso, a Nova Bíblia inglesa tem sido criticada por seus anglicismos e por sua concentração sobre a inteligibilidade e não sobre a literalidade do significado, bem como pela reorganização crítica de algumas seções do Antigo Testamento. Isso indubitavelmente reflete a influência da teologia contemporânea por intermédio dos tradutores. Considerando-se todas as coisas, entretanto, essa tradução continuou a tradição de seus antepassados ingleses e é uma obra valiosa em si mesma.

A Nova Bíblia padrão americanaDurante a década de 1960, tentou-se fazer mais uma revisão da Versão padrão americana. Esse esforço foi empreendido pela Fundação Lockman, na tentativa de reviver, bem como revisar aquela versão. A junta de tradução declarou seu propósito quádruplo no prefácio que acompanha o Novo Testamento (1963). Em 1970, a Bíblia toda foi publicada seguindo o mesmo objetivo quádruplo. Eles buscaram ser fiéis aos textos hebraicos e gregos originais, ser gramaticalmente corretos, ser compreensíveis para as massas e dar o devido lugar ao Senhor Jesus Cristo.
Os tradutores da Nova Bíblia padrão americana (NASV) tentaram renovar a Versão padrão americana, a "rocha da veracidade bíblica". Embora não tenham chegado aos pés da obra literária de outras versões modelares, no processo de tradução, produziram uma herdeira útil e fiel da Versão padrão americana. Outra tradução mais ou menos oficial foi recentemente efetuada sob os auspícios da Sociedade Bíblica de Nova Iorque. Intitula-se Bíblia Sagrada: nova versão internacional. A parte do Novo Testamento foi lançada em 1973, e o Antigo Testamento foi lançado em 1976.

As traduções para o português
Agora, procuraremos apresentar um breve histórico da tradução da Bíblia em português, tanto em Portugal quanto no Brasil.

Período das traduções parciais
"Venturoso" ou "Bem-Aventurado". A despeito desse título ter sido atribuído a D. Manuel como o principal incentivador das grandes navegações, mais bem-aventurado que esse rei português foi um de seus antecessores, D. Diniz (1279-1325), por ter sido a primeira pessoa a traduzir para a língua portuguesa o texto bíblico, tornando assim possível a futura grande navegação dos leitores de língua portuguesa pelo imenso mar da Palavra de Deus.
Grande conhecedor do latim clássico e leitor da Vulgata, D. Diniz, resolveu enriquecer o português, traduzindo as Sagradas Escrituras para o nosso idioma, tomando como base a Vulgata latina. Embora lhe faltasse perseverança e só conseguisse traduzir os vinte primeiros capítulos do livro de Génesis, esse seu esforço o colocou em uma posição historiemente anterior a alguns dos primeiros tradutores da Bíblia para outros idiomas, como João Wycliffe por exemplo, que só em 1380 traduziu as Escrituras para o inglês.
Fernão Lopes afirmou em seu curioso estilo de cronista do século XV, que d. João I (1385-1433), um dos sucessores de d. Diniz ao trono português, fez grandes letrados tirar em linguagem os Evangelhos, os Atos dos Apóstolos e as epístolas de Paulo, para que aqueles que os ouvissem fossem mais devotos acerca da lei de Deus (Crónica de d. João I, segunda parte). Esses "grandes letrados" eram vários padres que também se utilizaram da Vulgata latina em seu trabalho de tradução.
Enquanto esses padres trabalhavam, d. João I, também conhecedor do latim, traduziu o livro de Salmos, que foi reunido aos livros do Novo Testamento traduzidos pelos padres. Seu sucessor, d. João II, outro grande defensor das traduções do texto bíblico, mandou gravar no seu cetro a parte final do versículo 31 de Romanos 8: "Se Deus é por nós, quem será contra nós?", atestando assim quanto os soberanos portugueses reverenciavam a Bíblia.
Como nessa época a imprensa ainda não havia sido inventada, os livros eram produzidos em forma manuscrita, fazendo-se uso de folhas de pergaminho. Isso tornava sua circulação extremamente reduzida. Por ser trabalho lento e caro, era necessário que, ou a Igreja Romana, ou alguém muito rico assumisse os custos do projeto. Ninguém mais indicado para isso que os nobres e os reis.
Outras figuras da monarquia de Portugal também realizaram traduções parciais da Bíblia. A neta do rei d. João I e filha do infante d. Pedro, a infanta d. Filipa, traduziu do francês os evangelhos. No século XV surgiram publicados em Lisboa o evangelho de Mateus e trechos dos demais evangelhos, trabalho realizado pelo frei Bernardo de Alcobaça, que pertenceu à grande escola de tradutores portugueses da Real Abadia de Alcobaça. Ele baseou suas traduções na Vulgata latina.
A primeira harmonia dos evangelhos em língua portuguesa, preparada em 1495 pelo cronista Valentim Fernandes e intitulada “De Vita Christi”, teve os seus custos de publicação pagos pela rainha dona Leonora, espo¬sa de d. João II. Cinco anos após o descobrimento do Brasil, dona Leonora mandou também imprimir o livro de Atos dos Apóstolos e as epístolas universais de Tiago, de Pedro, de João e de Judas, que haviam sido traduzidos do latim vários anos antes por frei Bernardo de Brinega.
Em 1566 foi publicada em Lisboa uma gramática hebraica para estudantes portugueses. Ela trazia em português, como texto básico, o livro de Obadias.

Outras traduções
Outras traduções em língua portuguesa, realizadas em Portugal, são dignas de menção:
Os quatro evangelhos, traduzidos em elegante português pelo padre jesuíta Luiz Brandão.
No inicio do srculo XIX, o padre António Ribeiro dos Santos traduziu os Evangelhos de Mateus e de Marcos, ainda hoje inéditos.
É fundamental salientar que todas essas obras sofreram, ao longo dos séculos, implacável perseguição da Igreja Romana, e de muitas delas só escaparam um ou dois exemplares, hoje raríssimos. A Igreja Romana também amaldiçoou a todos os que conservassem consigo essas "traduções da Bíblia em idioma vulgar", conforme as denominavam.

Período das traduções completas
Tradução de Almeida
Coube a João Ferreira de Almeida a grandiosa tarefa de traduzir pela primeira vez para o português o Antigo e o Novo Testamento. Nascido em 1628, em Torre de Tavares, nas proximidades de Lisboa, João Ferreira de Almeida, quando tinha doze anos de idade, mudou-se para o sudeste da Ásia. Após viver dois anos na Batávia (atual Jacarta), na ilha de Java, Indonésia, Almeida partiu para Málaca, na Malásia, e lá, pela leitura de um folheto em espanhol acerca das diferenças da cristandade, converteu-se do catolicismo à fé evangélica. No ano seguinte, começou a pregar o evangelho no Ceilão (hoje Sri Lanka) e em muitos pontos da costa de Malabar.
Não tinha ele ainda dezessete anos de idade quando iniciou o trabalho de tradução da Bíblia para o português, mas lamentavelmente perdeu o seu manuscrito e teve de reiniciar a tradução em 1648.
Por conhecer o hebraico e o grego, Almeida pôde utilizar-se dos manuscritos dessas línguas, calcando sua tradução no chamado Texto receptus, do grupo bizantino. Durante esse exaustivo e criterioso trabalho, ele também se serviu das traduções holandesa, francesa (tradução de Beza), italiana, espanhola e latina (Vulgata),
Em 1676, João Ferreira de Almeida concluiu a tradução do Novo Testamento, e naquele mesmo ano remeteu o manuscrito para ser impresso na Batávia; todavia, o lento trabalho de revisão a que a tradução foi submetida levou Almeida a retomá-la e enviá-la para ser impressa em Amsterdã, na Holanda. Finalmente, em 1681 surgiu o primeiro Novo Testamento em português, trazendo no frontispício os seguintes dizeres, que transcrevemos ipsis litteris:

“O Novo Testamento, isto he, Todos os Sacro Sanctos Livros e Escritos Evangélicos e Apostólicos do Novo- Concerto de Nosso Fiel Salvador e Redentor lesu Cristo, agora traduzido em português por João Ferreira de Almeida, ministro pregador do Sancto Evangelho. Com todas as licenças necessárias. Em Amsterdam, por Viuva de J. V. Someren. Anno 1681”.

Milhares de erros foram detectados nesse Novo Testamento de Almeida, muitos deles produzidos pela comissão de eruditos que tentou harmonizar o texto português com a tradução holandesa de 1637. O próprio Almeida identificou mais de dois mil erros nessa tradução, e outro revisor, Ribeiro dos Santos, afirmou ter encontrado número bem maior.
Logo após a publicação do Novo Testamento, Almeida iniciou a tradução do Antigo, e, ao falecer, em 6 de agosto de 1691, havia traduzido até Ezequiel 41.21. Em 1748, o pastor Jacobus op den Akker, de Batávia, reiniciou o trabalho interrompido por Almeida, e cinco anos depois, em 1753, foi impressa a primeira Bíblia completa em português, em dois volumes. Estava, portanto concluído o inestimável trabalho de tradução da Bíblia por João Ferreira de Almeida.
Apesar dos erros iniciais, ao longo dos anos estudiosos evangélicos têm depurado a obra de Almeida, tornando-a a preferida dos leitores de fala portuguesa.

A Bíblia de Rahmeyer
Tradução completa da Bíblia, ainda hoje inédita, feita em meados do século XVIII pelo comerciante hamburguês Pedro Rahmeyer, que residiu em Lisboa por 30 anos. O manuscrito dessa Bíblia se encontra na Biblioteca do Senado de Hamburgo, na Alemanha.

Tradução de Figueiredo
Nascido em 1725, em Tomar, nas proximidades de Lisboa, o padre António Pereira de Figueiredo, partindo da Vulgata latina, traduziu integralmente o Novo e o Antigo Testamento, gastando dezoito anos nessa laboriosa tarefa. A primeira edição do Novo Testamento saiu em 1778, em seis volumes. Quanto ao Antigo, os dezessete volumes de sua primeira edição foram publicados de 1783 a 1790. Em 1819 veio à luz a Bíblia completa de Figueiredo, em sete volumes, e em 1821 ela foi publicada pela primeira vez em um só volume.
Figueiredo incluiu em sua tradução os chamados livros apócrifos que o Concílio de Trento havia acrescentado aos livros canônicos em 8 de abril de 1546. Esse fato tem contribuído para que a sua Bíblia seja ainda hoje apreciada pelos católicos romanos nos países de fala portuguesa.
Na condição de exímio filólogo e latinista, Figueiredo pôde utilizar-se de um estilo sublime e grandiloqüente, e seu trabalho resultou em um verdadeiro monumento da prosa portuguesa. Porém, por não conhecer
as línguas originais e ter se baseado tão-somente na Vulgata, sua tradução não tem suplantado em preferência popular o texto de Almeida.

A Bíblia no Brasil
Traduções parciais
Nazaré. Em 1847 publicou-se, em São Luís do Maranhão, O Novo Testamento, traduzido por frei Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré, que se baseou na Vulgata. Esse foi, portanto, o primeiro texto bíblico traduzido no Brasil. Essa tradução tornou-se famosa por trazer em seu prefácio pesadas acusações contra as "Bíblias protestantes, que, segundo os acusadores, estariam falsificadas e falavam contra Jesus Cristo e contra tudo quanto há de bom".
Em 1879, a Sociedade de Literatura Religiosa e Moral do Rio de Janeiro publicou o que ficou conhecida como A primeira edição brasileira do Novo Testamento de Almeida. Essa versão foi revista por José Manoel Garcia, lente do Colégio D. Pedro II, pelo pastor M. P. B. de Carvalhosa, de Campos, Rio de Janeiro, e pelo primeiro agente da Sociedade Bíblica Americana no Brasil, pastor Alexandre Blackford, ministro do evangelho no Rio de Janeiro.
Harpa de Israel foi o título que o notável hebraísta P. R. dos Santos Saraiva deu à sua tradução dos Salmos publicada em 1898.
Em 1909, o padre Santana publicou sua tradução do Evangelho de Mateus, vertida diretamente do grego. Três anos depois, Basílio Teles publicou a tradução do Livro de Jó, com sangrias poéticas. Em 1917, foi a vez de J. L. Assunção publicar o Novo Testamento, tradução baseada na Vulgata latina.
Traduzido do velho idioma etíope por Esteves Pereira, o livro de Amós surgiu isoladamente no Brasil em 1917. Seis anos depois, J. Basílio Pereira publicou a tradução do Novo Testamento e do Livro dos Salmos, ambos baseados na Vulgata. Por essa época surgiu no Brasil (infelizmente, sem indicação de data) a Lei de Moisés (Pentateuco), edição bilíngue hebraico-português, preparada pelo rabino Meir Masiah Melamed.
O padre Huberto Rohden foi o primeiro católico a traduzir no Brasil O Novo Testamento diretamente do grego. Publicada pela instituição católica romana Cruzada Boa Esperança, em 1930, essa tradução, por estar baseada em textos considerados inferiores, sofreu severas críticas.

Traduções completas
Em 1902, as sociedades bíblicas, empenhadas na disseminação da Bíblia no Brasil, patrocinaram nova tradução da Bíblia para o português baseada em manuscritos melhores que os utilizados por Almeida. A comissão constituída para tal fim, composta de especialistas nas línguas originais e no vernáculo, entre eles o gramático Eduardo Carlos Pereira, fez uso de ortografia correta e vocabulário erudito. Publicado em 1917, esse trabalho ficou conhecido como Tradução brasileira. Apesar de ainda hoje apreciadíssima por grande número de leitores, essa Bíblia não conseguiu firmar-se no gosto do grande público.
Coube ao padre Matos Soares realizar a tradução mais popular da Bíblia entre os católicos, na atualidade. Publicada em 1930 e baseada na Vulgata, essa tradução possui notas entre parênteses defendendo os dogmas da Igreja Romana. Por esse motivo recebeu apoio papal em 1932.
A primeira revisão da Bíblia em português feita pela Trinitarian Bible Society [Sociedade Bíblica Trinitária] foi iniciada no dia 16 de maio de 1837. Essa decisão foi tomada seis anos após a formação da Sociedade. O primeiro projeto escolhido para a publicação da Bíblia, numa língua estrangeira pela Sociedade, foi o português. O rev. Thomas Boys, do Trinity College, Cambridge, foi encarregado de liderar o empreendimento. No ano de 1969, em São Paulo, foi fundada a Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, com o objetivo de revisar e publicar a Bíblia de João Ferreira de Almeida como a “Edição corrigida e revisada fiel ao texto original”.
Em 1943, as Sociedades Bíblicas Unidas encomendaram a um grupo de hebraístas, helenistas e vernaculistas competentes uma revisão da tradução de Almeida. A comissão melhorou a linguagem, a grafia de nomes próprios e o estilo da Bíblia de Almeida.
Em 1948, organizou-se a Sociedade Bíblica do Brasil destinada a "Dar a Bíblia à Pátria". Essa entidade fez duas revisões no texto de Almeida, uma mais aprofundada, que deu origem à “Edição revista e atualizada no Brasil”, e uma menos profunda, que conservou o antigo nome Corrigida.
Em 1967, a Imprensa Bíblica Brasileira, criada em 1940, publicou a sua Edição revisada de Almeida, cotejada com os textos em hebraico e grego. Essa edição foi posteriormente reeditada com ligeiras modificações.
Mais recentemente, a Sociedade Bíblica do Brasil traduziu e publicou A Bíblia na linguagem de hoje (1988). O propósito básico dessa tradução tem sido o de apresentar o texto bíblico numa linguagem comum e corrente.
Em 1990, a Editora Vida publicou a sua Edição contemporânea da Bíblia de Almeida. Essa edição eliminou arcaísmos e ambiguidades do texto quase tricentenário de Almeida, e preservou, sempre que possível, as excelências do texto que lhe serviu de base.
Uma comissão constituída de especialistas em grego, hebraico, aramaico e português, coordenada pelo Rev. Luiz Sayão, trabalha em
uma nova tradução das Escrituras para a língua portuguesa, sob o patrocínio da Sociedade Bíblica Internacional, com o título “Nova Versão Internacional”(NVI), da qual já se publicou o Novo Testamento em 1993.
São também dignas de referência: a Bíblia traduzida pelos monges de Meredsous (1959); A Bíblia de Jerusalém, traduzida pela Escola Bíblica de Jerusalém (padres dominicanos) e editada no Brasil por Edições Paulinas em 1981, com notas, e a Edição Integral da Bíblia, trabalho de diversos tradutores sob a coordenação de Ludovico Garmus, editado pela Vozes e pelo Círculo do Livro, também com notas.
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Quem sou eu

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Sou pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, mestrando em Divindade (Magister Divinity), pelo CPAJ (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Sou também professor de História da Igreja, de Introdução Bíblica, e Cartas Gerais, na Escola Teológica Rev. Celso Lopes, em Maceió AL. Além disso, sou coronel-aviador da Força Aérea Brasileira, já reformado.

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