Esta página tem por finalidade colocar à disposição dos meus alunos da Escola Teológica Rev. Celso Lopes textos referentes à matéria título do blog
terça-feira, 11 de setembro de 2007
Aula 5 - AS CARACTERÍSTICAS DA CANONICIDADE
Que livros fazem parte da Bíblia? Que diremos a respeito dos cha¬mados livros ausentes? Como foi que a Bíblia veio a ser composta de 66 livros? Nas próximas aulas trataremos de responder a essas perguntas. Esse assunto intitula-se canonicidade. Trata-se do segundo grande elo da corrente que vem de Deus até nós. A inspiração é o meio pelo qual a Bíblia recebeu sua autoridade: a canonização é o processo pelo qual a Bíblia recebeu sua aceitação definitiva. Uma coisa é um profeta receber uma mensagem da parte de Deus, mas coisa bem diferente é tal mensagem ser reconhecida pelo povo de Deus. Canonicidade é o estudo que trata do reconhecimentp e da compilação dos livros que nos foram dados por inspiração de Deus.
Definição de canonicidade
A palavra cânon deriva do grego kanõn ("cana, régua"), que, por sua vez, se origina do hebraico kaneh, palavra do Antigo Testamento que significa "vara ou cana de medir" (Ez 40.3). Mesmo em época anterior ao cristia¬nismo, essa palavra era usada de modo mais amplo, com o sentido de padrão ou norma, além de cana ou unidade de medida. O Novo Testamento emprega o termo em sentido figurado, referindo-se a padrão ou regra de conduta (Gl 6.16).
O Emprego da palavra "cânon" pelo cristão da Igreja primitiva
Nos primórdios do cristianismo, a palavra cânon significava "regra" de fé, ou escritostos normativos (i.e., as Escrituras autorizadas). Por volta da época de Atanásio (c. 350), o conceito de cânon bíblico, ou de Escrituras normativas, já estava em desenvolvimento. A palavra cânon aplicava-se à Bíblia tanto no sentido ativo como no passivo. No sentido ativo, a Bíblia é o cânon pelo qual tudo o mais deve ser julgado. No sentido passivo, cânon significava a regra ou padrão pelo qual um escrito deveria ser julgado inspirado, ou dotado de autoridade. Esse emprego em duas direções causa certa confusão, que tentaremos dissipar. Primeiramente, vamos verificar o que significa cânon em
sentido ativo. Em seguida, verificaremos seu sentido passivo.
Alguns sinônimos de canonicidade
A existência de um cânon, ou coleção de escritos autorizados, antecede o uso do termo cânon. A comunidade judaica coligiu e preservou as Escrituras Sagradas desde o tempo de Moisés.
Escrituras Sagradas. Um dos conceitos mais antigos de cânon foi o de escritos sagrados. O fato de os escritos de Moisés serem considerados sagrados se demonstra pelo lugar santo em que eram guardados, ao lado da arca da aliança (Dt 31.24-26). Depois que o templo foi edificado, esses escritos sagrados foram preservados em seu interior (2Rs 22.8). A consideração especial dada a esses livros especiais mostra que eram tidos como canónicos, ou sagrados.
Escritos autorizados. A canonicidade das Escrituras também é designada autoridade divina. A autoridade dos escritos mosaicos foi salientada perante Josué e perante Israel (Js 1.8). Todos os reis de Israel foram exortados a esse respeito: "Quando se assentar no trono do seu reino, escreverá para si num livro uma cópia desta lei [...]. Conservará a cópia consigo, e a lerá todos os dias de sua vida, para que aprenda a temer ao Se¬nhor seu Deus, e a guardar todas as palavras desta lei..." (Dt 17.18,19). Visto que esses livros vieram da parte de Deus, vieram revestidos de sua autoridade. Sendo escritos dotados de autoridade, eram canónicos, i.e, normativos, para o crente israelita.
Livros que conspurcam as mãos. Na tradição de ensino de Israel, surgiu o conceito de livros tão sagrados, ou santos, que aqueles que os usassem ficariam com as mãos "conspurcadas". Assim diz o Talmude: "O evangelho e os livros dos hereges não maculam as mãos; os livros de Ben Sira e quaisquer outros livros que tenham sido escritos desde sua época não são canônicos" (Tosefta Yadaim, 3,5). Ao contrário, os livros do Antigo Testamento hebraico, na verdade, tornam imundas as mãos, porque são santos. Por isso, só os livros que exigissem que seu leitor passasse por uma cerimônia especial de purificação é que eram considerados canónicos.
Livros proféticos. Como já dissemos antes, determinado livro só era considerado inspirado se escrito por um profeta, ou porta-voz de Deus. As obras e as palavras dos falsos profetas eram rejeitadas e jamais agrupadas e guardadas num lugar santo. De fato, segundo Josefo (Contra Ápion, 1,8), só os livros que haviam sido redigidos durante o período profético, de Moisés até o rei Artaxerxes, podiam ser canônicos. Assim se expressou Josefo: "Desde Artaxerxes até a nossa época tudo tem sido registrado, mas nada foi considerado digno do mesmo crédito das obras do passado, visto que a sucessão exata de profetas cessou". Foram canónicos apenas os livros de Moisés a Malaquias, pois só esses foram escritos por homens em sucessão profética. Do período de Artaxerxes (século IV aC.) até Josefo (século I dC.), não houve sucessão profética; por isso, não faz parte do período profético. O Talmude faz a mesma afirmação, dizendo: "Até esta altura [século iv a.C.] os profetas profetizavam mediante o Espírito Santo; a partir desta época inclinai os vossos ouvidos e ouvi as palavras dos sábios" (Seder Olam Rabba, 30). Portan¬to, para ser canônico, qualquer livro do Antigo Testamento deveria vir de uma sucessão profética, durante o período profético.
A determinação da canonicidade
Essas considerações em torno da canonicidade ajudam-nos a esclarecer o que significa Escrituras canônicas. A confusão existente entre os sentidos ativo e passivo da palavra cânon trouxe anbiguidade à questão do que determina a canonicidade de um livro.
Alguns conceitos deficientes sobre o que determina a canonicidade
Foram apresentadas várias opiniões a respeito do que determina a canonicidade de um escrito. Essas posições confundem os cânones, ou regras, mediante as quais o crente descobre que determinado livro é inspirado (sentido passivo da palavra cânon), com os cânones dos escritos normativos que foram descobertos (sentido ativo da palavra cânon). Assim, tais teorias são insatisfatórias quanto aos conceitos sobre o que determina a canonicidade de um livro. Vamos examiná-las de modo sucinto.
A concepção de que a idade determina a canonicidade. A teoria segundo a qual a canonicidade de um livro é determinada pela sua antiguidade, que tal livro veio a ser venerado por causa de sua idade, erra o alvo por duas razões. Primeira: muitos livros velhíssimos, como o livro dos justos e o livro das guerras do Senhor (Js 10.13 e Nm 21.14) nunca foram aceitos no cânon. Em segundo lugar, há evidências de que os livros canônicos foram introduzidos no cânon imediatamente, e não depois de haverem envelhecido. É o caso dos livros de Moisés (Dt 31.24-26), de Jeremias (Dn 9.2) e dos escritos dp Novo Testamento produzidos por Paulo (2Pe 3.16).
A concepção de que a língua hebraica determina a canonicidade. É insatisfatória também a teoria segundo a qual os livros que fossem escritos em hebraico, a língua "sagrada" dos hebreus, seriam considerados sagrados, e os que houvessem sido escritos em outra língua não seriam introduzidos no cânon. A verdade é que nem todos os livros redigidos em hebraico foram aceitos, como é o caso dos livros apócrifos e de outros documentos antigos não-bíblicos (v. Js 10.13). Além disso, há seções de alguns livros aceitos no cânon sagrado que não foram escritas em hebraico (Daniel 2.4b-7.28 e Esdras 4.8—6.18; 7.12-26 foram escritos em aramaico).
A concepção de que a concordância do texto com a Torat determina a sua canonicidade. Esta é uma visão errônea, concernente à Torat (lei de Moisés). Nem é necessário mencionar que quaisquer textos que contradigam a Torat deviam ser rejeitados, tendo em vista a crença de que Deus não poderia contradizer-se em suas revelações posteriores. Essa teoria, porém, despreza duas questões de grande importância. Em primeiro lugar, não era a Torat que determinava a canonicidade dos escritos que lhe sucederam. Antes, o fator determinante da canonicidade da Torat era o mesmo que determinaria a de todas as demais Escrituras Sagradas, a saber, que os escritos fossem inspirados por Deus. Em outras palavras, a concepção de que a concordância com a Torat determina a canonicidade de um documento é insatisfatória porque não explica o que foi que determinou a canonicidade da Tora. Em segundo lugar, tal teoria é demasiado generalizante. Muitos outros textos que estavam de acordo com a Tora não foram aceitos como inspirados. Os pais judeus criam que seu Talmude e Midrash concordavam com a Torat, mas jamais os consideraram canônicos. O mesmo vale dizer de muitos escritos cristãos em relação ao Novo Testamento.
A concepção de que o valor religioso determina a canonicidade. Essa é outra hipótese: que o valor religioso de um livro determina sua inclusão no cânon sagrado. Outra vez temos aqui o carro adiante dos bois. É axiomático afirmar que, se um livro não tiver algum tipo de valor espiritual, deve ser rejeitado e eliminado do cânon. Também é verdade que nem todos os livros que possuem algum valor espiritual sejam automaticamente canônicos, como o comprovam alguns tesouros da literatura judeu-cristã, dos quais são alguns apócrifos. O fato mais importante, no entanto, é que essa teoria faz confusão entre causa e efeito. Não é o valor religioso que determina a canonicidade de um texto; é sua canonicidade que determina seu valor religioso. De forma mais precisa, não é o valor de um livro que determina sua autoridade divina, mas a autoridade divina é que determina seu valor.
A canonicidade é determinada pela inspiração
Os livros da Bíblia não são considerados oriundos de Deus por se haver descoberto neles algum valor; são valiosos porque provieram de Deus — fonte de todo bem. O processo mediante o qual Deus nos concede sua revelação chama-se inspiração. É a inspiração de Deus num livro que determina sua canonicidade. Deus dá autoridade divina a um livro, e os homens de Deus o acatam. Deus revela, e seu povo reconhece o que o Senhor revelou. A canonicidade é determinada por Deus e descoberta pelos homens de Deus. A Bíblia constitui o "cânon", ou "medida" pela qual tudo mais deve ser medido e avaliado pelo fato de ter autoridade concedida por Deus. Sejam quais forem as medidas (i.e., os cânones) usadas pela igreja para descobrir com exatidão que livros possuem essa autoridade canônica ou normativa, não se deve dizer que "determinam" a canonicidade dos livros. Dizer que o povo de Deus, mediante quaisquer regras de reconhecimento, "determina" que livros são autorizados por inspiração de Deus só confunde a questão. Só Deus pode conceder a um jivro autoridade absoluta e, por isso mesmo, canonicidade divina. O sentido primário da palavra cânon aplicado às Escrituras é aplicado na acepção ativa, i.e., a Bíblia é a norma que governa a fé. O sentido secundário, segundo o qual um livro é julgado por certos cânones e é reconhecido como inspirado (o sentido passivo), não deve ser confundido com a determinação divina da canonicidade. Só a inspiração divina determina a autoridade de um livro, i.e., se ele é canónico, de natureza normativa.
A descoberta da canonicidade
O povo de Deus tem desempenhado um papel de cabal importância no processo de canonização, ao longo dos séculos, ainda que tal papel não tenha natureza determinadora. A comunidade de crentes arca com a tarefa de chegar a uma conclusão sobre quais livros são realmente de Deus. A fim de cumprir esse papel, a igreja deve procurar certas características próprios da autoridade divina. Como poderia alguém reconhecer um livro inspirado só por vê-lo? Quais são os elementos característicos que distinguem uma declaração de Deus de um enunciado meramente humano? Vários critérios estavam em jogo nesse processo de reconhecimento.
Os princípios de descoberta da canonicidade
Nunca deixaram de existir falsos livros e falsas mensagens. Por representarem ameaça constante, fez-se necessário que o povo de Deus revisse cuidadosamente sua coleção de livros sagrados. Até mesmo os livros aceitos por outros crentes, ou em tempos anteriores, foram posteriormente questionados pela igreja. São discerníveis cinco critérios básicos, presentes no processo como um todo: 1) O livro é autorizado —afirma vir da parte de Deus? 2) É profético — foi escrito por um servo de Deus,? 3) É digno de confiança — fala a verdade acerca de Deus, do homem etc.? 4) É dinâmico — possui o poder de Deus que transforma vidas? 5) É aceito pelo povo de Deus para o qual foi originariamente escrito — é reconhecido como proveniente de Deus?
A autoridade de um livro. Como demonstramos antes, cada livro da Bíblia traz uma reivindicação de autoridade divina. Com frequência a expressão categórica "assim diz o Senhor" está presente. Às vezes o tom e as exortações revelam sua origem divina. Sempre existe uma declaração divina. Nos escritos mais didáticos (os de ensino), existe uma declaração divina a respeito do que os crentes devem fazer. Nos livros históricos, as exortações ficam mais implícitas, e as declarações autorizadas são mais a respeito do que Deus tem feito na história de seu povo (que é "a história narrada por Deus"). Se faltasse a um livro a autoridade de Deus, esse era considerado não-canônico, não sendo incluído no cânon sagrado.
Vamos ilustrar esse princípio de autoridade no que se relaciona ao cânon. Os livros dos profetas eram facilmente reconhecidos como canónicos por esse princípio de autoridade. A expressão repetida "e o Senhor me disse" ou "a palavra do Senhor veio a mim" é evidência abundante de sua autoridade divina. Alguns livros não tinham nenhuma reivindicação de origem divina, pelo que foram rejeitados e tidos como não-canônicos. Talvez tenha sido o caso do livro dos justos e do livro das guerras do Senhor. Outros livros foram questionados e desafiados quanto à sua autoridade divina, mas por fim foram aceitos no cânon. É o caso de Ester. Não antes de se tornar perfeitamente patente que a proteção Deus e, portanto, as declarações do Senhor a respeito de seu povo estavam inquestionavelmente presentes em Ester, recebeu este livro lugar permanente no cânon judaico. Na verdade, o simples fato de alguns li¬vros canónicos serem questionados quanto à sua legitimidade é uma segurança de que os crentes usavam seu discernimento. Se os crentes não estivessem convencidos da autoridade divina de um livro, este era rejeitado.
A autoria profética de um livro. Os livros proféticos só foram produzi¬dos pela atuação do Espírito, que moveu alguns homens conhecidos como profetas (2Pe 1.20,21). A Palavra de Deus só foi entregue a seu povo mediante os profetas de Deus. Todos os autores bíblicos tinham um dom profético, ou uma função profética, ainda que tal pessoa não fosse profe¬ta por ocupação (Hb 1.1).
Paulo exorta o povo de Deus em Galatas, dizendo que suas cartas deveriam ser aceitas porque ele era apóstolo de Cristo. Suas cartas não foram produzidas por um homem comum, mas por um apóstolo; não "por homem algum, mas por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos" (Gl 1.1). Suas cartas deviam ser acatadas porque eram apostólicas — saíram de um porta-voz de Deus, ou profeta de Deus. Todos os livros deveriam ser rejeitados caso não proviessem de profetas no¬meados por Deus; essa era a advertência de Paulo. Os crentes não deviam aceitar livros de alguém que falsamente afirmasse ser apóstolo de Cristo (2Ts 2.2), conforme advertência de Paulo também em 2Coríntios 11.13 a respeito dos falsos profetas. As advertências de João sobre os falsos messias e para que os crentes provassem os espíritos enquadram-se nessa mesma categoria (IJo 2.18,19 e 4.1-3). Foi por causa desse princípio profético que a segunda carta de Pedro foi objetada por alguns da igreja primitiva. Enquanto os pais da igreja não ficaram convencidos de que essa carta não havia sido forjada, mas de fato viera da mão do apóstolo Pedro, como seu primeiro versículo o menciona, ela não recebeu lugar permanente no cânon cristão.
A confiabilidade de um livro. Outro sinal característico da inspiração é ''ser um livro digno de confiança. Todo e qualquer livro que contenha erros factuais ou doutrinários (segundo o julgamento de revelações anteriores) não pode ter sido inspirado por Deus. Deus não pode mentir; a palavras do Senhor só podem ser verdadeiras e coerentes.
À vista desse princípio, os crentes de Beréia aceitaram os ensinos de Paulo e pesquisaram as Escrituras, para verificar se o que o apóstolo estava ensinando estava de fato de acordo com a revelação de Deus no Antigo Testamento (At 17.11). O mero fato de um texto estar de acordo com uma revelação anterior não indica que tal texto é inspirado. Mas a contradição de uma revelação anterior sem dúvida seria indício de que o ensino não era inspirado.
Grande parte dos apócrifos foi rejeitada por causa do princípio da confiabilidade.Suas anomalias históricas e heresias teológicas os rejeitaram; seria impossível aceitá-los como vindos de Deus, a despeito de sua aparência de autorizados. Não podiam vir de Deus e ao mesmo tempo apresentar erros,
Alguns livros canônicos foram questionados com base nesse mesmo princípio. Poderia a carta de Tiago ser inspirada, se contradissesse o ensino de Paulo a respeito da justificação pela fé e nunca pelas obras? Até que a compatibilidade essencial entre os autores se comprovasse, a carta de Tiago foi questionada por alguns estudiosos. Outros questionaram Judas por causa de sua citação de livros não-confiáveis, pseudepigráficos (vv. 9,14). Desde que ficasse entendido que as citações feitas por Judas não podiam conferir nenhuma autoridade àqueles livros, assim como as citações feitas por Paulo, de poetas não-cristãos (v. tb. At 17.28 e Tt 1.12), não poderia conferir a esses nenhuma autoridade, nenhuma razão have¬ria para que a carta de Judas fosse rejeitada.
A natureza dinâmica de um livro. O quarto teste de canonicidade, às vezes menos explícito do que alguns dos demais, era a capacidade do texto de transformar vidas "... a palavra de Deus é viva e eficaz..." (Hb 4.12). O resultado é que ela pode ser usada "para ensinar, para repreen¬der, para corrigir e para instruir em justiça" (2Tm 3.16,17).
O apóstolo Paulo revelou-nos que a habilidade dinâmica das Escrituras inspiradas estava implicada na aceitação das Escrituras como um todo, como mostra 2Timóteo 3.16,17. Disse Paulo a Timóteo: "... as sagradas letras [...] podem fazer-te sábio para a salvação..." (v. 15). Em outro texto, Pedro se refere ao poder de evangelização e de edificação cristã da Pala¬vra (IPe 1.23; 2.2). Outros livros e mensagens foram rejeitados porque apresentavam falsas esperanças (lRs 22.6-8) ou faziam rugir alarmes falsos (2Ts2.2).Assim, não conduziam o crente ao crescimento na verdade de Jesus Cristo. Assim dissera o Senhor: "Conhecereis a verdade, e a ver¬dade vos libertará" (Jo 8.32). O ensino falso jamais liberta; só a verdade possui poder emancipador.
Alguns livros da Bíblia, como Cântico dos Cânticos e Eclesiastes, foram questionados por alguns estudiosos os julgarem isentos desse poder dinâmico, capaz de edificar o crente. Desde que se convenceram de que o Cântico dos Cânticos não era sensual, mas profundamente espiritual, e que Eclesiastes não é um livro cético e pessimista, mas positivo e edificante (e.g., 12.9,10), pouca dúvida restou acerca de sua canonicidade.
A aceitação de um livro. A marca final de um documento escrito autorizado é seu reconhecimento pelo povo de Deus ao qual, originariamente, se havia destinado. A Palavra de Deus, dada mediante seus profetas e contendo sua verdade, deve ser reconhecida pelo seu povo. Gerações posteriores de crentes procuraram constatar esse fato. É que, se determinado livro fosse recebido, coligido e usado como obra de Deus, pelas pessoas a quem originariamente se havia destinado, ficava comprovada a sua canonicidade. Sendo o sistema de comunicações e de transportes atrasado como era nos tempos antigos, às vezes a determinação da canonicidade de um livro da parte dos pais da igreja exigia muito tempo e esforço. É por essa razão que o reconhecimento definitivo, completo, por toda a igreja cristã, dos 66 livros do cânon das Escrituras Sagradas exigiu tantos anos.
Os livros de Moisés foram aceitos imediatamente pelo povo de Deus. Foram coligidos, citados, preservados e até mesmo impostos sobre as novas gerações. As cartas de Paulo foram recebidas imediatamente pelas igrejas às quais haviam sido dirigidas (1Ts 2.13), e até pelos demais apóstolos (2Pe 3.16). Alguns escritos foram imediatamente rejeitados pelo povo de Deus, por não apresentarem autoridade divina (2Ts 2.2) Os falsos profetas (Mt 7.21-23) e os espíritos de mentira deveriam ser testados e rejeitados (IJo 4.1-3), como se vê em muitos exemplos den¬tro da própria Bíblia (cf. Jr 5.2; 14.14) Esse princípio de aceitação levou alguns a questionar durante algum tempo certos livros da Bíblia, como 2 e 3 João. São de natureza particular e de circulação restrita; é compreensível, pois, que houvesse alguma relutância em aceitá-los, até que essas pessoas em dúvida tivessem absoluta certeza de que tais livros haviam sido recebidos pelo povo de Deus do século 1 como cartas do apóstolo João.
É quase desnecessário dizer que nem todas as pessoas deram pronto reconhecimento às mensagens dos profetas de Deus. Deus assumia a de¬fesa rigorosa de seus profetas, contra todos quantos os rejeitassem (e.g., IRs 22.1-38). E, quando o Senhor era desafiado, mostrava quem era seu povo. Quando a autoridade de Moisés foi desafiada por Coré e seus asseclas, a terra se abriu e os engoliu vivos (Nm 16). O papel do povo de Deus era decisivo no reconhecimento da Palavra de Deus. O próprio Deus havia determinado a autoridade que envolvia os livros do cânon que ele inspirara, mas o povo de Deus também havia sido chamado para essa tarefa: descobrir quais eram os livros dotados de autoridade, e quais eram falsos. Para auxiliar o povo de Deus nessa descoberta, havia cinco testes de canonicidade.
O procedimento para a descoberta da canonicidade
Quando nos pomos a discorrer sobre o processo de canonização, não devemos imaginar uma comissão de pais da igreja, carregando pilhas de livros, tendo diante dos olhos a lista desses cinco princípios orientadores. Tampouco houve uma comissão ecuménica nomeada com o objetivo de canonizar a Bíblia. O processo era muitíssimo natural e dinâmico. O desenvolvimento da história real da criação do cânon do Antigo e do Novo Testamento será discutido mais tarde. O que devemos registrar aqui é como as cinco regras determinadoras da canonicidade foram usadas no processo de descobrir que livros eram inspirados por Deus, sendo, por isso, canônicos.
Alguns princípios estão apenas implícitos no processo. Embora todos os cinco elementos estejam presentes em cada documento escrito e inspirado, nem todas as regras de reconhecimento ficam visíveis na decisão sobre a provável (ou improvável) inspiração de cada livro. Nem sempre parecia imediatamente óbvio ao antigo povo de Deus que determinado livro fosse "dinâmico" ou "autorizado". Era lhes mais óbvio o fato de um livro ser "profético" e "aceito". Você pode ver facilmente como a ex¬pressão implícita "assim diz o Senhor" desempenhava papel de grande importância na descoberta e na determinação dos livros canónicos, reveladores do plano redentor global de Deus. No entanto, às vezes acontecia o contrário; em outras palavras, o poder e a autoridade de um livro eram mais visíveis do que sua autoria (e.g., Hebreus). De qualquer maneira, todas as cinco características estavam presentes na descoberta e na determinação de cada livro canônico, ainda que alguns desses princípios só fossem aplicados de modo implícito.
Alguns princípios atuavam de modo negativo no processo. Algumas das regras de reconhecimento atuavam de modo rnais negativo que outras. Por exemplo, o princípio da confiabilidade eliminava mais depressa os livros não-canônicos, não tendo a mesma rapidez para indicar os canónicos. Não existem ensinos falsos que, apesar disso, sejam canônicos; no entanto, há muitos escritos que expõem a verdade sem jamais terem sido inspirados. De modo semelhante, muitos livros que edificam, ou apresentam dinâmica espiritual positiva, não são canônicos, embora nenhum livro canônico deixe de ter importância no plano salvífico de Deus.
Semelhantemente, um livro pode reivindicar autoridade sem ser inspirado por Deus, como o mostram os muitos livros apócrifos, mas nenhum livro pode ser canônico sem que seja revestido de autoridade divina. Em outras palavras, se a um livro faltar autoridade, é certo que não veio de Deus. Mas o simples fato de um livro reivindicar autoridade para si mesmo não o torna, ipso facto, inspirado. O princípio da aceitação tem função primordialmente negativa. Nem mesmo o fato de um livro receber aceitacão de parte do povo de Deus significa prova de sua inspiração.
Muitos anos depois, passadas algumas gerações de cristãos, alguns destes, mal-informados a respeito da aceitação ou da rejeição pelo povo de Deus dos livros propostos, atribuíram reconhecimento local, temporal a certos livros não-canônicos (e.g., alguns livros apócrifos). O simples fato de um livro qualquer ter sido aceito em algum lugar, por alguns crentes em Cristo, de modo algum constitui prova da canonicidade e da inspiração de tal livro. O reconhecimento inicial de um derminado livro, pelo povo de Deus, que estava na melhor posição possível para testar a autoridade profética desse livro, é elemento de cabal importância. Levou algum tempo até que todos os segmentos das gerações posteriores de cristãos ficassem totalmente informados a respeito das circunstâncias iniciais. Assim, a aceitação por parte desses cristãos posteriores é importante, mas funciona como apoio adicional.
O princípio realmente essencial substitui todos os demais princípios. No alicerce de todo o processo de reconhecimento existe um princípio fundamental — o da natureza profética do livro. Se um livro houver sido escrito por um profeta prestigiado e honrado de Deus, e se ele afirmar que presentará uma enunciação autorizada da parte de Deus, nem há necessidade de formular as demais perguntas. E claro que o povo de Deus reconheceu esse livro como poderoso e verdadeiro, quando lhes foi entregue por um profeta de Deus. Quando não havia confirmação direta da vocação desse profeta da parte de Deus (como frequentemente havia, cf. Êx 4.1-9), então a confiabilidade, a habilidade dinâmica desse livro e sua aceitarão pelo povo, ou seja, pela comunidade cristã original, seria elemento ssencial para o reconhecimento posterior de sua inspiração.
A questão de poder ou não falta de confiabilidade afastar a confirmação de um livro profético é puramente hipotética. Nenhum livro concedido por Deus pode ser falso. Se um livro que se considera profético apresenta falsidade inquestionável, é preciso que se reexaminem suas credenciais proféticas. Deus não pode mentir. Dessa forma, os outros quatro princípios servem para conferir o caráter profético dos livros do cânon.
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Quem sou eu
- Pastor Pedro
- Sou pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, mestrando em Divindade (Magister Divinity), pelo CPAJ (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Sou também professor de História da Igreja, de Introdução Bíblica, e Cartas Gerais, na Escola Teológica Rev. Celso Lopes, em Maceió AL. Além disso, sou coronel-aviador da Força Aérea Brasileira, já reformado.
2 comentários:
Na verdade esta aula , nada mais é que cópia autentica do livro de Norman Geisler e WIllian Nix , não entendi a falta de citação dos autores do texto citado
Pr. Fiuza:
Se o irmão ler com cuidado a primeira postagem do blog verá que ali está registrada a autoria do material.
DEus o abençoe
Pr. Pedro
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