Esta página tem por finalidade colocar à disposição dos meus alunos da Escola Teológica Rev. Celso Lopes textos referentes à matéria título do blog
sábado, 8 de setembro de 2007
A Origem de Satanás (texto complementar)
Em algumas obras de referência bíblica, comumente encontramos a palavra "Satanás" explicada da seguinte maneira:
— O Velho Testamento indica que Satanás foi criado por Deus como um anjo governante chamado Lúcifer, com grandes poderes. Mas o orgulho levou Lúcifer a se rebelar contra Deus, conforme está em Isaías 14:12-14 e em Ezequiel 28:12-15. Torcido pelo pecado, Lúcifer é transformado em Satanás, que quer dizer `inimigo´ ou `adversário´ ...Satanás é um poderoso anjo decaído, intensamente hostil a Deus e antagonista do povo de Deus.
Assim, se perguntarmos à maioria das pessoas que crêem na Bíblia, de onde veio Satanás, nove entre dez dirão algo semelhante ao que acabamos de ler.
A idéia de que Satanás é um anjo decaído a quem Deus expulsou do céu e que caiu na terra é tão divulgada que muitas pessoas acreditam que a Bíblia ensina isso. Mas, a verdade é outra. A Bíblia não ensina tal coisa. É certo que há passagens na Bíblia que falam de seres caindo do céu, mas estas passagens não são sobre Satanás, e tais passagens usam linguagem figurada, como veremos.
Somente através de uma leitura descuidada destes textos pode alguém chegar à história popular relativa à origem de Satanás. Vamos examinar as passagens bíblicas que são importantes sobre esse assunto para que os irmãos compreendam bem o que queremos dizer.
Quem é Satanás?
O nome "Satanás" é uma representação da palavra hebraica satan, significando aquele que é acusador no sentido legal. Ou seja, um queixoso que tem uma acusação a apresentar diante de um tribunal ou de alguém.
Em Zc 3:1 lemos — Deus me mostrou o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do Anjo do SENHOR, e Satanás estava à mão direita dele, para se lhe opor.
Ou seja, Satanás se opõe a nós, trabalha contra nós, ou "nos persegue", na tentativa de nos derrotar espiritual e moralmente. Neste sentido, Jesus chamou Satanás de homicida e de mentiroso, conforme está em Jo 8:44.
Em Ap 12:9, João retrata Satanás como um grande dragão, uma representação que ressalta a sua natureza terrível. Esse mesmo verso identifica Satanás, também, como a serpente, numa referência a Gênesis 3, e como o diabo, que é outro nome bíblico comum para ele.
Talvez, 1 Pe 5:8 nos diga o que mais precisamos saber a respeito de Satanás — O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar.
Agora, reparem, a ênfase bíblica está no que Satanás é em relação a nós, ou seja, um inimigo. Algumas pessoas, entretanto, pensam que certos textos bíblicos nos dizem como Satanás veio a se tornar assim.
Vamos, então, examinar estes textos cuidadosamente, para que não fique qualquer dúvida na nossa cabeça.
1º - Isaías 14:12-14
Esta passagem diz: — Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações! Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.
Reparem que esta passagem não menciona Satanás por nenhum de seus nomes bíblicos. Somente assumindo que esta passagem descreve Satanás é que poderíamos extrair deste texto uma teoria da origem de Satanás. Mas, isso não pode ser feito porque teríamos que ignorar o contexto da passagem na mensagem de Isaías.
Vejam que Isaías não estava falando sobre Satanás nesse capítulo 14, nem tampouco a origem de Satanás faz parte da mensagem do profeta. Se dissermos que este texto é sobre a origem de Satanás, isso simplesmente torna sem sentido o contexto da mensagem.
Isaías, reparem, profetizou durante os reinados dos reis Uzias, Jotão, Acaz, e Ezequias (Is 1:1). Seu ministério abrangeu, aproximadamente, os anos 750 - 686 a.C., uns 65 anos, no máximo. Naquele tempo, o povo de Deus tinha se corrompido pela idolatria.
Deus, então, enviou Isaías para pregar o arrependimento ao seu povo e para adverti-lo de que, se eles não abandonassem a idolatria, haveria um desastre em escala nacional.
Isaías pregou a ambos os reinos, de Israel e de Judá, cumprindo sua missão, dizendo ao povo que eles sofreriam terrivelmente se recusassem arrepender-se.
Is 10:5-6 resume a mensagem ao reino do norte, dizendo — Ai da Assíria, cetro da minha ira! A vara em sua mão é o instrumento do meu furor. Envio-a contra uma nação ímpia e contra o povo da minha indignação lhe dou ordens, para que dele roube a presa, e lhe tome o despojo, e o ponha para ser pisado aos pés, como a lama das ruas.
Em linguagem semelhante, Is13:3-6 fala ao reino do sul, o reino contra o qual Deus enviaria os babilônios — Eu dei ordens aos meus consagrados, sim, chamei os meus valentes para executarem a minha ira, os que com exultação se orgulham. Já se ouve sobre os montes o rumor como o de muito povo, o clamor de reinos e de nações já congregados. O SENHOR dos Exércitos passa revista às tropas de guerra. Já vêm de um país remoto, desde a extremidade do céu, o SENHOR e os instrumentos da sua indignação, para destruir toda a terra. Uivai, pois está perto o Dia do SENHOR; vem do Todo-Poderoso como assolação.
Reparem que a mensagem de Isaías não era somente de desânimo e condenação. Os assírios e os babilônios eram, simplesmente, instrumentos que Deus usaria para punir o seu povo. Uma vez que Deus tivesse usado essas nações para seus propósitos, Ele se voltaria e aplicaria seu julgamento sobre eles, pela impiedade deles próprios.
Essa é, portanto, uma mensagem da soberania de Deus em ação. A Babilônia cairia e, depois disso, Deus renovaria e reuniria seu povo e lhes daria uma gloriosa e nova existência.
Isaías 14 é, assim, uma mensagem sobre a queda do império babilônico. Isaías diz aos habitantes do reino de Judá que, depois que eles tivessem sofrido o castigo, viria o dia quando eles poderiam ver a queda de seu opressor e mangar de Babilônia do mesmo modo como Babilônia havia mangado de Judá.
Dessa maneira, reparem, por que motivo Isaías começaria o capítulo falando sobre a queda de Babilônia, interromperia com uma descrição da origem de Satanás, e então recomeçaria a falar sobre a queda de Babilônia novamente?
Simplesmente, não faz qualquer sentido no contexto, ver 14:12-14 como sendo um texto sobre a origem de Satanás.
O fato é que Isaías estava descrevendo, para povo de Judá, o que eles estariam dizendo quando zombassem do rei de Babilônia que tinha sido rebaixado e decaído do poder (v.4). As posições iriam se inverter, e Isaías está, justamente, descrevendo a ironia de tudo isso.
Até mesmo uma leitura corrida da passagem revela que a linguagem aqui é poética e figurativa, e temos que tratá-la de acordo.
"Céu" no (v.12) é linguagem figurativa para significar o que é alto e exaltado, e Isaías está aqui descrevendo a alta consideração em que o rei de Babilônia era tido. O profeta descreve sua queda do poder, figurativamente, como uma queda do céu. Então, ele chama o rei de Babilônia, também usando linguagem figurada, de "estrela da manhã".
Na sua glória, durante algum tempo, o soberano de Babilônia era como uma estrela brilhante no céu. Contudo, seu reinado e seu poder cairiam, e, mantendo as mesmas imagens, Isaías pinta sua extinção como se fora uma estrela cadente.
Uma parte da incompreensão desta passagem é resultado do aparecimento da palavra "Lúcifer" em algumas versões do v.12. A palavra hebraica é helel, que significa "estrela da manhã" e não tem nenhuma ligação com Satanás.
Aliás, "Lúcifer" é uma velha palavra latina que originalmente significava "portador da luz", e era o nome do planeta Vênus sempre que aparecia no céu matinal. Na época que esta palavra foi usada nas traduções deste versículo, "Lúcifer" não significava Satanás. Infelizmente, para muitas pessoas, hoje em dia, Lúcifer é o nome de Satanás, justamente, porque Isaías 14:12-14 é aceito, erradamente, como sendo sobre Satanás!
Agora, reparem. Não é porque os tradutores erraram, mas porque pessoas de tempos posteriores, ou esqueceram o que lúcifer significava, ou concluíram erradamente que era o nome de Satanás.
Isaías 14:13 fala da soberba e da arrogância do rei babilônico. Certa vez, ele pensou que era o maior do mundo, que tinha poder e autoridade igual à do próprio Deus. Uma das características do retrato profético de Babilônia é seu grande orgulho. Todavia, Deus rebaixaria seu rei ao mais baixo nível imaginável para a mente hebraica: ao Sheol, o reino dos mortos (v.15).
Os v.9-11 descrevem como os habitantes do Sheol ficariam surpresos porque alguém que pensava ser tão "alto" estava agora entre eles, num lugar tão "baixo".
O importante observar é que o rei de Babilônia foi do extremo da exaltação mundana até a extrema humilhação, e isto era um feito de Deus, o julgamento de Deus. A passagem toda é, portanto, um quadro, uma imagem, e não uma narrativa histórica literal.
A ênfase está no contraste entre as condições do soberano babilônico "antes" e "depois". As pessoas, então, olhariam para o fracasso do rei babilônico e perguntariam: "É este o homem que fazia a terra tremer, que sacudia reinos, que fazia do mundo um deserto, derrubava suas cidades, que não permitia aos seus prisioneiros voltar para casa?" (v.16-17).
Vemos, então, que quando examinamos Isaías 14:12-14 em seu contexto, ele não nos diz nada sobre a origem de Satanás. É uma descrição figurativa da queda do rei de Babilônia.
Outra suposta passagem sobre a origem de Satanás é:
Ezequiel 28:12-16, onde se lê: — ... Assim diz o SENHOR Deus: Tu és o sinete da perfeição, cheio de sabedoria e formosura. Estavas no Éden, jardim de Deus; de todas as pedras preciosas te cobrias: o sárdio, o topázio, o diamante, o berilo, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo e a esmeralda; de ouro se fizeram os engastes e os ornamentos; no dia em que foste criado, foram eles preparados. Tu eras querubim da guarda ungido, e te estabeleci; permanecias no monte santo de Deus, no brilho das pedras andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniqüidade em ti. Na multiplicação do teu comércio, se encheu o teu interior de violência, e pecaste; pelo que te lançarei profanado fora do monte de Deus, e te farei perecer, ó querubim da guarda, em meio ao brilho das pedras.
Reparem que a referência ao Éden é, para muitas pessoas, um indicador seguro de que esta passagem tem que ser sobre a origem de Satanás. Assim, vejam, para estas pessoas não importa que Satanás já fosse o inimigo do homem no Éden! Mas, novamente, é somente aceitando que esta passagem é sobre Satanás (a própria coisa que precisa ser provada) que podemos lê-la desse modo. O contexto aqui argumenta em outra direção.
As palavras de Ezequiel nessa passagem falam a respeito do rei de Tiro. Os v.1-11 tornam isto claro. Reparem que o capítulo 27 é sobre a queda da nação, e o capítulo 28 é, especialmente, sobre a queda do rei dessa nação.
Se nós prestarmos um pouco de atenção ao contexto, veremos que tudo se esclarece! Exatamente como na passagem de Isaías, tomar as palavras do profeta como descritivas de Satanás e de sua "queda" é fazer deste capítulo um completo contra-senso.
Aqui, a mensagem está em duas partes, mas cada uma delas apresenta a mesma mensagem. Os versículos 1-10 descrevem o rei de Tiro do ponto de vista de Deus.
Reparem: Ez 28:1-10 diz — Veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: (2) Filho do homem, dize ao príncipe de Tiro: Assim diz o SENHOR Deus: Visto que se eleva o teu coração, e dizes: Eu sou Deus, sobre a cadeira de Deus me assento no coração dos mares, e não passas de homem e não és Deus, ainda que estimas o teu coração como se fora o coração de Deus - (3) sim, és mais sábio que Daniel, não há segredo algum que se possa esconder de ti; (4) pela tua sabedoria e pelo teu entendimento, alcançaste o teu poder e adquiriste ouro e prata nos teus tesouros; (5) pela extensão da tua sabedoria no teu comércio, aumentaste as tuas riquezas; e, por causa delas, se eleva o teu coração -, (6) assim diz o SENHOR Deus: Visto que estimas o teu coração como se fora o coração de Deus, (7) eis que eu trarei sobre ti os mais terríveis estrangeiros dentre as nações, os quais desembainharão a espada contra a formosura da tua sabedoria e mancharão o teu resplendor. (8) Eles te farão descer à cova, e morrerás da morte dos traspassados no coração dos mares. (9) Dirás ainda diante daquele que te matar: Eu sou Deus? Pois não passas de homem e não és Deus, no poder do que te traspassa. (10) Da morte de incircuncisos morrerás, por intermédio de estrangeiros, porque eu o falei, diz o SENHOR Deus.
Reparem que, da mesma maneira que o rei de Babilônia, o rei de Tiro era orgulhoso, arrogante e soberbo. Ele se achava divino, e assim declarava ter uma glória que não lhe pertencia (v.2,6,9).
O profeta descreve, com ironia, a grandeza do monarca nos (v.3-5). Pela sua arrogância, o orgulhoso rei colherá o julgamento de Deus. O julgamento sobre ele é que Deus o abaterá (v.7-10).
Os v.11-19 repetem esta mensagem. O retrato irônico que o profeta faz do rei reaparece nos v.12-16. O aumento no nível de imagens e figuras na linguagem aumenta ainda mais a ironia. O rei pensava sobre si mesmo em termos absolutamente altos, mas para Deus isto era pura loucura. A referência ao Éden, no v.13, não é literal, mas significa que o rei imaginava-se privilegiado, acima de todos os outros. Ele pensava que era especial, como querubim ungido de Deus, ou como alguém que vivesse na própria montanha de Deus (v.14). Ele se retratava nos termos mais gloriosos. Pela sua arrogância, Deus o julgaria severamente (v.16-19). Novamente, portanto, quando lemos esta passagem no seu contexto, vemos que ela não tem nada a ver com a origem de Satanás.
Lucas 10:18
Em Lc 10:18, Jesus diz: — Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago.
Aqueles que pensam que Satanás é um anjo rebelde decaído acreditam que este versículo estabelece o assunto convincentemente. Contudo, de novo, precisamos olhar para esta afirmação no seu contexto.
Em Lc 10:1 e seguintes, Jesus havia enviado setenta discípulos numa missão de pregação. Realmente, era mais do que apenas uma missão de pregação, pois Jesus também os enviou para curar e expulsar demônios (v.9,17).
Agora, reparem, é importante entender exatamente o que estes setenta discípulos cumpriram, e o que o próprio Jesus cumpriu em seu ministério.
Enquanto Jesus estava nesta terra, ele guerreou contra o reino de Satanás. Antes que Jesus pudesse estabelecer seu reino (o reino de Deus), ele precisava invadir o território do inimigo, vencê-lo e tornar o inimigo (Satanás) impotente e fraco.
Isto ele fez pregando o evangelho e demonstrando visivelmente seu poder. As curas milagrosas e, especialmente, a expulsão de demônios, não eram atos casuais de bondade, elas eram, em vez disso, assaltos diretos ao reino de Satanás.
Proclamando a "libertação dos cativos" no evangelho (Lc 4:18), Jesus estava proclamando a derrota de Satanás e do pecado. Jesus veio, justamente, libertar o homem do domínio de Satanás, um domínio resumido em pecado e morte.
É no contexto desta guerra espiritual que temos de entender os milagres associados com o ministério de Jesus e, mais tarde, dos apóstolos. Os milagres eram físicos, demonstrações visíveis, exemplos, ilustrações do que Jesus pode fazer pelos homens espiritualmente.
Em nenhum lugar isto fica mais claro do que na expulsão de demônios. A possessão por demônios era uma manifestação óbvia do domínio de Satanás sobre pessoas. Que maior domínio sobre uma pessoa Satanás poderia ter do que invadir seu corpo, através de um demônio, e comandar seus atos?
Quando Jesus expulsava demônios, ele estava libertando pessoas das garras de Satanás. Ele estava destruindo o domínio do Maligno sobre elas. Era uma demonstração especialmente clara, a nível físico, do poder do evangelho, e era uma ilustração de como Jesus podia libertar os homens do reino de Satanás e colocá-los sob o reino de Deus.
A mesma coisa é verdade, também, quanto às curas milagrosas de Cristo. Doença e morte eram manifestações do poder de Satanás sobre o homem. Curando os doentes, Jesus estava livrando pessoas do poder de morte exercido por Satanás, e, assim, vencendo o maligno.
Reparem o que Jesus disse sobre a mulher que tinha uma doença causada por um espírito em Lc 13:16 — ... esta filha de Abraão, a quem Satanás trazia presa há dezoito anos — não deveria ela ter sido libertada, no sábado?
Jesus estava demonstrando, em suas curas milagrosas, seu poder sobre Satanás, seu poder para livrar os homens do domínio de Satanás. A cura era, portanto, uma ilustração do que Jesus pode fazer por nós espiritualmente, através do evangelho. Assim, não é coincidência que Mateus ligue as atividades de pregar o evangelho e a cura dos doentes como está em (Mt 4:23) — Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda a sorte de doenças e enfermidades entre o povo. — Vejam que estas duas atividades andavam juntas muito naturalmente.
Quando os setenta discípulos retornaram, relataram seu grande sucesso a Jesus, regozijando-se porque — ... os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome! (Lc 10:17).
Jesus os havia enviado como um exército para invadir o território de Satanás e guerrear. Sua campanha tinha tido um tremendo sucesso. Satanás sofreu uma derrota com cada demônio que eles expulsaram. E, assim, Jesus respondeu com um reconhecimento (v.18-19) — Ele lhes disse: Eu via a Satanás caindo do céu como um relâmpago. Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo, e nada absolutamente vos causará dano.
Reparem a menção de Jesus a "... sobre todo o poder do inimigo". Satanás estava sendo derrotado no ministério de Jesus. Os setenta discípulos tinham compartilhado esse ministério, e isso culminaria na maior vitória sobre Satanás: a morte e a ressurreição de Cristo que decisivamente derrotaram o poder de Satanás de pecado e de morte, respectivamente.
Assim, quando Jesus diz: "... eu via a Satanás caindo do céu como um relâmpago", ele estava descrevendo quão grandemente seu ministério estava derrotando o poder de Satanás sobre os homens.
O poder de Satanás não mais seria incontestável e absoluto. Em sua obra, Cristo estava destruindo o aparentemente invencível poder do pecado e da morte.
Em uma linguagem que relembra Is 14:12-14, Jesus compara o poder anterior de Satanás a uma estrela, e essa estrela agora caiu. Apocalipse 9:12 e Mateus 24:29 também usam a imagem de uma estrela cadente para descrever a derrota do poder.
Portanto, novamente, o texto que, alegadamente, prova a origem do diabo não é sobre a origem de Satanás de modo nenhum. É somente introduzindo tal idéia no texto que ele pode prestar algum serviço a tal doutrina.
Analisamos Isaías 14:12-14 e mostramos que essa passagem fala sobre a queda do rei de Babilônia. Outra passagem que supostamente falaria sobre a origem de Satanás seria Ez 28:12-16. Mas, aqui também mostramos que se trata da queda do rei de Tiro...
Agora, iremos ver Apocalipse 12:7-9...
Talvez, esta seja a passagem mais popular quando se fala sobre a origem de Satanás. Apocalipse 12:7-9 diz: — Houve peleja no céu. Miguel e os seus anjos pelejaram contra o dragão. Também pelejaram o dragão e os seus anjos; (8) todavia, não prevaleceram; nem mais se achou no céu o lugar deles. (9) E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos.
Qualquer pessoa que tenha estudado um pouquinho do Livro do Apocalipse de João sabe que o Apocalipse está cheio de símbolos estranhos.
Assim, reparem que somente a pulso podemos considerar a linguagem simbólica de forma literal e, se ignorarmos o contexto, poderíamos talvez tirar uma história sobre a origem de Satanás deste texto.
O capítulo 12 de Apocalipse é uma descrição simbólica das circunstâncias espirituais que causaram a perseguição aos cristãos do primeiro século, mostrando o que os leitores de João enfrentaram.
João escreveu o Apocalipse para dar aos seus primeiros leitores uma visão de seu sofrimento, para que eles vissem o seu sofrimento num contexto mais amplo. Desta maneira, esses primeiros cristãos foram apanhados numa tremenda luta entre Deus e Satanás. O diabo estava tentando destruir a igreja, usando Roma como seu agente.
João, assim, estava dando aos seus leitores uma perspectiva de sua situação de maneira a poder ajudá-los a suportar as perseguições do Império Romano.
Assim, como uma descrição simbólica e figurativa, não devemos e não podemos ler essa passagem literalmente. Não devemos sequer tratar essa passagem como alguma espécie de narrativa cronológica e histórica do que havia acontecido.
Apocalipse 12 é, de fato, reconhecido pelos estudiosos como uma passagem difícil, mas as pessoas que vêem o livro do ponto de vista de seu contexto histórico, na sua grande maioria, concordam que ele fala sobre a vitória do povo de Deus e a derrota de seu inimigo, Satanás.
A primeira parte do capítulo (v.1-6) apresenta a história do nascimento de uma criança do sexo masculino que se torna o regente das nações. Esta imagem representa Cristo.
É uma alusão ao Salmo messiânico, Salmo 2, que diz nos (v.7-9) — Proclamarei o decreto do SENHOR: Ele me disse: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei. Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão. Com vara de ferro as regerás e as despedaçarás como um vaso de oleiro.
E Ap 12:5 confirma isto ao dizer — Nasceu-lhe, pois, um filho varão, que há de reger todas as nações com cetro de ferro. E o seu filho foi arrebatado para Deus até ao seu trono.
Entretanto, um grande dragão (Satanás) imediatamente desafia o aparecimento de Cristo na cena. O aparecimento de Jesus desencadeia uma grande guerra espiritual (v.7). Reparem que o domínio de Satanás sobre a situação humana não havia, até agora, sido contestado.
Mas, quando Cristo aparece, o poder de Satanás sobre o homem é efetivamente destruído, e Satanás sofre uma derrota esmagadora (v.9).
A história básica que João apresenta aqui (v.7s) é que Satanás perdeu sua tentativa de ganhar domínio sobre a humanidade. E as suas forças não são adversárias para Deus e seus exércitos. Ele não pode derrotar Deus e seu Filho. Numa grande destruição, Satanás é lançado abaixo, simbolizando sua ruína.
Que Satanás tenha sido atirado à terra é, de fato, algo significativo. É uma mudança na frente de batalha. Desde que Satanás não pôde derrotar Deus no reino espiritual, ele então volta sua atenção para o reino físico, onde ele espera ser vitorioso.
Reparem que é a mesma batalha pelo domínio espiritual, mas agora é uma batalha espiritual travada na terra. Agora, em vez de tentar destruir o Filho de Deus (tentativa que fracassou), Satanás tenta destruir o povo de Deus que vive na terra.
Satanás inunda, então, a terra com suas mentiras, enganos, tentações, e todo tipo de artimanhas, em seu esforço para destruir o povo de Deus, mas isto também fracassa conforme podemos ver nos (v.11,17) que dizem — (11) Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida... (17) Irou-se o dragão contra a mulher e foi pelejar com os restantes da sua descendência, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus; e se pôs em pé sobre a areia do mar.
Desta forma, não resta dúvida de que Ap 12:7-9 é sobre como Satanás foi derrotado esmagadoramente pelo advento e pela obra de Jesus Cristo. João escreveu isto para encorajar seus leitores que estavam sofrendo por causa do ataque de Satanás através de um poder mundial perverso, o poder do Império Romano. Eles poderiam suportar se soubessem que a vitória final seria deles.
Reparem que para aqueles primeiros cristãos, conhecer a origem de Satanás não teria efeito nenhum para encorajá-los a perseverar na fé, no meio das provações e das perseguições.
E agora? Vocês devem estar perguntando: Então, donde veio Satanás? Qual a sua origem?
Se nenhuma das passagens que são comumente citadas como relatos da origem de Satanás são realmente sobre sua origem, então donde ele veio?
Bem, estou certo de que a Bíblia não revela a resposta para nós exatamente. Podemos ter uma curiosidade sobre o assunto. É natural. Mas, temos que nos policiar para não permitir que tal curiosidade nos leve a encontrar respostas onde elas não se encontram.
O melhor que podemos fazer, eu penso, é deduzir umas poucas coisas sobre Satanás:
Primeiro, somente Deus (o Altíssimo) é incriado. Tudo o mais e todos no universo são criados. Portanto, Satanás é um ser criado. A Bíblia, em nenhum lugar diz que ele é um ser eterno como Deus.
Segundo, a Bíblia atribui onipotência somente a Deus (o Soberano). Portanto, Satanás não é um ser onipotente. Ainda que ele tenha grandes poderes. Deus, inclusive, limita o uso desses poderes conforme lemos em (1 Co 10:13) — Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar.
Terceiro, há seres que foram feitos e que existem acima do nível humano. Podemos chamá-los seres espirituais por falta de um termo melhor. Entre estes seres espirituais estão os anjos, mas estes, aparentemente, não são os únicos tipos de seres espirituais, conforme Ef 6:12 — porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes.
A respeito desta ordem de seres, conhecemos mais sobre anjos do que os outros seres celestiais. O quadro que obtemos pela palavra de Deus é que os seres espirituais estão interessados em assuntos da terra e, às vezes, são até envolvidos neles.
Por exemplo, anjos mediaram a Lei de Moisés (Gálatas 3:19), anjos anunciaram a ressurreição de Cristo (Mateus 28:5), e anjos desejaram ver o cumprimento do plano de Deus de salvação (1 Pedro 1:12).
Quarto, embora isso possa ser uma especulação, também parece que seres espirituais, embora sejam criados, entretanto não são ligados em sua existência pelas limitações de tempo ou de idade.
A Bíblia em lugar nenhum identifica Satanás como um ser humano. Ele é, obviamente, um dos seres espirituais sobre os quais lemos na Bíblia.
Agora, reparem: Isto não quer dizer que Satanás seja um anjo. De fato, teria sido muito fácil, em qualquer dos contextos e para qualquer dos escritores, dizer que Satanás era um anjo, mas eles nunca disseram isso.
Satanás é, de fato, um ser espiritual, e a Bíblia o descreve como, entre outras coisas, "o príncipe da potestade do ar" (Ef 2:2). Vemos Satanás, pela primeira vez, no Jardim do Éden (Gênesis 3), justamente no começo da história humana, e ele tem existido continuamente desde então.
Quinto, os seres espirituais, como os seres humanos, têm vontade. Judas descreve o castigo dos anjos rebeldes no (v.6) de sua epístola, e Pedro fala de anjos pecando em 2 Pedro 2:4. Portanto, Satanás se opõe a Deus porque ele decidiu fazer isso.
Deus, certamente, não criou Satanás para o mal, ou como um ser mau, pois a Bíblia nos diz claramente que não há mal associado com Deus (Tiago 1:13; 1 João 1:5).
Parece, portanto, que o máximo que poderíamos dizer sobre a origem de Satanás é que ele é um ser criado, mas espiritual, que decidiu se opor a Deus, e que ele recruta outros seres espirituais e, também, seres humanos para guerrearem contra Deus.
Mais do que isto é só especulação. Desta forma, num sentido muito significativo, não importa de onde Satanás veio. A ênfase na Bíblia cai, isto sim, no que ele faz. Não é como ele veio a existir que preocupa. O que preocupa é o fato de que ele existe. Ele continua a trabalhar contra nós em sua tentativa de dominar a humanidade...
Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes (Ef 6:10-12).
Rev. Augustus Nicodemus (adaptado para o estudo por Rev. Pedro Corrêa Cabral).
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Quem sou eu
- Pastor Pedro
- Sou pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, mestrando em Divindade (Magister Divinity), pelo CPAJ (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Sou também professor de História da Igreja, de Introdução Bíblica, e Cartas Gerais, na Escola Teológica Rev. Celso Lopes, em Maceió AL. Além disso, sou coronel-aviador da Força Aérea Brasileira, já reformado.
7 comentários:
Amados, estou numa tremenda duvida em relaçao ao louvor: "és a nossa estrela da manhã", gostaria de saber o que este louvor realamente esta dizendo, pra quem esta sendo entronizado? se a Deus ou ao tentador das nossas almas?
pois ja o mesmo louvor, já tinha sido tirado dos louvores da nossa igreja pelo que diz na passagem de isaias 14 e 12...passaram-se anos e no domingo passado o pastor (novo pastor)pediu que cantassemos este louvor, e alguns irmaos lembraram que este louvor era dedicado a Lucifer, o que intrigou muita gente e me intrigou tambem?
o que pensar deste louvor? é certo, adequado entoa-lo?
O que acha, Reverendo (né?) de fazer jus a quem escreveu o artigo e citar o nome do autor?
Se você ANÔNIMO ler o artigo até o fim verá que a autoria está registrada.
DEus o abençoe e o faça parar de escrever anonimamente.
ESSE ARTIGO POR SER ADAPTADO TEM SIM UM AUTOR QUE SE CHAMA: DAVID McCLISTER.UM GRANDE CONHECEDOR E OBSERVADOR DA PALAVRA.
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