Esta página tem por finalidade colocar à disposição dos meus alunos da Escola Teológica Rev. Celso Lopes textos referentes à matéria título do blog

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Aula 10 - As línguas e os materiais da Bíblia



Até agora, nosso estudo está centrado ao redor dos dois primeiros elos da cadeia vinda de Deus para nós. O primeiro elo é a inspiração, que envolvia a outorga e o registro da revelação de Deus para o homem, mediante os profetas. O segundo elo é a canonização, que envolvia o reconhecimento e a compilação dos registros proféticos pelo povo de Deus. A fim de compartilhar esses registros com os novos crentes e com as gerações futuras, era necessário que se copiassem, traduzissem, recopiassem e retraduzissem esses livros. Esse processo constitui o terceiro elo da corrente de comunicação, conhecido como transmissão da Bíblia.
Visto que a Bíblia vem passando por quase dois mil anos de transmissão
(não computando o Antigo Testamento), é razoável que se pergunte se a Bíblia em português, de que dispomos hoje, no início do século XXI, se constitui na reprodução exata dos textos hebraicos e gregos. Em suma, até que ponto a Bíblia sofreu danos no processo de transmissão? A fim de responder a essa pergunta e tratar bem desse assunto, será necessário que examinemos a ciência da crítica textual, que compreende as línguas e os materiais da Bíblia, bem como as evidências documentais dos próprios manuscritos. Alguns desses assuntos veremos nas próximas aulas

A importância das línguas escritas

Meios alternativos de transmissão
Várias alternativas estavam abertas diante de Deus, quando decidiu escolher um meio de transmitir sua verdade aos homens (Hb 1.1). Ele poderia ter usado um ou mais dos veículos empregados em várias ocasi¬ões, ao longo dos tempos bíblicos. Por exemplo, Deus usou anjos nos tempos da Bíblia (v. Gn 18,19; Ap 22.8-21). O lançar sorte, além do Urim e do Tumim, também fo empregado afim de procurar saber a vontade de Deus (Êx 28.30; Pv 16.33), da mesma forma que se ouvia a voz da consciência (Rm 2.15) e da criação (SI 19.1-6). Além disso, Deus usou vozes audíveis (ISm 3) e milagres diretos (Jz 6.36-40).
Todos esses veículos sofriam algum tipo de limitação ou deficiência. Enviar um anjo para que entregasse cada mensagem de Deus, a cada ser humano, em cada situação, ou empregar vozes audíveis e milagres diretos, tudo isso seria difícil de administrar e repetitivo. Lançar sorte, ou a simples resposta positiva, ou negativa, advinda do Urim e do Tumim eram limitados demais, em comparação com outros veículos de comunicação de massa com maior amplitude e melhores recursos, sendo capazes de prover descrições minuciosas. Outros meios de comunicação, como visões, sonhos e as vozes da consciência ou da criação, em certas ocasiões sofriam a influência do subjetivismo, da distorção cultural e até da corrupção. Era o que se verificava sobretudo ao compará-los com alguns meios mais objetivos de comunicação, os quais faziam uso da linguagem escrita.

A língua escrita em geral
Seria incorreto dizer que todos aqueles meios de comunicação, sem exceção, não eram bons, uma vez que de fato foram meios que Deus usou para comunicar-se com os profetas. No entanto, havia um "caminho mais excelente", mediante o qual o Senhor se comunicaria com os seres humanos de todas as eras por meio dos profetas. Deus decidiu fa¬zer que sua mensagem se tornasse algo permanente e se imortalizasse por meio de um registro escrito entregue aos homens. Tal registro seria mais preciso, mais permanente, mais objetivo e mais facilmente disseminável do que qualquer outro meio.

Precisão. Uma das vantagens da linguagem escrita sobre os demais veículos de comunicação é a precisão. Para que um pensamento seja captado e expresso por escrito, é preciso que tenha sido claramente entendido pelo autor. O leitor, por sua vez, pode entender com mais precisão um pensamento que lhe tenha sido comunicado mediante a palavra escrita. Visto que os conhecimentos entesourados pelo ser humano, até o presente, têm sido preservados na forma de registros escritos e de livros, pode-se compreender por que Deus escolheu esse processo a fim de comunicar-nos sua verdade.

Permanência. Outra vantagem da linguagem escrita é a sua permanência. Constitui meio pelo qual se pode preservar o pensamento ou a expressão, sem que os percamos por lapso da memória, por vacilação mental ou por intrusão em outras áreas. Além disso, o registro escrito estimula a memória do leitor e instiga sua imaginação, de modo que passa a incluir inúmeras implicações latentes nas palavras e nos símbolos do registro. As palavras são maleáveis e permitem o enriquecimento pessoal do leitor.

Objetividade. A transmissão de uma mensagem por escrito também tende a torná-la mais objetiva. A expressão escrita carrega consigo uma narca de irrevocabilidade extrínseca a outras formas de comunicação. Esse caráter definitivo transcende a subjetividade de cada leitor, o que complementa a precisão e a permanência da mensagem transmitida. E mais: a palavra escrita combate a má interpretação e a má transmissão da mensagem.

Disseminação. Outra vantagem da linguagem escrita sobre os demais meios de comunicação é sua capacidade de propagação, ou disseminação. Independentemente do cuidado com que se processa uma comunicação oral, sempre existe uma probabilidade maior de corrupção e de aIteração das palavras utilizadas em relação à comunicação escrita. Em resumo, a tradição oral tende a sofrer corrupção, em vez de preservar uma mensagem. Na disseminação de sua revelação à humanidade, de iodo especial às gerações futuras, Deus escolheu um modo exato de transmitir sua Palavra.

As línguas bíblicas em particular
As línguas utilizadas no registro da revelação de Deus, a Bíblia, vieram das famílias de línguas semíticas e indo-européias. Da família semítica
originaram as línguas básicas do Antigo Testamento, qual sejam o hebraico e o aramaico (siríaco). Além dessas línguas, o latim e o grego representam a família indo-européia. De modo indireto, os fenícios exerceram um papel importante na transmissão da Bíblia, ao criar o veículo básico que fez que a linguagem escrita fosse menos complicada do que havia sido até então: inventaram o alfabeto.

As Línguas do Antigo Testamento. O aramaico era a língua dos sirios,
tendo sido usada em todo o período do Antigo Testamento. Durante o século VI a.C., o aramaico se tornou língua geral de todo o Oriente Próximo. Seu uso generalizado se refletiu nos nomes geográficos e nos textos bíblicos de Esdras 4.7—6.18; 7.12-26 e Daniel 2.4—7.28.
O hebraico é a língua principal do Antigo Testamento, especialmente adequada para a tarefa de criar uma ligação entre a biografia do povo de Deus e o relacionamento do Senhor com esse povo. O hebraico encaixou-se bem nessa tarefa porque é uma língua pictórica. Expressa-se mediante metáforas vívidas e audaciosas, capazes de desafiar e dramatizar a narrativa dos acontecimentos. Além disso, o hebraico é uma língua pessoal. Apela diretamente ao coração e às emoções, e não apenas à mente e à razão. É uma língua em que a mensagem é mais sentida que meramente pensada.

As línguas do Novo Testamento. As línguas semíticas também foram usa¬das na redação do Novo Testamento. Na verdade, Jesus e seus discípulos falavam o aramaico, sua língua materna, tendo sido essa a língua falada por toda a Palestina na época. Enquanto agonizava na cruz, Jesus cla¬mou em aramaico: "... Eli, Eli, lema sabactâni, que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mt 27.46).
O hebraico fez sentir mais sua influência mediante expressões idiomáticas do que mediante declarações dessa natureza. Uma dessas expressões idiomáticas do hebraico traduzidas em português de diversas maneiras é "e sucedeu que". Outro exemplo da influência hebraica no texto grego, vemos no emprego de um segundo substantivo, em vez de um adjetivo, a fim de atribuir uma qualidade a algo ou a alguém. Como exemplo citamos as expressões: "obra da vossa fé; do vosso trabalho de amor, e da vossa firmeza de esperança" (1Ts 1:3).
Além das línguas semíticas a influenciar o Novo Testamento, temos as indo-européias, o latim e o grego. O latim influenciou ao emprestar muitas palavras, como "centurião", "tributo" e "legião", e pela inscrição trilingue na cruz (em latim, em hebraico e em grego).
No entanto, a língua em que se escreveu o Novo Testamento foi o grego. Até fins do século XIX, cria-se que o grego do Novo Testamento era a "língua especial" do Espírito Santo, mas a partir de então essa língua tem sido identificada como um dos cinco estágios do desenvolvimento da língua grega. Esse grego coiné era a língua mais amplamente conheci¬da em todo o mundo do século I. O alfabeto havia sido tomado dos fenícios. Seus valores culturais e vocabulário cobriam vasta expansão geográfica, vindo a tornar-se a língua oficial dos reinados em que se divi¬diu o grande império de Alexandre, o Grande. O aparecimento providencial dessa língua, ao lado de outros desenvolvimentos culturais, políticos, sociais e religiosos, durante o século I a.C, fica implícito na decla¬ração de Paulo: "Mas vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei" (Gl 4.4).
O grego do Novo Testamento adaptou-se de modo adequado à finali¬dade de interpretar a revelação de Cristo em linguagem teológica. Tinha recursos linguísticos especiais para essa tarefa por ser um idioma intelec¬tual. Era um idioma da mente, mais que do coração, e os filósofos atestam isso amplamente. O grego tem precisão técnica de expressão não encontrada no hebraico. Além disso, o grego era uma língua quase universal. A verdade do Antigo Testamento a respeito de Deus foi revelada inicialmente a uma nação, Israel, em sua própria língua, o hebraico. A revelação completa, dada por Cristo, no Novo Testamento, não veio de forma tão restrita. Em vez disso, a mensagem de Cristo deveria ser anunciada no mundo todo: "... em seu nome se pregará o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém" (Lc 24.47).

O desenvolvimento das línguas escritas

Os avanços na escrita
Ainda que o Antigo Testamento nada diga a respeito do desenvolvimento da escrita, podemos discernir três Estágios desse desenvolvimento. No primeiro estágio acham-se os pictogramas, ou representações rudes que antecederam a escrita atual. Eram figuras que representavam seres humanos ou animais, como o boi, o leão e a águia. Com o passar do tempo, os pictogramas foram perdendo sua posição dominante como meio de comunicação escrita. Foram substituídos por ideogramas, figuras que representavam ideias, em vez de pessoas e objetos. Um objeto como o sol representava o calor; um homem de idade representava a velhice; a águia, o poder; o boi, a força e o leão, a realeza e assim por diante, de modo que tais ideogramas, gradualmente, foram substituindo os pictogramas. Outra expansão dos pictogramas foram os fonogramas, ou traços que representavam sons, em vez de objetos ou idéias. Uma boca poderia representar o verbo falar; o ouvido, o verbo ouvir; uma perna, o verbo andar; uma cabeça de leão poderia significar um estrondo; a cabeça de um pássaro, um som delicado; uma harpa, a música e assim por diante. Deu-se um passo gigantesco no desenvolvimento da escrita, depois de longo tempo, quando os Feníncios desenvolveram sua maior inovação na história da comunicação escrita: o alfabeto.

A era da escrita
As evidências da escrita na antiguidade de modo algum são abun¬dantes, mas as existentes, pelo menos, bastam como expressão elevada do desenvolvimento cultural. Parece que a escrita se desenvolveu durante o IV milênio a.C. No II milênio a.C. várias experiências conduziram ao desenvolvimento do alfabeto e de documentos escritos por parte dos fenícios. Tudo isso se completou antes da época de Moisés, que escreveu não antes de mais ou menos 1450 a.C
Já em c. 3500 a.C. os sumérios usavam tabuinhas de barro para a escri¬ta cuneiforme e registravam acontecimentos de sua história na Mesopotâmia. Como exemplo desse tipo de escrita, temos a descrição sumeriana do dilúvio, que teria sido gravada em 2100 a.C. Havia no Egito (c. 3100 a.C) alguns documentos escritos em hieróglifos (pictografia). Dentre esses escritos egípcios primitivos estavam Os ensinos de Kagemni e O ensino de Ptah-Hetep, que datam de c. 2700 a.C. A partir de c. 2500 a.C. usavam-se textos pictográficos em Biblos (Gebal) e na Síria. Em Cnosso e em Atchana, grandes centros comerciais, apareceram registros gravados anteriores à época de Moisés. Outros elementos correspondentes de meados a fins do II milénio a.C. acrescentam mais evidências de que a escrita já se havia desenvolvido bem antes da época de Moisés. Em suma, Moisés e os demais autores da Bíblia escreveram numa época em que a humanidade estava "alfabetizada", ou, melhor dizendo, já podia comunicar seus pensamentos por escrito.

Os materiais e os instrumentos de escrita

Os materiais de escrita
Os autores das Escrituras empregaram os mesmos materiais em uso no mundo antigo. Por exemplo, as tabuinhas de barro eram usadas não só na antiga Suméria, já em 3500 a.C., como também por Jeremias (17.13) e por Ezequiel (4.1) As pedras também eram usadas para fazer inscrições na Mesopotâmia, no Egito e na Palestina, para gravação, por exemplo, do Código de Hamurábi, dos textos da pedra de Roseta e da pedra moabita. Foram empregadas também na região do rio do Cão, no Líbano, e em Behistun, na Pérsia (Irã), como também por escritores bíblicos (v. Êx 24.12; 32.15,16; Dt 27.2,3; Js 8.31,32).
O papiro foi usado na antiga Gebal (Biblos) e no Egito por volta de 2100 a.C. Eram folhas de uma planta, que se prensavam e colavam para formar um rolo Foi o material que o apóstolo João usou para escrever o Apocalipse (5.1) e suas cartas (2Jo 12). Velino, pergaminho e couro são palavras que designam os vários estágios de produção de um material de escrita feito de peles de animais. O velino era desconhecido até 200 a. C., pelo que Jeremias teria tido (36.23) em mente o couro. Paulo se refere a pergaminhos em 2Timóteo 4.13. Outros materiais para escrita eram o metal (Êx 28.36; Jó 19.24; Mt 22.19,20), a cera (Is 8.1; 30.8;Hb_2.2; Lc 1.63), as pedras preciosas (Êx 39.6-14) e os cacos de louça (óstracos), como mostra Jó 2.8. O linho era usado no Egito, na Grécia e na Itália, embora não tenhamos indícios de que tenha sido usado no registro da Bíblia.

Os instrumentos de escrita
Vários instrumentos básicos foram empregados para que se produzissem os registros escritos nos materiais mencionados acima. Dentre eles estava o estilo, instrumento em formato de pontalete triangular com cabeçote chanfrado, com que se escrevia. Era usado de modo especial para fazer entalhes em tabuinhas de barro ou de cera, sendo às vezes denominado pena pelos escritores bíblicos (v. Jr 17.1). O cinzel era usado para fazer inscrições em pedra, como em Josué 8.31,32. Jó refere-se ao cinzel denominando-o "pena de ferro" (19.24), com a qual se poderiam fazer gravações na rocha. A pena era usada para escrever em papiro, em couro, em velino e em pergaminho (3Jo 13).
Outros instrumentos eram usados pelo escriba para desempenhar as tarefas escriturárias. Jeremias refere-se a um canivete que alguém usou a fim de destruir um rolo (Jr 36.23). Seu uso mostra que o rolo teria sido feito de um material mais forte que o papiro, que podia ser rasgado. O canivete também era usado quando o escritor desejava afiar a pena, quan¬do esta começasse a ficar rombuda ou gasta pelo uso. A tinta era o material que acompanhava a pena e ficava no tinteiro. A tinta era usada para escrever em papiro, em couro, em pergaminho ou em velino. Vê-se, des¬se modo, que todos os materiais e instrumentos disponíveis aos escrito¬res no mundo antigo também estavam à disposição dos escritores da Bíblia.

A preparação e a preservação dos manuscritos
Os escritos originais, autênticos, saídos da mão de um profeta ou apóstolo, ou de um secretário ou amanuense, sempre sob a direção do homem de Deus, eram chamados autógrafos. Esses não existem mais. Por essa razão, precisaram ser reconstituídos a partir de manuscritos e ver¬sões primitivas do texto da Bíblia. Tais manuscritos oferecem evidências tangíveis e importantes da transmissão da Bíblia para nós por parte de Deus.

A preparação dos manuscritos
Antigo Testamento. Ainda que a escrita hebraica tenha-se iniciado antes da época de Moisés, é impossível precisar seu surgimento . Não existem manuscritos que teriam sido produzidos antes do cativeiro babilónico (586 a.C), mas houve uma verdadeira avalancha de cópias das Escrituras que datam da era do Talmude (c. 300 a.C. - 500 d.C.). Durante esse período surgiram dois tipos genéricos de cópias manuscritas: os rolos das si¬nagogas e as copias particulares.
Os rolos das sinagogas eram considerados "cópias sagradas" do texto
do Antigo Testamento, por causa das regras rigorosas que cercavam sua execução. Tais cópias eram usadas em cultos, em reuniões públicas e nas festas anuais. Um rolo separado continha a Tora (Lei); parte dos Nebhiim(Profetas) vinha em outro rolo; os Kethubhim (Escritos), em outros dois rolos, e os Megilloth ("Cinco rolos"), em cinco rolos separados. Os Megilloth sem dúvida eram escritos em rolos separados a fim de facilitar a leitura nas festas anuais.
As cópias particulares eram consideradas cópias comuns do texto do Antigo Testamento, não usadas em reuniões públicas. Esses rolos eram preparados com grande cuidado, ainda que não fossem controlados pelas rigorosas regras que regiam a confecção de cópias das sinagogas. Os desejos do comprador determinavam a qualidade de cada cópia. Raramente a pessoa obtinha uma coleção de rolos que contivesse o Antigo Testamento em sua integralidade.

Novo Testamento. Os autógrafos do Novo Testamento desapareceram há muito tempo, mas existem ainda muitas evidências que garantem a suposição de que tais documentos teriam sido escritos em rolos e em livros feitos de papiro. Paulo mostrou que o Antigo Testamento havia sido copiado em livros e em pergaminhos (2 Tm 4:13), mas é provável que o Novo Testamento tenha sido escrito em rolos de papiro, entre os anos 50 e 100 d.C. Por volta do começo do século II, introduziram-se códices de papiro, mas estes também eram perecíveis. Com a chegada das perseguições dentro do Império Romano, as Escrituras passaram a correr perigo de extinção e já não foram copiadas sistematicamente até a época de Constantino. Com a carta de Constantino a Eusébio de Cesaréia, as cópias sisternáticas do Novo Testamento se iniciaram no Ocidente. A partir de então, o velino e o pergaminho também foram empregados nas cópias manuscritas do Novo Testamento. Só na era da reforma é que as primeiras cópias impressas da Bíblia tornaram-se disponíveis.

A preservação (e a idade) dos manuscritos
Como não houvesse um processo de impressão na época em que as cópias eram manuscritas, a idade e a preservação dessas cópias devem ser apuradas por outros meios que não a data da publicação impressa nas páginas iniciais. Os meios empregados na apuração da idade de um manuscrito incluíam os materiais empregados, o tamanho da letra, seu for¬mato e pontuação, as divisões do texto e outros fatores diversos.

Os materiais constituem pista importante. Para propósitos atuais, só se consideram os materiais usáveis no preparo de rolos ou de livros. Os materiais mais antigos são as peles, embora seu uso acarretasse rolos pesados e volumosos do Antigo Testamento. No tempo do Novo Testamento, usavam-se rolos de papiro, por serem baratos, em comparação com o velino e com o pergaminho. Os códices de papiro foram introduzidos para que os rolos individuais fossem unificados num só volume, por volta do começo do século II d.C. O velino e o pergaminho foram usados para o Antigo Testamento na época do Novo Testamento (2Tm 4.13), e para o Novo Testamento após o período de perseguições no século IV. Era comum restaurar pergaminhos, recopiando-se os manuscritos quando os escritos iam ficando apagados.
Às vezes, os pergaminhos eram totalmente apagados para receber novos textos, como aconteceu no caso do Códice efraimita (c). Esse tipo de manuscrito também era chamado palimpsesto (gr., "raspado de novo") ou reescrito (termo oriundo da forma latina). O papel foi inventado na China no século II d.C. e introduzido no Turquestão Oriental no começo do século IV; depois, passando a ser manufaturado na Arábia, no século VIII, introduzido na Europa no século X, ali manufaturado no século XII e usado comumente no século XIII. Surgiram outros desenvolvimentos na manufatura do papel que podem ajudar a apurar a idade de um manus¬crito, a partir da análise do material de escrita.

O tamanho da letra e seu formato também constituem evidências que possibilitam apurar a data de um manuscrito. O formato mais antigo das letras hebraicas faz lembrar o formato de garfo das letras fenícias. Esse estilo prevaleceu até a época de Neemias (c. 444 a.C.). Depois disso, pas¬sou-se a usar a escrita aramaica, visto ter-se tornado a língua falada em Israel durante o século V a.C. Depois do ano 200 a.C., o Antigo Testamen¬to era copiado com letras quadradas, em estilo aramaico. A descoberta dos rolos do mar Morto, em Qumran, em 1947, lançou mais luzes no estudo da paleografia hebraica. Esses manuscritos revelaram a existência de três tipos diferentes de texto, bem como diferenças de grafia, de regras de gramática e, até certo ponto, diferenças de vocabulário em relação ao texto massorético. Na época dos massoretas, os escribas judeus que padronizaram o texto hebraico do Antigo Testamento (c. 500-1000 d.C.), os princípios do fim do período talmúdico tornaram-se um tanto estereotipados.
Os manuscritos gregos do período do Novo Testamento em geral eram produzidos em dois estilos: literário e não-literário. Sem dúvida alguma, o Novo Testamento era escrito no estilo não-literário. Durante os primeiros três séculos, o Novo Testamento provavelmente circulava por fora dos canais regulamentares do comércio de livros em geral, por causa do caráter político do cristianismo. Durante os três primeiros séculos em que se formaram a igreja e o cânon do Novo Testamento, várias tradições orais e escritas seguiram as idiossincrasias de intérpretes e das modas da época, criadas pelos escribas. Só a partir do século IV é que se fizeram esforços sérios para revisar os manuscritos.
O estilo das letras usadas nessas revisões e nos manuscritos primitivos é chamado uncial (maiúsculo). As letras eram copiadas separada¬mente, sem espaço entre palavras e frases. Esse processo lento de copiar um manuscrito foi usado até o século X. Por essa época, a procura de manuscritos era tão grande, que se desenvolveu um estilo de escrita mais rápido. Esse estilo cursivo empregava letras menores, ligadas entre si, com espaços entre as palavras e as frases. A esses manuscritos se atribuiu o nome de minúsculos, estilo que se tornou dominante na era de ouro da cópia manuscritora, do século XI ao XV.

A pontuação acrescenta mais luz à pesquisa da idade de um manuscrito. De início, as palavras eram ligadas umas às outras, e usava-se pouca pontu¬ação. Durante o século VI, os escribas começaram a fazer emprego mais pro¬fuso da pontuação. Ao redor do século VIII, começaram a usar não só espaço, mas ponto-final, vírgula, ponto-e-vírgula, acentos e, mais tarde, o ponto-de-interrogação. Esse lento processo completou-se em torno do século X, sendo empregado na escrita cursiva da idade de ouro da cópia de manuscritos.

As divisões do texto. Começaram a ser usadas nos autógrafos do Anti¬go Testamento, em alguns livros, como o de Lamentações, e em certos trechos, como o salmo 119. Foram criadas seções adicionais no Pentateuco, antes do cativeiro babilónico, chamadas sedarim. Durante o cativeiro babilónico, a Tora foi dividida em 54 seções chamadas parashiyyoth, que posteriormente seriam outra vez subdivididas. As seções de Macabeus foram criadas durante o século II a.C. Eram divisões dos profetas, chamadas haphtaroth, correspondentes às seradim da lei. Durante a época da Reforma, o Antigo Testamento hebraico começou a seguir a divisão em capítulos feita pelos protestantes. Todavia, algumas divisões em capítu¬los já haviam sido colocadas nas margens, em 1330. Os massoretas acrescentaram os sinais vocálicos, posteriormente chamados massoréticos, às palavras hebraicas. Mas só depois de 900 d.C. é que a divisão em versículos do Antigo Testamento começou a tornar-se padronizada. Em 1571, Ário Montano publicou o primeiro Antigo Testamento hebraico com marca¬ções de versículos nas margens, bem como divisões em capítulos.
Antes do Concílio de Nicéia (325 d.C.), o Novo Testamento era dividido em seções. Tais seções eram chamadas kephalaia (grego), diferentes das modernas divisões em capítulos. O Códice vaticano (B) adotava outro sistema, no século IV, e Eusébio de Cesaréia usava ainda outro. Em tais divisões, os versículos eram maiores do que os atuais, mas os capítulos eram menores. Essas divisões sofreram modificações graduais a partir do século XIII. O trabalho de modificar foi efetuado por Estêvão Langton, professor da Universidade de Paris e mais tarde arcebispo da Cantuária, embora muitos estudiosos atribuam o crédito ao cardeal Hugo de St. Cher (m. 1263). A Bíblia de Wycliffe (1382) seguiu esse padrão. Esse sistema acabou padronizado, visto que seria de base para as versões e traduções posteriores. Os versículos modernos ainda não haviam surgido, embora fossem utilizados no Novo Testamento grego publicado por Roberto Estéfano, em 1551, e introduzidos na Bíblia Inglesa em 1557. Em 1555 foram colocados numa edição da Bíblia em latim, a Vulgata, publicada por Estéfano. A primeira Bíblia inglesa que empregou a divisão atual de capítulos e versículos foi a Bíblia de Genebra (1560).

Fatores diversos. Outros fatores estão presentes no processo de datação de um manuscrito: o tamanho e o formato das letras, a ornamentação do manuscrito, a grafia das palavras, a cor da tinta, a textura e a cor do pergaminho. A ornamentação dos manuscritos foi-se tornando cada vez mais elaborada nos manuscritos unciais, do século IV ao IX. A partir de então, o ornamento entrou em declínio, pois as letras unciais passaram a ser copiadas com menor cuidado. Esses fatores variados influenciaram também os manuscritos chamados "minúsculos", desde essa época até a introdução das edições e traduções impressas da Bíblia, no século XVI. De início, só se usava tinta preta na produção de um manuscrito. Mais tarde seriam empregadas outras cores: o verde, o vermelho e outras. Da mesma forma que a língua falada vai mudando ao longo dos séculos, assim também mudam os componentes físicos dos manuscritos. Desse modo, a qualidade cambiante da textura dos materiais influi no processo de envelhecimento dos manuscritos, e constitui elemento importante na apuração de sua idade.

Resultados
Uma pesquisa superficial das evidências disponíveis, concernentes à idade e à preservação dos manuscritos, oferece-nos algumas informacoes importantes a respeito do valor de determinado manuscrito em re¬lação à transmissão da Bíblia.

Os manuscritos do Antigo Testamento geralmente vêm de dois amplos períodos de produção. O período talmúdico (300 a.C - 500 d.C.) produziu manuscritos usados nas sinagogas e outros em estudos particulares. Em comparação com o período massorético posterior (500-1000 d.C) e aquelas cópias de manuscritos primitivos são em número menor; todavia, são cópias consideradas "oficiais", cuidadosamente transmitidas. Durante o período massorético, o processo de copiar o Antigo Testamento sofreu completa revisão em suas regras; o resultado foi uma renova¬ção sistemática das técnicas de transmissão.

Os manuscritos do Novo Testamento podem ser classificados em quatro períodos genéricos de transmissão:

1. Durante os três primeiros séculos a integridade do Novo Testamen¬to resulta do testemunho combinado de fontes, por causa do caráter de ilegalidade do cristianismo. Não se encontram muitos manuscritos completos desse período, mas os existentes são significativos.
2. Apartir dos séculos IV e V, após a legalização do cristianismo, houve a multiplicação de manuscritos do Novo Testamento. Eram produzidos em velino e em pergaminho, em vez de papiro.
3. A partir do século VI, os manuscritos passaram a ser copiados por monges que os coligiam e deles cuidavam em mosteiros. Foi um período de reprodução não respaldada pela crítica, de aumento de produção, mas de decréscimo da qualidade do texto.
4. Após a introdução dos manuscritos chamados "minúsculos" no século X, as cópias dos manuscritos multiplicaram-se rapidamente, e prosseguiu o declínio da qualidade na transmissão textual.

3 comentários:

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É um relato muito enriquecedor não só do ponto de vista teológico mas também em matéria de história. Eu, pessoalmente, retive através deste blog, uma boa informação que eu não dispunha anteriromente.

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Sou pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, mestrando em Divindade (Magister Divinity), pelo CPAJ (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Sou também professor de História da Igreja, de Introdução Bíblica, e Cartas Gerais, na Escola Teológica Rev. Celso Lopes, em Maceió AL. Além disso, sou coronel-aviador da Força Aérea Brasileira, já reformado.

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