Esta página tem por finalidade colocar à disposição dos meus alunos da Escola Teológica Rev. Celso Lopes textos referentes à matéria título do blog

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Aula 8 - O Desenvolvimento do Cânon do Novo Testamento


A história do cânon do Novo Testamento difere da do Antigo em vários aspectos. Em primeiro lugar, visto que o cristianismo foi desde o começo uma religião internacional, não havia comunidade profética fechada que recebesse os livros inspirados e os coligisse em determinado lugar. Faziam-se coleções aqui e ali, que se iam completando, logo no início da igreja. Não há notícia, todavia, da existência oficial de uma entidade que controlasse os escritos inspirados. Por isso, o processo mediante o qual todos os escritos apostólicos se tornaram universalmente aceitos levou muitos séculos. Felizmente, dada a disponibilidade de textos, há mais manuscritos do cânon do Novo Testamento que do Antigo.
Outra diferença entre a história do cânon do Antigo Testamento, em comparação com a do Novo, é que a partir do momento em que as discussões resultaram no reconhecimento dos 27 livros canônicos do Novo Testamento, não mais houve movimentos dentro do cristianismo no sentido de acrescentar ou eliminar livros. O cânon do Novo Testamento en¬controu acordo geral no seio da igreja universal.

Os estímulos para que se coligissem oficialmente os livros
Várias forças contribuíram para que o mundo cristão da antiguidade providenciasse o reconhecimento oficial dos 27 livros canônicos do Novo Testamento. Três dessas forças têm significado especial: a eclesiástica, a teológica e a política.

O estímulo eclesiástico à lista dos canônicos
A igreja primitiva tinha necessidades internas e externas que exigiam o reconhecimento dos livros canônicos. Internamente havia a necessidade de saber que livros deveriam ser lidos nas igrejas, de acordo com a prática prescrita pelos apóstolos para a igreja do Novo Testamento (1Ts 5.27). Do lado de fora da igreja estava a necessidade de saber que livros deveriam ser traduzidos para as línguas estrangeiras das pessoas convertidas. Sem uma lista dos livros reconhecidos e aprovados, seria difícil para a igreja primitiva a execução dessa tarefa. A combinação dessas forças exerceu pressão sobre os primeiros pais da igreja para produzirem uma lista oficial dos livros canónicos.

O estímulo teológico à lista dos canônicos
Outro fator dentro do cristianismo primitivo estava exigindo um pronunciamento oficial da igreja a respeito do cânon. Visto que toda a Escritura era proveitosa para a doutrina (2Tm 3.16,17), tornou-se cada vez mais necessário definir os limites do legado doutrinário apostólico. A necessidade de saber que livros deveriam ser usados para ensinar a doutrina com autoridade divina tornou-se questão que exercia pressão cada vez maior, por causa da multiplicidade de livros heréticos que reivindicavam autoridade divina. Quando o herege Marcião publicou uma lista muitíssimo abreviada dos livros canônicos (c. 140), abarcando apenas o evangelho de Lucas e dez das cartas de Paulo (com a omissão de l e 2Timóteo e de Tito), tornou-se premente a necessidade de uma lista completa dos livros canônicos. A igreja viu-se presa em meio a uma tensão provocada, de um lado, por quem queria acrescentar livros à lista dos canónicos e, por outro, por quem queria eliminar alguns livros, de modo que o ônus da decisão recaiu sobre os primeiros pais da igreja, para que definissem com precisão os limites do cânon sagrado.

O estímulo político à lista dos canônicos
As forças que pressionavam a canonização culminaram na pressão política que passou a influir na igreja primitiva. As perseguições de Diocleciano (c 302-305) representaram um forte motivo para a igreja definir de vez a lista dos livros canônicos. De acordo com o historiador cristão Eusébio, houve um edito imperial da parte de Diocleciano, de 303, ordenando que "as Escrituras fossem destruídas pelo fogo". Não deixa de ser irónico que 25 anos antes o imperador Constantino se "convertera" ao cristianismo e dera ordem a Eusébio para que se preparassem e se distribuíssem cinquenta exemplares da Bíblia. A perseguição motivou um exame sério da questão dos livros canônicos: quais eram realmente canônicos e deveriam ser preservados? O pedido de Constantino também tornou necessária a criação da lista de livros canónicos.

A compilação e o reconhecimento progressivos dos livros canónicos
Há evidências fortes a mostrar que os primeiros cristãos coligiram e preservaram os livros inspirados do Novo Testamento. Tais livros, sem dúvida alguma, foram copiados e circularam entre as igrejas primitivas. No entanto, em vista de não existir uma lista oficial divulgada, o reconhecimento universal levou vários séculos para ocorrer, até que as pressões ocasionaram a necessidade de tal lista.

Evidências neotestamentárias de um cânon crescente
O Novo Testamento havia sido escrito durante a última metade do século I. A maior parte dos livros havia sido escrita para as igrejas locais (e.g., a maior parte das cartas do apóstolo Paulo), e alguns foram dirigidos a pessoas em particular (e.g., Filemom, 2 e 3João). Outros livros tinham em mira auditórios mais amplos, na Ásia Oriental (IPedro), na Ásia Ocidental (Apocalipse) e até mesmo na Europa (Romanos).
É provável que algumas dessas cartas tivessem origem em Jerusalém (Tiago), e outras viessem de Roma, nos confins do Ocidente (IPedro). Havendo tão grande diversidade geográfica de origens e destinatários, é compreensível que nem todas as igrejas haveriam de possuir, de imediato, cópias de todos os livros inspirados do Novo Testamento. Acrescentem-se os problemas de comunicação e de transporte, e fica mais fácil ver que seria preciso algum tempo até que houvesse um reconhecimento geral de todos os 27 livros do cânon do Novo Testamento. Apesar de tão grandes dificuldades, a igreja primitiva começou de imediato a coligir todos os escritos apostólicos que pudessem autenticar.

A seleção dos livros fidedignos. Desde o início havia escritos falsos, não-apostólicos e, portanto, não-fidedignos em circulação. Por causa de alguns desses relatos fantasiosos sobre a vida de Cristo, Lucas, o compa¬nheiro de Paulo, assumiu o compromisso de escrever seu evangelho, dizendo: "Tendo muitos empreendido uma narração dos fatos que entre nós se cumpriram [...] pareceu-me também conveniente descrevê-los a ti, ó excelente Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio, para que tenhas plena certeza das coisas em que foste ensinado" (Lc 1.1-4).
O que se depreende do prólogo de Lucas é que, em seus dias (c. 60 d.C.), já havia alguns relatos inexatos em circulação a respeito da vida de Cristo.
Sabemos com certeza que os cristãos de Tessalonica foram advertidos quanto a falsas cartas que lhes teriam sido enviadas em nome do apóstolo Paulo. "Rogamo-vos", escreveu o apóstolo, "que não vos demovais do vosso modo de pensar, nem vos perturbeis [...] por epístola, como se procedesse de nós, como se o dia de Cristo já tivesse chegado" (2Ts 2.20). A fim de que os crentes verificassem a confiabilidade de suas cartas, o apóstolo se despedia dizendo: "Eu, Paulo, escrevo esta saudação com meu próprio punho. Este é o sinal em cada epístola. É assim que escrevo" (2Ts 3.17). Além disso, a carta seria enviada por um portador pessoal da parte do apóstolo.
Informa-nos mais o apóstolo João que Jesus fez muitos outros sinais “que não estão escritos neste livro" (Jo 20.30), visto que, se todos fossem escritos, "cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que seriam escritos" 0o 21.25). A partir da multiplicidade de atos de Jesus que não foram registrados pelos apóstolos, surgiram muitas crendices a respeito da vida de Cristo, que exigiram o exame dos apóstolos. Enquanto as testemunhas oculares da vida e da ressurreição de Cristo estivessem vivas (At 1.21,22), tudo poderia sujeitar-se à autoridade do ensino e da tradição oral dos apóstolos (v. 1Ts 2.13; 1Co 11.2). Há quem acredite que as tradições oculares dos apóstolos formaram “kerygma” (lit, proclamação), que funcionou como uma espécie de cânon dentro do cânon. Quer o kerygma fosse o critério, quer não, fica bem claro que, até mesmo, a igreja apostólica havia sido convocada para ser seletiva em apurar a confiabilidade das muitas histórias e ensinos a respeito de Cristo. Em seu evangelho João destruiu uma crendice que circulava no seio da igreja do século I, segundo a qual ele jamais morreria (Jo 21.23,24). Esse mesmo apóstolo também escreveu uma advertência forte aos crentes, dizendo: "Amados, não creiais em todo espírito, mas provai se os espíritos vêm de Deus, porque já muitos falsos profetas têm surgido no mundo" (1Jo 4.1).
Em suma, existem muitas evidências de que, no seio da igreja do século I, havia um processo seletivo em operação. Toda e qualquer palavra a respeito de Cristo, fosse oral, fosse escrita, era submetida ao ensino apostólico, dotado de toda autoridade. Se tal palavra ou obra não pudesse ser comprovada pelas testemunhas oculares (v. Lc 1.2; At 1.21,22), era rejei¬tada. Os apóstolos eram pessoas que podiam afirmar: "O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos" (1Jo 1.3); eram o incontestável tribunal de apelação. Assim escreveu outro apóstolo: "Não vos fizemos saber o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas, mas nós mesmos vimos a sua majestade" (2Pe 1.16).
Essa fonte primordial de autoridade apostólica era o cânon, mediante o qual a primeira igreja escolheu os escritos aos quais obedeceria, pois eram os ensinos dos apóstolos (At 2.42). Assim, o "cânon" vivo das testemunhas oculares tornou-se o critério mediante o qual os escritos canônicos primitivos vieram a ser reconhecidos, e o próprio Deus deu testemunho aos apóstolos (Hb 2.3,4).

A leitura de livros autorizados. Outro sinal de que o processo da canonização do Novo Testamento iniciou-se imediatamente na igreja do século I foi a prática da leitura pública oficial dos livros apostólicos. Paulo havia ordenado aos tessalonicenses: "Pelo Senhor vos conjuro que esta epístola seja lida a todos os santos irmãos" (1Ts 5.27). De modo semelhante, Timóteo foi instruído a apresentar a mensagem de Paulo às igrejas ao lado das Escrituras do Antigo Testamento. "Persiste em ler", escre¬veu o apóstolo, "exortar e ensinar, até que eu vá" (1Tm 4.13; cf. tb. v.11). A leitura em público das palavras autorizadas de Deus era um costume antigo. Moisés e Josué o praticaram (Êx 24.7; Js 8.34). Josias pediu que se lesse a Bíblia em seus dias (2Rs 23.2), e o mesmo fizeram Esdras e os levitas: "Leram no livro da lei de Deus, esclarecendo-a e explicando o sentido, de modo que o povo pudesse entender o que se lia" (Ne 8.8). A leitura das cartas apostólicas às igrejas é uma continuação da longa tradição profética.
Há uma passagem significativa a respeito da leitura das cartas apos¬tólicas nas igrejas. Paulo escreveu assim aos colossenses: "Depois que esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei que também o seja na igreja dos laodicenses, e a que veio de Laodicéia lede-a vós também" (Cl 4.16). João prometeu uma bênção a quem lesse sua carta em voz alta (Ap 1.3), a qual ele enviara a sete igrejas diferentes. Tudo isso demonstra com clareza que as cartas apostólicas tinham por intuito ser lidas por um grupo muito maior do que uma congregação. Todas as igrejas no tempo e no espaço teriam a obrigação de lê-las, e, à medida que as igrejas iam recebendo, lendo e coligindo essas cartas, cheias de autoridade divina, lançavam os alicerces de uma coleção crescente de documentos inspirados.
Em suma, as igrejas estavam envolvidas num processo incipiente de canonização. Essa aceitação original de um livro, o qual era autorizadamente lido nas igrejas, teria importância crucial para o reconhecimen¬to posterior de um livro canónico.

A circulação e a compilação dos livros. Já havia nos tempos do Novo Testamento algo parecido com uma declaração de cânon das Sagradas Escrituras, aprovada tacitamente, circulando pelas igrejas. De início nenhuma igreja detinha todas as cartas apostólicas, mas a coleção foi crescendo à medida que se faziam cópias autenticadas pela assinatura dos apóstolos ou de seus emissários. Não há dúvidas de que as primeiras cópias das Escrituras surgiram dessa prática de fazer que circulassem. À medi¬da que as igrejas foram crescendo, a necessidade de novas cópias foi-se tornando cada vez maior, pois mais e mais congregações desejavam ter sua compilação para as leituras regulares e para os estudos, ao lado das Escrituras do Antigo Testamento.
A passagem de Colossenses previamente citada informa-nos que a circulação das cópias das cartas era costume apostólico. Há outros indí¬cios ainda dessa prática. João havia recebido essa ordem da parte de Deus: "O que vês, escreve-o num livro, e envia-o as sete igrejas que estão na Ásia [Menor]; a Éfeso, a Esmirna, a Pérgamo, a Tiatira, a Sardes, a Filadélfia e a Laodicéia" (Ap 1.11). Por tratar-se de um único livro para mui¬tas igrejas, o livro deveria circular entre elas. É também o caso de muitas das epístolas gerais. Tiago é dirigida às doze tribos da Dispersão (Tg 1.1). Pedro escreveu uma carta aos "estrangeiros da Dispersão, no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na Ásia e na Bitínia" (1Pe 11). Alguns estudiosos têm pensado que a carta de Paulo aos Efésios tenha sido uma carta circular genérica, visto que a palavra efésios não está presente nos manuscritos mais antigos. A carta é dirigida simplesmente "aos santos que estão em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus" (Ef 1.1).
Todas essas cartas circulares revelam o início de um processo de canonização. Primeiro, as cartas foram obviamente endereçadas às igrejas em geral. A seguir, cada igreja era obrigada a fazer cópias das cartas, para poder realizar estudos e a elas referirem-se. A ordem no Novo Testamento para que se estudem as Escrituras (sem exceção das cartas apostólicas) não significa uma única e mera leitura formal, e nada mais. Os cristãos eram admoestados a ler continuamente as Escrituras (1Tm 4.11,13). A única maneira pela qual se poderia realizar isso no seio de um número crescente de igrejas era fazer cópias, de tal sorte que cada igreja, ou grupo de igrejas, tivesse sua própria compilação de escritos autorizados.
Todavia, alguém poderia perguntar se há alguma evidência no Novo Testamento de que tais compilações de escritos estavam se desenvolvendo. Com certeza. Parece que Pedro possuía uma coleção das cartas de Paulo, as quais ele colocava ao lado das "outras Escrituras" (2Pe 3.15,16). Podemos presumir que Pedro possuía uma coletânea das obras de Paulo, visto não haver razão plausível por que Pedro devesse ter a posse das cartas originais de Paulo. Afinal, tais cartas não foram escritas de propósito para Pedro, mas para as igrejas espalhadas por todo o mundo da época. Isso demonstra que haveria outras coletâneas que atenderiam às necessidades das igrejas que iam crescendo.
O fato de um escritor citar outro escritor também revela que tais cartas coligidas eram divinamente inspiradas e dotadas de autoridade. Judas menciona Pedro (Jd 17; v. tb. 2Pe 3.2), e Paulo menciona o evangelho de Lucas como Escritura Sagra¬da (1Tm 5.18; cf. Lc 10.7). Lucas presume que Teófilo estava de posse de um primeiro livro ou tratado (At 1.1).
Assim, o processo de canonização, desde o início da igreja, estava em andamento. As primeiras igrejas foram exortadas a selecionar apenas os escritos apostólicos fidedignos. Desde que determinado livro fosse examinado e dado por autêntico, fosse pela assinatura, fosse pelo emissário apostólico, era lido na igreja e depois circulava entre os crentes de outras igrejas.
As coletâneas desses escritos apostólicos começaram a tomar forma nos tempos dos apóstolos. Pelo final do século I, todos os 27 livros do Novo Testamento haviam sido recebidos e reconhecidos pelas igrejas cristãs. O cânon estava completo, e todos os livros haviam sido reconhecidos pelos crentes de outros lugares. Por causa da multiplicidade dos falsos escritos e da falta de acesso imediato às condições relacionadas ao recebimento inicial de um livro, o debate a respeito do cânon prosseguiu durante vários séculos, até que a igreja universal finalmente reconheceu a canonicidade dos 27 livros do Novo Testamento.

A confirmação da compilação oficial dos livros canónicos
Evidencia-se de várias maneiras a confirmação da canonicidade do Novo Testamento. Logo após a era dos apóstolos, vê-se nos escritos dos primeiros pais da igreja o reconhecimento da inspiração de todos os 27 livros do Novo Testamento. Em apoio ao testemunho dos apóstolos, temos as antigas versões, as listas canónicas e os pronunciamentos dos concílios eclesiásticos. Todos juntos constituem elo de reconhecimento desde a concepção do cânon, nos dias dos apóstolos, até a confirmação irrevogável da igreja universal, em fins do século IV.

O testemunho dos pais da igreja sobre o cânon
Logo após a primeira geração, passada a era apostólica, todos os livros do Novo Testamento haviam sido citados como dotados de autoridade por algum pai da igreja. Por sinal, dentro de duzentos anos depois do século I, quase todos os versículos do Novo Testamento haviam sido citados em um ou mais das mais de 36 mil citações dos pais da igreja. Visto que os testemunhos patrísticos a favor do Novo Testamento já foram verificados, não os repetiremos aqui. No entanto, o leitor deve ser acautelado sobre o caso de um pai primitivo da igreja não ter feito referência a um livro: isso não deixa necessariamente implícita a rejeição desse livro por ser não-canônico. O argumento do silêncio, nesse caso, como ocorre em geral, é bastante fraco. A não citação pode revelar meramente falta de ocasião por parte do pai da igreja de mencionar determinado livro nos escritos que chegaram até nós. Para ilustrar isso, o próprio leitor poderia perguntar-se quando foi que citou pela última vez a carta a Filemom ou 3João. Nem todos os livros do Novo Testamento são citados por todos os primeiros pais da igreja, mas todos os livros são citados como canônicos por pelo menos um desses pais. A conclusão é que esse fato basta para demonstrar que o livro havia sido reconhecido como apostólico desde o início.

O testemunho das listas primitivas e das traduções do cânon
Outras confirmações do cânon do século I encontram-se nas traduções e nas listas canônicas dos séculos II e III. Não se poderiam fazer a menos que houvesse primeiro o reconhecimento dos livros que deveri¬am ser incluídos na tradução.

Antiga siríaca. Uma tradução do Novo Testamento circulou na Síria, pelo fim do século IV, representando um texto que datava do século II. Incluía todos os 27 livros do Novo Testamento exceto 2Pedro, 2 e 3João, Judas e Apocalipse. O famoso especialista em Bíblia, B. F. Westcott, ob¬servou: "A harmonia geral entre esse [cânon] e o nosso é extraordinária e de grande importância; as omissões são de fácil explicação". Os livros omitidos foram originariamente destinados ao mundo ocidental, e a igreja siríaca ficava no Oriente. A distância e a falta de comunicações com objetivo de verificação atrasaram a aceitação definitiva desses livros no que tange à Bíblia oriental, a qual havia sido publicada antes dessa evidên¬cia estar à disposição.

Antiga latina. O Novo Testamento havia sido traduzido para o latim antes do ano 200, tendo servido de Bíblia para a igreja ocidental, da mesma forma que a Siríaca tinha servido para a igreja oriental. A Antiga latina continha todos os livros do Novo Testamento, com exceção de Hebreus, de Tiago e de 1 e 2Pedro. Essas omissões são o reverso das que se notam na Bíblia siríaca. Hebreus, 1Pedro e provavelmente Tiago foram escritas para as igrejas no Oriente e no mundo mediterrâneo. Daí ter demorado muito tempo para que suas credenciais fossem reconhecidas no Ocidente. A segunda carta de Pedro apresentou um problema especial que será dis¬cutido mais à frente. O que interessa é que, entre as duas primeiras Bíblias da igreja, houve reconhecimento da canonicidade de todos os 27 livros do Novo Testamento.

Cânon muratório (170 d.C.). Além do cânon obviamente abreviado do herege Marcião (140 d.C.), a lista canônica mais antiga encontra-se no fragmento muratório. A lista de livros do Novo Testamento corresponde exatamente à da Antiga latina, omitindo-se apenas Hebreus, Tiago e 1 e 2Pedro. Westcott sustenta que provavelmente houve uma falha nos manuscritos com a possível inclusão de tais livros em alguma época. É um tanto inusitado que Hebreus e 1Pedro estivessem ausentes, ao passo que os livros menos frequentemente cilados, Filemom e 3João, estivessem incluídos.

Códice barocócio (206). Outro testemunho de apoio do primitivo cânon do Novo Testamento vem de um códice intitulado “Os sessenta livros”. Mediante exame cuidadoso, esses sessenta livros incluíam 64 dos 66 livros canônicos da Bíblia. Só faltava Ester, do Antigo Testamento, e Apocalipse, do Novo. A canonicidade de Apocalipse está bem atestada em outras passagens de outros autores, tendo o apoio de Justino Mártir, de Ireneu, de Clemente de Alexandria, de Tertuliano e da lista do Cânon muratório.

Eusébio de Cesaréia (c. 340). A siluação do cânon do Novo Testamento no Ocidente no início do século IV foi bem resumida pelo historiador Eusébio, em sua obra História eclesiástica (3,25). Ele relacionou como totalmente aceitáveis os 27 livros do Novo Teslamento, exceto Tiago, Judas, 2Pedro e 2 e 3João. Esses, ele relacionou como questionados por alguns; ele mesmo rejeilava de vez o Apocalipse. Assim, todos, menos o Apocalipse, haviam recebido aceitação, ainda que algumas das cartas gerais sofressem alguma forma de queslionamento.

Atanásio de Alexandria (c. 373). Quaisquer dúvidas existentes no Oci¬dente a respeito das cartas gerais e do Apocalipse foram removidas nos cinquenta anos que se seguiram à obra de Eusébio. Atanásio, o Pai da Ortodoxia, relaciona com clareza todos os 27 livros do Novo Testamento como canônicos. Dentro de uma geração, tanto Jerônimo quanto Agostinho teriam confirmado a mesma lista de livros, de modo que os 27 livros permaneceram no cânon aceito do Novo Testamento.

Os Concílios de Hipo (393) e de Cartago (397). O testemunho de apoio ao cânon do Novo Testamento não se limitou a vozes individuais. Dois concílios locais ratificaram os 27 livros canónicos do Novo Testamento. A variação no cânon do Antigo Testamento aceita por esses concílios já foi discutida antes. Também existe uma lista proveniente do Sínodo de Laodicéia (343-381), que inclui todos os livros, menos o Apocalipse; mas onze estudiosos têm questionado a genuinidade dessa lista.

Desde o século V a igreja tem aceito esses 27 livros como o cânon do Novo Testamento. Embora mais tarde houvesse objeções ao cânon do Antigo Testamento, a igreja em todos os seus principais ramos continua, até hoje, a reconhecer apenas esses 27 livros do Novo Testamento como apostólicos.
Para resumir: o processo de coligir os escritos apostólicos confiáveis iniciou-se nos tempos do Novo Testamento. No século II houve exame desses escritos mediante a citação da autoridade divina de cada um desses 27 livros do Novo Testamento. No século III, as dúvidas e as objeções a respeito de determinados livros prosseguiram, culminando nas decisões dos pais da igreja e dos concílios influentes do século IV. A partir de então, ao longo dos séculos, a igreja vem sustentando a canonicidade desses 27 livros.

6 comentários:

Anônimo disse...

Concordo com o seu texto em apenas 90%, pq o erro de vc foi de ter mencionado os pais da igreja que não têm nenhuma autoridade espiritual igual os apóstolos.
Quem estuda os pais da igreja, já está com um pé dentro do catolicismo:
http://solascriptura-tt.org/PessoasNosSeculos/PaisIgreja-PortasParaRoma-DCloud.htm

Anônimo disse...

Nossa! que absurdo o tal comentário anonimo! Qualquer pessoa que estuda a historia do cristianismo deve, obrigatóriamente, estudar os "pais da igreja". Agora, nem por isso deva ser um católico. Que falta de conhecimento. Peço desculpas ao autor do artigo porque fiquei envergonhado com tal comentário.
Taíso Adriano
taisoadriano@ibest.com.br

Anônimo disse...

Seus exegeguis, Que pais? Por Sandoval......

Unknown disse...

Pr. Pedro, parabéns pelo texto. Infelizmente, algumas pessoas que nada sabem sobre a historia da Igreja, criticam o que não tem o menor conhecimento. Deveriam estudar primeiro e depois criticar. É mais justo e mais seguro. Veja que, em patente ignorância sobre o assunto, não conhecem nem a expressão "pais da Igreja". (rsrsrs)
Que Deus o abençoe!
agabo.001@gmail.com

Unknown disse...

Pr. Pedro, parabéns pelo texto. Infelizmente, algumas pessoas que nada sabem sobre a historia da Igreja, criticam o que não tem o menor conhecimento. Deveriam estudar primeiro e depois criticar. É mais justo e mais seguro. Veja que, em patente ignorância sobre o assunto, não conhecem nem a expressão "pais da Igreja". (rsrsrs)
Que Deus o abençoe!
agabo.001@gmail.com

Unknown disse...

Parabéns pelo trabalho, muitos crentes iletrados e dogmáticos vão te criticar. lembre-se: muitos errão por não conhecer as escrituras, esses aí por achar que conhecem.

selo7.gif

Confira a Hora Certa

relojes web gratis

Quem sou eu

Minha foto
Sou pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, mestrando em Divindade (Magister Divinity), pelo CPAJ (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper). Sou também professor de História da Igreja, de Introdução Bíblica, e Cartas Gerais, na Escola Teológica Rev. Celso Lopes, em Maceió AL. Além disso, sou coronel-aviador da Força Aérea Brasileira, já reformado.

Você é o visitante nº >